30 novembro, 2017
Discurso do Papa às Autoridades de Bangladesh - Texto integral
(RV) O Papa Francisco encontrou, no Palácio Presidencial de Daca, Bangladesh, as Autoridades políticas e religiosas do País, o Corpo Diplomático e representantes da sociedade civil. A seguir texto integral do discurso:
Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades de Estado e Civis,
Vossa Eminência, amados Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!
No início da minha presença no Bangladesh, quero agradecer-lhe,
Senhor Presidente, o amável convite para visitar esta nação e as suas
deferentes palavras de boas-vindas. Seguindo as pegadas de dois dos meus
Predecessores, o Papa Paulo VI e o Papa João Paulo II, estou aqui para
rezar com os meus irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem
de estima e encorajamento. O Bangladesh é um Estado jovem e todavia
ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas, que desde o
princípio expressaram solidariedade ao seu povo, procurando acompanhá-lo
na superação das dificuldades iniciais e apoiando-o na tarefa exigente
da construção da nação e do seu desenvolvimento. Agradeço a oportunidade
de me dirigir a esta assembleia, que reúne homens e mulheres com
responsabilidades especiais na tarefa de dar forma ao futuro da
sociedade do Bangladesh.
Durante o voo para chegar aqui, foi-me lembrado que o Bangladesh –
«Golden Bengal» – é uma nação interligada por uma vasta rede fluvial e
por vias navegáveis, grandes e pequenas. Creio que esta beleza natural é
emblemática da vossa particular identidade como povo. O Bangladesh é
uma nação que se esforça por alcançar uma unidade de linguagem e cultura
com o respeito pelas diferentes tradições e comunidades, que fluem como
inúmeros ribeiros vindo enriquecer o grande curso da vida política e
social do país.
No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver
e progredir no isolamento. Como membros da única família humana,
precisamos uns dos outros e estamos dependentes uns dos outros. O
Presidente Sheikh Mujibur Rahma compreendeu e procurou incorporar este
princípio na Constituição Nacional. Imaginou uma sociedade moderna,
pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada comunidade pudesse viver
em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata dignidade e
igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a
saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta
visão fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do
respeito pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as
divisões, superar perspetivas unilaterais e reconhecer a validade de
pontos de vista divergentes. Uma vez que o diálogo autêntico aposta no
futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum e está atento às
necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos
desfavorecidos e daqueles que não têm voz.
Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o
espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da
sociedade do Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos
refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes
abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida.
Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado
também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar de estar
consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de
sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos
nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças
amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade
internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise,
não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à
massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência
material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às
urgentes carências humanas.
Apesar da minha visita ser primariamente dirigida à Comunidade
católica do Bangladesh, considero um momento privilegiado o meu encontro
que terá lugar amanhã em Ramna com os Responsáveis ecuménicos e
inter-religiosos. Juntos, rezaremos pela paz e reafirmaremos o nosso
compromisso de trabalhar pela paz. O Bangladesh é conhecido pela
harmonia que tradicionalmente existe entre os seguidores de várias
religiões. Esta atmosfera de respeito mútuo e um clima crescente de
diálogo inter-religioso permitem aos crentes expressar livremente as
suas convicções mais profundas sobre o significado e a finalidade da
vida. Assim podem contribuir para promover os valores espirituais que
são a base segura para uma sociedade justa e pacífica. Num mundo onde
muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada para fomentar a
divisão, revela-se ainda mais necessário um tal género de testemunho do
seu poder de reconciliação e união. Isto manifestou-se de forma
particularmente eloquente na reação comum de indignação que se seguiu ao
brutal ataque terrorista do ano passado aqui em Daca e na mensagem
clara enviada pelas autoridades religiosas da nação, segundo a qual o
santíssimo nome de Deus não pode jamais ser invocado para justificar o
ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes.
Embora em número relativamente reduzido, os católicos do Bangladesh
procuram desempenhar um papel construtivo no desenvolvimento da nação,
especialmente através das suas escolas, clínicas e dispensários. A
Igreja aprecia a liberdade – de que beneficia toda a nação – de praticar
a sua fé e realizar as suas obras sócio- caritativas, incluindo a de
oferecer aos jovens, que representam o futuro da sociedade, uma educação
de qualidade e um exercício de sãos valores éticos e humanos. Nas suas
escolas, a Igreja procura promover uma cultura do encontro, que tornará
os alunos capazes de assumir as suas próprias responsabilidades na vida
da sociedade. Com efeito, nestas escolas, a grande maioria dos
estudantes e muitos dos professores não são cristãos, mas provêm de
outras tradições religiosas. Tenho a certeza de que a Comunidade
católica, de acordo com a letra e o espírito da Constituição Nacional,
continuará a gozar da liberdade de levar por diante estas boas obras
como expressão do seu empenho a favor do bem comum.
Senhor Presidente, queridos amigos!
Agradeço a vossa atenção e asseguro-vos as minhas orações, para que,
nas vossas nobres responsabilidades, sejais sempre inspirados pelos
altos ideais de justiça e serviço aos vossos concidadãos. De bom grado
invoco, sobre vós e sobre todo o povo do Bangladesh, as bênçãos divinas
da harmonia e da paz.
Daca, Palácio Presidencial, 30 de novembro de 2017
Papa em Bangladesh: resolver questões políticas sobre refugiados de Rakhine
(RV) Depois
da cerimónia de boas-vindas, no aeroporto internacional de Daca, em
Bangladesh, o Papa Francisco visitou o Memorial Nacional dos Mártires,
em Savar, prestou homenagem ao Pai da Pátria no Bangabandhu Memorial
Museum e assinou o Livro de Honra. A seguir, foi a visita de Cortesia ao
Presidente da República Abdul Hamid, no Palácio Presidencial, onde
também teve lugar o encontro com as Autoridades políticas e religiosas
do País, o Corpo Diplomático e representantes da sociedade civil.
No seu discurso o Papa começou por agradecer ao Presidente pelo
convite a visitar o País, ressaltando que a sua presença é para rezar
com os irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem de estima e
encorajamento, seguindo as pegadas dos Papa Paulo VI e João Paulo II
que também visitaram o País.
Em seguida o Papa falou do Bangladesh, uma nação que se esforça por
alcançar uma unidade de linguagem e cultura com o respeito pelas
diferentes tradições e comunidades, e que enriquecem a vida política e
social do país:
“No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode
sobreviver e progredir no isolamento. Como membros da única família
humana, precisamos uns dos outros e estamos dependentes uns dos outros”.
Os pais fundadores do Bangladesh também haviam imaginado uma
sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada
comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a
inata dignidade e igualdade de direitos de todos – reiterou o Papa.
O futuro desta jovem democracia e a saúde da sua vida política
dependem essencialmente da fidelidade a esta visão fundadora, disse o
Papa no seu discurso, pois só através dum diálogo sincero e do respeito
pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões,
superar perspetivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de
vista divergentes.
Em seguida o Pontífice falou do espírito de generosidade e
solidariedade da sociedade do Bangladesh, bem visível nos meses passados
a favor dos refugiados chegados em massa ao País, acolhidos de modo a
proporcionar-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades
primárias da vida, algo que se conseguiu à custa de muito sacrifício. E
Francisco acrescentou:
“Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da
situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias
condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos
quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É
necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas
face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões
políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também
prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por
responder eficazmente às urgentes carências humanas”.
Francisco referiu-se também ao encontro que terá amanhã em Ramna com
os Responsáveis ecuménicos e inter-religiosos, para juntos, rezarem pela
paz. E louvou o clima de respeito mútuo e diálogo inter-religioso no
Bangladesh:
“Num mundo onde muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada
para fomentar a divisão, revela-se ainda mais necessário um tal género
de testemunho do seu poder de reconciliação e união”.
Na verdade, como as autoridades religiosas do País indicaram o ano
passado após o brutal ataque terrorista em Daca, “o santíssimo nome de
Deus não pode jamais ser invocado para justificar o ódio e a violência
contra outros seres humanos, nossos semelhantes” – enfatizou o Papa.
E a terminar, o Pontífice falou do papel dos católicos do Bangladesh
que, embora em número relativamente reduzido, procuram desempenhar um
papel construtivo no desenvolvimento da nação, especialmente através das
suas escolas, clínicas e dispensários.
Nas suas escolas, a Igreja procura promover uma cultura do encontro,
que tornará os alunos capazes de assumir as suas próprias
responsabilidades na vida da sociedade – rematou o Papa:
“Tenho a certeza de que a Comunidade católica, de acordo com a letra e
o espírito da Constituição Nacional, continuará a gozar da liberdade de
levar por diante estas boas obras como expressão do seu empenho a favor
do bem comum”.
E Francisco concluiu invocando sobre todos e sobre o povo do Bangladesh as bênçãos divinas da harmonia e da paz.
(BS)
Vós sois uma boa nova: o Papa, aos jovens birmaneses
Rangum (RV) – O Papa Francisco dedicou aos
jovens o seu último compromisso em terras birmanesas.Com a missa
celebrada na Catedral Santa Maria, em Rangum, Francisco se despediu de
Mianmar e, como de costume, com uma mensagem de encorajamento à futura
geração.
Com a capacidade para acolher apenas 1.500 pessoas, milhares porém,
de fiéis e peregrinos, participaram na mesma da celebração estando do
lado de fora da Catedral e até mesmo pelas ruas.
Comoventes cantos da tradição local animaram a cerimónia litúrgica,
vivida em espírito de recolhimento pelos jovens vestidos todos com
trajes tradicionais.
“Vós, disse Francisco, sois uma boa-nova, porque sois sinais
concretos da fé da Igreja em Jesus Cristo, que nos traz uma alegria e
uma esperança que jamais terão fim”. Entretanto, questionou o Pontífice,
é possível falar de boa-nova quando tanta injustiça, pobreza e miséria
estende a sua sombra sobre nós e o nosso mundo?
“Contudo, prosseguiu, gostaria que deste lugar partisse uma mensagem
muito clara. Gostaria que as pessoas soubessem que vocês não têm medo de
acreditar na boa-nova da misericórdia de Deus, porque essa boa-nova tem
um nome e um rosto: Jesus Cristo.”
O Santo Padre pediu então aos jovens para que sejam mensageiros
autênticos desta boa-nova perante todos aqueles que precisam das suas
orações, solidariedade e paixão pelos direitos humanos, pela justiça e
pelo crescimento daquilo que Jesus dá: amor e paz.
Comentando a primeira Leitura, em que São Paulo formula perguntas
sobre o anúncio da boa-nova, Francisco disse que como “avô” gostaria de
apontar aos jovens o caminho para serem esses mensageiros de Cristo.
Antes de tudo, disse, que falem com Deus na oração, compartilhando
com Ele os seus medos e as suas preocupações, os seus sonhos e as suas
esperanças.
“Não tenham medo, acrescentou Francisco, de colocar perguntas que
levem as pessoas a pensar! Gostaria de pedir-vos para gritarem, mas não
com a voz; gostaria que gritassem com a vida, com o coração, de modo a
serem sinais de esperança para quem está sozinho.”
Por isso, disse ainda o Papa, “não se atirem para a frente com as
próprias forças, mas sigam Cristo. Seja qual for a vossa vocação, eu vos
exorto: sejam corajosos, sejam generosos e, sobretudo, sejam alegres!”
Finalmente o Papa confiou todos os jovens à intercessão de Maria e
com a saudação em birmanês – Myanmar pyi ko Payarthakin Kaung gi pei pa
sei (Deus abençoe Mianmar) – concluiu sob aplausos a sua homilia.
29 novembro, 2017
Homilia do Papa na Kyaikkasan Ground de Rangum - Texto integral
(RV) O Papa Francisco celebrou a Missa, na manhã desta quarta-feira (29/11), na Kyaikkasan Ground de Rangum, em Mianmar, e enfatizou que só o perdão pode curar as feridas da violência. A seguir Texto integral da homilia:
Amados irmãos e irmãs!
Há muito tempo que anelava por este momento da minha vinda ao país.
Muitos de vós viestes de longe e de áreas montanhosas remotas, e não
poucos mesmo a pé. Eu vim como peregrino para vos ouvir e aprender de
vós, e para vos oferecer algumas palavras de esperança e consolação.
A primeira leitura de hoje, do livro de Daniel, ajuda-nos a ver como
era limitada a sabedoria do rei Baltasar e dos seus videntes. Sabiam
como louvar «os deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de
madeira e de pedra» (Dn 5, 4), mas não possuíam a sabedoria para louvar a
Deus em cujas mãos está a nossa vida e a nossa respiração. Ao
contrário, Daniel tinha a sabedoria do Senhor e era capaz de interpretar
os seus grandes mistérios.
O intérprete definitivo dos mistérios de Deus é Jesus. Ele é a
sabedoria de Deus em pessoa (cf. 1 Cor 1, 24). Jesus não nos ensinou a
sua sabedoria com longos discursos ou por meio de grandes demonstrações
de poder político ou terreno, mas com a oferta da sua vida na cruz. Às
vezes, podemos cair na armadilha de confiar na nossa própria sabedoria,
mas a verdade é que facilmente perdemos o sentido da direção. Então é
necessário lembrar-nos de que dispomos, à nossa frente, duma bússola
segura: o Senhor crucificado. Na cruz, encontramos a sabedoria, que pode
guiar a nossa vida com a luz que provém de Deus.
E da cruz vem também a cura. Lá, Jesus ofereceu as suas feridas ao
Pai por nós: mediante as suas feridas, somos curados (cf. 1 Pd 2, 4).
Que nunca nos falte a sabedoria de encontrar, nas feridas de Cristo, a
fonte de toda a cura! Sei que muitos no Myanmar carregam as feridas da
violência, quer visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas
lesões com uma sabedoria mundana que, como a do rei na primeira
leitura, está profundamente deturpada. Pensamos que a cura possa vir do
rancor e da vingança. Mas o caminho da vingança não é o caminho de
Jesus.
O caminho de Jesus é radicalmente diferente. Quando o ódio e a
rejeição O conduziram à paixão e à morte, Ele respondeu com o perdão e a
compaixão. No Evangelho de hoje, o Senhor diz-nos que, à sua
semelhança, podemos também deparar-nos com a rejeição e tantos
obstáculos, mas nessa ocasião dar-nos-á uma sabedoria a que ninguém pode
resistir (cf. Lc 21, 15). Aqui Ele fala do Espírito Santo, por Quem o
amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). Com o dom
do Espírito, Jesus torna cada um de nós capaz de ser sinal da sua
sabedoria, que triunfa sobre a sabedoria deste mundo, e da sua
misericórdia, que dá alívio mesmo às feridas mais dolorosas.
Na véspera da sua paixão, Jesus deu-Se aos Apóstolos sob as espécies
do pão e do vinho. No dom da Eucaristia, com os olhos da fé, não só
reconhecemos o dom do seu corpo e sangue, mas aprendemos também a
encontrar repouso nas suas feridas, sendo nelas purificados de todos os
nossos pecados e extravios. Buscando refúgio nas feridas de Cristo,
possais vós, queridos irmãos e irmãs, experimentar o bálsamo salutar da
misericórdia do Pai e encontrar a força de o levar aos outros, ungindo
cada uma das suas feridas e dolorosas lembranças. Deste modo, sereis
testemunhas fiéis da reconciliação e da paz que Deus quer que reine em
cada coração humano e em todas as comunidades.
Eu sei que a Igreja no Myanmar já está a fazer muito para levar o
bálsamo salutar da misericórdia de Deus aos outros, especialmente aos
mais necessitados. Há sinais claros de que, mesmo com meios muito
limitados, numerosas comunidades proclamam o Evangelho a outras minorias
tribais, sem nunca forçar ou constringir, mas sempre convidando e
acolhendo. No meio de tanta pobreza e inúmeras dificuldades, muitos de
vós prestam assistência prática e solidariedade aos pobres e aos
doentes. Através das canseiras diárias dos seus bispos, sacerdotes,
religiosos e catequistas, e particularmente mediante o louvável trabalho
do Catholic Karuna Myanmar e da generosa assistência prestada pelas
Pontifícias Obras Missionárias, a Igreja neste país está a ajudar um
grande número de homens, mulheres e crianças, sem distinções de religião
ou de origem étnica. Posso testemunhar que aqui a Igreja está viva, que
Cristo está vivo e está aqui convosco e com os vossos irmãos e irmãs
das outras Comunidades cristãs. Encorajo-vos a continuar a partilhar com
os outros a inestimável sabedoria que recebestes, o amor de Deus que
brota do Coração de Jesus.
Jesus quer dar esta sabedoria em abundância. Ele premiará certamente
os vossos esforços por espalhar sementes de cura e reconciliação nas
vossas famílias, comunidades e na sociedade alargada desta nação.
Porventura não nos disse Ele que a sua sabedoria é irresistível (cf. Lc
21, 15)? A sua mensagem de perdão e misericórdia obedece a uma lógica
que nem todos quererão compreender, e que encontrará obstáculos. Contudo
o seu amor, revelado na cruz, é definitivamente imparável. É como um
GPS espiritual que nos guia infalivelmente rumo à vida íntima de Deus e
ao coração do nosso próximo.
A Santíssima Virgem Maria seguiu o seu Filho mesmo na escura subida
ao monte Calvário e acompanha-nos em todos os passos da nossa viagem
terrena. Que Ela nos obtenha sempre a graça de ser mensageiros da
verdadeira sabedoria, profundamente misericordiosos para com os
necessitados, com a alegria que brota de repousar nas feridas de Jesus,
que nos amou até ao fim.
Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe a Igreja no Myanmar! Abençoe esta terra com a sua paz! Deus abençoe o Myanmar!
Papa aos Bispos de Mianmar: voz da Igreja pela dignidade e direitos de todos
(RV) O
último compromisso do Papa Francisco nesta quarta-feira (29/11) foi à
tarde, às 17h15, hora local de Rangum, quando recebeu os 22 bispos de
Mianmar na Catedral de Santa Maria, que faz parte do complexo do
arcebispado, onde está hospedado.
O Papa fez um discurso em italiano e os bispos receberam um livreto
com a tradução em inglês. Depois de agradecer a todos e especialmente ao
Presidente da Conferência Episcopal, Dom Félix Lian Khen Thang pela
recepção calorosa, o Papa sintetizou os seus pensamentos em três
palavras: cura, acompanhamento e profecia.
Cura
Sobre a primeira, cura, Francisco disse que o Evangelho é sobretudo
uma mensagem de cura, reconciliação e paz e em Mianmar, esta mensagem
tem uma ressonância especial, pois o país está empenhado em superar
divisões profundamente radicadas e construir a unidade nacional.
“A comunidade católica do País, acrescentou, pode-se orgulhar do seu
testemunho profético de amor a Deus e ao próximo, que se traduz no
compromisso a favor dos pobres, daqueles que estão privados de direitos e
sobretudo, nestes tempos, a favor dos inúmeros desalojados que, por
assim dizer, jazem feridos na beira da estrada, sem olhar a religião nem
etnia”.
Acompanhamento
A segunda palavra é acompanhamento: “Como bispos, as vossas vidas e o
vosso ministério são chamados a conformar-se ao espírito de
envolvimento missionário, sobretudo através de visitas pastorais
regulares às paróquias e comunidades que formam as vossas Igrejas
locais”, pediu Francisco, lembrando também “a essencial contribuição dos
catequistas em permear o laicado com o espírito missionário e procurar
uma sábia inculturação da mensagem evangélica na vida diária e nas
tradições das comunidades”. Alertou ainda para "o risco das colonizações
culturais e ideológicas".
O Papa pediu ainda um envolvimento especial no acompanhamento dos
jovens e a este respeito, recordou que o próximo Sínodo dos Bispos os
interpelará directamente.
Profecia
A terceira palavra do Papa aos bispos birmaneses é profecia: “Que a
comunidade católica continue a ter um papel construtivo na vida da
sociedade, fazendo ouvir a sua voz nas questões de interesse nacional,
principalmente insistindo no respeito pela dignidade e os direitos de
todos, particularmente dos mais pobres e vulneráveis”, afirmou.
Mencionando explicitamente a sua Encíclica Laudato sì, o Papa
destacou a necessidade de proteger o meio ambiente e assegurar uma
correta utilização dos ricos recursos naturais do país a bem das
gerações futuras. A custódia do dom divino da criação não pode ser
separada de uma saudável ecologia humana e social. “O cuidado autêntico
da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável
da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros”.
Terminando, Francisco exortou o episcopado a manter o equilíbrio
tanto na saúde física como na espiritual e a crescer todos os dias na
oração e na experiência do amor reconciliador de Deus: "O primeiro dever
do bispo é a oração", afirmou.
O final do segundo dia
Antes de se dirigir à sede do arcebispado, o Papa abençoou a pedra
fundamental de 16 igrejas, do Seminário Maior e da Nunciatura Apostólica
e ainda posou para fotos com os 300 seminaristas do país.
Na capela do arcebispado, o Papa se reuniu, em encontro fechado, com os 30 membros da Companhia de Jesus que trabalham no país.
Reforçar a amizade e empenho comum pela paz – Papa aos monges budistas
(RV) Eram
16.45 em Ragum, quando o Santo Padre chegou ao Centro Kaba Yae, lugar
símbolo do budismo Thearavada, dominada pela Pagoda da Paz mundial,
localmente chamada, Kaba Aye Paya. É um dos templos budistas mais
venerados em todo o sudeste asiático. Ali o Papa se encontrou com o
Comité Estatal Sanga Maha Nyaka, formado por 46 monges budistas de alto
nível, nomeados pelo Ministro dos Assuntos Religiosos para regular o
Sangha, ou seja o clero budista. O Comité vigia sobre o respeito do
Vinaya, isto é as regras de conduta dos monges Theravada, que não se
devem envolver em assuntos seculares.
O Papa considerou o encontro com eles “uma ocasião importante para
renovar e fortalecer os laços de amizade e respeito entre budistas e
católicos”. “Uma oportunidade também - disse - para afirmar o nosso
empenho pela paz, o respeito da dignidade humana e a justiça para com
todo o homem e mulher.” Um testemunho comum dos líderes
religiosos de que o mundo inteiro necessita, pois que - sublinhou –
“quando falamos de uma só voz afirmando o valor perene da justiça, da
paz e da dignidade fundamental de todo o ser humano, damos uma palavra
de esperança. Ajudamos os budistas, os católicos e todas as pessoas a
lutarem por uma maior harmonia nas suas comunidades”
Não obstante os graves problemas sociais da época actual, Francisco
convidou à não resignação, pois que as tradições espirituais mostram que
“existe realmente um caminho para avançar, um caminho que leva à
cura, à mútua compreensão, um caminho baseado na compaixão e no amor”.
O Papa exprimiu depois a sua estima por todos os que vivem segundo as
tradições religiosas do Budismo no Myanmar, e disse que graças aos
ensinamentos de Buda e o testemunho zeloso de tantos monges e monjas o
povo foi formado nos valores da paciência, tolerância, respeito pela
vida e pelo ambiente. Trata-se de valores essenciais para o
desenvolvimento integral da sociedade e do sentido de pertença étnica,
nacional e a uma humanidade comum.
“Numa verdadeira cultura do encontro, estes valores podem
fortalecer as nossas comunidades e ajudar o conjunto da sociedade a
irradiar a tão necessária luz”.
Para o Papa o grande desafio dos nossos dias é todavia “ajudar
as pessoas a abrir-se ao transcendente, e a sentir-se em profunda
conexão com os outros, superando todas as formas de incompreensão,
intolerância, preconceito e ódio”. E nesta ordem de ideias
indicou as semelhanças entre cristãos e budistas através de palavra de
Buda e de São Francisco. Dizia Buda:
“Vence o rancor com o não-rancor, vence o malvado com a
bondade, vence o avarento com a generosidade, vence o mentirosos com a
verdade”.
Por sua vez, São Francisco de Assis rezava ao Senhor nestes sentido:
“Senhor fazei de mim instrumento da vossa paz, onde houver
ódio fazei que eu leve o amor, onde houver ofensa que eu leve o perdão
(…), onde houver trevas que eu leve a luz, e onde houver tristeza que eu
leve a alegria”.
Que esta sabedoria continue a inspirar todos os esforços para
promover a paciência e a compreensão e curar as feridas dos conflitos
que ao longo dos anos, dividiram pessoas e culturas, etnias e convicções
religiosas – suplicou o Papa. Francisco recordou que este esforço de
superar conflitos e injustiças compete sim a toda a sociedade, mas os
líderes religiosos e civis têm de garantir que cada voz seja ouvida.
Isto permitirá compreender os problemas do momento num espírito de
imparcialidade e mútua solidariedade. A este respeito o Papa
congratulou-se com o trabalho que a “Panglong Peace Conference”
está a fazer e disse rezar por aqueles que guiam este esforço para que
possam promover cada vez mais a participação de todos os que vivem no
Myanmar. Isto contribuirá certamente para o compromisso de promover a
paz, a segurança e a uma prosperidade que seja inclusiva de todos.
A cooperação entre os líderes religiosos - observou ainda o Papa – é
todavia necessária para que este esforço dê frutos. E assegurou que a
Igreja Católica é nisto uma parceira disponível. A este respeito louvou
o encontro de dois dias que a Conferência Episcopal Católica do País
fez em Abril sobre a paz com a participação de outros líderes religiosos
e da sociedade civil. O Papa está convicto de que encontros deste tipo
são essenciais para o mútuo conhecimento e para - disse – “afirmar a nossa interligação e destino comum.”
O Papa concluiu manifestando o desejo de que budistas e católicos
possam caminhar juntos pela senda do trabalho lado a lado pelo bem de
cada habitante da Terra, como diz São Paulo carregando humildemente os
pesos uns dos outros.
“Em nome dos meus irmãos e irmãs católicos, exprimo a nossa
disponibilidade para continuar a caminhar convosco e a espalhar sementes
de paz e de cura, de compaixão e de esperança nesta terra.”
(DA)
Papa em Mianmar: curar as feridas guiados pelo “GPS” de Jesus
(RV) “Amados
irmãos e irmãs: Há muito tempo que anelava por este momento da minha
vinda ao país. Muitos de vós viestes de longe e de áreas montanhosas
remotas, e não poucos mesmo a pé. Eu vim como peregrino para vos ouvir e
aprender de vós, e para vos oferecer algumas palavras de esperança e
consolação”.
Assim iniciou Francisco a sua homilia na Missa celebrada no Parque Kyaikkasan de Rangum, para a Igreja de Mianmar.
Uma igreja que conta com menos de 700 mil fiéis mas que conseguiu
reunir junto do Papa mais de 150 mil, provenientes também das montanhas
de Mianmar e a pé, uma Igreja viva, também capaz de solidariedade para
com um grande número de pessoas, sem distinção de religião ou etnia, que
pode ajudar este País ferido por conflitos étnicos ainda não resolvidos
a encontrar o caminho da cura.
Na sua homilia, Francisco dirigiu-se aos birmanenses com a sua
saudação de boas-vindas, "Min gla ba", e logo depois recordou que em
Jesus crucificado encontramos uma bússola segura, que pode guiar a nossa
vida com a luz que vem de Deus. E nas suas feridas podemos encontrar a
fonte de toda a cura.
“Sei que muitos no Myanmar carregam as feridas da violência, quer
visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas lesões com uma
sabedoria mundana que, como a do rei na primeira leitura, está
profundamente deturpada. Pensamos que a cura possa vir do rancor e da
vingança. Mas o caminho da vingança não é o caminho de Jesus”.
O “caminho de Jesus”, ressaltou o Papa, é radicalmente diferente,
porque “quando o ódio e a rejeição O conduziram à paixão e à morte, Ele
respondeu com o perdão e a compaixão”. Portanto, no dom da Eucaristia,
aprendemos a encontrar o descanso nas feridas de Cristo, e lá sermos
purificados de todos os nossos modos distorcidos de viver, que tentamos
em resposta à violência que recebemos. Nas feridas de Cristo possais
saborear o "bálsamo" da misericórdia do Pai e encontrar a força de
levá-lo aos outros, para suavizar toda a memória dolorosa, foi o augúrio
de Francisco aos católicos birmanenses.
“Eu sei que a Igreja no Mianmar já está a fazer muito para levar o
bálsamo salutar da misericórdia de Deus aos outros, especialmente aos
mais necessitados. Há sinais claros de que, mesmo com meios muito
limitados, numerosas comunidades proclamam o Evangelho a outras minorias
tribais, sem nunca forçar ou constringir, mas sempre convidando e
acolhendo”.
A Igreja viva que está em Mianmar ajuda pobres e sofredores de todas
as religiões e etnias através da Catholic Karuna Myanmar, a Caritas
local, e Jesus, concluiu o Papa, " premiará certamente os vossos
esforços por espalhar sementes de cura e reconciliação nas vossas
famílias, comunidades e na sociedade alargada desta nação”.
“A sua mensagem de perdão e misericórdia obedece a uma lógica que nem
todos quererão compreender, e que encontrará obstáculos. Contudo o seu
amor, revelado na cruz, é definitivamente imparável. É como um ‘GPS
espiritual’ que nos guia infalivelmente rumo à vida íntima de Deus e ao
coração do nosso próximo”.
Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe a Igreja no Myanmar! Abençoe
esta terra com a sua paz! Deus abençoe o Mianmar! - concluiu Francisco
(BS)
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