31 janeiro, 2015

Arcebispo de Aleppo: somente o perdão fará regressar a paz



(RV) O dúplice atentado que atingiu o centro de Bagdad nesta sexta-feira deixou ao menos 44 mortos e 70 feridos. É o que informa a agência de notícias local “al Sumaria”, segundo a qual entre as vítimas estariam vários agentes de polícia e militares do exército.

Enquanto isso, na Síria – segundo refere o Observatório sírio – 350 aldeias nos arredores de Kobane, cidade de maioria curda, encontram-se ainda nas mãos do Estado Islâmico.

Sobre a situação actual na Síria a Rádio Vaticano ouviu o arcebispo de Aleppo dos Armênios Católicos, Dom Boutros Marayati. Eis o que disse:

 “A situação está a piorar, porque as condições de vida são muito dramáticas, caminharam cada vez mais para trás... Durante o dia temos uma hora de electricidade e de luz e uma hora para termos um pouco de água. Por vezes não temos nem electricidade nem água... O alimento é escasso e neste inverno tão rígido falta até combustível, não se tem nada para aquecer-se: vê-se as crianças, o povo, os idosos que estão sempre ali, enrolados em cobertores... antes não era assim. O governo lança barris na parte ocupada pelos jihadistas, e estes, por sua vez, lançam foguetes e morteiros na parte controlada pelo governo. Nesta parte estamos nós, estão os bairros cristãos e recebemos esses morteiros. Na última vez, tenho aqui comigo as fotos, foi atingida a minha catedral, bem como outras igrejas... Por isso, não podemos dizer que a situação se acalmou. Pelo contrário, tornou-se ainda mais dramática. E o povo começa a fugir e há um êxodo ainda maior do que antes: antes ainda esperavam uma solução, mas vêem que nada muda.”

Trata-se de uma situação de grande caos, causada por vários grupos de rebeldes...

 “Isso é verdade. Não há um grupo de rebeldes, mas são vários grupos e isso não nos ajuda a chegar a um diálogo, porque para haver um diálogo é necessário ter alguém com quem falar... Creio que agora também os rebeldes, aos poucos, estão a organizar-se para ter um porta-voz, para ter alguém que possa falar em nome deles. Mas – como dizia –, realmente, são muitos, variados grupos e não sabemos quem sequestrou quem, em qual região os bispos se encontram, em qual lado, sob o controle de quem... E esse é mais um drama que não ajuda a retomar este processo de paz.”

Diante desta situação que se arrasta há anos, o povo cansado com tudo isso tem certamente um grande desejo, uma grande vontade de normalidade...

 “Em geral, esse é o nosso sonho, esse é o nosso desejo. É algo que cremos com todo o coração, mas sentimos que a nossa voz clama no deserto: ninguém pode ajudar-nos e não se dá um passo, porque há os grandes governos, os grandes poderes que estão ali fazendo o jogo. Portanto, deveria haver um entendimento entre eles, entre os grandes poderes para se chegar a algum lugar. Se não houver acordo entre os grandes poderes – entre a ONU e os grandes países – continuaremos na mesma situação, sem dar nenhum passo adiante.”

Qual tem sido o papel da Igreja neste momento? De que modo a Igreja tem ajudado aqueles que sofrem?

 “A Igreja tornou-se um lugar para ajudar o povo, para a solidariedade. A Igreja tornou-se uma grande ‘Caritas’... Não precisam somente de lições de moral, de orações, mas precisam de tudo! Toda igreja e todo o arcebispado abriu um centro de acolhimento e de ajuda, sem nenhuma discriminação: há muçulmanos, ortodoxos e protestantes... estamos abertos a todos para ajudar este povo neste momento. Já não vêm ate nós  somente para as coisas pastorais ou religiosas ou canónicas, o arcebispado tornou-se um centro de acolhimento e de ajuda.” (BS/RL)

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