28 fevereiro, 2018

Papa: é pouca a nossa oferta, mas Cristo tem necessidade deste pouco

 
 Papa na Sala Paulo VI para a Audiência Geral  (Vatican Media)

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco falou sobre a "apresentação das oferendas": "O Senhor pede-nos, na vida quotidiana, boa vontade; pede-nos coração aberto, pede-nos desejo de sermos melhores e para dar-se ele mesmo a nós na Eucaristia, pede-mos estas ofertas simbólicas que depois se tornam no Corpo e o Sangue”.
 
Cidade do Vaticano

A Cruz foi o primeiro altar cristão, e “quando nós nos aproximamos do altar para celebrar a Missa, a nossa memória vai ao altar da Cruz, onde foi feito o primeiro sacrifício”.

Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco deu continuidade a sua série de catequeses sobre a Santa Missa, falando sobre a Liturgia Eucarística, em particular, a apresentação das oferendas.

Com a temperatura de -2°C, o tradicional encontro das quartas-feiras realizou-se na Sala Paulo VI.  Como os 12 mil fiéis presentes superavam a capacidade da Sala Paulo VI de 7 mil pessoas, parte deles teve de ser deslocada até a Basílica de São Pedro, de onde acompanharam por um tela. Ao final do encontro, o Papa Francisco foi saudá-los. 

A Liturgia eucarística segue a Liturgia da Palavra, recordou o Santo Padre. "Nela, por meio dos santos sinais, a Igreja torna continuamente presente o Sacrifício da nova aliança sigilada por Jesus no altar da cruz", que "foi o primeiro altar cristão, o da Cruz, e quando nos aproximamos do altar para celebrar a Missa, a nossa memória vai ao altar da Cruz, onde foi feito o primeiro sacrifício”.

O Papa explicou que o sacerdote, na Missa, “representa Cristo, cumpre aquilo que o próprio Senhor fez e confiou aos discípulos na Última Ceia: tomou o pão e o cálice, deu graças, deu-os aos seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei...bebei: este é o meu corpo... este é o cálice de meu sangue. Fazei isto em memória de mim”.

Obediente a Jesus, a Igreja dispôs a Liturgia eucarística “em momentos que corresponde às palavras e aos gestos realizados por Ele, por Jesus, na véspera da sua Paixão. Assim – explicou o Papa – na preparação dos dons são levados ao altar o pão e o vinho, isto é, os elementos que Cristo tomou nas suas mãos”.

“Na oração eucarística damos graças a Deus pela obra da redenção e as ofertas tornam-se o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Seguem a fração do Pão e a Comunhão, mediante a qual revivemos a experiência dos Apóstolos que receberam os dons eucarísticos das mãos do próprio Cristo”.

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O primeiro desses gestos de Jesus – observou Francisco - foi tomar o pão e o vinho, o que corresponde, na celebração da Eucaristia, à apresentação das ofertas:

É bom que sejam os fiéis a apresentar ao sacerdote o pão e o vinho, porque eles significam a oferta espiritual da Igreja ali recolhida pela eucaristia. Não obstante hoje os fiéis não levem mais, como num tempo, o próprio pão e vinho destinados à Liturgia, todavia o rito da apresentação destes dons conserva o seu valor e significado espiritual”.

“Nos sinais do pão e do vinho o povo fiel deposita a própria oferenda nas mãos do sacerdote, o qual a coloca sobre o altar ou banquete do Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística”.

Desta forma, no “fruto da terra e do trabalho do homem” é oferecido o compromisso dos fiéis de fazerem de si mesmos, obedientes à palavra de Deus, um “sacrifício agradável a Deus, Pai todo poderoso”, “para o bem de toda a Santa igreja”.

Assim, “a vida dos fiéis, os seus sofrimentos, a sua oração, o seu trabalho, são unidos àqueles de Cristo e a sua oferta total, e deste modo assumem um novo valor”:

É pouca a nossa oferta, mas Cristo tem necessidade deste pouco. O Senhor  pede-nos pouco, e dá-nos tanto. Pede-nos pouco: pede-nos, na vida quotidiana, boa vontade;  pede-nos coração aberto, pede-nos desejo de ser melhores e para dar-se ele mesmo a nós na Eucaristia, pede-nos estas ofertas simbólicas que depois se tornam o corpo e o sangue”.

Uma imagem deste movimento oblativo de oração é representada pelo incenso que, consumido no fogo, libera um fumo perfumado que sobe:

Incensar as ofertas, como se faz nos dias de festa, incensar a cruz, o altar, o sacerdote e o povo sacerdotal manifesta visivelmente o vínculo ofertorial  que une todas estas realidades ao sacrifício de Cristo”.

E não esquecer: existe o altar que é Cristo, mas sempre em referência ao primeiro altar que é a Cruz, e sobre o altar que é Cristo levamos o pouco de nossos dons – o pão e o vinho – que depois se tornarão o muito – Jesus mesmo – que se dá a nós”.

Isto é expresso também na “oração sobre as ofertas”, quando “o sacerdote pede a Deus para aceitar os dons que a Igreja lhe oferece, invocando o fruto da admirável troca entre a nossa pobreza e a sua riqueza.

No pão e no vinho apresentamos a ele a oferta de nossa vida, para que seja transformada pelo Espírito Santo no sacrifício de Cristo e torne com Ele uma única oferta espiritual agradável ao Pai. Enquanto se conclui a preparação dos dons, se dispõe à Oração Eucarística”.

Que a espiritualidade do nosso dom, que este momento da Missa nos ensina, possa iluminar os nossos dias, as relações com os outros, as coisas que fazemos, os sofrimentos que encontramos, ajudando-nos a construir a cidade terrena à luz do Evangelho.

Catequese do Papa sobre a Liturgia Eucarística, apresentação das ofertas



 VATICAN NEWS

Papa: "acompanhar doentes terminais na difícil provação do fim da vida"

 
Limite da vida pode ser ocasião de encontro e comunhão  (Vatican Media)
 
Em mensagem dirigida aos participantes de congresso sobre curas paliativas, Francisco reflete sobre o momento em que o ser humano se confronta com 'um limite insuperável, que pode suscitar rebelião e angústia'. 
 
Cidade do Vaticano

A Pontifícia Academia para a Vida está a organizar para os dias 28/02 e 01/03, em Roma, o congresso internacional “Tratamentos paliativos: em todos os lugares e para todos. Tratamentos paliativos em todas as regiões, para todas as religiões e crenças”.

Será também apresentado oficialmente o Projeto PAL-Life para a difusão global de terapias paliativas. O objetivo principal do congresso é promover o diálogo e a cooperação entre os diferentes atores envolvidos no exercício e na difusão dos tratamentos paliativos e tutelar a dignidade da pessoa doente, assumindo a sua vulnerabilidade.

Aberto pelo Presidente da Academia, arcebispo Vincenzo Paglia, o evento recebeu uma mensagem do Papa Francisco, enviada pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin.

O ser humano e o momento da morte

Os temas tratados, escreve, dizem respeito aos momentos conclusivos de nossa vida terrena, quando o ser humano se confronta com um limite insuperável, que pode suscitar rebelião e angústia.

Os tratamentos paliativos demonstram, no âmbito da medicina, a consciência de que este limite não deve ser apenas combatido e adiado, mas também reconhecido e aceito. “E isto significa não abandonar as pessoas doentes, mas estar próximo delas e acompanhá-las na difícil provação no fim da vida”.

Encontro e comunhão, acompanhamento e família 

Francisco afirma que “quando todos os recursos do ‘fazer’ parecem acabar-se, emerge o aspeto mais importante nas relações humanas, que é o ‘ser’: ser próximos e acolhedores, partilhando também a sensação de impotência de quem chega ao ponto extremo da vida".
“ Neste momento, o limite pode mudar de significado: deixa de ser separação e solidão para ser ocasião de encontro e comunhão ”
A mensagem sublinha ainda as dimensões do acompanhamento espiritual, da oração e da família neste percurso: “Nas fases finais da vida, a rede familiar, por mais frágil e desagregada, constitui sempre um elemento fundamental”.

Os progressos e a oportunidade da terapia da dor

O Papa ressalta outro tema atual: a terapia da dor, ou seja, a legitimidade de administrar analgésicos para aliviar sofrimentos diante da morte iminente, mesmo que possam encurtar a vida do paciente.

O emprego destes procedimentos – adverte o Papa – requer sempre um atento discernimento e muita prudência, pois a sedação profunda anula a dimensão comunicativa, o que é crucial no acompanhamento das terapias paliativas. Portanto – recomenda – deve ser usada em casos extremos.

Enfim, Francisco afirma que a complexidade e a delicadeza dos temas impõem uma reflexão profunda e neste sentido, elogia a participação de representantes de diferentes religiões e culturas no congresso, num esforço comum de aprendizagem e engajamento.

VATICAN NEWS

27 fevereiro, 2018

Papa: nada de ameaças no confessionário, mas o perdão do Pai

 
 Papa Francisco durante Missa na capela da Santa Marta  (Vatican Media)
 
O Senhor não se cansa de chamar cada um a mudar de vida, a dar um passo em direção a Ele, a converter-nos, e faz isto com a doçura e a confiança de um pai.
 
Cidade do Vaticano

Quaresma é um tempo que ajuda à conversão, à reaproximação a Deus, à mudança da nossa vida e esta é uma graça a ser pedida ao Senhor. Este foi o tema da homilia do Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta terça-feira na capela da Casa Santa Marta.

Jesus Chama com doçura e confiança de pai

Inspirando-se no primeiro livro do Profeta Isaías – um verdadeiro “chamamento à conversão” – o Papa Francisco mostra qual é a atitude “especial” de Jesus diante dos nossos pecados: “não ameaça, mas chama com doçura, dando confiança”.

Ouça a homilia do Papa Francisco em 27 de fevereiro

“Venha, conversemos” são as palavras do Senhor aos chefes de Sodoma e ao povo de Gomorra, a quem – explica o Papa – já indicou “o mal” a ser evitado e o “bem” a ser seguido. Assim faz connosco:

“O Senhor diz: “Venha, Venha e debatamos. Falemos um pouco”. Não nos assusta. É como o pai do filho adolescente que fez uma bobagem e deve repreendê-lo. E sabe que se vai com o bastão a coisa não acabará bem, deve então agir com confiança. O Senhor, nesta passagem, chama-nos assim: “Venha. Tomemos um café juntos. Debatamos, discutamos. Não tenha medo, não quero agredi-lo”. E como sabe que o filho pensa: “Mas eu fiz coisas...” – Imediatamente: “Ainda que os seus pecados fossem como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Se fossem vermelhos como púrpura, tornar-se-ão como lã”.

Também na confissão nada de ameaças

Como o pai em relação ao filho adolescente, Jesus então, com “um gesto de confiança, aproxima do perdão e muda o coração”.

Assim fez – recorda Francisco – chamando Zaqueu ou Mateus, e assim faz na nossa vida, fa-nos ver “como dar um passo em frente no caminho da conversão”:

“Agradeçamos ao Senhor pela sua bondade. Ele não quer agredir e condenar-nos. Deu a sua vida por nós e esta é a sua bondade. E procura sempre o modo de chegar ao coração. E quando nós sacerdotes, no lugar do Senhor, devemos ouvir as confissões, também nós devemos ter esta atitude de bondade, como diz o Senhor: “Venham, debatamos, não há problema, o perdão existe”, e não a ameaça, desde o início”.

Ir ao Senhor de coração aberto: é o pai que espera

O Papa conta a este propósito a experiência de um cardeal confessor, que justamente diante do pecado que intui ser “grande”, não se detém muito e segue em frente, continua o diálogo: “E isto abre o coração” – sublinhou o Papa – “e a outra pessoa sente-se em paz”.
 
Assim faz o Senhor connosco. Diz: “venham, debatamos, falemos. Pegue o recibo do perdão, perdão existe”:

“Ajuda-me a ver esta atitude do Senhor: o pai com o filho que se acha grande, que se acha crescido e ainda está a meio do caminho. E o Senhor sabe que todos nós estamos na metade do caminho e tantas vezes temos necessidade disto, de ouvir esta palavra: “Mas venha, não te assustes, vem. O perdão existe”. E isto nos encoraja a Ir ao Senhor com o coração aberto: é o pai que nos espera”.



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26 fevereiro, 2018

Papa: pedir a graça da vergonha e jamais julgar os outros

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Papa celebra a missa na Casa Santa Marta  (Vatican Media)
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O Papa começou a semana celebrando a missa na Casa Santa Marta. Na homilia, comentou o Evangelho de Lucas.
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Cidade do Vaticano -

Não julgueis e não sereis julgados. Na homilia da Missa celebrada na segunda-feira (26/02) na Casa Santa Marta, o Papa Francisco repete com força este convite de Jesus no Evangelho do dia (Lc 6,36-38).

Ninguém, de facto, poderá fugir do juízo universal: todos seremos julgados. Nesta ótica, a Igreja faz refletir justamente sobre a atitude que temos com o próximo e com Deus.

Em relação ao próximo convida-nos a não julgar, mas a perdoar. “Cada um de nós pode pensar: ‘Mas nunca julgo, eu não faço o juiz”, notou Francisco que convidou, ao invés, a examinar as nossas atitudes: “quantas vezes o argumento das nossas conversas é julgar os outros!”, dizendo “isto não está correto”. “Mas quem o nomeou juiz”, advertiu o Papa: “julgar os outros é algo feio – afirmou – porque o único juiz é o Senhor” que conhece a tendência do homem a julgar os outros:

Nas reuniões que nós temos, um almoço, o que quer que seja, pensemos em duas horas de duração: dessas duas horas, quantos minutos foram usados para julgar os outros? Este é o ‘não’. E qual é o ‘sim’? Sejam misericordiosos. Sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso. E mais: sejam generosos. Dai e vos será dado. O que me será dado? Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. A abundância da generosidade do Senhor, quando nós seremos plenos da abundância da nossa misericórdia em não julgar.

O convite, portanto, é ser misericordiosos com os outros porque do mesmo modo o Senhor será misericordioso connsco. A segunda parte da mensagem da Igreja, hoje, é o convite a ter uma atitude de humildade com Deus, reconhecendo-se pecadores.

E nós sabemos que a justiça de Deus é misericórdia. Mas è preciso dizê-lo: “A Ti convém a justiça; a nós, a vergonha”. E quando se encontra a justiça de Deus com a nossa vergonha, ali está o perdão. Eu creio que pequei contra o Senhor? Eu acredito que o Senhor é justo? Eu acredito que é misericordioso? Eu me envergonho diante de Deus, por ser pecador? Tão simples: a Ti a justiça, a mim a vergonha. E pedir a graça da vergonha.

Por fim, o Papa recordou que na sua língua materna, das pessoas que fazem mal aos outros diz-se “sem vergonha”, e reiterou o convite a pedir a graça “de que jamais nos falte a vergonha diante de Deus”.

É uma grande graça, a vergonha. Assim recordamos: a atitude em relação ao próximo, recordar que com a medida com a qual julgo serei julgado. E se digo algo sobre o outro, que seja generosamente, com muita misericórdia. A atitude diante de Deus, este diálogo essencial: “A Ti a justiça, a mim a vergonha”.


Ouça a reportagem completa



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25 fevereiro, 2018

Apelo do Papa a favor da Síria: a guerra é um mal, ajudas imediatas

 
 ANGELUS 2018-02-18  (Vatican Media)
 
Tudo isto é desumano. Não se pode combater o mal com outro mal. E a guerra é um mal, acrescentou o Papa Francisco. Portanto, dirijo o meu veemente apelo a fim de que cesse imediatamente a violência, reiterou o Pontífice.
 
Cidade do Vaticano

No Angelus ao meio-dia, neste domingo (25/02), mais um premente apelo do Santo Padre a favor da Síria:

“Nestes dias o meu pensamento se tem voltado reiteradas vezes para a amada e martirizada Síria, onde a guerra se intensificou, especialmente no Ghouta oriental. Este mês de fevereiro foi um dos mais violentos em sete anos de conflito: centenas, milhares de vítimas civis, crianças, mulheres, anciãos; hospitais foram atingidos, o povo não pode prover alimentos... Irmãos e irmãs, tudo isto é desumano. Não se pode combater o mal com outro mal. E a guerra é um mal. Portanto, dirijo meu veemente apelo a fim de que cesse imediatamente a violência, seja dado acesso às ajudas humanitárias – alimento e medicamentos – e os feridos e os doentes sejam retirados. Peçamos juntos a Deus para que isso se dê imediatamente.”

Após o apelo, seguido de um breve momento de silêncio, o Papa rezou mais uma Ave-Maria com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Contemplar a transfiguração de Jesus

Atendo-se à liturgia dominical, na alocução que precedeu a oração mariana o Santo Padre ressaltou que o Evangelho deste II Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar a transfiguração do Jesus. Francisco afirmou que o episódio da transfiguração deve ser relacionado com o que acontecera seis dias antes, quando Jesus tinha revelado aos seus discípulos que em Jerusalém deveria “sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, após três dias, ressurgir” (Mc 8,31).

O anúncio colocara em crise Pedro e todo o grupo dos discípulos, que rechaçavam a ideia de que Jesus fosse rejeitado pelos chefes do povo e depois morto.

Jesus, servo de Deus, servo dos homens

De facto, explicou o Pontífice, eles esperavam um Messias poderoso, forte, dominador, ao invés, Jesus apresenta-se como humilde, manso, servo de Deus, servo dos homens, que deverá dar a sua vida em sacrifício, passando pelo caminho da perseguição, do sofrimento e da morte.

“Mas, como seguir um Mestre e Messias cuja vicissitude terrena se concluiria daquele modo? Assim pensavam eles... E a resposta chega justamente da transfiguração. O que é a transfiguração de Jesus? É uma aparição pascal antecipada.”

Paixão de Cristo, sobretudo, um dom de amor infinito de Jesus

A transfiguração ajuda os discípulos, e também a nós, a entender que a paixão de Cristo é um mistério de sofrimento, mas é, sobretudo, um dom de amor, de amor infinito da parte de Jesus. O evento de Jesus que se transfigura no monte fa-nos compreender melhor também a sua ressurreição, continuou Francisco.

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“Para entender o mistério da Cruz é necessário saber antecipadamente que Aquele que sofre e que é glorificado não é somente um homem, mas é o Filho de Deus, que com o seu amor fiel até à morte, nos salvou. O Pai renova assim a sua declaração messiânica sobre o Filho, já feita às margens do Jordão após o batismo, e exorta: ‘Escutai-o!’

Seguir o Mestre com confiança

Os discípulos são chamados a seguir o Mestre com confiança, continuou o Papa, com esperança, apesar da sua morte; a divindade de Jesus deve manifestar-se propriamente na cruz, propriamente no seu morrer “daquele modo”, tanto que o evangelista Marcos coloca na boca do centurião a profissão de fé: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!”
Na saudação aos vários grupos de fiéis e peregrinos o Pontífice saudou, entre outros, o grupo presente na Praça São Pedro por ocasião da “Jornada pelas doenças raras”, com um encorajamento às associações que trabalham neste campo.

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24 fevereiro, 2018

Reflexão II Domingo Quaresma

 
 
 
O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele. 
 
Padre Cesar Augusto dos Santos - Cidade do Vaticano
 
Geralmente, apesar da nossa fé no Deus de Amor revelado por Jesus, temos atitudes pagãs em que julgamos o Todo Poderoso a solicitar-nos sacrifícios desumanos. Assim pensamos que para Deus é agradável penitências dolorosas, difíceis e até para falar com Ele são necessários procedimentos artificiais e fora de nossa realidade.

Tudo isto mostra que as raízes pagãs ancestrais estão arreigadas na nossa cultura como estava na de Abraão, marcada por forte politeísmo cujo culto expressava-se com inúmeros sacrifícios às divindades.

Abraão que aos poucos conhece o Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem a sua fé colocada à prova com o sacrifício do seu filho Isaque. Tendo Abraão provado a sua fé, Deus poupa-lhe o sacrifício revelando a sua bondade e generosidade. O que passa pela cabeça de Abraão, passa também pela nossa.

Julgamos que Deus se satisfaz com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse? Certamente não é o que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus Cristo no Evangelho.

O que Abraão desejava e agradou a Deus foi a sua atitude de desacomodação ao deixar a sua casa paterna, a sua pátria e ir para o desconhecido,  confiando apenas na Palavra do Senhor. A atitude de matar o seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso, mas mostrou que também abria mão do seu futuro e só esperava em Deus.

O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.

No Evangelho temos o relato da Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude de Pedro. Ele priva, juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade especial com o Senhor e lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus sofrerá. Enquanto Jesus busca prepará-los para o momento decisivo da sua luta contra o mal, Pedro fica fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje, deslumbrado, e propõe a estabilidade, a acomodação através da construção de tendas, no desejo de perenizar o passageiro.

O Pai chama-lhe à atenção, alertando-o para ouvir o que O Filho amado tem a dizer. Nesse momento acaba a teofania e apenas Jesus permanece com eles. O único necessário na nossa vida é ouvir Jesus, a Palavra do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a abnegação desejada, a penitência autêntica é colocar tudo em segundo plano e apenas Jesus Cristo como o absoluto da nossa vida.

Tudo o que a vida me oferece, seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser relativizado: família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos estes valores deverão ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus.

A santidade do relacionamento entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãs, não está nele mesmo, mas enquanto são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar. Sendo assim eles tornam-se sagrados. 

Queridos amigos ouvintes, as cruzes que encontramos na vida conjugal, familiar, profissional, na comunidade eclesial, e em tantos outros lugares, foram anunciadas na transfiguração de Jesus e fazem parte desta vida de entrega, de renúncia, de abnegação, de penitência, de amor.

E neste tempo de penitência não nos esqueçamos do jejum que sobremaneira é agradável a Deus: “soltar as algemas injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos oprimidos e acabar com qualquer escravidão”.

Sigamos o Mestre e, como ele, sejamos generosos em amar.

Ouça a reflexão

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Papa exorta "Diaconia da Beleza" a promover cultura do encontro

 
Papa Francisco com o Movimento "Diaconia da Beleza"  (Vatican Media)
 
Os componentes da “Diaconia da Beleza” são músicos, poetas, cantores, pintores, arquitetos, cineastas, escultores, atores e bailarinos que buscam viver de modo comunitário, a sua busca pela Verdade e paixão pela arte.
 
Cidade do Vaticano

“A Igreja conta convosco para tornar perceptível  a Beleza inefável do amor de Deus e para permitir a cada um descobrir a beleza de ser amado por Deus, de serem preenchidos pelo seu amor, para viver deste amor e dar testemunho dele na atenção aos outros, em particular, àqueles que são excluídos, feridos, rejeitados nas nossas sociedades.”

Foi o que disse o Papa Francisco aos membros da “Diaconia da Beleza”, um serviço eclesial nascido em 2012 com a finalidade de construir uma ponte entre os artistas e Deus, para tornarem-se testemunhas da sua beleza. Os componentes da “Diaconia” são músicos, poetas, cantores, pintores, arquitetos, cineastas, escultores, atores e bailarinos que buscam viver de modo comunitários a sua busca pela Verdade e paixão pela arte.

Dirigindo-se aos presentes, o Pontífice quis estender a sua saudação a todos os artistas que buscam fazer resplandecer a beleza, com os seus talentos e sua paixão, bem como às pessoas em condições de fragilidade que se restabelecem graças à experiência da beleza na arte.

Citando São João Paulo II na Carta aos artistas, Francisco ressaltou que “o artista vive uma relação peculiar com a beleza. Num sentido muito verdadeiro pode-se dizer que a beleza é a vocação a ele concedida pelo Criador com o dom do ‘talento artístico’”.

O Papa lembrou que a “Diaconia da Beleza” fincou as suas raízes em Roma por ocasião do Sínodo sobre a Nova Evangelização realizado em outubro de 2012, agradecendo a Deus, junto com eles, pelo caminho realizado e pela variedade dos talentos, que o Senhor os chama para desenvolver ao serviço do próximo e de toda a humanidade.

Em seguida, o Santo Padre destacou que os dons que receberam são para cada um deles uma responsabilidade e uma missão. Efetivamente, acrescentou, é pedido a vós que trabalhem sem se deixarem dominar pela busca da vã glória ou de uma fácil popularidade, e muito menos pelo cálculo muitas vezes mesquinho unicamente do lucro pessoal.

“Num mundo no qual a técnica é muitas vezes entendida como o principal recurso para interpretar a existência, vós sois chamados, mediante os vossos talentos e haurindo das fontes da espiritualidade cristã, a propor ‘um modo alternativo de entender a qualidade da vida, (a encorajar) um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de alegrar profundamente sem ser obcecado pelo consumo’, e a servir à criação e à tutela de ‘oásis de beleza’ nas nossas cidades muitas vezes cimentadas e sem alma.”

Francisco exortou-os a desenvolver os seus talentos para contribuir para uma conversão ecológica que reconheça a eminente dignidade de toda pessoa, o u valor peculiar, a sua criatividade e a sua capacidade de promover o bem comum.

“Encorajo-vos nesta ‘Diaconia da Beleza’ a promover uma cultura do encontro, a construir pontes entre as pessoas, entre os povos, num mundo em que ainda se elevam tantos muros por medo dos outros. Tenham a peito também testemunhar, na expressão da vossa arte, que crer em Jesus Cristo e segui-lo não é simplesmente uma coisa verdadeira e justa, mas também bonita, capaz de preencher a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio das provações.”

VATICAN NEWS

23 fevereiro, 2018

A força do jejum e da oração na superação da violência

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Espiritualidade é fonte de irradiação de paz  (AFP or licensors)
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Neste dia de oração e jejum pela paz convocado pelo Papa Francisco, o teólogo Padre Erico Hammes fala-nos sobre o contexto em que este se realiza e como o jejum e a oração podem representar uma mudança de rota, assim como ajudar a superar os nossos próprios impulsos e tendências à violência. 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
 
O Papa Francisco convocou para esta sexta-feira, 23 de fevereiro, um Dia de Oração e Jejum pela paz. Um apelo dirigido não somente aos cristãos, mas a pessoas de outras religiões e todos os homens de boa vontade.

Para melhor entendermos o contexto em que se realiza este chamamento do Pontífice e também a força do jejum e da oração, o Vatican News conversou com o padre Erico Hammes*, teólogo, docente na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul

O Papa Francisco convocou para esta sexta-feira, 23, este Dia de Oração e Jejum pela paz, de sobremaneira pelo Sudão do Sul, pela República Democrática do Congo, mas também pela Síria e poderíamos incluir todos os países onde existem conflitos. E esta, aliás, não é a primeira vez durante o seu pontificado que o Papa promove uma iniciativa do género. Seria quase um apelo a uma situação extrema? O mundo vive uma situação de emergência neste sentido?

Sim, com certeza! E os últimos acontecimentos internacionais e as provocações levam a uma situação que hoje se pode considerar de instabilidade, porque não há uma segurança nas relações internacionais. A situação da Turquia e da Síria e tudo aquilo que está a passar-se em África, é realmente uma situação muito preocupante mas também a situação da política armamentista, e digamos uma espécie de reinício da corrida armamentista. Isto obviamente não faz bem para as relações internacionais e tampouco para a paz”.

Na sua opinião, de que maneira o jejum e a oração podem influir positivamente neste contexto?

“Nós temos alguns exemplos muito significativos. Talvez o que marcou muito o século XX foi a atividade de Gandhi, que sempre insistiu na questão do jejum como uma forma das pessoas se prepararem e se dedicarem para a paz.

A oração,  nós temos o caso da Alemanha Oriental, em que durante muitos anos na igreja de São Nicolau, em Leipzig, se faziam nas segundas-feiras as orações às cinco horas da tarde, e isto foi o que deu assim a força para o movimento de 1989 poder ir para as ruas e terminar com o Muro de Berlim.  

Então, uma espiritualidade decisiva é sempre uma espécie de fonte de irradiação, mesmo que ela não seja levada eventualmente por motivações extraordinárias, mas consegue despertar no ser humano e pela afinidade com os desígnios de Deus, a disposição para se colocar a caminho da paz.

Então a oração é sem dúvida nenhuma um sinal, uma força muito grande para a paz, e também forma as consciências. E o jejum como exercício de autodomínio e também de exercício de solidariedade. Porque a violência é uma reação natural, quando não se tem uma alternativa cultural melhor. Então a violência brota, por assim dizer, aquilo como uma primeira reação à violência. Violência gera violência, a não ser que haja uma transformação da instintividade da reação violenta, por uma atitude de solidariedade, de paz, de compreensão e de acolhimento e de tolerância, em resistência.

Quero apenas reforçar ou aceitar o desafio que o Papa nos faz para sermos testemunhas da paz, de nos engajarmos na oração e no jejum. Tentar fazer em todos os mbientes onde  estamos, aquilo que estiver ao nosso alcance. E podermos noutras atividades que fazemos, seja na sociedade civil, seja nas nossas atividades acadéicas, em atividades pastorais, de evangelização, de liturgia, em que nós possamos testemunhar e buscar aprofundar isto.

Nós aqui no Brasil, em particular, temos muito a ver, e trabalhar, buscar em favor da superação da violência. Somos um dos países com o mais alto índice de violência no mundo e matamos por ano diretamente mais de 60 mil pessoas.

Então temos uma gravíssima responsabilidade como Igreja Católica no Brasil em buscarmos caminhos sérios de superação das condições que causam a própria violência em que se mata tanta gente, como estamos a viver.

Então, quero sim unir-me profundamente à oração pela paz e pela superação da violência e sei também da grande dor que reina nem África, com acampamentos na ordem de 60 mil pessoas, refugiados, e tudo aquilo que acontece na Europa e também aqui estamos a viver o problema da Venezuela, os venezuelanos que estão a entrar em grande número.

Então, orar, rezar por isto, convocar as pessoas para isto, e ao mesmo tempo fazer o nosso jejum, no sentido de superar os nossos próprios impulsos e tendências à violência. E esse acho que é o sentido deste chamamento do Papa.

E a Campanha da Fraternidade no Brasil vem a propósito: Fraternidade e a superação da violência é o tema, pois todos somos irmãos e irmãs”.

* Padre Erico Hammes é teólogo, docente na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, pós-Doutorado em Cristologia da Paz na instituição de ensino Eberhard Karls Universität Tübingen, Alemanha.

É natural de Arroio do Meio (RS). Frequentou o Seminário São João Batista, de Santa Cruz do Sul. Estudou Licenciatura Plena em Filosofia na instituição de ensino FAFIMC e Pesquisa de doutorado em Cristologia na instituição de ensino Eberhard Karls Universität Tübingen.

Ouça a entrevista!

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