30 novembro, 2016

Sínodo Diocesano – Abertura dos trabalhos

Caríssimos membros do Sínodo diocesano

Pouco antes da restauração da independência portuguesa, de que foi um dos mentores, o arcebispo de Lisboa D. Rodrigo da Cunha (1635-1643) convocou o nosso último Sínodo diocesano, como podemos ler nas respetivas Constituições Sinodais (segunda edição, 1737, p. 4-5): «Conforme aos sagrados Cânones, Decretos dos Santos Padres e última disposição do Santo Concílio Tridentino, são obrigados os Arcebispos e Bispos a celebrar Sínodo Diocesano em suas Dioceses cada ano para bom governo de suas Igrejas, reformação dos costumes, composição e determinação de controvérsias, publicação dos Decretos feitos nos Concílios Provinciais e para o mais instituído pelo Direito Canónico. O que assim mandamos se cumpra neste nosso Arcebispado, salvo quando houver alguma justa causa para se dilatar ou apressar, o que o mesmo Concílio deixa em nosso arbítrio. E em sua execução nos primeiros anos em que por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica entrámos no governo dele, convocamos Sínodo Diocesano, que celebrámos em trinta do mês de Maio do ano de mil seiscentos e quarenta…»

Como vemos, tratava-se sobretudo de lembrar ou precisar cânones e normas, universais ou locais, acentuando o que conviesse acentuar e corrigindo o que houvesse a corrigir. Eram reuniões do bispo diocesano com os responsáveis eclesiásticos, capitulares, paroquiais e outros. Como a imprensa já permitisse editar e reeditar as respetivas determinações (“constituições”), a convocação de sínodos foi-se dilatando no tempo, porque as normas permaneciam e podiam ser facilmente consultadas.   

O atual Sínodo diocesano tem outro perfil e objetivo. Segundo o Código de Direito Canónico «é a assembleia de sacerdotes e de outros fiéis escolhidos no seio da Igreja particular, que prestam auxílio ao Bispo diocesano, para o bem de toda a comunidade diocesana» (cân. 460). E ainda: «Todas as questões propostas sejam sujeitas nas sessões do sínodo à livre discussão dos membros sinodais» (cân. 465). «O único legislador do Sínodo diocesano é o Bispo diocesano, tendo os demais apenas voto consultivo; ele próprio é o único a subscrever as declarações e os decretos Sinodais, que somente com a sua autorização podem ser publicados» (cân. 466).


Nestes dias, procuraremos concretizar estas disposições, quer quanto às «questões propostas», quer quanto ao andamento dos trabalhos e à posterior projeção diocesana. As questões ou temáticas são as que o próprio Papa Francisco nos apresentou na exortação apostólica Evangelii Gaudium, de 24 de novembro de 2013, visando essencialmente a «conversão missionária das comunidades cristãs», que não vivem para si, mas para Deus em louvor e para os outros em missão, nos novos contornos geográficos e socioculturais que esta hoje apresenta: «Cada Igreja particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu Bispo, está, também ela, chamada à conversão missionária. Ela é o sujeito primário da evangelização» (EG, 30). E dispondo, de seguida: «Na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, [o Bispo] deverá estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico – e o primeiro indicado em nota é precisamente o Sínodo diocesano – […]. Mas o objetivo destes processos participativos não há de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos» (EG, 31). Foi com este objetivo que, ouvido o Conselho Presbiteral, anunciei a toda a Diocese o presente Sínodo, a 22 de janeiro de 2014, solenidade de São Vicente. E assim começou a nossa caminhada sinodal de Lisboa, em que tantos fiéis participaram, pela oração, os grupos sinodais e vários ensaios de iniciativas evangelizadoras inspiradas pela exortação apostólica do Papa Francisco. Sobre esta base se redigiu o documento de trabalho, cuja segunda versão nos guiará nestes dias. Assim ficarei habilitado para subscrever a “constituição sinodal de Lisboa”, cuja divulgação prevejo para a próxima solenidade da Imaculada Conceição. Seguir-se-á depois a receção diocesana, igualmente participada por todas as instâncias pastorais diocesanas, aplicando, aí sim concretamente, o que só em termos gerais se poderá indicar no nosso Sínodo. São na verdade muito diferentes as condições duma paróquia rural doutra do termo ou da zona antiga de Lisboa; bem diversas as duma capelania académica e outra hospitalar ou prisional; ou duma empresa, colégio ou academia… Mas devemos acertar aqui, com base no que o documento de trabalho nos oferece, em critérios, opções e prioridades que, sendo de todos, também hão de ser para todos, como inspiração do setorial ou local. É dia e festa de Santo André Apóstolo, que com Filipe foi dizer a Jesus que havia uns gregos que O queriam ver (cf Jo 12, 21-22). Feliz motivo para o nosso Sínodo, quando somos chamados a igual mediação, entre os nossos contemporâneos e o Jesus de sempre. Ou como cantamos no hino sinodal: «É o sonho missionário / De chegar a toda a gente / Longe ou perto o necessário / É mostrar Cristo presente!» + Manuel, Cardeal-Patriarca Sínodo diocesano, 30 de novembro de 2016

Papa expressou o seu pesar pela tragédia da Chapecoense

 
(RV) Nas saudações, na audiência geral desta quarta-feira dia 30 de novembro, o Papa Francisco dirigiu-se também aos peregrinos de língua portuguesa presentes na audiência convidando-os a irem ao encontro de Jesus neste Advento. Disse que Jesus espera por nós “em todos os necessitados, aos quais podemos levar ajuda com as obras de misericórdia”.

Destaque especial para as palavras do Papa declarando o seu pesar pelas vítimas do acidente de aviação que vitimou a equipa de futebol brasileira Chapecoense:

“Eu também gostaria de recordar hoje a dor do povo brasileiro pela tragédia da equipa de futebol e rezar pelos jogadores mortos, pelas suas famílias. Na Itália, sabemos bem o que isso significa, pois lembramos Superga, em 1949. São tragédias duras. Rezemos por eles.”
O Papa Francisco a todos deu a sua benção!

(RS)

Audiência geral: enterrar os mortos e rezar por vivos e defuntos


(RV) Quarta-feira, 30 de novembro, audiência geral com o Papa Francisco na Sala Paulo VI. O Santo Padre concluiu o ciclo de catequeses dedicado à misericórdia analisando duas obras de misericórdia: uma espiritual, rezar a Deus por vivos e defuntos, e outra corporal, enterrar os mortos.

À primeira vista, enterrar os mortos pode parecer uma obra de misericórdia estranha – observou o Santo Padre – mas pensemos em tantas regiões atribuladas pelo flagelo da guerra, onde enterrar os mortos torna-se, tristemente, uma obra muito atual. Às vezes, exige uma grande coragem, como no caso de José de Arimatéia, que providenciou um sepulcro para Jesus, após a sua morte na Cruz – recordou o Papa.

Para os cristãos, a sepultura é um ato de piedade, mas também de fé e esperança na ressurreição dos mortos – disse Francisco – por isso, somos chamados também a rezar pelos defuntos, primeiramente, porque reconhecemos o bem que essas pessoas nos fizeram em vida e, depois, para encomendá-las à misericórdia de Deus.

Na conclusão da sua catequese o Papa Francisco sublinhou ainda que não nos podemos esquecer de rezar pelos vivos que são os nossos companheiros nas provas da vida. Trata-se de uma manifestação de fé na ‘Comunhão dos Santos’, que nos ensina que os batizados, encontrando-se unidos em Cristo e sob a ação do Espírito Santo, podem interceder uns pelo outros.

A este propósito, o Santo Padre contou um episódio ocorrido no dia anterior de um jovem empresário que participou na Missa em Santa Marta e que após a celebração disse em lágrimas que deveria fechar a sua fábrica devido à crise mas 50 famílias ficariam sem trabalho. “Eis um bom cristão” – disse o Papa, pois ele poderia declarar falência e ficar com o dinheiro, mas a sua consciência não o permitia e foi à missa para pedir a Deus uma solução, não para ele, mas para as 50 famílias. “Este é um homem que sabe rezar, pelo próximo numa situação difícil. E não busca a solução mais fácil. Fez-me tão bem ouvi-lo e espero que existam tantas pessoas assim hoje, pois muitos sofrem com a falta de trabalho” – disse Francisco.

Nas saudações o Papa dirigiu-se também aos peregrinos de língua portuguesa presentes na audiência convidando-os a irem ao encontro de Jesus neste Advento. Disse que Jesus espera por nós “em todos os necessitados, aos quais podemos levar ajuda com as obras de misericórdia”.

Destaque especial para as palavras do Papa declarando o seu pesar pelas vítimas do acidente de aviação que vitimou a equipa de futebol brasileira Chapecoense:

“Eu também gostaria de recordar hoje a dor do povo brasileiro pela tragédia da equipa de futebol e rezar pelos jogadores mortos, pelas suas famílias. Na Itália, sabemos bem o que isso significa, pois lembramos Superga, em 1949. São tragédias duras. Rezemos por eles.”
O Papa Francisco a todos deu a sua benção!

(RS)

Papa aos que geriram Jubileu: Misericórdia seja empenho quotidiano




(RV) O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (28/11), na Sala Clementina, no Vaticano, os organizadores e voluntários do Jubileu da Misericórdia, cerca de quatrocentas pessoas.
“É com grande alegria que os acolho depois do encerramento do Jubileu Extraordinário para agradecer-vos pessoalmente pelo grande trabalho desempenhado durante este Ano Santo”, disse o Pontífice.
O Papa agradeceu de modo especial ao “incansável” Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella.
Permanente
“A ele e seus colaboradores do dicastério eu confiei de modo particular a organização do Jubileu que foi um Ano denso, cheio de iniciativas em toda a Igreja, onde foi possível ver e tocar os frutos da misericórdia de Deus. A minha intuição, no início, tinha sido simples. O Senhor, como sempre, nos surpreende e vai além de nossas expectativas. Assim, aquele desejo se tornou uma realidade que foi celebrada com muita fé e alegria nas comunidade cristãs espalhadas pelo mundo. A Porta da Misericórdia aberta em todas as catedrais e nos santuários fez com que os fiéis não encontrassem nenhum obstáculo para experimentar o amor de Deus. Aconteceu algo de realmente extraordinário que agora deve ser inserido na vida cotidiana para fazer a misericórdia se tornar um compromisso e um estilo de vida permanente para os fiéis.”
“Todos vós, de várias maneiras, fizestes com que esse evento de graça se celebrasse de forma ordinária e segura, com grande afluxo de peregrinos e fazendo emergir o valor espiritual profundo que o Jubileu representa”, disse ainda Francisco.

O Papa agradeceu ao Governo italiano, a Prefeitura de Roma e demais autoridades italianas que garantiram a segurança e tranquilidade dos peregrinos e permitiram um desempenho eficaz de todos os eventos jubilares.

Colaboração

Agradeceu a Polícia de Roma e à Gendarmaria Vaticana pelo trabalho conjunto que mostrou que a colaboração recíproca pode realmente oferecer serviços de segurança em prol de todos.

Um agradecimento também ao Corpo da Guarda Suíça e a todas as instituições vaticanas, em particular, ao Governatorato e à Basílica de São Pedro pela grande dedicação.

Francisco agradeceu os esforços dos responsáveis da Região do Lácio pela planificação minuciosa das unidades de saúde.

Por fim, o Papa agradeceu aos numerosos voluntários provenientes de várias partes do mundo e aos que colaboraram com o seu trabalho quotidiano, muitas vezes silencioso e discreto, que tornou este Jubileu Extraordinário um evento verdadeiro de graça.

“Se você quer obter misericórdia, deve ser misericordioso”, disse o Papa Francisco citando Santo Agostinho. “Que estas palavras de Santo Agostinho possam confortar todos nós. Com o vosso compromisso vós não apenas destes uma contribuição competente, mas desempenhastes um verdadeiro serviço de misericórdia a milhões de peregrinos que chegaram a Roma. Que este vosso esforço possa ser recompensado pela experiência de misericórdia que o Senhor não vos deixará faltar.” (BS/MJ)

29 novembro, 2016

Papa: humildade cristã é a virtude dos pequenos


(RV) Terça-feira, 29 de novembro: na Missa em Santa Marta o Papa afirmou que a humildade cristã é a virtude dos pequenos. O Santo Padre disse que o Senhor revela o Mistério da Salvação aos pequenos e não aos doutores.

“O louvor de Jesus ao Pai” é a passagem que nos narra S. Lucas na Liturgia deste dia de Advento. Francisco parte daí para sublinhar na sua homilia o “coração dos pequenos”, pois são eles os protagonistas do Natal: “um menino, um estábulo, uma mãe e um pai…As coisas pequenas” – afirmou.

O Papa sublinhou que os pequenos têm “temor de Deus”. Mas não o temor feito de medo: “Mas dar vida ao mandamento que Deus deu as nosso pai Abraão: caminha na minha presença e que sejas irrepreensível. Humilde. Esta é a humildade. O temor do Senhor é humildade”.

“Viver a humildade, a humildade cristã é ter este temor do Senhor” – disse o Santo Padre que declarou que a humildade é a virtude dos pequenos:

“A humildade é a virtude dos pequenos, a verdadeira humildade, não a humildade um pouco de teatro: não, essa não” – disse Francisco.

No final da sua homilia o Papa, pensando no Natal, referiu que também é “humilde, muito humilde”, aquela jovem para a qual Deus “olha” para “enviar o Seu Filho”, e que logo vai ver a prima Isabel e não diz nada sobre “aquilo que tinha acontecido”. A humildade é assim” – acrescentou Francisco – ”caminhar na presença do Senhor”, felizes e alegres porque “vigiados por Ele.

(RS)

Papa aos cientistas: indicar sistema normativo em defesa da criação




(RV) O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã de segunda-feira (28/11), os membros da Pontifícia Academia das Ciências que participam da sua Plenária sobre o tema da sustentabilidade.

No seu discurso, o Pontífice ressaltou que nunca como agora é evidente a missão da ciência ao serviço de um novo equilíbrio ecológico global. De modo especial, ressaltou a renovada aliança entre a comunidade científica e a comunidade cristã para proteger a casa comum, “ameaçada pelo colapso ecológico e pelo consequente aumento da pobreza e da exclusão social”.

Citando a Encíclica Laudato si’, o Papa falou da necessidade de uma “conversão ecológica”, que requer, de um lado, a plena assunção da responsabilidade humana para com a criação e os seus recursos e, de outro, a busca da justiça social e a superação de um sistema injusto que produz miséria, desigualdade e exclusão.

Novo modelo

Para Francisco, cabe antes de tudo aos cientistas – livres de interesses políticos, económicos e ideológicos – construir um modelo cultural para enfrentar a crise das mudanças climáticas e de suas consequências. Do mesmo modo que foi capaz de estudar e demonstrar a crise do planeta, hoje a categoria é chamada a construir uma liderança que indique soluções nos campos hídrico, das energias renováveis e da segurança alimentar.

Os cientistas, acrescentou, podem colaborar num sistema normativo que inclua limites invioláveis e garanta a protecção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder produzam danos irreversíveis não somente ao meio ambiente, mas também à convivência, à democracia, à justiça e à liberdade.

O Pontífice criticou a submissão da política à tecnologia e à finança, que buscam o lucro acima de tudo. Esta submissão é demonstrada pelo atraso na aplicação dos acordos mundiais sobre o meio ambiente, além das contínuas guerras de predomínio disfarçadas de nobres reivindicações, que causam sempre mais prejuízos à natureza e à riqueza moral e cultural dos povos.

Não obstante isso, exortou o Papa, “não percamos a esperança e vamos aproveitar o tempo que o Senhor nos dá”, pois existem inúmeros sinais encorajadores de uma humanidade que quer reagir, escolher o bem comum e regenerar-se com responsabilidade e solidariedade.

Plenária

“Ciência e Sustentabilidade. Impacto dos conhecimentos científicos e da tecnologia sobre a sociedade humana e sobre o meio ambiente” é o tema da Plenária deste ano da Academia.
Desde o dia 25, os membros são convidados a reflectir sobre como os avanços científicos já alcançados ou ainda a serem descobertos podem impactar de maneira positiva ou negativa no desenvolvimento sustentável das sociedades e no seu meio ambiente.

Francisco: para encontrar Jesus devemos pôr-nos em caminho




(RV) A fé cristã não é uma teoria ou uma filosofia, mas é o encontro com Jesus. Foi o que destacou o Papa celebrando a Missa na capela da Casa Santa Marta na segunda-feira (28/11), no início do Tempo do Advento.
Na sua homilia, o Pontífice observou que neste período do Ano, a Liturgia nos propõe inúmeros encontros de Jesus: com a sua Mãe no ventre, com São João Batista, com os pastores, com os Magos. Tudo isso nos diz que o Advento é “um tempo para caminhar e ir ao encontro com o Senhor, isto é, um tempo para não ficar parado”.
Oração, caridade e louvor: assim encontraremos o Senhor
Eis então que devemos nos perguntar como podemos ir ao encontro de Jesus. “Quais são as atitudes que devo ter para encontrar o Senhor? Como devo preparar o meu coração para encontrar o Senhor?”, questionou o Papa.
“Na oração do início da Missa, a Liturgia nos fala de três atitudes: vigilantes na oração, operosos na caridade e exultantes no louvor. Ou seja, devo rezar com vigilância; devo ser operoso na caridade – a caridade fraterna: não somente dar esmola, não; mas também tolerar as pessoas que me incomodam, tolerar em casa as crianças quando fazem muito barulho, ou o marido ou a mulher quando estão em dificuldade, ou a sogra... não sei .. mas tolerar: tolerar … Sempre a caridade, mas operosa. E também a alegria de louvar o Senhor: ‘Exultantes na alegria’. Assim devemos viver este caminho, esta vontade de encontrar o Senhor. Para encontrá-lo bem. Não ficar parados. E encontraremos o Senhor”.
Porém, acrescentou o Papa, “ ali haverá uma surpresa, porque Ele é o Senhor das surpresas”. Também o Senhor “não está parado”. Eu, afirmou Francisco, “estou em caminho para encontrá-Lo e ele está em caminho para me encontrar. E quando nos encontramos, vemos que a grande surpresa é que Ele está me procurando antes que eu comece a procurá-lo”.
O Senhor sempre nos precede no encontro
“Esta é a grande surpresa do encontro com o Senhor. Ele nos procurou por primeiro. É sempre o primeiro. Ele percorre o seu caminho para nos encontrar”. Foi o que aconteceu com o Centurião:
“O Senhor vai sempre além, vai primeiro. Nós fazemos um passo e Ele faz dez. Sempre. A abundância de sua graça, de seu amor, de sua ternura não se cansa de nos procurar, também, às vezes, com coisas pequenas: Pensamos que encontrar o Senhor seja algo magnífico, como aquele homem da Síria, Naamã, que tinha hanseníase: E não é simples. Ele também teve uma surpresa grande da maneira de Deus agir. O nosso é o Deus das surpresas, o Deus que está à procura de nós, nos espera, e nos pede somente o pequeno passo da boa vontade.”

Devemos ter a “vontade de encontrá-lo”. Depois, Ele “nos ajuda”. “O Senhor nos acompanhará durante a nossa vida”, disse o Papa. Muitas vezes, irá nos ver distanciar Dele, e nos esperará como o Pai do Filho Pródigo.

A fé não é saber tudo sobre dogmática, mas encontrar Jesus

“Muitas vezes”, acrescentou o pontífice, “verá que queremos nos aproximar e sairá ao nosso encontro. É o encontro com o Senhor: isto é importante! O encontro. “Sempre me impressionou o que o Papa Bento XVI disse: que a fé não é uma teoria, uma filosofia, uma ideia: é um encontro. Um encontro com Jesus”. Caso contrário, “se você não encontrou a sua misericórdia pode até rezar o Credo de cor, mas não ter fé”:

“Os doutores da lei sabiam tudo, tudo sobre a dogmática daquele tempo, tudo sobre a moral daquele tempo, tudo. Não tinham fé, porque o seu coração tinha se distanciado de Deus. Distanciar-se ou ter o desejo de ir ao encontro. Esta é a graça que nós hoje pedimos. Ó Deus, nosso Pai, suscita em nós a vontade de ir ao encontro de Cristo, com as boas obras. Ir ao encontro de Jesus. Por isso, recordamos a graça que pedimos na oração, com a vigilância na oração, operosos na caridade e exultantes no louvor. Assim, encontraremos o Senhor e teremos uma linda surpresa.”

(BS/BF/MJ)

28 novembro, 2016

O Sínodo de Lisboa foi como pôr “fermento na massa”

D. Manuel Clemente insiste que a Igreja de Lisboa não se quis focar apenas na história, mas procura imprimir uma dimensão missionária no presente e no futuro, porque uma igreja que não é missionária não é cristã.

O patriarca de Lisboa elogia a colaboração de milhares de cristãos da diocese, que nos últimos dois anos reflectiram sobre o que mais os preocupa, à luz da Exortação do Papa “A Alegria do Evangelho”. Assim prepararam o que a partir de quarta-feira, e até domingo, estará em discussão na assembleia conclusiva do Sínodo Diocesano de Lisboa.
A comemorar os 300 anos da qualificação como Patriarcado, a diocese de Lisboa tem o “O sonho missionário de chegar a todos”, o lema do sínodo que arrancou ainda em 2014.
Em entrevista à Renascença, o cardeal patriarca fala sobre a “caminhada sinodal” de dois anos, que envolveu mais de 20 mil fiéis do Patriarcado, e explica que da assembleia dos próximos dias resultará um decreto com orientações pastorais. D. Manuel diz ainda que ambiciona transformar o Museu de São Vicente de Fora num “museu vivo e dinâmico”, que mostre, a quem o visite, a realidade da diocese de Lisboa, que tem hoje habitantes de mais de 100 nacionalidades.


  • O sínodo de Lisboa entra agora na fase final. O processo correu como esperava?
Correu, com as dificuldades que um processo longo tem de manter a chama inicial, mas o que é certo é que ao longo destes mais que dois anos houve mais de 20 mil fiéis, aqui do Patriarcado de Lisboa, que participaram em grupos de reflexão sobre os sucessivos capítulos da Exortação “A Alegria do Evangelho”, que foi lançada pelo Papa Francisco em Novembro de 2013, com a indicação de que depois, em cada diocese, se ver como é que podia levar-se por diante aquela orientação pastoral, muito no sentido de voltar as comunidades mais para fora de si próprias, ganharem mais sentido e dimensão missionária.
Enfim, a palavra missão até aos nossos dias ainda está muito ligada às missões para longe, mas a pouco e pouco ela foi ganhando também o sentido da missão próxima, porque às vezes dentro do próprio prédio há vizinhanças por cumprir, no sentido evangélico, conhecerem-se as pessoas, nas escolas, hospitais, prisões ou empresas, os cristãos terem mais presença evangélica e como é que isso se há-de fazer. Então, os capítulos da Exortação foram estudados, as pessoas foram mandando as suas conclusões e sugestões.


  • Nesse sentido a participação dos fiéis correspondeu às expectativas?
Quando o secretariado do Sínodo me falou em mais de 20 mil participantes, fiquei satisfeito. Claro que no Patriarcado, que anda por volta dos dois milhões e meio de habitantes, 20 mil são o que são. Mas, enfim, é a lógica do Evangelho, que é ser “fermento na massa”. Diz-se que um pouco de fermento leveda toda a massa… 20 mil já é muito fermento.


  • O objectivo do sínodo era também impulsionar na diocese este “Sonho missionário de chegar a todos”. Foi um objectivo conseguido?
Vamos vendo, isto é tudo para projectar. Com essas reflexões que chegaram fizemos um documento sinodal que foi entregue aos membros do Sínodo, que está a ser estudado por eles, e hão-de chegar a um documento final que depois será entregue ao bispo diocesano. E o bispo, que é o único “legislador do sínodo”, vai pegar em toda esta reflexão feita, dos grupos à assembleia sinodal, e fará um decreto sinodal, que é um conjunto de grandes orientações pastorais a partir da exortação do Papa Francisco.


  • E é essa assembleia que decorre de quarta-feira até domingo.
Exactamente, e por isso eu falo sempre na caminhada sinodal de Lisboa. Ou seja, o sínodo, assim como o código o prevê, e que se vai desenrolar até ao dia 4 de Dezembro, é o momento oficial desta caminhada. Mas esta caminhada começou há dois anos e tal e vai prolongar-se, porque depois é preciso que as comunidades cristãs recebam esse decreto sinodal, o façam seu e o apliquem.

E é obviamente muito diferente aplicar esse decreto numa paróquia rural, como ainda as temos nalgumas zonas do Patriarcado, ou no centro da cidade de Lisboa, onde as paróquias muitas vezes vivem de paroquianos que não residem lá, estão de passagem. Ou então numa grande paróquia da zona chamada “termo”, aqui à volta de Lisboa, que pode ter dezenas, ou até uma centena de milhares de habitantes, com muita gente de vários países do mundo (temos aqui no Patriarcado mais de 100 nacionalidades a viver). Portanto, há muitos ambientes, muito diferentes, em que essas orientações sinodais não podem ser aplicadas da mesma maneira.


  • A assembleia coincide com esta data redonda e importante para a diocese de Lisboa que são os 300 anos da elevação a Patriarcado. Lisboa continua a ser uma diocese missionária?
Pois, tem de ser, porque se não não é uma diocese cristã. Ou seja, esta necessidade e prática de levar mais longe aquilo que recebemos, de partilhar com outros a alegria que recebemos da Páscoa de Jesus, isso é o cristianismo, e tem de ser mesmo efectivo. Não podemos ter um cristianismo de consumidores religiosos, em que andássemos de sítio em sítio, conforme a música, conforme o aquecimento no Inverno ou o fresquinho no Verão. Temos de ser participantes de uma comunidade cristã, e uma comunidade cristã ouve, celebra, mas depois expande, testemunha. Se falta esta dimensão, não há vida cristã.


  • O programa comemorativo destes 300 anos tem tido vários momentos importantes e muitos deles com envolvimento da juventude.
Sim. Quando pensámos nas comemorações do tricentenário quisemos ir muito além do aspecto histórico. Lembrar uma bula que o Papa Clemente XI no dia 7 de Novembro de 1716 assinou, conferindo à Capela Real o título de patriarcal, que depois passou para a diocese inteira… Bom, isso são coisas que têm a ver com a história de Portugal, com os projectos de D. João V, com o prestígio da corte, etc. Mas isso, só por si, não nos interessaria como acontecimento pastoral e evangelizador.
Como o Papa Clemente XI quando dá esse título a Lisboa refere a expansão missionária que daqui tinha partido, e que ele chama “propagação da fé”, que é mais a linguagem da época, isso sim, isso interessa-nos. Como é que 300 anos depois nós cumprimos essa missão que vem dentro do título? Então, surgiu a caminhada sinodal como grande exercício de missionaridade por parte dos católicos da Patriarcado. Depois, claro, temos momentos mais comemorativos, para a juventude um musical que envolveu uma centena e tal de jovens, dois encontros que foram muito interessantes, o Congresso das Associações de Profissionais Católicos, outros dos Núcleos Católicos de Estudantes, e que também foi muito interessante.


  • Esses núcleos têm vindo a aumentar nas várias faculdades.
E isso é o Patriarcado, esta Igreja local, no que ela tem de mais vivo. Também teremos, com certeza, o aspecto histórico, com duas publicações muito importantes, uma delas é uma história dos bispos de Lisboa, desde o século IV, e que é uma obra feita por dezenas de professores universitários. Também uma outra obra, que para os historiadores e não só, vai ser certamente de referência, que é a publicação dos documentos principais dos Patriarcas de Lisboa nestes 300 anos, até ao meu antecessor, D. José Policarpo.
Há apenas mais um ponto que eu queria referir destas comemorações, e vamos ver se conseguimos, que é fazer do nosso museu de São Vicente de Fora um museu vivo, dinâmico, como hoje em dia pode ser. Só que isso mete tecnologia, e a tecnologia é muito cara. Vamos a ver se conseguimos levar isso por diante porque é uma maneira depois dos cristãos, e outros, que queiram passar pelo museu, ganharem a consciência de que estão diante de uma realidade que tendo tantos séculos está disponível para o futuro.


Renascença