30 setembro, 2017

Ética do bem comum - recomendou o Papa aos Presidentes de Câmara



(RV) O Papa recebeu hoje em audiencia, na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 300 membros da ANCI, Associação Nacional dos Presidentes das Câmaras Municipais Italianas.

Nas palavras que lhes dirigiu, o Papa começou por mencionar duas cidades de que nos fala a Bíblia: por um lado, Babel, símbolo de algo inacabado, de confusão e desorientamento, divisão e impossibilidade de construir algo em comum; e por outro a nova Jerusalém, símbolo de um mundo renovado, de encontro, de cidadania. Poder habitar nessa cidade é um dom, e só se pode entrar nela na medida em que se contribui para gerar relações de fraternidade e comunhão. Isto quer dizer – afirmou o Papa – que uma sociedade humana só pode reger-se quando se apoia numa verdadeira solidariedade. Lá onde crescem invejas, ambições desenfreadas e espírito de adversidade, está-se condenados à violência do caos.
O Papa disse depois querer falar aos Presidentes de Câmara de uma única cidade que representa todas as que são confiadas às suas responsabilidades:

“É uma cidade que não admite sentidos únicos de um individualismo exasperado, que dissocia o interesse privado do interesse publico. E não suporta os becos sem saída da corrupção onde se aninham as pragas da desagregação. Não conhece os muros da privatização dos espaços públicos, onde o “nós” se reduz a slogans, a artifícios retóricos que mascaram o interesse de poucos.”

Construir essa cidade – continuou o Papa – exige de vós não um elã presuntuoso em direcção ao alto, mas sim um empenho humilde e quotidiano em direcção à base. “Não se trata de erguer ulteriormente a torre, mas de alargar as praças, de criar espaço, de dar a cada um a possibilidade de se realizar a si próprio e à própria família e de abrir-se à comunhão com os outros.”

Para abraçar e servir esta cidade, serve um coração bom e grande, no qual custodiar a paixão do bem comum. É este olhar que leva a fazer crescer na pessoa a dignidade de ser cidadão. Promover a justiça social e, portanto, trabalho, serviço, oportunidades. Cria inumeráveis iniciativas com que animar o território e cuidar dele. Educa à co-responsabilidade”.

Francisco recordou ainda que a cidade é um organismo vivo que precisa de oxigénio em quantidade suficiente e quando isto falta, quer dizer, quando os serviços não são de qualidade, criam-se bolsas de pobreza e marginalização e uma cidade a dupla velocidade: uns que têm tudo garantido e outros (famílias, pobres, desempregados, migrantes) que não têm em quem contar.

O Papa convidou a recusar esse modelo de cidade, a frequentar as periferias urbanas, sociais, existenciais, pois que o ponto de vista dos últimos ajuda a compreender quais são as verdadeiras necessidades e a encontrar soluções.

Para mover-se nesta perspectiva, temos necessidade de uma política e de uma economia centrada de novo na ética: uma ética da responsabilidade, das relações, da comunidade e do ambiente. Precisamos também de um “nós” autentico, de formas de cidadania sólidas e duradouras. Precisamos de uma política de acolhimento e de integração, que não deixa nas margens quem chega ao nosso território, mas se esforça por fazer dar frutos os recursos de que cada um é portador”

O Papa disse aos Presidentes de Câmara italiano que compreende as dificuldades que muitos dos seus cidadãos vivem com a chegada maciça de migrantes e refugiados, facto que Francisco explica ser devido ao inato temor do “estrangeiro”, agravado pela crise económica, pela inadequação de muitas medidas adoptadas num clima de urgência. “Essas dificuldades – acrescentou – podem ser ultrapassadas mediante a criação de espaços de encontro pessoal e de conhecimento mútuo”, mediante iniciativas que promovam a cultura do encontro, mediante trocas culturais e artísticas, conhecimento dos lugares de origem e comunidades dos recém-chegados.

Francisco mostrou-se satisfeito por alguns dos Presidentes de Câmara presentes no encontro serem dos que promovem boas práticas de acolhimento e integração, práticas esssas que merecem ser largamente difundidas e exprimiu o desejo de que haja muitos seguidores. Deste modo - rematou - a politica pode desempenhar a sua tarefa fundamental que é a de ajudar a olhar para o futuro com esperança, aquela esperança que faz emergir as melhores energias de cada um, especialmente dos jovens. E desejou que sejam sempre generosos e desinteressados no serviço do bem comum. Assim a cidade se tornará numa antecipação e reflexo da Jerusalém celeste.

(DA)

29 setembro, 2017

Papa - Não esquecer ou deixar diluir o entusiasmo do Jubileu da Misericórdia

(RV) O Papa recebeu neste dia 29 de Setembro, em audiência, o Embaixador da República do Gana, Joseph Kojo Akudibillah, que lhe apresentou as Cartas Credenciais. Recebeu uma hora depois, o Cardeal Jorge Liberato Urosa Savino, arcebispo de Caracas, na Venezuela; seguido de D. Martin Krebs, Núncio Apostólico na Nova Zelanda, Fiji, Ilhas Cook, Ilhas Marshall, Kiribati, Nauru, Palau, Samoa, Estados Federados da Micronésia, Vanuatu, Tonga e Delegado Apostólico no Oceano Pacífico.



Ao meio dia recebeu na Sala Clementina uns sessenta participantes na Plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, por ocasião da sua assembleia plenária.

O Papa exprimiu satisfação por poder reflectir com eles – disse – sobre “a urgência que a Igreja sente, neste particular momento histórico, de renovar os esforços e o entusiasmo na sua perene missão de evangelização”. E agradeceu D. Rino Fisichella, Presidente desse Pontifício Conselho, pelo empenho com que promete continuar a levar adiante essa missão para fazer viver à comunidade eclesial os frutos do Ano Jubilar da Misericórdia. Foi um ano de graça para a Igreja – afirmou o Papa – e não podemos permitir que esse grande entusiasmo seja diluído ou esquecido. O Povo de Deus sentiu fortemente o dom da misericórdia e redescobriu o Sacramento  da Reconciliação como expressão da bondade e ternura ilimitada de Deus. “A Igreja tem, portanto, a grande responsabilidade de continuar, sem parar, a ser instrumento de misericórdia”. 

O anúncio da misericórdia que se torna concreto e visível no estilo de vida dos crentes é parte intrínseca do empenho de cada evangelizador – prosseguiu Francisco, recomendando a não esquecer as palavras de São Paulo: louvar a Deus que nos tornou fortes em Jesus Cristo e usou da misericórdia para connosco. E fê-lo para que quem é chamado a evangelizar seja também misericordioso para com os outros.

Detendo-se depois, propriamente sobre o tema da evangelização, Bergoglio afirmou que é preciso ter sempre presente que pela sua natureza a evangelização “pertence ao povo de Deus”. E a este respeito sublinhou dois aspectos:

“O primeiro é o contributo que cada povo e as respectivas culturas dão ao caminho do Povo de Deus”.  De cada povo emerge uma riqueza que a Igreja é chamada a reconhecer e a valorizar com vista na unidade de “todo o género humanos” (…).  As boas tradições (de cada povo) que constituem essa riqueza “são autênticos dons que exprimem a variedade infinita da acção criadora do Pai e que convergem na unidade da Igreja para fazer crescer a necessária comunhão a fim de ser semente de salvação, prelúdio de paz universal e lugar concreto de diálogo”.

Este ser “Povo evangelizador” – continuou o Papa entrando no segundo aspecto da sua reflexão – faz tomar consciência de uma chamada que transcende a disponibilidade pessoal de cada um, inserindo-se num “trama complexo de relações interpessoais”. Isto permite viver “a profunda unidade e humanidade da Comunidade dos crentes”; algo que assume particular importância nesta época em que surge com força uma cultura nova, fruto de tecnologias, uma cultura que fascina, mas que carece ao mesmo tempo de uma verdadeira relação interpessoal e  interesse pelo outro.

O Papa enalteceu depois o grande conhecimento que a Igreja tem dos povos e que a tornam capaz  - como poucas outras organizações – de valorizar aquele património cultural, moral e religioso que constitui a identidade de gerações inteiras. E acrescentou que é, por isso, “importante saber penetrar no coração da nossa gente, para descobrir aquele sentido de Deus e de amor que dá confiança e esperança para olhar para a frente com serenidade, não obstante as graves dificuldades e pobreza que somos obrigados a viver devido à avidez de poucos”. Se formos capazes de olhar em profundidade, “poderemos ainda encontrar o genuíno desejo de Deus que torna inquieto os corações de tantas pessoas  caídas, sem querer, no báratro da indiferença que já não deixa saborear a vida e construir serenamente o próprio futuro. A alegria da evangelização pode chegar a elas e dar-lhes de novo a força para a conversão”.

O Papa concluiu desejando aos membros do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização bom trabalho, de modo particular na preparação do próximo Dia Mundial dos Pobres, agendado para 19 de Novembro. Mas antes recordou-lhes que a “nova etapa da evangelização que somos chamados a percorrer é certamente obra de toda a Igreja, “povo de Deus a caminho”. Há que redescobrir este horizonte de sentido e de concreta praxe pastoral a fim de favorecer o impulso para a própria evangelização, sem esquecer o valor social que pertente à genuína promoção humana integral.”

(DA)

28 setembro, 2017

Papa em S. Marta: remorsos da consciência são sintomas de salvação



(RV) O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta, nesta quinta-feira (28/09), e em sua homilia exortou a não ter medo de dizer a verdade sobre a nossa vida, a tomar consciência de nossos pecados e confessá-los ao Senhor para que nos perdoe.

Citando o Evangelho do dia sobre o comportamento de Herodes em relação à pregação de Jesus, o Papa lembrou que alguns associavam Jesus a João Batista e a Elias, e outros o identificavam como um profeta. Herodes não sabia “o que pensar”, mas “sentia dentro” de si alguma coisa, que “não era uma curiosidade”, era “um remorso na alma, no coração”: procurava ver Jesus para tranquilizar-se. “Queria ver milagres realizados por Cristo, mas Jesus”, disse o Papa, “não fez um circo diante dele e foi entregue a Pilatos. E Jesus pagou com a morte.”

Herodes cobriu “um crime com outro, o remorso da consciência com outro crime, como quem mata por temor. O remorso da consciência não é uma simples recordação, mas uma chaga”, disse o Papa, que acrescentou:

“Uma chaga que quando na vida fizemos alguns males, dói. É uma chaga escondida, não se vê; nem eu a vejo, porque me acostumo a carregá-la e depois se anestesia. Está ali, alguns a tocam, mas a ferida está dentro. Quando esta chaga faz mal, sentimos remorso. Não somente estou consciente de ter feito o mal, mas o sinto: o sinto no coração, no corpo, na alma e na vida. Disto nasce a tentação de cobri-lo, para não mais senti-lo.”

“É uma graça sentir que a consciência nos acusa, nos diz alguma coisa”, frisou o Papa. Por outro lado, “nenhum de nós é santo” e todos somos inclinados a olhar para os pecados dos outros e não para os nossos próprios, se compadecendo, quem sabe, por quem, sofre na guerra ou por causa de “ditadores que matam as pessoas”:

“Nós devemos – permitam–me a palavra – “baptizar” a chaga, isto é, dar-lhe um nome. Onde você tem a chaga? ‘Padre como eu faço para tirá-la fora?’ – ‘Mas antes de tudo reze: Senhor, tenha piedade de mim que sou pecador’. O Senhor escuta a sua oração. Depois examine a sua vida. ‘Se eu não vejo como e onde está aquela dor, de onde vem, que é um sintoma, como posso fazer?’ – ‘Peça a alguém para ajudá-lo a tirar a chaga; que a chaga saia e depois dar-lhe um nome’. Eu tenho esse remorso de consciência porque eu fiz isso, concreto; concretude. E esta é a verdadeira humildade diante de Deus e Deus se comove diante da concretude”.

A concretude, explica o Pontífice, expressa pelas crianças na confissão. Uma concretude de dizer o que fez para que a verdade “venha para fora”. “Assim nos curamos”:

“Aprender a ciência, a sabedoria de acusar a si mesmo. Eu me acuso, sinto a dor da chaga, faço de tudo para saber de onde vem esse sintoma e depois eu me acuso. Não tenha medo dos remorsos da consciência: eles são um sintoma de salvação. Tenha medo de cobri-los, de maquiá-los, dissimulá-los, escondê-los ... isto sim, mas ser claro. E assim o Senhor nos cura”.

A oração final é para que o Senhor nos dê a graça de “termos a coragem de nos acusarmos” para caminharmos no caminho do perdão. (BS-MJ-SP)

Mensagem do Papa: S. Vicente de Paulo continua a falar à Igreja




(RV) O Papa Francisco enviou uma mensagem de gratidão e encorajamento à Família Vicentina, nesta quarta-feira (27/09), por ocasião do quarto centenário do carisma que deu origem aos institutos e associações que a compõem.

Em agosto de 1617, São Vicente de Paulo fundou as Damas da Caridade, hoje conhecidas como Associação Internacional de Caridade. Ele “viveu sempre a caminho, aberto para a busca de Deus e de si. Num encontro forte com Jesus, nas pessoas dos pobres, sentiu o chamamento a não viver mais para si mesmo, mas a servi-Lo sem reservas nos pobres”.

São Vicente de Paulo “fundou as Caridades para que cuidassem dos mais pobres, vivendo em comunhão. Um grão de mostarda, semeado em 1617, que se tornou, ao longo do tempo, uma árvore grande”, escreve o Papa.

“No coração da Família Vicentina está a busca pelos pobres e abandonados”, destaca Francisco, recomendando aos seus membros a “olharem sempre para a rocha que deu origem a tudo”, a fim de continuar a levar, hoje, às periferias da condição humana, o mesmo frescor das origens.

“Esta rocha é Jesus pobre que pede para ser reconhecido em quem é pobre e sem voz. Uma rocha à qual todos somos chamados a sorver para matar a sede do mundo com a caridade que brota d’Ele. A caridade está no coração da Igreja. É o motivo do seu agir, a alma da sua missão.”

São Vicente de Paulo continua a falar à Igreja. “O seu testemunho nos convida a estar sempre a caminho, nos pede a pequenez do coração, plena disponibilidade e humildade, nos impele à comunhão fraterna entre nós e à missão corajosa no mundo. O seu testemunho nos pede para nos libertar de linguagens complexas, de retóricas auto-referenciais e do apego às seguranças materiais que podem dar uma tranquilidade imediata, mas não infundem a paz de Deus e muitas vezes criam obstáculo para a missão” – lê-se ainda na mensagem.

O testemunho deste santo, “nos exorta a investir na criatividade do amor, com «um coração que vê»”, ressalta Francisco citando um trecho da Encíclica ‘Deus Caritas est’ do Papa emérito Bento XVI.

“A caridade não se contenta de bons hábitos do passado, mas sabe transformar o presente. Isso é muito necessário hoje, na complexidade mutável da sociedade globalizada, onde certas formas de esmolas e ajuda, não obstante motivadas por intenções generosas, correm o risco de alimentar formas de exploração e ilegalidade, e não trazer benefícios reais e duradouros”, frisa ainda o Papa.

Que o exemplo de São Vicente de Paulo nos estimule “a dar espaço e tempo aos pobres, aos novos pobres de hoje e aos muitos pobres de hoje, a fazer nossos os seus pensamentos e seus desconfortos, pois um cristianismo sem contacto com quem sofre torna-se um cristianismo desencarnado, incapaz de tocar a carne de Cristo. Portanto, encontrar os pobres, dar preferência e voz aos pobres para que a sua presença não seja silenciada pela cultura do efémero”.

O Papa conclui a mensagem, desejando que o II Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado, aos 19 de novembro próximo, ajude a Igreja na “vocação de seguir Jesus pobre”, tornando-se “cada vez mais e melhor um sinal concreto da caridade de Cristo para os últimos e necessitados”, e reagindo contra a “cultura do descarte e do desperdício”. (BS/MJ)

27 setembro, 2017

Papa: não estamos sozinhos na luta contra o desespero

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(RV) O Papa Francisco celebrou hoje quarta-feira, dia 27 de Setembro de 2017, às 10 horas locais de Roma, na Praça de S. Pedro, a tradicional Audiência Geral. “Não estamos sozinhos na luta contra o desespero. Jesus é capaz de vencer em nós tudo aquilo que se opõe ao bem”. E “se Deus está connosco, ninguém poderá roubar-nos aquela virtude de que temos necessidade para viver. Enfim, ninguém nos roubará a esperança”. Daí, a necessidade, segundo Francisco, de conhecermos muito bem os principais “inimigos” da esperança em geral e da esperança cristã de modo particular. Esta, caros ouvintes, é o fulcro da mensagem catequética do Papa Francisco, na Audiência Geral de hoje na Praça de S. Pedro repleta de fiéis e peregrinos provenientes de diversas partes da Itália e do mundo. Recordamos que o tema da catequese do Papa para este ano é, precisamente, o tema da esperança cristã.

Na Audiência Geral de hoje em que foi também lançada a Campanha da Caritas Internacionalis, sob o lema “Partilhar a viagem”, o Papa Francisco concentrou a sua catequese sobre os piores “inimigos da esperança”. Neste sentido o Pontífice advertiu sobre a necessidade de ter sempre presente e nunca esquecer que, e citamos, “ter tudo da vida é um infortúnio”; que “a esperança não é virtude para pessoas com o estômago cheio”; e sobretudo, que “ter uma alma vazia é o pior obstáculo à esperança”.

Na sua reflexão o Santo Padre partiu do “antigo mito da caixa de Pandora”, que, segundo o Papa, revela-nos a importância da esperança para a humanidade.

Francisco recorda que “é a esperança que mantém em pé a vida, que a protege e a faz crescer”; esta esperança porém, sublinhou é assaz diferente daquilo que se costuma dizer que “enquanto houver vida há sempre esperança”.

“Se os homens não tivessem cultivado a esperança – observou -  “nunca teriam saído das cavernas e não teriam deixado marcas na história do mundo”. É uma das coisas mais divinas que existe no coração do homem.

Ao referir-se ao poeta francês Charles Péguy – nas palavras do Santo Padre “deixou páginas estupendas sobre a esperança” –  o Papa observou que a imagem de um dos seus textos evoca “os rostos de tanta gente que passou por este mundo – agricultores, pobres, operários, migrantes em busca de um futuro melhor – que lutaram tenazmente não obstante a amargura de um hoje difícil, cheio de tantas provações, animados porém pela confiança de que os filhos teriam uma vida mais justa e mais serena”.

Assim, acrescentou o Pontífice,“a esperança é o impulso no coração de quem parte deixando a casa, a terra, às vezes até familiares e parentes, para buscar uma vida melhor, mais digna para si e para os próprios familiares”, mas é também “ o impulso no coração de quem acolhe, o desejo de encontrar-se, de conhecer-se, de dialogar”.

“A esperança é o impulso para “partilhar a viagem” da vida, como nos recorda a Campanha da Caritas que hoje iniciamos”.(…) “Irmãos, não tenhamos medo de partilhar a viagem! Não tenhamos medo de compartilhar a esperança!”.

Francisco recordou então que “a esperança não é virtude para pessoas com o estômago cheio”, e é precisamente por este motivo que, sublinhou, “os pobres são os primeiros portadores da esperança”, como José e Maria e os pastores de Belém. “Enquanto o mundo dormia recostado nas tantas certezas adquiridas, os humildes preparavam no silêncio a revolução da bondade. Eram pobres de tudo”, mas “eram ricos do bem mais precioso que existe no mundo, isto é, o desejo de mudança”.

Daí que, “às vezes – observou o Pontífice – ter tudo na vida é um infortúnio”:

“Pensem num jovem a quem não foi ensinada a virtude da espera e da paciência, que não teve que suar por nada, que queimou as etapas e aos vinte anos “já sabe como funciona o mundo”. Está destinado à pior condenação: a de não desejar mais nada. Parece um jovem, mas já entrou o autuno no seu coração”.

Mas também, sublinhou ainda o Papa, “a alma vazia é o pior obstáculo à esperança”; “um risco para o qual ninguém está excluído, porque ser tentados contra a esperança pode acontecer também quando se percorre o caminho da vida cristã”, como advertiam os monges da antiguidade, ao denunciar um dos priores inimigos do fervor,  que é aquele “demónio do meio-dia”.

A preguiça, de fato,  – como a definiam os Padres – “é uma tentação que nos surpreende quando menos esperamos: os dias tornam-se monótonos e enfadonhos”, nenhum valor mais parece merecer algum esforço na nossa vida. E quando isto acontece, advertiu Francisco, o cristão sabe que aquela condição deve ser combatida, nunca aceitá-la passivamente, pois, Deus nos criou para a alegria e para a felicidade, e não para ardermos em pensamentos melancólicos.

Por esta razão, concluiu dizendo o Santo Padre, devemos custodiar o coração, “opondo-nos às tentações da infelicidade, que certamente não provém de Deus. E lá onde as nossas forças parecem fracas e a batalha contra a angústia dura, podemos sempre recorrer ao nome de Jesus. Podemos repetir aquela oração simples, que encontramos também nos Evangelhos e que se tornou a base de tantas tradições espirituais cristãs: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim pecador!.

Não estamos sozinhos na luta contra o desespero. Jesus é capaz de vencer em nós tudo aquilo que se opõe ao bem. E se Deus está connosco, ninguém poderá roubar-nos aquela virtude de que temos necessidade para viver. Ninguém nos roubará a esperança”.

Na conclusão da sua audiência e come de costume, também hoje não faltou a habitual saudação do Papa Francisco aos peregrinos de língua oficial portuguesa presentes na Praça de S. Pedro: Saúdo, disse Francisco, todos os peregrinos de língua portuguesa, em particular os fiéis de Arruda dos Vinhos e Sobral e os diversos grupos do Brasil. Queridos amigos, a esperança cristã nos leva a olhar para o futuro como homens e mulheres que não se cansam de sonhar com um mundo melhor. Que Maria, causa da nossa esperança, vos guie nesse caminho.

25 setembro, 2017

Papa em S. Marta: consolação não é divertimento mas paz do Senhor




(RV) O Papa começou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta (25/09). Na sua homilia, Francisco comentou a Primeira Leitura, que narra o momento no qual o povo de Israel é libertado do exílio: “o Senhor – destacou o Pontífice – visitou o seu povo e o conduziu de volta a Jerusalém”. A palavra “visita”, explicou, é “importante” na história da salvação, porque “toda libertação, toda ação de redenção de Deus é uma visita”:

“Quando o Senhor nos visita nos dá a alegria, isto é, nos leva a um estado de consolação. Este dar alegria… Sim, semearam nas lágrimas, mas agora o Senhor nos consola e nos dá esta consolação espiritual. E a consolação acontece não só naquele tempo, é um estado na vida espiritual de todo cristão. Toda a Bíblia nos ensina isso”.

O Papa exortou a “esperar”, portanto, a visita de Deus “a cada um de nós”. Existem “momentos mais fracos” e “momentos mais fortes”, mas o Senhor “nos faz sentir a sua presença” sempre, com a consolação espiritual, enchendo-nos “de alegria”.

Neste sentido, esperar este evento com a virtude “mais humilde de todas”: a esperança, que “é sempre pequena”, mas “tantas vezes é forte quando está escondida como as brasas sob as cinzas”.

Assim, o cristão vive “em tensão” pelo encontro com Deus, pela consolação “que dá este encontro com o Senhor”.

Se um cristão não está em tensão por tal encontro é – acrescenta o Papa – um cristão “fechado”, “meio que no depósito da vida”, sem saber “o que fazer”.

O convite, então, é para “reconhecer” a consolação, “porque existem falsos profetas que parecem nos consolar, mas pelo contrário, nos enganam”. Esta não é “uma alegria que se pode comparar”:

“A consolação do Senhor toca dentro e te move, faz aumentar em ti a caridade, a fé, a esperança e também te leva a chorar pelos [teus] próprios pecados. E também quando olhamos para Jesus e para a Paixão de Jesus, chorar com Jesus. E também te eleva a alma para as coisas do Céu, para as coisas de Deus e também, acalma a alma na paz do Senhor. Esta é a verdadeira consolação. Não é uma diversão – a diversão não é uma coisa má quando é boa, somos humanos, devemos tê-la -, mas a consolação te envolve e justamente a presença de Deus se sente e se reconhece: este é o Senhor”.

O Papa recorda de agradecer - com a oração - o Senhor “que passa” para nos visitar, para nos ajudar a “a ir para frente, para esperar, para carregar a Cruz”. Enfim, pede para conservar a consolação recebida:

“É verdade, a consolação é forte e não se conserva assim forte - é um momento - mas deixa seus traços. E conservar esses traços, e conservar com a memória; conservar como o povo conservou esta libertação. Retornamos a Jerusalém porque Ele nos libertou de lá. Esperar a consolação, reconhecer a consolação e conservar a consolação. E quando esse momento forte passa o que permanece? A paz. E a paz é o último nível da consolação”. (BS-BF-JE-SP)

D. Manuel Martins, “uma companhia certa, segura, com uma palavra sempre muito oportuna"



O Cardeal-Patriarca deixa uma “palavra de muito reconhecimento e veneração pela figura, pelo pastor que foi D. Manuel Martins como padre, como bispo de Setúbal, depois como bispo emérito”. D. Manuel Clemente lembra que D. Manuel Martins foi “uma companhia certa, segura, com uma palavra sempre muito oportuna e um grande estímulo para nós todos, na sociedade portuguesa e na Igreja, de alerta para as necessidades e para estarmos constantemente onde precisamos de estar”. “Para todos nós foi um estímulo e um alerta para aquilo que devemos ser como sociedade e como igreja. Estamos todos muito agradecidos à figura, à pessoa ao protagonismo evangélico e pastoral de D. Manuel Martins”, acrescentou.

Já D. José Ornelas considera que D. Manuel Martins era um “homem providencial não só no quadro da diocese de Setúbal, mas para o nosso país e para a nossa igreja. Um homem que soube acompanhar os tempos. Foi certamente homem de Deus para os tempos que nós vivemos, nesta grande viragem que vem desde o início da nossa democracia e da consolidação a nível nacional, mas particularmente a nível de um perfil de igreja que ele soube semear nesta península de Setúbal, nesta igreja jovem mas cheia de vida que a ele muito deve”, disse o actual bispo de Setúbal.

Também ouvido pela Renascença, D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa, lembra D. Manuel Martins como “um bispo próximo, próximo à realidade do povo da sua diocese que na altura se debatia com uma situação de precariedade e de pobreza”. “D. Manuel Martins foi um defensor dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres e por isso entrou no seu coração. Era um bispo das causas sociais, um bispo da caridade cristã, um bispo respeitado e escutado por todos, crentes e não crentes”.


Renascença

24 setembro, 2017

Deus chama todos a trabalhar pelo seu Reino - Papa no Ângelus


(RV) Domingo, 24 de Setembro de 2017. Ao meio dia, o Papa Francisco assomou, como habitualmente, à Janela do Palácio Apostólico para rezar com os fieis, reunidos na Praça de São Pedro, a oração do Ângelus. Antes, porém, fez uma breve reflexão sobre a página evangélica deste domingo, em que São Mateus nos coloca perante a parábola do trabalhador-a-dia que Jesus conta para comunicar dois aspectos do Reino de Deus:

O primeiro é que Deus quer chamar todos a trabalhar para o seu Reino; e o segundo, que no fim Ele quer dar a todos a mesma recompensa, isto é a salvação, a vida eterna”.

Essa parábola narra a história do patrão de uma vinha que paga com o mesmo preço a trabalhadores que tinham trabalhado o dobro de horas de outros trabalhadores. Então os que trabalharam mais protestam por essa injustiça. Mas era um salário justo – frisou o Papa.

Na realidade – disse o Papa – o que Jesus quer com esta parábola não é “falar do problema do trabalho e do justo salário, mas sim do Reino de Deus”, onde não há desempregados, pois que cada um é chamado a fazer a sua parte; e no fim, para todos haverá a recompensa que vem da justiça divina – não humana, por nossa sorte – afirmou o Papa, explicando que se trata da “salvação que Jesus Cristo obteve para nós com a sua morte e ressurreição. Uma salvação que não é merecida, mas doada – a salvação é gratuita - pelo que os “últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos””.

Com esta parábola – prosseguiu Francisco – Jesus quer abrir os nossos corações à lógica do amor do Pai, amor que é gratuito e generoso. Há, todavia, que se deixar “maravilhar e fascinar pelos “pensamentos” e pelas “vias” de Deus que, como recorda o profeta Isaías, não são os nossos pensamentos e as nossas vias. Com efeito, os pensamentos humanos são, muitas vezes, marcados pelo egoísmo e interesses pessoais, e os nossos angustiosos e tortuosos caminhos não são comparáveis às ampla rede estradal do Senhor.

“Ele faz uso da misericórdia  -  não esquecer isto: ele faz uso da misericórdia - é cheio de generosidade e de boa vontade que derrama sobre cada um de nós, abre a todos os territórios sem confins do seu amor e da sua graça, os únicos que podem dar ao coração humano a plenitude da sua alegria”.

O Papa aprofundou ainda mais o sentido da parábola do trabalhador e o olhar daquele patrão que vendo trabalhadores sem trabalho os convidou a trabalhar já ao meio do dia, dando-lhes ao fim o mesmo salário que os que tinham começado de manhã cedo.

É um olhar – disse Francisco – “cheio de atenção, de benevolência; é um olhar que chama, que convida a levantar-se, a pôr-se a caminho, porque quer a vida para cada um de nós, quer uma vida cheia, empenhada, salvada do vazio da inércia. Deus não exclui ninguém e quer que cada uma atinja a sua plenitude. Este é o amor do nosso Deus, do nosso Deus que é Pai”.

Terminada a sua reflexão, o Papa rezou com os presentes a saudação do Anjo a Maria, à qual pediu, previamente, para nos ajudar a acolher na nossa vida, a lógica do amor, que nos liberta da presunção de merecer a recompensa de Deus e do julgamento negativo sobre os outros.

Após a oração do Ângelus, Francisco recordou que, ontem em Oklahoma City, nos Estados Unidos, foi proclamado Beato Stanley Francis Rother, sacerdote missionário, morto devido à sua fé e à sua obra de evangelização e promoção humana a favor dos mais pobres na Guatemala.

O seu exemplo heróico – afirmou o Papa – nos ajude a ser corajosos testemunhos do Evangelho, empenhando-nos a favor da dignidade do homem.

A concluir, Francisco saudou os romanos e peregrinos doutras partes do mundo, citando alguns grupos em particular, e a todos desejou bom domingo, pedindo, como sempre, que não nos esqueçamos de rezar por ele.

(DA)