19 março, 2018

Papa reunião pré-sinodal: os jovens devem ser levados a sério

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 Papa Francisco na reunião pré-sinodal com os jovens  (AFP or licensors)
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Cerca de 300 jovens dos 5 continentes, de várias religiões e também ateus, participam a partir de hoje até sábado, dia 24, da reunião pré-sinodal convocada por Francisco. 

Silvonei José - Vaticano

 “Queridos jovens, o coração da Igreja é jovem precisamente porque o Evangelho é como uma linfa vital que a regenera continuamente”: foi o que disse o Papa Francisco nesta manhã de segunda-feira (19/3) na abertura da reunião pré-sinodal em Roma que se realiza no Pontifício Colégio Internacional “Maria Mater Ecclesiae”. 

300 jovens 

São cerca de 300 os jovens dos 5 continentes, de várias religiões e também ateus,  que participam a partir de hoje até sábado da reunião pré-sinodal. Neste encontro, eles serão ouvidos e as suas colaborações utilizadas para preparar o Sínodo, cujo tema será “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Quem não pôde vir a Roma pôde participar ‘on line’ nos seus grupos linguísticos (português, inglês, espanhol, francês, italiano e alemão), que foram moderados por outros jovens. No dia de hoje são mais 15 mil os jovens coligados via internet em todas as partes do mundo.

O Sínodo de outubro ocupa-se-á dos problemas dos jovens e procurará adequar a sua linguagem ao uso das novas tecnologias para aproximar-se a eles, segundo o documento preparatório divulgado em 2017. 

Falar com coragem

Falem com coragem, digam o que gostariam de dizer. Se alguém se sentir ofendido, peçam perdão e continuem...” Foi a exortação do Papa Francisco dirigida aos jovens, no início do seu discurso na reunião pré-sinodal aberta nesta manhã no Pontifício Colégio Internacional 'Maria Mater Ecclesia' de Roma, depois da saudação do cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos.

Depois de dar as boas-vindas o Papa agradeceu aos jovens por terem aceite o convite para participar do encontro; “alguns de vós tiveram que fazer uma longa viagem, disse. “Vocês vieram de muitas partes do mundo e trazem convosco uma grande variedade de povos, culturas e até mesmo religiões: vocês não são todos católicos e cristãos, nem todos são crentes, mas certamente estão animados pelo desejo de dar o melhor de vós”. 

Precisamos de vós

O Papa recordou que eles foram convidados como representante dos jovens de todo o mundo porque a contribuição deles é indispensável. “Precisamos de vós para preparar o Sínodo que em outubro reunirá os Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Em muitos momentos da história da Igreja, bem como em inúmeros episódios bíblicos, Deus quis falar através dos mais jovens: penso, por exemplo, em Samuel, David e Daniel. Tenho confiança, disse o Papa, acredito que nestes dias também falará através de vós. 

O Papa Francisco no seu discurso aos jovens afirmou que frequentemente se fala sobre os jovens sem questioná-los. Mesmo as melhores análises sobre o mundo juvenil, embora sejam úteis, não substituem a necessidade do encontro face a face. Alguém pensa que seria mais fácil manter-vos “a uma distância segura” para que sejam provocados por vós.

Os jovens devem ser levados a sério, disse o Papa! Parece-me que estamos rodeados por uma cultura que, por um lado, idolatra a juventude, tentando não deixá-la passar jamais, de outro, exclui tantos jovens de serem protagonistas. Muitas vezes vocês são marginalizados da vida pública e encontram-se a mendigar ocupações que não lhes garantem um futuro. Frequentemente são deixados sozinhos. 

A vontade da Igreja de ouvir todos os jovens

“Na Igreja, não deve ser assim, afirmou Francisco. O Evangelho pede-nos: a sua mensagem de proximidade convida a  encontrar-mo-nos e confrontar-mo-nos, a acolher-mo-nos e amar-mo-nos sinceramente, a caminhar juntos e a partilhar sem medo. Esta reunião pré-sinodal quer ser um sinal de algo muito grande: a vontade da Igreja de ouvir todos os jovens, ninguém excluído”.

O próximo Sínodo se propõe, em particular, desenvolver as condições para que os jovens sejam acompanhados com paixão e competência no discernimento vocacional, isto é, no “reconhecer e acolher o chamamento ao amor e à vida em plenitude”. “Esta é a certeza básica: Deus ama cada um e a cada um faz pessoalmente um chamamento. É um presente que, quando é descoberto, enche de alegria. Estejam certos: Deus tem confiança em vós, ele vos ama e os chama”.

Deus nunca abandona disse o Papa, porque Ele é fiel e crê realmente em vós. Ele faz-vos a pergunta que um dia Ele fez aos primeiros discípulos: “O que estão a procurar?”. Ele convida-vos a partilhar a busca da vida com Ele, a caminhar juntos. E nós, como Igreja, desejamos fazer o mesmo, porque não podemos deixar de partilhar com entusiasmo a busca pela verdadeira alegria de cada um; e não a podemos conservar apenas para nós. Quem mudou as nossas vidas: Jesus. Os seus coetâneos e seus amigos, mesmo sem saber disso, esperem por Ele e pelo seu anúncio de salvação. 

Renovado dinamismo juvenil

O próximo Sínodo – disse Francisco - será também um apelo à Igreja, para que redescubra “um renovado dinamismo juvenil”. O Papa confidenciou que leu alguns e-mails do questionário colocado na internet pela Secretaria do Sínodo e disse que ficou impressionado com o apelo lançado por vários jovens, que pedem aos adultos que estejam próximos a eles e de ajudá-los a fazer escolhas importantes. Uma jovem observou que aos jovens faltam pontos de referência e que ninguém os encoraja a ativar os recursos que possuem. Então, ao lado dos aspectos positivos do mundo juvenil, ela destacou os perigos, entre os quais o álcool, as drogas, uma sexualidade vivida de modo consumista. E concluiu quase com um grito: “Ajudem o nosso mundo juvenil que se desmorona cada vez mais”. Não sei se o mundo juvenil se desmorona cada vez mais. Mas eu sinto que o grito dessa jovem é sincero e requer atenção. Também na Igreja devemos aprender novas formas de presença e proximidade. A este respeito, um jovem relatou com entusiasmo a sua participação em alguns encontros com estas palavras: “O mais importante foi a presença de religiosos entre nós jovens como amigos que nos ouvem, nos conhecem e nos aconselham”.

O Papa recordou então a Mensagem aos jovens do Concílio Vaticano II. É também hoje um incentivo para lutar contra todo egoísmo e a construir com coragem um mundo melhor. É um convite a buscar novos caminhos e a percorrê-los com coragem e confiança, mantendo o olhar fixo em Jesus e abrindo-se ao Espírito Santo, para rejuvenescer o próprio rosto da Igreja. Porque é em Jesus e no Espírito que a Igreja encontra a força para se renovar, fazendo uma revisão da vida ao seu modo de ser, pedindo perdão pelas suas fragilidades e inadequações, não poupando as energias para se colocar a serviço de todos, com a única intenção de ser fiel à missão que o Senhor lhe confiou: viver e proclamar o Evangelho. 

Jovens, o coração da Igreja

“Queridos jovens, o coração da Igreja é jovem precisamente porque o Evangelho é como uma linfa vital que a regenera continuamente. Cabe a nós ser dóceis e cooperar nesta fecundidade. Nós o fazemos também neste caminho sinodal, pensando na realidade dos jovens em todo o mundo. Temos necessidade de recuperarmos o entusiasmo da fé e o gosto da busca. Precisamos de encontrar novamente no Senhor a força para nos levantarmos das falências, de avançar, de fortalecer a confiança no futuro. Precisamos ousar novos caminhos, mesmo que isso envolva riscos. Devemos arriscar, porque o amor sabe arriscar; sem arriscar, um jovem envelhece, e a Igreja também envelhece. Portanto, precisamos de vós, pedras vivas de uma Igreja com um rosto jovem, mas não maquilhado: não artificialmente rejuvenescido, mas reavivado por dentro. E vocês provocam-nos a sair da lógica do “sempre se fez assim” para permanecer de forma criativa nas pegadas da autêntica tradição.

O Papa concluiu as suas palavras convidando os jovens, nesta semana, a exprimirem-se com franqueza e com toda a liberdade. Vocês são protagonistas e é importante que falem abertamente. Garanto que a vossa contribuição será levada a sério.

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