02 julho, 2016

Fraternidade de S. Pio X: um retrocesso no diálogo agora em curso?




(RV) A Fraternidade de São Pio X não procura, hoje, antes de tudo, um reconhecimento canónico por parte da Santa Sé – lê-se num comunicado daquela Comunidade tradicionalista tornado público no passado dia 29 de junho. Trata-se de um retrocesso no diálogo ainda em curso? Marie Duhamel perguntou ao Mons. Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei”:

A Comissão "Ecclesia Dei" não considera ser um retrocesso do diálogo: do comunicado de imprensa parece que não se entra no mérito das questões concretas que estão sendo examinadas no diálogo e confronto entre a Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei" e a Fraternidade de São Pio X. Portanto, o diálogo e o confronto sobre tais questões concretas deverão continuar.

E que sentido dais a este comunicado?

Digamos que não diz nada de novo em relação às principais posições e bem conhecidas da Fraternidade de São Pio X sobre a situação da Igreja hoje. Posso, eventualmente, acrescentar que, quando se faz referência à falta de reconhecimento canónico, que não é a coisa que neste momento estão a considerar, posso dizer que o reconhecimento canónico pela parte da Santa Sé é condição essencial para que uma obra católica esteja em plena comunhão eclesiástica, segundo o direito (canónico). Não existe o reconhecimento canónico, estamos a trabalhar para que haja: mas o reconhecimento canónico não é apenas um facto de notariado, é essencial!

Acenava agora alguns pontos-chave para vós, sobre quais se poderia trabalhar em conjunto …

São sempre as mesmas questões de ordem doutrinal e disciplinar: são as questões que dizem respeito ao Magistério, a tradição, as questões do Vaticano II ... Portanto, são todas coisas já conhecidas e que não precisamos repetir.

O Papa recebeu recentemente o Superior da Fraternidade, Mons. Fellay. A frequência destas relações, directas ou indirectas, qual é?

Não existem prazos específicos. Os encontros acontecem entre nós da Comissão "Ecclesia Dei" ou os nossos delegados e os representantes da Fraternidade de São Pio X. Houve, porém, este encontro importante: uma audiência privada com o Santo Padre, na qual o Mons. Fellay pôde expor o seu ponto de vista ao Santo Padre. Foi um encontro muito cordial e certamente se enquadra no caminho de diálogo e sobretudo de confiança recíproca que estamos a construir juntos. Por isso, não podemos excluir que no futuro possa haver outros encontros, mas estes não estão programados …

Bento XVI tinha muito a peito este trabalho, para alcançar a unidade com a Fraternidade. O Papa Francisco está na mesma óptica?

Sim, eu diria mesmo que sim. O Papa Francisco tem a peito a unidade da Igreja e tudo aquilo que pode promover a unidade da Igreja. Ele está sempre muito disponível para isto, como seu hábito mental. E eu penso que isto foi igualmente reconhecido por Mons. Fellay. Mas, evidentemente, não podemos nem mesmo negar que ainda existem problemas a resolver, problemas a enfrentar e examinar.

Portanto, da parte da Santa Sé existe abertura, mas também firmeza …

A firmeza é sobre aquilo que é essencial para ser católico. Deste ponto de vista não há nenhuma mudança! Mas eu não creio que agora seja questão de firmeza: trata-se apenas de enfrentar os problemas concretos e procurar resolvê-los, e resolvê-los juntos. A abertura é neste sentido: no sentido de que identificamos as questões que devem ser enfrentadas e as estamos enfrentando. Será necessário, naturalmente, algum tempo, mas deve haver esta disponibilidade recíproca.

De recordar que a Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei" foi instituída por S. João Paulo II em 1988 "com a tarefa de colaborar com os Bispos, com os Dicastérios da Cúria Romana e com os ambientes interessados, a fim de facilitar a plena comunhão eclesial dos sacerdotes, seminaristas e comunidades até agora ligados à Fraternidade fundada por Dom Marcel Lefèbvre, e que desejem permanecer unidos ao Sucessor de Pedro na Igreja Católica". (BS)

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