31 julho, 2016

Papa: jovem sem memória não é esperança para o futuro


(RV) Na tarde deste domingo dia 31 de Julho, mais precisamente às 17,00 horas da Polónia, o Papa Francisco encontrou-se com os voluntários das JMJ e com a Comissão Organizadora, em Tauron Arena da Cidade de Cracóvia. Após o breve discurso de boas vindas do Bispo coordenador da JMJ, Dom Muskus e de três voluntários, um do Panamá e dois da Polónia, o Santo Padre proferiu, a braço, o seu discurso de agradecimento aos 25 mil voluntários desta XXXI JMJ de Cracóvia

Queridos voluntários disse, antes de regressar a Roma, sinto desejo de vos encontrar e sobretudo agradecer a cada um de vós pelo empenho, generosidade e dedicação com que acompanhastes, ajudastes e servistes os milhares de jovens peregrinos. Obrigado também pelo vosso testemunho de fé que, unido ao de muitíssimos jovens provenientes de toda a parte da terra, é um grande sinal de esperança para a Igreja e para o mundo. Dando-vos por amor de Cristo, experimentastes como é belo comprometer-se por uma causa nobre e como é gratificante fazer, na companhia de tantos amigos e amigas, um percurso que, embora repleto de tantas fadigas, compensa porém o esforço com a alegria e a dedicação com uma nova riqueza de conhecimento e abertura a Jesus, ao próximo, a opções de vida importantes. Assim, para este encontro convosco eu tinha preparado um discurso de cinco páginas, mas que acho um pouco aborrecido e por isso vou vos deixar estas páginas e vou tentar dizer algo a braços:

Francisco agradeceu à todos aqueles que se dedicaram intensamente à oração para o bom êxito desta JMJ; em seguida agradeceu aos sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e consagradas e à todos aqueles que acompanharam os jovens nesta aventura da XXXI JMJ de Cracóvia.

Foi dito, disse Francisco, que vós os jovens sois e representais a esperança do futuro. Tudo isso, acrescentou, é verdade, mas a duas condições: antes de mais, que vós, os jovens, tenhais memória da herança da vossa vida: de onde provêm, das vossas famílias, dos vossos países etc., pois, um jovem sem memória, não pode ser esperança para nenhum futuro do mundo; e é escutando aos idosos que se cultiva a memória do nosso futuro. Neste sentido o Papa convidou aos jovens à passarem mais tempo com os idosos e escutá-los sobretudo antes do início da próxima JMJ que terá lugar em Panamá em 2019; enfim, trata-se de recordar que no fundo, como disse Amadú Hampaté Bâ, “ em África, cada velho que morre é uma biblioteca que arde”. De fato, a escuta desses velhos, desses idosos, permite uma recolha da herança, da memória com a qual construir a esperança do futuro evitando assim que a sua morte represente o “incêndio” da nossa biblioteca, da nossa memória vital e imprescendível para a construção dum mundo melhor, ou pelo menos, menos pior, do presente que nos é dado viver hoje.
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Eis então que a segunda e última condição para ser esperança do futuro, disse Francisco, é ser valentes no hoje, no presente, na vida presente, nas diversas dinâmicas de altos e baixos que a vida quotidiana nos oferece hoje: sermos portanto corajosos perante os eventos da vida, os imensos desafios que a vida hodierna apresenta diante de nós e sem nunca termos medo da história.

Depois, seguiu-se a cerimónia de despedida da Polónia no aeroporto de Cracóvia. A chegada de Francisco deverá acontecer às 20.30 horas de Roma.

Francisco agradece os voluntários da XXXI JMJ de Cracóvia



(RV) Na tarde deste domingo dia 31 de Julho, mais precisamente às 17,00 horas da Polónia, o Papa Francisco encontrou-se com os voluntários das JMJ e com a Comissão Organizadora, em Tauron Arena da Cidade de Cracóvia. Após o breve discurso de boas vindas do Bispo coordenador da JMJ, Dom Muskus e de dois voluntários, um do Panamá e outro da Polónia, o Santo Padre proferiu, a braços, por sua vez o seu discurso de agradecimento aos 25 mil voluntários desta XXXI JMJ de Cracóvia, tendo entregue o discurso inicial aos organizadores e que aqui transmitimos na íntegra:

Queridos voluntários!

Antes de regressar a Roma, disse Francisco, sinto o desejo de vos encontrar e sobretudo agradecer a cada um de vós pelo empenho, generosidade e dedicação com que acompanhastes, ajudastes e servistes os milhares de jovens peregrinos. Obrigado também pelo vosso testemunho de fé que, unido ao de muitíssimos jovens provenientes de toda a parte da terra, é um grande sinal de esperança para a Igreja e para o mundo. Dando-vos por amor de Cristo, experimentastes como é belo comprometer-se por uma causa nobre e como é gratificante fazer, na companhia de tantos amigos e amigas, um percurso que, embora faticoso, compensa o esforço com a alegria e a dedicação com uma nova riqueza de conhecimento e abertura a Jesus, ao próximo, a opções de vida importantes.

Como expressão da minha gratidão, prosseguiu o Papa, quero partilhar convosco um dom que nos é oferecido pela Virgem Maria, que hoje veio visitar-nos na imagem miraculosa de Kalwaria Zebrzydowska, muito cara ao coração de São João Paulo II. Com efeito, no próprio mistério evangélico da Visitação (cf. Lc 1, 39-45), podemos encontrar um ícone do voluntariado cristão. De lá tomo três atitudes de Maria e deixo-vo-las para que vos ajudem a ler a experiência destes dias e progredir no caminho do serviço. Estas atitudes são a escuta, a decisão e a ação.

Primeiro: a escuta. Maria põe-se a caminho movida por uma palavra do anjo: ela sabe escutar a Deus: não se trata dum simples ouvir, mas de escuta, feita de atenção, acolhimento, disponibilidade. Pensemos por conseguinte, nas infinitas vezes que ficamos distraidamente diante do Senhor ou dos outros, e verdadeiramente não escutamos. Maria escuta também os factos, os acontecimentos da vida, está atenta à realidade concreta e não Se detém na superfície mas procura identificar o seu significado. Maria soube que Isabel, já idosa, espera um filho; e nisso vê a mão de Deus, o sinal da sua misericórdia. O mesmo acontece na nossa vida: o Senhor está à porta e bate de muitos modos, põe sinais no nosso caminho e convida-nos a lê-los com a luz do Evangelho.

A segunda atitude de Maria disse o Santo Padre, é a decisão. Maria escuta, reflete, mas sabe também dar um passo mais: decide. Foi assim na opção fundamental da sua existência: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Ora, sublinhou Francisco, muitas vezes é difícil tomar decisões na vida, pelo que tendemos a adiá-las e, quem sabe, a deixar que outros decidam por nós; ou então preferimos deixar-nos arrastar pelos acontecimentos, seguir a «tendência» do momento; às vezes compreendemos o que deveríamos fazer, mas não temos a coragem para isso, porque nos parece muito difícil ir contra corrente... Maria não teme ir contra corrente: com o coração firme na escuta, decide, assumindo-Se todos os riscos, não sozinha mas juntamente com Deus.

E, por fim, a ação. Maria pôs-se a caminho e «dirigiu-se à pressa…» (Lc 1, 39). Apesar das dificuldades e das críticas que terá recebido, não hesita, não perde tempo, mas parte e «parte à pressa», porque nela há a força da Palavra de Deus. E o seu agir é cheio de caridade, repleto de amor: este é a marca de Deus. Maria vai ter com Isabel, não para ouvir dizer-lhe que é estupenda, mas para ajudar a prima, tornar-se útil, servir. E ao sair da sua casa, de si mesma, por amor, leva o que tem de mais precioso: Jesus, o Filho de Deus, o Senhor. Também no voluntariado cada serviço é importante, mesmo o mais simples. E o seu sentido último é a abertura à presença de Jesus; é a experiência do amor que, vindo do Alto, põe a caminho e enche de alegria. Daí que, sublinhou o Santo Padre, o voluntário das Jornadas Mundiais da Juventude não é apenas um «agente», mas sempre um evangelizador, porque a Igreja existe e age para evangelizar.

«Terminado o serviço a Isabel, Maria voltou para sua casa, em Nazaré. Com delicadeza e simplicidade, como veio, assim vai. Também vós, caríssimos, não vereis todos os frutos do trabalho realizado aqui em Cracóvia ou durante as «geminações». Descobri-los-ão na sua vida e rejubilarão as vossas irmãs e irmãos que servistes. É a gratuidade do amor! Mas Deus conhece a vossa dedicação, o vosso empenho e a vossa generosidade. Ele – podeis ter certeza – não deixará de vos recompensar por tudo o que fizestes por esta Igreja dos jovens, que se reuniu nestes dias em Cracóvia com o Sucessor de Pedro. Confio-vos a Deus e à Palavra da sua graça (cf. At 20, 32); confio-vos à nossa Mãe, modelo de voluntariado cristão; e peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim».

Próximas JMJ serão no Panamá em 2019


(RV) No final da celebração eucarística no Campus Misericordiae de Cracóvia, o Papa Francisco, agradeceu a participação dos jovens dizendo-lhes que encheram Cracóvia “com o entusiasmo contagiante da vossa fé. S. João Paulo II rejubilou do Céu, e ajudar-vos-á a levar por todo o lado a alegria do Evangelho” – disse o Papa.

Francisco considerou que os dias da JMJ foram “uma oxigenação espiritual, para poderdes viver e caminhar na misericórdia quando voltardes aos vossos países e às vossas comunidades”.

Referência ainda do Papa para a imagem da Virgem Maria venerada por S. João Paulo II no Santuário de Kalwaria. “Nossa Mãe” – disse Francisco – “ensina-nos o modo como pode ser fecunda a experiência vivida aqui na Polónia; diz-nos para fazer como Ela: não perder o dom recebido, mas guardá-lo no coração, para que germine e dê fruto, com a ação do Espírito Santo. Assim, cada um de vós, com as suas limitações e fragilidades, poderá ser testemunha de Cristo no local onde vive, na família, na paróquia, nas associações e nos grupos, nos ambientes de estudo, trabalho, serviço, entretenimento, em todo o lado para onde vos guiar a Providência no vosso caminho” – afirmou o Papa.

Francisco na sua mensagem antes da oração do Angelus anunciou que as próximas Jornadas Mundiais da Juventude serão no Panamá em 2019.

(RS)

Papa: a JMJ continua amanhã, em casa


(RV) Domingo, 31 de julho de 2016, Missa conclusiva das Jornadas Mundiais da Juventude no Campus Misericordiae de Cracóvia. Na sua homilia o Papa disse aos mais de um milhão e meio de jovens que as JMJ “continuam amanhã, em casa” e exortou-os a dizerem não ao doping do sucesso a todo o custo e à droga de pensarem só em si mesmo e nas próprias comodidades.

O estímulo da homilia foi o Evangelho de S. Lucas que no seu capítulo 19 nos conta o encontro de Jesus com Zaqueu, cobrador de impostos e colaborador dos ocupantes romanos. Francisco sublinhou três obstáculos que Zaqueu teve que ultrapassar para encontrar Jesus e que, nas palavras do Santo Padre, “podem dizer algo também a nós”.

Desde logo, a baixa estatura de Zaqueu, ele era pequeno e também nós hoje podemos correr o risco de ficar à distância de Jesus porque temos “uma baixa opinião de nós mesmos” – disse o Papa que sublinhou que “somos os filhos amados de Deus” e que “Deus conta contigo por aquilo que és, não pelo que tens: a seus olhos, não vale mesmo nada a roupa que vestes ou o telemóvel que usas; não Lhe importa se andas na moda ou não, importas-Lhe tu. A seus olhos, tu vales; e o teu valor é inestimável” – declarou Francisco.

Um segundo obstáculo encontrado por Zaqueu foi “a vergonha paralisadora”, ou seja, o risco de fazer uma “triste figura”. Antes de subir ao sicómoro, Zaqueu deverá ter pensado que era “uma figura pública” e podia fazer-se “ridículo aos olhos de todos” – afirmou o Papa – mas a “atração de Jesus era mais forte”. Francisco exortou os jovens a arriscarem a colocarem-se em jogo, a não se envergonharem e a não deixarem anestesiar a alma mas a apostarem “no amor formoso, que requer também a renúncia, e um «não» forte ao doping do sucesso a todo o custo e à droga de pensar só em si mesmo e nas próprias comodidades”.

O terceiro obstáculo de Zaqueu – revelou o Papa – foi a “multidão murmuradora” ao seu redor, pois Jesus não devia entrar na casa dele, na casa dum pecador. “É árduo aceitar um “Deus, rico em misericórdia” – disse o Santo Padre mas Deus “convida-nos a uma verdadeira coragem: ser mais fortes do que o mal amando a todos, incluindo os inimigos. Poderão rir-se de vós, porque acreditais na força mansa e humilde da misericórdia. Não tenhais medo, mas pensai nas palavras destes dias: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7)” – disse Francisco.

O Santo Padre declarou ainda aos jovens:

“Não vos detenhais à superfície das coisas e desconfiai das liturgias mundanas do parecer, da maquilhagem da alma para aparecer melhor. Em vez disso, instalai bem a conexão mais estável: a de um coração que vê e transmite o bem sem se cansar. E aquela alegria que gratuitamente recebestes de Deus, gratuitamente dai-a (cf. Mt 10, 8), porque muitos esperam por ela.”

Finalmente, destaque especial para as palavras de Jesus a Zaqueu que parecem ditas de propósito para nós hoje – assinalou Francisco na conclusão da sua homilia:

“«Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa». Jesus dirige-te o mesmo convite: «Hoje tenho de ficar em tua casa». A JMJ – poderíamos dizer – começa hoje e continua amanhã, em casa, porque é lá que Jesus te quer encontrar a partir de agora. O Senhor não quer ficar apenas nesta bela cidade ou em belas recordações, mas deseja ir a tua casa, habitar a tua vida de cada dia: o estudo e os primeiros anos de trabalho, as amizades e os afetos, os projetos e os sonhos. Como Lhe agrada que tudo isto seja levado a Ele na oração! Como espera que, entre todos os contactos e os chat de cada dia, esteja em primeiro lugar o fio de ouro da oração! Como deseja que a sua Palavra fale a cada uma das tuas jornadas, que o seu Evangelho se torne teu e seja o teu «navegador» nas estradas da vida!”

(RS)

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Homilia do Papa na Missa conclusiva das JMJ

texto integral


Campus Misericordiae, Cracóvia, Polónia

Queridos jovens, viestes a Cracóvia para encontrar Jesus. E o Evangelho de hoje fala-nos precisamente do encontro entre Jesus e um homem, Zaqueu, em Jericó (cf. Lc 19, 1-10). Aqui, Jesus não Se limita a pregar ou a saudar alguém, mas quer – diz o Evangelista – atravessar a cidade (cf. v. 1). Por outras palavras, Jesus deseja aproximar-Se da vida de cada um, percorrer o nosso caminho até ao fim, para que a sua vida e a nossa se encontrem verdadeiramente.

E assim acontece o encontro mais surpreendente, o encontro com Zaqueu, o chefe dos «publicanos», isto é, dos cobradores de impostos. Zaqueu era, pois, um rico colaborador dos odiados ocupantes romanos; era um explorador do seu povo, alguém que, pela sua má reputação, não podia sequer aproximar-se do Mestre. Mas o encontro com Jesus muda a sua vida, como sucedeu ou pode sucede cada dia com cada um de nós. Entretanto Zaqueu teve de enfrentar alguns obstáculos para encontrar Jesus: pelo menos três, que podem dizer algo também a nós.

O primeiro é a baixa estatura: Zaqueu não conseguia ver o Mestre, porque era pequeno. Também hoje podemos correr o risco de ficar à distância de Jesus, porque não nos sentimos à altura, porque temos uma baixa opinião de nós mesmos. Esta é uma grande tentação, que não tem a ver apenas com a autoestima, mas toca também a fé. Porque a fé diz-nos que somos «filhos de Deus; e, realmente, o somos» (1 Jo 3, 1): fomos criados à sua imagem; Jesus assumiu a nossa humanidade, e o seu coração não se afastará jamais de nós; o Espírito Santo deseja habitar em nós; somos chamados à alegria eterna com Deus. Esta é a nossa «estatura», esta é a nossa identidade espiritual: somos os filhos amados de Deus, sempre. Compreendeis então que não aceitar-se, viver descontentes e pensar de modo negativo significa não reconhecer a nossa identidade mais verdadeira? É como voltar-se para o outro lado enquanto Deus quer pousar o seu olhar sobre mim, é querer apagar o sonho que Ele tem para mim. Deus ama-nos assim como somos, e nenhum pecado, defeito ou erro Lhe fará mudar de ideia. Para Jesus – assim no-lo mostra o Evangelho –, ninguém é inferior e distante, ninguém é insignificante, mas todos somos prediletos e importantes: tu és importante! E Deus conta contigo por aquilo que és, não pelo que tens: a seus olhos, não vale mesmo nada a roupa que vestes ou o telemóvel que usas; não Lhe importa se andas na moda ou não, importas-Lhe tu. A seus olhos, tu vales; e o teu valor é inestimável.

Quando acontece na vida diminuirmo-nos em vez de nos enobrecermos, pode ajudar-nos esta grande verdade: Deus é fiel em amar-nos, até mesmo obstinado. Ajudar-nos-á pensar que Ele nos ama mais do que nos amamos nós mesmos, que crê em nós mais de quanto acreditamos nós mesmos, que sempre nos apoia como o mais irredutível dos nossos fãs. Sempre nos aguarda com esperança, mesmo quando nos fechamos nas nossas tristezas e dores, remoendo continuamente as injustiças recebidas e o passado. Mas, afeiçoar-nos à tristeza, não é digno da nossa estatura espiritual. Antes pelo contrário; é um vírus que infecta e bloqueia tudo, que fecha todas as portas, que impede de reiniciar a vida, de recomeçar. Deus, por seu lado, é obstinadamente esperançoso: sempre acredita que podemos levantar-nos e não Se resigna a ver-nos apagados e sem alegria. Porque somos sempre os seus filhos amados. Lembremo-nos disto, no início de cada dia. Far-nos-á bem dizê-lo na oração, todas as manhãs: «Senhor, agradeço-Vos porque me amais; fazei-me enamorar da minha vida». Não dos meus defeitos, que hão de ser corrigidos, mas da vida, que é um grande dom: é o tempo para amar e ser amado.

Zaqueu tinha um segundo obstáculo no caminho do encontro com Jesus: a vergonha paralisadora. Podemos imaginar o que se passou no coração de Zaqueu antes de subir àquele sicómoro: terá havido uma grande luta; por um lado, uma curiosidade boa, a de conhecer Jesus; por outro, o risco de fazer triste figura. Zaqueu era uma figura pública; sabia que, tentando subir à árvore, se faria ridículo aos olhos de todos: ele, um líder, um homem de poder. Mas superou a vergonha, porque a atração de Jesus era mais forte. Tereis já experimentado o que acontece quando uma pessoa se nos torna tão fascinante que nos enamoramos: então pode suceder fazermos voluntariamente coisas que de outro modo nunca teríamos feito. Algo semelhante aconteceu no coração de Zaqueu, quando sentiu que Jesus era tão importante que, por Ele, estava pronto a tudo, porque Ele era o único que poderia retirá-lo das areias movediças do pecado e da infelicidade. E assim a vergonha que paralisa não levou a melhor: Zaqueu – diz o Evangelho – «correndo à frente, subiu» e depois, quando Jesus o chamou, «desceu imediatamente» (vv 4.6). Arriscou e colocou-se em jogo. Aqui está também para nós o segredo da alegria: não apagar a boa curiosidade, mas colocar-se em jogo, porque a vida não se deve fechar numa gaveta. Perante Jesus, não se pode ficar sentado à espera de braços cruzados; a Ele que nos dá a vida, não se pode responder com um pensamento ou com uma simples «mensagem».

Queridos jovens, não vos envergonheis de Lhe levar tudo, especialmente as fraquezas, as fadigas e os pecados na Confissão: Ele saberá surpreender-vos com o seu perdão e a sua paz. Não tenhais medo de Lhe dizer «sim» com todo o entusiasmo do coração, de Lhe responder generosamente, de O seguir. Não vos deixeis anestesiar a alma, mas apostai no amor formoso, que requer também a renúncia, e um «não» forte ao doping do sucesso a todo o custo e à droga de pensar só em si mesmo e nas próprias comodidades.

Depois da baixa estatura e da vergonha incapacitante, houve um terceiro obstáculo que Zaqueu teve de enfrentar, não dentro de si mesmo, mas ao seu redor. É a multidão murmuradora, que primeiro o bloqueou e depois criticou-o: Jesus não devia entrar na casa dele, na casa dum pecador. Como é difícil acolher verdadeiramente Jesus! Como é árduo aceitar um «Deus, rico em misericórdia» (Ef 2, 4)! Poderão obstaculizar-vos, procurando fazer-vos crer que Deus é distante, rígido e pouco sensível, bom com os bons e mau com os maus. Ao contrário, o nosso Pai «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt 5, 45) e convida-nos a uma verdadeira coragem: ser mais fortes do que o mal amando a todos, incluindo os inimigos. Poderão rir-se de vós, porque acreditais na força mansa e humilde da misericórdia. Não tenhais medo, mas pensai nas palavras destes dias: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7). Poderão considerar-vos sonhadores, porque acreditais numa humanidade nova, que não aceita o ódio entre os povos, não vê as fronteiras dos países como barreiras e guarda as suas próprias tradições, sem egoísmos nem ressentimentos. Não desanimeis! Com o vosso sorriso e os vossos braços abertos, pregais esperança e sois uma bênção para a única família humana, que aqui tão bem representais.

Naquele dia, a multidão julgou Zaqueu, mediu-o de cima a baixo; mas Jesus fez o contrário: levantou o olhar para ele (v. 5). O olhar de Jesus ultrapassa os defeitos e vê a pessoa; não se detém no mal do passado, mas entrevê o bem no futuro; não se resigna perante os fechamentos, mas procura o caminho da unidade e da comunhão; único no meio de todos, não se detém nas aparências, mas vê o coração. Com este olhar de Jesus, vós podeis fazer crescer outra humanidade, sem esperar louvores, mas buscando o bem por si mesmo, felizes por conservar o coração limpo e lutar pacificamente pela honestidade e a justiça. Não vos detenhais à superfície das coisas e desconfiai das liturgias mundanas do aparecer, da maquilhagem da alma para parecer melhor. Em vez disso, instalai bem a conexão mais estável: a de um coração que vê e transmite o bem sem se cansar. E aquela alegria que gratuitamente recebestes de Deus, gratuitamente dai-a (cf. Mt 10, 8), porque muitos esperam por ela.

Ouçamos, por fim, as palavras de Jesus a Zaqueu, que parecem ditas de propósito para nós hoje: «Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa» (v. 5). Jesus dirige-te o mesmo convite: «Hoje tenho de ficar em tua casa». A JMJ – poderíamos dizer – começa hoje e continua amanhã, em casa, porque é lá que Jesus te quer encontrar a partir de agora. O Senhor não quer ficar apenas nesta bela cidade ou em belas recordações, mas deseja ir a tua casa, habitar a tua vida de cada dia: o estudo e os primeiros anos de trabalho, as amizades e os afetos, os projetos e os sonhos. Como Lhe agrada que tudo isto seja levado a Ele na oração! Como espera que, entre todos os contactos e os chat de cada dia, esteja em primeiro lugar o fio de ouro da oração! Como deseja que a sua Palavra fale a cada uma das tuas jornadas, que o seu Evangelho se torne teu e seja o teu «navegador» nas estradas da vida!

Ao pedir para ir a tua casa, Jesus – como fez com Zaqueu – chama-te por nome. O teu nome é precioso para Ele. O nome de Zaqueu evocava, na linguagem da época, a recordação de Deus. Fiai-vos na recordação de Deus: a sua memória não é um «disco rígido» que grava e armazena todos os nossos dados, mas um coração terno e rico de compaixão, que se alegra em eliminar definitivamente todos os nossos vestígios de mal. Tentemos, também nós agora, imitar a memória fiel de Deus e guardar o bem que recebemos nestes dias. Em silêncio, façamos memória deste encontro, guardemos a recordação da presença de Deus e da sua Palavra, reavivemos em nós a voz de Jesus que nos chama por nome. Assim rezemos em silêncio, fazendo memória, agradecendo ao Senhor que aqui nos quis e encontrou.