31 maio, 2014

Vela e serve o povo de Deus – o Papa Francisco numa ordenação episcopal na Basílica de S. Pedro

RealAudioMP3

(RV) No final da tarde desta sexta-feira, dia 30, o Papa Francisco presidiu na Basílica de S. Pedro à ordenação episcopal do padre Fabio Fabene, romano, de 55 anos, ordenado sacerdote em 1984 e desde fevereiro deste ano de 2014 sub-secretário do Sínodo dos Bispos. O padre Fabio foi pároco e professor de direito canónico em Viterbo. Desde 1998 que trabalha na Congregação para os Bispos.
O ordenando é ungido com o óleo do crisma, recebe o Livro dos Evangelhos, o anel, o báculo pastoral e a mitra. Estes símbolos representam fecundidade, fidelidade, santidade, vocação de anúncio e de guia e perpetuam – como disse o Papa Francisco – o ministério apostólico renovando a presença do próprio Cristo. O Santo Padre dirigindo-se diretamente ao padre Fabio sublinhou que o episcopado é um serviço e não uma honra. A vaidade, o orgulho e a soberba não devem existir:
“Foste eleito do rebanho: que nunca venha a vaidade, o orgulho e a soberba. E foste eleito, constituído para os homens: que sempre a atitude seja de serviço. Como Jesus.”
Assim, antes de indicar ao novo bispo o caminho do anúncio, da conservação dos mistérios de Cristo e o amor a todos aqueles que Deus lhe confiar, o Papa Francisco deixou uma recomendação:
“Vela sobre ti próprio e vela sobre o povo de Deus. Este velar significa fazer vigília, estar atento, para defender-se a si próprio de tantos pecados e de tantas atitudes mundanas, e para defender o povo de Deus dos lobos.”
Mas velar é também rezar. O Papa Francisco concluiu a sua homilia dizendo que o bispo deve “rezar pelo povo como fazia Moisés. Rezar com aos mãos para o alto, aquela oração de intercessão, aquele oração corajosa face a face com o Senhor pelo povo.” (RS)

D. Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém: o Santo Padre é simplicidade e humildade; Nazaré: talvez aquando do Sínodo da Família

RealAudioMP3

(RV) D. Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém foi uma das pessoas que maior responsabilidade teve na organização da visita do Papa Francisco à Terra Santa. O nosso colega da redação italiana Roberto Piermarini entrevistou-o e ouviu a sua opinião sobre a viagem papal:

“ A verdade é que eu vejo na pessoa do Santo Padre uma mensagem para nós chefes religiosos: uma mensagem de simplicidade e humildade. Não faz de chefe, está ao serviço. Fiquei impressionado especialmente no almoço com as cinco famílias palestinianas, que sofreram muito... Cada uma contou a sua história e antes do fim do almoço, Gasbarri disse ao Santo Padre se queria sair com 20 minutos de antecipação antes da visita à Gruta. E aqui tocou-me o coração! O Papa disse: “Esta gente sofre, não posso deixá-los sozinhos. Não vou antes: fico com eles até ao fim. E ficou com eles até ao fim...”
O Patriarca Latino de Jerusalém gostaria muito que o Papa Francisco visitasse Nazaré da Galileia, lugar da Sagrada Família no âmbito do Sínodo da Família que terá duas etapas em 2014 e 2015:
“...tivemos pelo menos 4 mil vindos da Galileia que estiveram em Belém e também da Galileia foram à Jordânia para a Missa. Jerusalém sempre esteve blindada. Também é verdade que em Jerusalém não houve nenhum ato público. Mas nos seus discursos disse de querer ir à Galileia, a Nazaré. Agora que temos o Sínodo da Família e Nazaré é o lugar da Sagrada Família, esperemos e rezemos para que volte nessa ocasião...”
D. Fouad Twal abordou ainda o tema da oração pela paz no Vaticano que o Papa Francisco propôs realizar com as presenças de Mahmud Abbas e Shimon Perez:
“ A oração não é uma coisa nova: sempre pediu de rezar e nós pedimos sempre de rezar. Visto que este encontro não pode ser nem em Jerusalém nem em Belém, o Santo Padre ofereceu a sua casa. È uma iniciativa que indica certamente a boa vontade do Santo Padre de chegar à paz e de realizar um pouco de paz e calma. Espero que com esta iniciativa alguma coisa se faça...” (RS

30 maio, 2014

A vida cristã não é uma festa, mas “alegria em esperança” – Papa Francisco na Missa em Santa Marta


(RV) “A vossa tristeza se converterá em alegria”. A promessa de Jesus aos seus discípulos esteva no centro da Missa desta manhã do Papa Francisco na Casa Santa Marta. Na sua homilia, o Pontífice fez quase um hino à alegria cristã, que, observou, não se pode comprar, mas só receber como dom do Senhor. A alegria dos cristãos, disse ainda, é a “alegria em esperança”:

São Paulo “era muito corajoso”, “porque ele tinha a força no Senhor”. O Papa Francisco desenvolveu a partir desta constatação a sua homilia, toda focalizada na alegria do cristão. Certamente, observou, às vezes até mesmo o Apóstolo dos gentios tinha medo. “Isso acontece com todos nós na vida ter um pouco de medo”, acrescentou. E se faz a pergunta se “não seria melhor abaixar um pouco o nível e ser um pouco não tanto cristão e buscar um compromisso com o mundo”. Paulo, no entanto, sabia que o que ele fazia não era apreciado nem pelos judeus, nem pelos pagãos”, mas ele não pára e, por isso, deve suportar dificuldades e perseguições. Isso, acrescentou, “nos faz pensar nos nossos medos, nos nossos temores”. Também Jesus no Getsémani teve medo, angústia. E no seu discurso de despedida, recordou o Papa, aos seus discípulos, diz claramente que “o mundo se alegrará”, pelos seus sofrimentos, como irá acontecer com os primeiros mártires do Coliseu:

E devemos dizer a verdade: não toda a vida cristã é uma festa. Não toda ela! Choramos..., tantas vezes se chora. Quando se está doente; quando há um problema em família com o filho, com a filha, a esposa, o marido; quando se vê que o salário não chega ao final do mês e há um filho doente; quando se vê que não se pode pagar a hipoteca da casa e se deve deixar a casa... Tantos problemas, tantos que nós temos. Mas Jesus nos diz: ‘Não tenhais medo!’. ‘Sim, vão ficar tristes, vão chorar e até mesmo as pessoas se alegrarão com isso, as pessoas que estão contra vós’.
“Mas também – prosseguiu o Papa Francisco – há outra tristeza: a tristeza que nos vem quando enveredamos por um caminho que não é bom”. Quando “compramos a alegria, aquela do mundo, a do pecado, e por fim há um vazio dentro de nós”. Uma tristeza que é alegria má. Pelo contrário, o cristão é “alegre em esperança”:

Mas, no momento da dificuldade, nós não a vemos. É uma alegria que é purificada pelas provações, inclusive de todos os dias. A tristeza se transformará em alegria. Mas é difícil quando visitamos um doente, que tanto sofre, dizer: ‘Coragem! Coragem! Amanhã haverá alegria!’. Não se pode dizer isso! Devemos fazê-lo sentir como fez Jesus. Também nós, quando estamos na escuridão, que não vemos nada: ‘Eu sei, Senhor, que esta tristeza se transformará em alegria. Não sei como, mas eu sei!’. Um acto de fé no Senhor. Um acto de fé!
Para entender a tristeza que se transforma em alegria, disse ainda o Papa, Jesus cita como exemplo a mulher que dá à luz: “É verdade, no parto a mulher sofre tanto – afirmou Francisco –, mas depois, quando está com a criança, se esquece”. O que permanece, portanto, é “a alegria de Jesus, uma alegria purificada”. Uma alegria, reconheceu, “escondida nalguns momentos da vida, que não se sente nos momentos maus, mas que vem depois: uma alegria em esperança”. Portanto, esta é a “mensagem da Igreja de hoje: não ter medo!”:

Ser corajoso no sofrimento e pensar que depois vem o Senhor, a alegria, chega o sol depois da escuridão. Que o Senhor dê a todos nós esta alegria em esperança. E o sinal de que nós temos esta alegria em esperança é a paz. Quantos doentes, que estão no fim da vida, com as dores, têm aquela paz na alma … Esta é a semente da alegria, esta é a alegria em esperança, a paz. Se tens paz, então tens a semente da alegria que virá depois. Que o Senhor nos faça entender estas coisas.

8 de Junho no Vaticano: encontro de oração pela paz no Médio Oriente


(RV) A Sala de Imprensa da Santa Sé informou ao fim da tarde desta quinta-feira, 29, que o encontro de oração pela paz, para o qual o Papa Francisco convidou o Presidente de Israel, Shimon Peres, e da Palestina, Mahmoud Abbas, terá lugar na tarde de Domingo, 8 de Junho, no Vaticano. A data foi aceite pelas duas partes.

O convite para rezar juntos pela paz no Médio Oriente foi feito pelo Santo Padre ao Presidente Palestino, Mahmoud Abbas, depois da Missa celebrada na Praça da Manjedoura, em Belém, no Domingo 25 de Maio e repetido ao Presidente israelita, Shimon Peres, no dia seguinte, no encontro realizado na residência presidencial, em Jerusalém.

No voo de regresso a Roma, o Papa Francisco havia falado aos jornalistas sobre o significado da sua iniciativa: “Será um encontro de oração. Não será um encontro para fazer uma mediação ou buscar soluções, não! Nos reuniremos para rezar, somente. E depois, cada um volta para a sua casa. Mas eu acredito que a oração seja importante, e rezar juntos sem fazer discussões de outro tipo, isto ajuda”.

Falando sobre a inspiração para este encontro, Francisco explicou que “ele era pensado para ser realizado lá, mas existiam tantos problemas logísticos, tantos, pois eles devem considerar o território onde se fazer e não é fácil. Por isto, se pensava a uma reunião....mas no final, saiu este convite, que espero, saia tudo bem”.

A iniciativa pretende relançar as negociações de paz, a partir da convergência das três religiões monoteístas: cristã, judaica e muçulmana.

29 maio, 2014

ASCENSÃO


 
 
Porque estás a olhar para o Céu?

Perguntas-me,
com um sorriso admirado.

Mas eu nem sequer me dou conta
de que quando Tu partiste
Te fizeste,
afinal,
ainda mais chegado.

Não há razão para estar triste,
com medo,
ou desanimado,
porque quando ao Céu subiste
quando Te afastaste por fim,
deixaste de estar a meu lado
para ficares ainda mais perto,
e seres o todo e o tudo,
no nada que havia em mim.

Desceste depois como pomba,
língua de fogo,
ou como vento forte.
Fizeste-Te presença constante,
aqui, no meio de nós,
cumprindo a tua promessa:
«Eu voltarei para vós!»*



*conf. Jo 14,18

Monte Real, 29 de Maio de 2014
Joaquim Mexia Alves

28 maio, 2014

Na Terra Santa como peregrino à procura da unidade e da paz – o Papa na audiência geral

RealAudioMP3

(RV) Grande entusiasmo na multidão de fiéis que acolheu o Papa Francisco dias após o regresso da Peregrinação à Terra Santa. E a catequese foi sobre essa importante viagem apostólica.
De regresso da Terra Santa o Santo Padre confirmou que o seu objetivo principal foi o de celebrar os cinquenta anos do Encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras:

“Aquele gesto profético do Bispo de Roma e do Patriarca de Constantinopla colocou uma pedra miliar no caminho sofrido mas promissor da unidade de todos os cristãos, que desde então cumpriu passos relevantes.”

Desta forma, o momento principal da visita à Terra Santa foi o encontro com Sua Santidade Bartolomeu – afirmou o Papa Francisco:

“...naquela celebração plena de recíproca fraternidade, de estima e de afeto, ouvimos forte a voz do Bom Pastor Ressuscitado que quer fazer de todas as suas ovelhas um só rebanho; ouvimos o desejo de sarar as feridas ainda abertas e prosseguir com tenacidade o caminho em direção à plena comunhão.”


Outro objetivo da peregrinação, segundo o Santo Padre, foi encorajar o caminho para a paz naquela Região do Médio-Oriente:

“Fi-lo sempre como peregrino, no nome de Deus e do homem, levando no coração uma grande compaixão pelos filhos daquela Terra que há demasiado tempo convivem com a guerra e têm o direito de conhecer finalmente dias de paz!”

Neste sentido, o Papa Francisco convidou o Presidente de Israel e o Presidente da Palestina para virem ao Vaticano rezar pela paz:
“... convidei o Presidente de Israel e o Presidente da Palestina, homens de paz e artífices de paz, a virem ao Vaticano rezarem juntos comigo pela paz.”

Com esta visita, o Santo Padre afirmou ter tentado levar uma palavra de esperança, mas afirmou ter recebido também esse encorajamento, principalmente dos irmãos e irmãs que, refugiados longe da sua casa ou discriminados por causa da sua fé em Jesus Cristo, continuam a esperar contra toda a esperança – concluiu o Papa Francisco.

No final da catequese o Santo Padre saudou também os peregrinos de língua portuguesa:

“De coração saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, com menção particular dos grupos da Academia Paulista de Magistrados e do Instituto São Boaventura bem como os fiéis de Brasília, Campinas e Rolândia, encorajando-vos a ser por todo o lado testemunhas de esperança e caridade. E, se alguma vez a vida fizer desencadear turbulências espirituais na vossa alma, ide procurar refúgio sob o manto da Santa Mãe de Deus; somente lá encontrareis paz. Sobre vós, vossas famílias e paróquias desça a Bênção do Senhor!”

O Papa Francisco a todos deu a sua bênção! (RS)

27 maio, 2014

Celebração do dia do Pentecostes



 

Papa Francisco falou aos jornalistas no avião regressando da Terra Santa

RealAudioMP3
 
(RV) Como prometido pelo Papa Francisco na partida para a Terra Santa, no voo de regresso a Roma o Santo Padre disponibilizou-se para conversar com os jornalistas. O P. Federico Lombardi organizou a sequência das perguntas e o Papa Francisco respondeu de maneira simples e direta.
Das muitas questões colocadas ao Papa Francisco realce para aquela que apresentava maior atualidade e necessidade de esclarecimento: o convite aos presidentes Peres e Abbas para uma oração no Vaticano. O Santo Padre deixou claro que não se trata de uma mediação mas um momento de oração:

“Eu rezo tanto ao Senhor para que estes dois dirigentes, estes dois governos tenham a coragem de andar para a frente. Este é o único caminho para a paz.” – afirmou o Papa Francisco.

Do seu encontro com o Patriarca Bartolomeu, o Santo Padre referiu terem abordado o tema da unidade, uma unidade que se faz caminhando, rezando e trabalhando juntos. Um dos pontos de que falaram foi a Páscoa que católicos e ortodoxos ainda celebram em datas diferentes:

“Porque é um pouco ridículo: ‘O teu Cristo quando ressuscita? Na próxima semana. Eh, o meu ressuscitou na semana passada’... a data da Páscoa é um sinal de unidade.”

Sobre a sua relação com o Patriarca Bartolomeu o Papa disse o seguinte:

“Com Bartolomeu falamos como irmãos! Queremo-nos bem, e falamos sobre as dificuldades do nosso governo. E uma coisa de que falamos bastante foi o problema da ecologia. Ele está muito preocupado e eu também. Falamos bastante em fazer um trabalho conjunto sobre este problema.”

Durante esta conferência de imprensa aérea, o Santo Padre procurou responder sempre com os pés bem assentes na realidade da Igreja. Assim, considerou que a reforma da Curia pretende, sobretudo, aligeirar a estrutura, por exemplo com fusões entre os dicastérios. Sobre as questões da família o Papa Francisco deixou claro que devem ser vistas na sua globalidade e que o próximo Sínodo não deve ser reduzido a uma simples casuística da comunhão ou não aos divorciados recasados. Referiu-se ainda ao celibato dos padres como sendo um grande dom para a Igreja mas que não são um dogma e, por conseguinte, a “porta está sempre aberta” – sublinhou o Papa Francisco.
A propósito de uma pergunta sobre o abuso de menores por parte de sacerdotes o Papa Francisco considerou que é como que trair o Corpo do Senhor, é como celebrar uma missa satânica. Deixou bem claro que não haverá privilegiados nas investigações. Três bispos estão a ser investigados e um já foi condenado. Anunciando que na próxima semana celebrará uma Missa em Santa Marta com a presença de algumas pessoas que sofreram abusos, o Papa Francisco, afirmou que sobre este assunto existe “tolerância zero”.

“...sobre isto tem que se ir em frente: tolerância zero”. (RS)

Papa foi a Santa Maria Maior agradecer a Nossa Senhora pela peregrinação à Terra Santa


(RV) Esta manhã às 11 horas de Roma, o Papa Francisco deslocou-se à Basílica de Santa Maria Maior para agradecer a Nossa Senhora pelo êxito positivo da sua viagem à Terra Santa e confiar-lhe os frutos que poderão resultar dessa peregrinação.

O Papa – referiu o Cardeal Santos Abril y Castelló, arcipreste da Basílica – ofereceu um ramalhete de flores a Nossa Senhora e depois recolheu-se em oração por alguns minutos.

Seguidamente, saudou os fiéis que se encontravam na Basílica. O Cardeal Castelló disse ter visto o Papa muito contente pela visita à Terra Santa.

O Papa Francisco deixou a Basílica por volta das 11.30.

Esta é a nona vez que Bergoglio se desloca à Basílica de Santa Maria Maior desde o início do seu pontificado, há pouco mais de uma ano.

Antes de partir para a Terra Santa tinha-se deslocado discretamente a essa Basílica papal dedicada a Nossa Senhora para pedir a sua protecção nessa viagem.

Patriarca Bartolomeu fala do encontro com o Papa Francisco em Jerusalém

RealAudioMP3

(RV) Em 1964 iniciou um caminho “que agora já não pode mais parar": ainda não chegámos "à meta da unidade dos cristãos", mas a partir daquele momento, "aprendemos a perdoar-nos uns aos outros pelos erros e desconfianças do passado, e demos passos importantes no sentido da aproximação e reconciliação". Agora “chegou o momento de seguirmos em frente - diz Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla - e com o Papa Francisco faremos precisamente um bom passo em frente" - uma convicção que o patriarca tem alimentado desde que ele encontrou o bispo de Roma, por ocasião das celebrações do início do ministério papal, quando se aproximava o quinquagésimo aniversário do “histórico abraço de Jerusalém". Dos frutos que ele esperava deste encontro Bartolomeu falou há dias em entrevista ao "Osservatore Romana", que aqui transcrevemos na íntegra:

Papa Francisco nos passos do Papa Paulo VI, 50 anos mais tarde. Durante esse tempo, passou-se do “diálogo do amor" ao "diálogo da verdade". E agora, como poderá continuar o caminho, em vista da meta final?

Não há dúvida que o histórico encontro entre os nossos veneráveis Predecessores, o Patriarca Ecuménico Atenágoras e o Papa Paulo VI marcou um novo início nas relações entre o catolicismo e a ortodoxia. É importante lembrar que aquele encontro seguia-se a um milénio inteiro de desconfiança recíproca e de distanciamento teológico entre as nossas duas grandes tradições. Apesar da nossa história comum de Escritura e Tradição, as nossas duas Igrejas, arriscavam portanto, de ser danificadas pelo isolamento e a auto-suficiência, tendo seguido caminhos diferentes a partir do século XI. O encontro em Jerusalém, no dia 5 de Janeiro de 1964, foi um ponto de partida extraordinário para o longo caminho de reconciliação e de diálogo, que as gerações posteriores foram chamadas a continuar. Olhando para trás nos últimos cinquenta anos, podemos ser gratos a Deus por aquilo que foi alcançado, tanto no "diálogo de amor" como no "diálogo da verdade". O espírito de amor fraterno e de respeito recíproco tomou o lugar das velhas polémicas e suspeitas.
E a nível teológico?
A Comissão mista internacional para o diálogo teológico das duas Igrejas produziu vários importantes documentos conjuntos. Estamos, no entanto, conscientes de que ainda há muito a fazer entre as nossas duas Igrejas, bem como dentro delas. Sem dúvida, o caminho é longo e difícil. Contudo, como discípulos de nosso Senhor, que rezou ao Pai e exortou aos seus discípulos a serem "um" - ut unum sint, lemos no Evangelho de João (17,21) - não temos outra alternativa senão prosseguir este caminho de reconciliação e de unidade. Qualquer outro caminho seria uma traição vergonhosa da vontade do Senhor e um retorno inaceitável ao nosso passado separado.
Disse recentemente que espera poder convocar em breve o Grande Concílio da Igreja Ortodoxa para simbolizar a unidade da sua Igreja. Poderá ser também uma ocasião para redescobrir o valor da unidade de todos os cristãos?
Durante a última assembleia, a synaxis dos chefes das Igrejas Ortodoxas autocéfalas do mundo, que teve lugar em Istambul de 6 a 9 de Março últimos, os primazes das Igrejas Ortodoxas falaram da questão do Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa, tendo decidido por unanimidade que, acelerando o processo de preparação, será convocado em Constantinopla em 2016. Este Sínodo, como observa, será um sinal vital de unidade entre as Igrejas Ortodoxas, num momento em que o mundo exige uma resposta unificada aos seus desafios fundamentais. Durante tal assembleia, informámos aos irmãos primazes sobre o nosso próximo encontro com o Papa Francisco em Jerusalém. Eles exprimiram assim o seu apoio ao evento e reiteraram o seu empenho em favor do diálogo teológico com a Igreja Católica Romana. Isto é importante, uma vez que o encontro em Jerusalém será muito mais de uma confirmação simbólica da nossa disponibilidade de continuar no caminho de amor iniciado há 50 anos pelos nossos predecessores em espírito de fidelidade à verdade do Evangelho. Será também uma importante ocasião para que o mundo possa ver uma abordagem unida - para além das identidades confessionais e das diferenças - ao sofrimento dos cristãos em tantos lugares, especialmente nas regiões onde o cristianismo nasceu e se desenvolveu . Além disso, também será uma oportunidade para falarmos das injustiças que os membros mais vulneráveis ​​das sociedades contemporâneas são obrigados a suportar, assim como das preocupantes consequências da crise ecológica.
Há muita expectativa por este encontro. E muitos nutrem esperanças concretas de um passo em frente decisivo que leve a superar os obstáculos que ainda impedem a unidade entre os cristãos. Quais são as suas expectativas e as suas esperanças?

Hoje, mais do que há cinquenta anos, há uma necessidade urgente de reconciliação, e isto faz com que o nosso próximo encontro com o Papa Francisco em Jerusalém seja um evento de grande significado. Trata-se naturalmente - como devemos humildemente entender e admitir - apenas de um primeiro passo para irmos ao encontro do mundo, como afirmação do nosso desejo de aumentar os esforços em favor da reconciliação cristã e pacífica. Isto demonstrará igualmente a nossa disponibilidade e responsabilidade comum em progredir no caminho preparado pelos nossos predecessores. Portanto, como líderes eclesiásticos e espirituais, vamos nos encontrar para dirigir um apelo e um convite a todas as pessoas, independentemente da sua fé e suas virtudes, por um diálogo que, no fundo, visa o conhecimento da verdade de Cristo e a saborear a imensa alegria que acompanha o encontro com Ele. Contudo, em última análise, isto só é possível eliminando a separação interior entre uns e outros e através da unidade de todo o povo em Cristo, que é a verdadeira plenitude do amor e da alegria.
Mas este era o objectivo também do encontro de 1964.
É claro que de 1964 até hoje não alcançámos a plena comunhão, que deve ser sempre o objectivo final dos fiéis discípulos de Cristo. Contudo, aprendemos a perdoar-nos uns aos outros pelos erros e a desconfiança do passado; e demos passos importantes no sentido da reaproximação e a reconciliação. Atenágoras e Paulo VI foram certamente grandes precursores da unidade. No entanto, outro passo importante para a reconciliação e a unidade será realizado, com a graça de Deus, no dia 25 de Maio de 2014, através do encontro com o nosso irmão Papa Francisco. Que tudo seja segundo a vontade de Deus.

26 maio, 2014

Bartolomeu e Francisco no Santo Sepulcro – juntos para encontrar caminhos de futuro

RealAudioMP3
 
(RV) O último encontro e o mais importante deste segundo dia da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Terra Santa foi a Celebração Ecuménica, no Santo Sepulcro, em Jerusalém.
Participaram nesta celebração, entre outros, os Ordinários Católicos da Terra Santa, os Arcebispos copta, sírio, etíope e os bispos anglicano e luterano. O Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu foram acolhidos pelos três Superiores das Comunidades Greco-ortodoxa, Franciscana e Arménia Apostólica.
O primeiro a usar da palavra foi o Patriarca Bartolomeu I que sublinhou a mensagem de coragem, esperança e vida que irradia do Santo Sepulcro vazio que indica que não devemos ter medo da morte e do mal. “Qualquer esforço da humanidade contemporânea de modelar o seu futuro autonomamente e sem Deus é uma vã presunção” – afirmou o Patriarca – que considerou ainda que o Sepulcro “convida a recusarmos talvez o maior temor da era moderna, o medo do outro, do diferente, de quem tem uma outra fé”. Desta forma, Bartolomeu I recordou o encontro entre Paulo VI e Atenágoras, há 50 anos, que quebrou a divisão de um milénio entre as duas igrejas. “Mudou o medo para amor” – afirmou – e concluiu dizendo que este “é o único caminho para que todos sejam uma coisa só”.
No final do discurso do seu “irmão” Bartolomeu, Francisco cumprimentou-o afetuosamente e tomou a palavra propondo que “fiquemos em devoto recolhimento junto do sepulcro vazio, para redescobrir a grandeza da nossa vocação cristã: somos homens e mulheres de ressurreição, não de morte”.

Aprendamos deste lugar, a viver a nossa vida, os trabalhos das nossas Igrejas e do mundo inteiro na luz da manhã de Páscoa – sublinhou o Santo Padre:

“Cada ferida, sofrimento e dor, foram carregados nos ombros do Bom Pastor, que ofereceu-se a si próprio e com o seu sacrifício abriu-nos a passagem para a vida eterna.”
“E não sejamos surdos ao potente apelo à unidade que ressoa desde este lugar, nas palavras Daquele que, Ressuscitado, chama a todos nós ‘os meus irmãos’.

O Papa Francisco afirmou neste ponto do seu discurso ser necessário acreditar que “como foi removida a pedra do sepulcro, assim possam ser removidos todos os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre nós”.

O Santo Padre concluiu a sua alocução desejando que se encontre no futuro “uma forma de exercício do ministério do Bispo de Roma que abra a uma situação nova que seja um serviço de amor e comunhão reconhecido por todos”. Salientou também o ecumenismo do sofrimento e o sangue cristão derramado nas perseguições que ainda subsistem. “Aqueles que por ódio a fé matam e perseguem os cristãos, não perguntam se são ortodoxos ou católicos: são cristãos! O sangue cristão é o mesmo!” – afirmou o Papa Francisco.
De referir que Francisco e Bartolomeu assinaram uma Declaração comum na qual fazem apelo aos cristãos e aos crentes de outras tradições religiosas e a todos os homens de boa vontade a reconhecerem a urgência de reconciliação e de unidade da família humana. Desta forma, “conscientes de não terem conseguido o objetivo da plena comunhão” reafirmam o empenho de “ caminhar juntos em direção à unidade” procurando também “um autêntico diálogo com o hebraísmo, o islamismo e outras tradições religiosas”. Afirmam também o compromisso de colaborarem “na defesa da dignidade da pessoa humana em cada fase da sua vida” e afirmam defender a “santidade da família baseada no matrimónio” para “promover a paz e o bem comum”. Reconhecem ainda nesta declaração comum que devem ser constantemente enfrentados os problemas da “fome, da indigência, do analfabetismo e da não équa distribuição dos bens”. (RS)

A Semana do Papa – uma síntese das principais atividades de 19 a 25 de maio

RealAudioMP3

(RV)

Dia 19
Na manhã de segunda-feira o Papa Francisco recebeu em audiências sucessivas os bispos da Conferência Episcopal do México, o rei do Bahrein bin Isa Al Khalifa e ainda Donald Tusk, Primeiro-Ministro da Polónia. No final da tarde encontrou-se com os bispos italianos presidindo à abertura da assembleia geral da Conferência Episcopal Italiana. Não perdeu a oportunidade para advertir que os bispos devem estar próximos das dificuldades das famílias e dos desempregados.
Logo pela manhã na missa em Santa Marta o Papa Francisco partindo do exemplo de S. Paulo perguntou se nós temos o nosso coração fixo no Espirito Santo ou temos um coração bailarino?

“Com este exemplo, podemos perguntar: como é o meu coração? É um coração que parece um bailarino, que anda de um lado para a outro, que parece uma borboleta, que está sempre em movimento; é um coração que se assusta com os acontecimentos da vida e se esconde e tem medo de dar testemunho de Jesus Cristo; é um coração corajoso ou é um coração que tem tanto temor que tenta sempre esconder-se? De que cuida o nosso coração? Qual é o tesouro ao qual o nosso coração está ligado? É um coração fixo nas criaturas, nos problemas que todos temos? É um coração fixo nos deuses de todos os dias ou é um coração fixo no Espírito Santo?

Dia 20
Na manhã de terça-feira, o Papa Francisco afirmou que “a paz de Jesus é uma Pessoa, é o Espírito Santo É uma paz definitiva! O nosso trabalho qual é? Guardar esta paz. Guardá-la! É uma paz grande, é uma paz que não é minha, é de uma outra Pessoa que me oferece, de uma outra Pessoa que está dentro do meu coração e que me acompanha toda a vida.”

Dia 21
Na quarta-feira, dia 21, o Papa Francisco na audiência-geral desenvolveu uma catequese sobre o dom da ciência através da qual exortou os cristãos a conservarem a Criação.
Depois de ter apelado à solidariedade para com as populações inundadas pelo temporal da Bósnia e da Sérvia o Papa Francisco pediu orações para a sua viagem à Terra Santa. O Santo Padre recordou que o faz para se encontrar com o seu irmão Patriarca Bartolomeu no 50º aniversário do encontro de Paolo VI com Atenágoras, e exaltou como é belo que os Apóstolos Pedro e André estejam outra vez juntos!

Dia 23

Na manhã de sexta-feira, o Papa Francisco afirmou na sua homilia na Missa matinal em Santa Marta que um cristão sem alegria ou não é cristão ou está doente porque, segundo o Santo Padre a vocação cristã é permanecer no amor de Deus:
“A vocação cristã é isto: permanecer no amor de Deus...”

A alegria é como que a marca do cristão. Um cristão sem alegria ou não é cristão ou está doente. A saúde cristã! A alegria. Mesmo na dor, nas tribulações e perseguições.”

Dia 24

No dia 24 de maio, sábado, o Papa Francisco iniciou a sua Peregrinação à Terra Santa viajando até à Jordânia onde esteve com o Rei Abdallah II. Foi também acolhido pelo Príncipe Ghazi bin Muahammed, pelo Patriarca Latino de Jerusalém D. Fouad Twal, que é Delegado Apostólico para a Jordânia e o Padre Pierbattista Pizzaballa que é o Custódio da Terra Santa. O Papa Francisco encorajou as autoridades jordanas a prosseguirem no respeito pela liberdade religiosa e na promoção da convivência pacífica e em particular expressou o seu apreço pelo acolhimento dispensado a um elevadíssimo número de refugiados palestinianos, iraquianos e de outros países da área, sobretudo da Síria.

Na tarde desse sábado o Papa Francisco celebrou a Eucaristia no Estádio Internacional de Amã para cerca de 30 mil fiéis,1400 dos quais eram crianças que comungaram pela primeira vez. O Papa Francisco apelou para a paz valorizando o testemunho da paz e rezou para que o Espírito Santo cure as feridas dos erros, das incompreensões e das controvérsias:

Quanta necessidade tem o mundo de nós como mensageiros de paz, como testemunhos de paz! É uma necessidade que o mundo tem. Também o mundo pede-nos para fazermos isto: levar a paz, dar testemunho de paz!

A Ele pedimos para preparar os nossos corações ao encontro com os irmãos para além das diferenças de ideias, língua, cultura, religião; par ungir todo o nosso ser com o óleo da sua misericórdia que cura as feridas dos erros, das incompreensões, das controvérsias; a graça de nos enviar com humildade e mansidão pelos caminhos difíceis, mas fecundos da procura da paz. Amén!

Ainda no dia 24 o Papa Francisco foi para Betânia para além do Jordão ao local onde foi batizado Jesus onde se encontrou com refugiados e jovens portadores de deficiência. Ali voltou a fazer um forte apelo para a paz na Síria e para a conversão dos violentos:

Cessem as violências e seja respeitado o direito humanitário, garantindo a necessáriaassistência à população sofredora! Seja abandonada, por todos, a pretensão de deixar às armas a solução dos problemas e volte-se à via das negociações.

Deus converta os violentos! Deus converta aqueles que têm projetos de guerra! Deus converta aqueles que fabricam e vendem armas e reforce os corações e as mentes dos operadores de paz e os recompense com a sua benção.

Dia 25
No domingo, dia 25 de maio, o Papa Francisco celebrou Missa em Belém, na Palestina, numa Praça da Manjedoura repleta de fiéis.
De referir que no percurso para a Missa o Papa Francisco parou junto ao muro que separa Israel da Cisjordânia para rezar. A imagem desse momento correu todas as televisões internacionais e agências de notícias marcando um importante momento de atenção para a situação política na Palestina através da Peregrinação do Santo Padre à Terra Santa.
Na sua homilia o Santo Padre comentou as palavras que os anjos dirigiram aos pastores, convidando-os a correrem a Belém a adorar o Menino Deus: "Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura".
"Também hoje as crianças são um sinal - fez notar o Papa. Sinal de esperança, sinal de vida, mas também sinal de diagnóstico (disse), para compreender o estado de saúde duma família, duma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano".
No final da Missa e na sua mensagem antes da oração do Regina Coeli, o Santo Padre lançou um convite direto aos Presidentes da Palestina e de Israel, a invocarem juntos a paz, disponibilizando-se a acolhê-los no Vaticano para tal iniciativa. O Papa Francisco disse textualmente isto que passamos a ouvir:

Neste Lugar, onde nasceu o Príncipe da Paz, desejo fazer um convite a Vossa Excelência, Senhor Presidente Mahmoud Abbas, e ao Senhor Presidente Shimon Peres para elevarem, juntamente comigo, uma intensa oração, implorando de Deus o dom da paz. Ofereço a minha casa, no Vaticano, para hospedar este encontro de oração.

Todos desejamos a paz; tantas pessoas a constroem dia a dia com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a fadiga de tantas tentativas para a construir. E todos – especialmente aqueles que estão colocados ao serviço do seu próprio povo – temos o dever de nos fazer instrumentos e construtores de paz, antes de mais nada na oração.

Construir a paz é difícil, mas viver sem paz é um tormento. Todos os homens e mulheres desta Terra e do mundo inteiro pedem-nos para levarmos à presença de Deus a sua ardente aspiração pela paz.

Na tarde do dia 25 o Papa Francisco voou para Tel-Aviv onde foi acolhido pelo Presidente israelita e afirmou que os povos israelitas e palestinianos têm ambos direito a estados internacionalmente reconhecidos.
A intensa jornada do Santo Padre concluiu-se com o tão aguardado encontro entre o Papa Francisco e o Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I em Jerusalém no Santo Sepulcro. No seu discurso o Papa Francisco afirmou que devemos aprender a viver a nossa vida a partir do Santo Sepulcro:
Cada ferida, sofrimento e dor, foram carregados nos ombros do Bom Pastor, que ofereceu-se a si próprio e com o seu sacrifício abriu-nos a passagem para a vida eterna.”
“E não sejamos surdos ao potente apelo à unidade que ressoa desde este lugar, nas palavras Daquele que, Ressuscitado, chama a todos nós ‘os meus irmãos’.

O Papa Francisco afirmou neste ponto do seu discurso ser necessário acreditar que “como foi removida a pedra do sepulcro, assim possam ser removidos todos os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre nós”.

E com a oração ecuménica do Papa Francisco com o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla em Jerusalém no decurso da Peregrinação à Terra Santa do Santo Padre, terminamos esta síntese das principais atividades do Santo Padre que foram notícia de 19 a 25 de maio. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua portuguesa. (RS)

O atual relacionamento entre judeus e católicos - dom de Deus e fruto do empenho de muitos: Papa no encontro com Grã-Rabinos

RealAudioMP3

(RV) Momento significativo, para as relações entre Judeus e Católicos, o encontro, no Centro do Grã-Rabinato de Israel, junto da Grande Sinagoga de Jerusalém, em que intervieram, antes do Papa, os dois Grandes Rabinos, das duas tradições judaicas – Azkenazi e Sefardita.
Na sua alocução, o Papa Francisco recordou a amizade, colaboração e partilha, mesmo no plano espiritual que, como arcebispo de Buenos Aires, teve com os judeus. “Este caminho de amizade – sublinhou o Papa – constitui um dos frutos do Concílio Vaticano II.

Na realidade, estou convencido de que o sucedido durante as últimas décadas nas relações entre judeus e católicos tenha sido um verdadeiro dom de Deus, uma das maravilhas por Ele realizadas, pela qual somos chamados a bendizer o seu Nome.
Em todo o caso este um dom de Deus “não poderia manifestar-se sem o empenho de muitíssimas pessoas corajosas e generosas, tanto judias como cristãs” – sublinhou o Papa, referindo a importância assumida pelo diálogo entre o Grã-Rabinato de Israel e a Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo. Não se trata apenas de estabelecer, num plano humano, relações de respeito mútuo:

Somos chamados, como somos chamados, como cristãos e como judeus, a interrogarmo-nos em profundidade sobre o significado espiritual do vínculo que nos une. É um vínculo que vem do Alto, ultrapassa a nossa vontade e permanece íntegro, não obstante todas as dificuldades de relacionamento vividas, infelizmente, na história.

“Do lado católico (assegurou o Papa), há seguramente a intenção de considerar plenamente o sentido das raízes judaicas da própria fé. Estou confiante, com a vossa ajuda, que também do lado judaico se mantenha e, se possível, aumente o interesse pelo conhecimento do cristianismo, mesmo nesta terra bendita onde o cristianismo reconhece as suas origens e, especialmente, entre as jovens gerações.”

Juntos, poderemos dar uma grande contribuição para a causa da paz; juntos, poderemos, num mundo em rápida mudança, testemunhar o significado perene do plano divino da criação; juntos, poderemos opor-nos, firmemente, a todas as formas de anti-semitismo e restantes formas de discriminação.

No Memorial do Holocausto, Papa Francisco evoca a tragédia do homem desfigurado que pretende ser deus. Senhor, misericórdia!

RealAudioMP3
 
(RV) Especialmente intenso e comovente foi a visita feita ao Memorial de Yad Vashem, em que se recordam todas as vítimas do Holocausto dos Judeus. Acompanhado pelo Presidente Shimon Peres e pelo Primeiro ministro Netanyau, o Santo Padre participou numa cerimónia invocativa da tragédia que constituiu o extermínio do milhões de judeus na II Grande Guerra, incluindo algumas leituras, cantos religiosos e orações.
Nas sentidas palavras que pronunciou, o Papa partiu da pergunta que o Senhor dirige a Adão, no livro do Génesis: “Onde estás?”.

Onde estás, ó homem, onde foste parar? Neste memorial do Holocausto, ouvimos ressoar esta pergunta, onde está toda a dor do Pai que perdeu o filho. Este grito – onde estás? – ressoa aqui perante a tragédia incomensurável do Holocausto, como uma voz que se perde num abismo!
Homem, quem és? Não te reconheço? Em quem te tornaste? De que horrores foste capaz? … Quem te contagiou a presunção de te apoderares do bem e do mal? Quem te convenceu que eras deus? …
Da terra levanta-se um gemido submisso: Tende piedade de nós, Senhor! … Escutai a nossa oração! Salvai-nos pela vossa misericórdia! Salvai-nos desta monstruosidade! … Nunca mais, nunca mais!
Adão, onde estás? Eis-nos aqui, Senhor, com a vergonha daquilo que o homem, criado à vossa imagem e semelhança, foi capaz de fazer. Lembrai-Vos de nós, na vossa misericórdia?

Papa reza no Muro das Lamentações, deixa bilhete com Pai-nosso e abraça rabino e professor muçulmano que o acompanham


(RV) O Papa rezou em silêncio pela paz diante do Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do Judaísmo, e depositou no local um bilhete escrito, com a oração do Pai-nosso.
Recebido pelo rabino chefe Samuel Rabinovitch, que preside à Fundação que gere este lugar santo judaico, ouviu uma explicação histórica, em inglês, sobre a história do Templo de Jerusalém. O rabino recitou depois um salmo dedicado à cidade santa de Jerusalém, recitado também na liturgia católica.
O Papa aproximou-se depois do Muro e rezou em silêncio durante alguns minutos, retirando o bilhete do envelope para recitar a oração.
O momento concluiu-se com um abraço entre Francisco, o rabino Abraham Skorka, de Buenos Aires, e o professor muçulmano, Omar Ahmed Abboud, secretário-geral do Instituto de Diálogo Inter-religioso da República da Argentina, que integram a comitiva pontifícia.
O pontífice argentino assinou o livro de honra, deixando uma mensagem na qual manifestou sentimentos de "alegria e gratidão" por ter podido rezar pela "graça da paz".
Deixando o Muro das Lamentações, o Papa seguiu para o Monte Herzl, cemitério nacional de Israel, para depor uma coroa de flores no túmulo de Théodore Herzl, fundador e o símbolo do sionismo moderno, segundo as exigências do protocolo israelita, um gesto no qual foi ajudado por duas crianças católicas, nascidas em Israel, que falam hebraico. Presentes o presidente e o primeiro-ministro, Shimon Peres e Benjamin Netanyahu.
Francisco encontra-se agora no mausoléu do Yad Vashem de Jerusalém, em memória das vítimas do Holocausto, visitando em seguida os dois grãos-rabinos de Israel, no centro Heichal Shlomo.



25 maio, 2014

Papa Francisco chegou em Israel


(RV) O encontro do Papa Francisco com as crianças no Auditorium "Phoenix Center" de Belém, encerrou a visita do Papa na Palestina que se dirigiu depois para o heliporto da cidade de Belém, onde se despediu das autoridades palestinas com destino a Tel Aviv, tendo chegado no aeroporto Ben Gourion de Tel Aviv (a capital israeliana) às 16,30 horas locais e onde foi recebido pelo Presidente Israeliano Shimon Peres e pelo Primeiro Ministro Benjamim Nethaniau, acompanhados pelas autoridades civis e religiosas do País.
No seu discurso o Papa Francisco, após ter agradecido as autoridades israelianas, na pessoa sobretudo do Presidente Shimon Peres e do Primeiro Ministro Nethaniau, sublinhou o carácter de peregrinação da sua visita apostólica nestas terras onde aconteceram factos fundamentais que deram origem às três religiões monoteístas: o Hebraísmo, o Cristianismo e o Islão. Vinte anos das relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Estado de Israel contribuíram para as boas e cordiais relações actualmente existentes.
Jerusalém, recordou o Santo Padre, é uma cidade com valor universal, cujo nome significa “Cidade da Paz”. Esta cidade é perturbada pelas consequências de um longo conflito que já causou tanto sofrimento. O Papa fez por conseguinte um apelo para que sejam multiplicados os esforços com vista a alcançar uma composição justa e duradoura dos conflitos, para atingir soluções équas às complexas dificuldades locais, por forma a que os israelianos e os palestinos possam viver juntos.
O Santo Padre renovou o apelo do seu predecessor Bento XVI: seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem o direito de existir e de gozar de paz e segurança entre os confins internacionalmente reconhecidos. Seja igualmente reconhecido que o povo Palestino tem o direito à uma pátria soberana, a viver com dignidade e a viajar livremente. A solução dos dois Estados se torne realidade e não permaneça um mero sonho.
O Santo Padre aproveitou da ocasião para exprimir a sua consternação para com o atentado anti-semita que ocorreu neste sábado, no Museu Judaico da Bélgica, no coração de Bruxelas, e no qual três pessoas morreram, e uma ficou gravemente ferida. O Papa Francisco exprimiu a sua proximidade ao povo hebraico e apresentou as suas condolências às famílias das vítimas.
Finalmente, o Papa Francisco dirigiu ao Presidente Shimon Peres, o mesmo convite que dirigiu esta manhã ao Presidente Palestino Mahmud Abbas, pedindo, para “elevarem juntamente comigo, uma intensa oração, implorando de Deus o dom da paz. Ofereço a minha casa, no Vaticano, para hospedar este encontro de oração”.

Paz na Síria. Que Deus converta os violentos – Papa Francisco ontem, junto ao Jordão

RealAudioMP3
 
(RV) Na tarde deste sábado, dia 24, após a celebração da Missa no Estádio Internacional de Amã na Jordânia, o Papa Francisco transferiu-se para “Betânia além do Jordão” ao local onde Jesus foi batizado. O Papa Francisco visitou o lugar do Batismo de Jesus nas margens do Rio Jordão (foto). Após um breve momento de oração silenciosa, abençoou a água e assinou o livro de Honra. No interior da igreja latina, o Santo Padre encontrou-se com refugiados e com os jovens portadores de deficiência.
Durante uma breve celebração, com cânticos, leituras bíblicas e testemunhos, o Papa dirigiu uma mensagem a todos os presentes e, desde logo, o seu olhar foi para Jesus Cristo:

“Toca-nos sempre esta humildade de Jesus, o seu inclinar-se sobre as feridas humanas para curá-las. Este inclinar-se de Jesus sobre todas as feridas humanas para curá-las! E nós somos profundamente tocados pelos dramas e pelas feridas do nosso tempo, em modo especial daquelas provocadas pelos conflitos ainda abertos no Médio Oriente.”
O Papa Francisco recordou a amada Síria dilacerada nos últimos três anos pela guerra. E lançou um apelo para todos aqueles que fomentam a guerra: “que se convertam”.

“ Pensemos e também do nosso coração digamos uma palavra por esta gente criminal, para que se converta.”

E depois a atenção do Papa no seu discurso virou-se para a comunidade internacional para que não deixe a Jordânia só na ajuda humanitária e lançou mais uma vez um forte apelo para a paz na Síria:

“Cessem as violências e seja respeitado o direito humanitário, garantindo a necessária assistência à população sofredora! Seja abandonada, por todos, a pretensão de deixar às armas a solução dos problemas e volte-se à via das negociações.”
“Deus converta os violentos! Deus converta aqueles que têm projetos de guerra! Deus converta aqueles que fabricam e vendem armas e reforce os corações e as mentes dos operadores de paz e os recompense com a sua benção.”

E na oração pela paz o Papa Francisco, dirigindo-se aos jovens que participaram ativamente naquela celebração, exortou-os a continuarem o seu empenho pela paz no Médio Oriente através de um testemunho de fé e de esperança, encorajando-os a colaborarem com o seu empenho e sensibilidade na construção de uma sociedade respeitosa dos mais débeis, das crianças e dos idosos.

“Mesmo nas dificuldades da vida, sede sinal de esperança. Vós estais no coração de Deus, vós estais nas minhas orações e agradeço-vos pela vossa calorosa, alegre e numerosa presença. Obrigado.” (RS)

Apelo à "coragem da paz", no discurso às autoridades da Palestina, em Belém

 
(RV) Papa Francisco partiu esta manhã de Amã, de helicóptero, diretamente para Belém, onde celebrará a Missa dominical com os fiéis da Palestina, na praça da Manjedoura, às 11 horas locais. O Santo Padre foi acolhido à sua chegada pelo presidente Mahmoud Abbas. Após a cerimónia de boas vindas, o Santo Padre terá um encontro privado com o presidente, no Palácio presidencial, seguido de outro com as Autoridades da Palestina.

No seu discurso o Papa fez um apelo à "coragem da paz", colocando um ponto final no conflito “inaceitável” que afeta a situação de todo o Médio Oriente, defendendo a solução de dois Estados.
“Para todos, chegou o momento de terem a coragem da generosidade e da criatividade ao serviço do bem, a coragem da paz, que assenta sobre o reconhecimento, por parte de todos, do direito que têm dois Estados de existir e gozar de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”, declarou, perante o presidente da Autoridade Palestina, autoridades locais e membros do corpo diplomático.
Segundo o Papa, a “paz na segurança e a confiança mútua” nesta região seriam um “quadro estável de referência” para enfrentar outros problemas e um “modelo” para outras áreas de crise. Este conflito, precisou, “produziu tantas feridas difíceis de curar e, mesmo quando, felizmente, não se alastra a violência, a incerteza da situação e a falta de entendimento entre as partes produzem insegurança, negação de direitos, isolamento e saída de comunidades inteiras, divisões, carências e sofrimentos de todo o tipo”.
“Manifestando a minha solidariedade a quantos sofrem em maior medida as consequências deste conflito, queria do fundo do coração dizer que é hora de pôr fim a esta situação, que se torna cada vez mais inaceitável, para bem de todos”..
O Papa pediu um maior empenho nos esforços e iniciativas “destinadas a criar as condições para uma paz estável, baseada na justiça, no reconhecimento dos direitos de cada um e na segurança mútua”. A paz, sustentou, traz “inúmeros benefícios” e pode implicar a renúncia “a alguma coisa por parte de cada um” para que se chegue à mesma. “Faço votos de que os povos palestino e israelita e as suas respetivas autoridades empreendam este êxodo feliz para a paz com aquela coragem e aquela firmeza que são necessárias em qualquer êxodo”.
A parte final do discurso deixou uma palavra de apreço pela comunidade cristã local, apelando para que os mesmos sejam reconhecidos como “cidadãos de pleno direito”. Francisco elogiou as “boas relações existentes entre a Santa Sé e o Estado da Palestina”, com especial atenção à liberdade religiosa, que o Papa apresentou como uma das “condições irrenunciáveis da paz, da fraternidade e da harmonia”.
“Senhor presidente, queridos amigos reunidos aqui em Belém, Deus todo-poderoso vos abençoe, proteja e conceda a sabedoria e a força necessárias para levar por diante o corajoso caminho da paz, de tal modo que as espadas se transformem em arados e esta terra possa voltar a florescer na prosperidade e na concórdia. ‘Salam’”, concluiu.
Com o Papa e o presidente palestino estiveram representantes dos cristãos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que entregaram mensagens a Francisco.

No final da Missa, o Papa almoçará com algumas famílias de refugiados e de pessoas indigentes, da Palestina, num convento dos Franciscanos.

De tarde, a partida, sempre de helicóptero, para o aeroporto de Tel Aviv, dando-se início à terceria etapa desta peregrinação à Terra Santa, já no Estado de Israel.

24 maio, 2014

Que o Espírito Santo cure as feridas dos erros, das incompreensões e das controvérsias - Papa Francisco na Missa em Amã, primeira etapa da peregrinação à Terra Santa


(RV) Decorreu no Estádio Internacional de Amã, com a participação calorosa e devota de dezenas de milhares de fiéis, a Missa presidida pelo Papa Francisco. Uma Missa com cânticos em árabe e em que fizeram a sua primeira Comunhão nada menos de mil e quatrocentas crianças (foto).

Numa homilia centrada no Espírito Santo de que fala o Evangelho deste domingo, o Papa referiu três ações realizadas pelo Espírito: prepara, unge e envia. A concluir convidou a pedir ao Espírito Santo "que prepare os nossos corações para o encontro com os irmãos independentemente das diferenças de ideias, língua, cultura, religião; que unja todo o nosso ser com o óleo da sua misericórdia que cura as feridas dos erros, das incompreensões, das controvérsias; que nos envie, com humildade e mansidão, pelas sendas desafiadoras mas fecundas da busca da paz."

Este o texto integral desta homilia:

Ouvimos, no Evangelho, a promessa de Jesus aos discípulos: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14, 16). O primeiro Paráclito é o próprio Jesus; o «outro» é o Espírito Santo.
Aqui não estamos muito longe do lugar onde o Espírito Santo desceu poderosamente sobre Jesus de Nazaré, depois de João O ter baptizado no rio Jordão (cf. Mt 3, 16). Por isso, o Evangelho deste domingo e também este lugar, onde, graças a Deus, me encontro como peregrino, convidam-nos a meditar sobre o Espírito Santo, sobre aquilo que Ele realiza em Cristo e em nós e que podemos resumir da seguinte maneira: o Espírito realiza três acções, ou seja, prepara, unge e envia.

No momento do baptismo, o Espírito pousa sobre Jesus a fim de O preparar para a sua missão de salvação; missão caracterizada pelo estilo do Servo humilde e manso, pronto à partilha e ao dom total de Si mesmo. Mas o Espírito Santo, presente desde o início da história da salvação, já tinha agido em Jesus no momento da sua concepção no ventre virginal de Maria de Nazaré, realizando o evento maravilhoso da encarnação: «O Espírito Santo virá sobre ti – diz o Anjo a Maria – e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra, e tu darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus» (cf. Lc 1, 35.31). Depois, o Espírito Santo tinha actuado sobre Simeão e Ana, no dia da apresentação de Jesus no Templo (cf. Lc 2, 22). Ambos à espera do Messias, ambos inspirados pelo Espírito Santo, Simeão e Ana, à vista do Menino, intuem que Ele é mesmo o Esperado por todo o povo. Na atitude profética dos dois anciãos, exprime-se a alegria do encontro com o Redentor e, de certo modo, actua-se uma preparação do encontro entre o Messias e o povo.
As diferentes intervenções do Espírito Santo fazem parte de uma acção harmónica, de um único projecto divino de amor. Com efeito, a missão do Espírito Santo é gerar harmonia – Ele mesmo é harmonia – e realizar a paz nos vários contextos e entre diferentes sujeitos. A diferença de pessoas e a divergência de pensamento não devem provocar rejeição nem criar obstáculo, porque a variedade é sempre enriquecedora. Por isso hoje, com coração ardente, invoquemos o Espírito Santo, pedindo-Lhe que prepare o caminho da paz e da unidade.

Em segundo lugar, o Espírito Santo unge. Ungiu interiormente Jesus, e unge os discípulos para que tenham os mesmos sentimentos de Jesus e possam, assim, assumir na sua vida atitudes que favoreçam a paz e a comunhão. Com a unção do Espírito, a nossa humanidade é marcada pela santidade de Jesus Cristo e tornamo-nos capazes de amar os irmãos com o mesmo amor com que Deus nos ama. Portanto, é necessário praticar gestos de humildade, fraternidade, perdão e reconciliação. Estes gestos são pressuposto e condição para uma paz verdadeira, sólida e duradoura. Peçamos ao Pai que nos unja para nos tornarmos plenamente seus filhos, configurados cada vez mais a Cristo, a fim de nos sentirmos todos irmãos e, assim, afastar de nós rancores e divisões e amar-nos fraternalmente. Isto mesmo nos pediu Jesus no Evangelho: «Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14, 15-16).

E, por último, o Espírito Santo envia. Jesus é o Enviado, cheio do Espírito do Pai. Ungidos pelo mesmo Espírito, também nós somos enviados como mensageiros e testemunhas de paz.
A paz não se pode comprar: é um dom que se deve buscar pacientemente e construir «artesanalmente» através dos pequenos e grandes gestos que formam a nossa vida diária. Consolida-se o caminho da paz, se reconhecermos que todos temos o mesmo sangue e fazemos parte do género humano; se não nos esquecermos que temos um único Pai celeste e que todos nós somos seus filhos, feitos à sua imagem e semelhança.
Neste espírito, vos abraço a todos: o Patriarca, os irmãos Bispos, os sacerdotes, as pessoas consagradas, os fiéis leigos, a multidão de crianças que hoje fazem a Primeira Comunhão e os seus familiares. Com todo o meu coração saúdo também os numerosos refugiados cristãos que vieram da Palestina, da Síria e do Iraque: levai às vossas famílias e comunidades a minha saudação e a minha solidariedade.

Queridos amigos! O Espírito Santo desceu sobre Jesus no Jordão e deu início à sua obra de redenção para libertar o mundo do pecado e da morte. A Ele pedimos que prepare os nossos corações para o encontro com os irmãos independentemente das diferenças de ideias, língua, cultura, religião; que unja todo o nosso ser com o óleo da sua misericórdia que cura as feridas dos erros, das incompreensões, das controvérsias; que nos envie, com humildade e mansidão, pelas sendas desafiadoras mas fecundas da busca da paz. Amen!

Papa Francisco na Jordânia, primeira etapa da sua peregrinação à Terra Santa, discursou no encontro com as Autoridades



(RV) Papa Francisco encontra-se já na Jordânia, para a primeira etapa da sua peregrinação de três dias à Terra Santa, que o levará amanhã a Belém, nos Territórios Palestinenses, e finalmente a Jerusalém, no Estado de Israel. Esat como outros acontecimentos da viagem papal podem ser seguidos em video no nosso site, na transmissão do Centro Televisivo Vaticano

O avião que conduzia o Papa e a sua comitiva aterrou pontualmente às 13 horas locais no aeroporto internacional de Amã, após um voo de quase quatro horas. A acolher o pontífice, no aeroporto, um representante do Rei Abdallah II, o Príncipe Ghazi bin Muahammed, para além do Patriarca Latino de Jerusalém (também Delegado Apostólico para a Jordânia) e o Custódio da Terra Santa, o Padre Pierbattista Pizzaballa.

Segundo o protocolo jordano, a cerimónia de boas-vindas propriamente dita teve lugar no palácio real, onde o Papa será saudado pelo Rei Abdallah II e pela Rainha Rania (que receberam também outros dois Papas – João Paulo II, no ano 2000, e Bento XVI, em 2009). O monarca jordano encontrou-se já duas vezes com o Papa Francisco, no Vaticano, em agosto de 2013 e em abril passado).

Seguiu-se o encontro com as Autoridades Jordanas, umas 300 pessoas ao todo, incluindo o Corpo Diplomático e os mais importantes representantes religiosos da Jordânia.

No discurso então proferido, o Santo Padre exprimiu todo o seu apreço às autoridades do país e a toda a sociedade jordana pelo acolhimento dispensado a um elevadíssimo número de refugiados palestinenses, iraquianos e de outros países da área, sobretudo da Síria. Constatando a persistência de fortes tensões no Médio Oriente, o Papa congratulou-se pelo empenho da Jordânia a favor de uma paz duradoura para toda a região – nomeadamente com uma urgente solução pacífica para a crise síria e uma solução justa para o conflito israelita-palestinense.

Especial relevo mereceu, nas palavras do Papa a saudação à comunidade muçulmana, com explícita referência à liderança desempenhada pela Casa real na “promoção duma compreensão mais adequada das virtudes proclamados pelo Islão e da serena convivência entre os fiéis das diferentes religiões”.

Finalmente, uma “saudação cheia de afeto” às comunidades cristãs, presentes no país (recordou o Papa) desde a era apostólica, oferecendo desde sempre a sua contribuição para o bem comum da sociedade. Embora estas comunidades sejam hoje em dia numericamente minoritárias, contudo desempenham uma apreciada ação no campo da educação e da saúde, e podem tranquilamente professar a sua fé, no respeito pela liberdade religiosa. Trata-se – sublinhou o Papa – de um direito fundamental que espero vivamente “seja tido em grande consideração em todo o Médio Oriente e no mundo inteiro”.

Eis o texto integral do discurso do Santo Padre:

Majestade,
Excelências,
Amados Irmãos Bispos,
Queridos Amigos!

Agradeço a Deus por poder visitar o Reino Hachemita da Jordânia, seguindo os passos dos meus antecessores Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, e agradeço a Sua Majestade o Rei Abdullah II pelas suas cordiais palavras de boas-vindas, com viva recordação do recente encontro no Vaticano. Estendo a minha saudação aos membros da Família Real, ao Governo e ao povo da Jordânia, uma terra rica de história e de grande significado religioso para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Este País oferece generoso acolhimento a um grande número de refugiados palestinenses, iraquianos e vindos de outras áreas de crise, nomeadamente da vizinha Síria, abalada por um conflito que já dura há muito tempo. Tal acolhimento merece a estima e o apoio da comunidade internacional. A Igreja Católica quer, na medida das suas possibilidades, empenhar-se na assistência aos refugiados e a quem vive em necessidade, sobretudo através da Cáritas Jordana.
Ao mesmo tempo que constato, com pena, a persistência de fortes tensões na área médio-oriental, agradeço às autoridades do Reino aquilo que fazem e encorajo a continuarem a empenhar-se na busca da desejada paz duradoura para toda a região; para tal objectivo, torna-se imensamente necessária e urgente uma solução pacífica para a crise síria, bem como uma solução justa para o conflito israelita-palestinense.

Aproveito esta oportunidade para renovar o meu profundo respeito e a minha estima à comunidade muçulmana e manifestar o meu apreço pela função de guia desempenhada por Sua Majestade o Rei na promoção duma compreensão mais adequada das virtudes proclamadas pelo Islã e da serena convivência entre os fiéis das diferentes religiões. Exprimo a minha gratidão à Jordânia por ter incentivado uma série de importantes iniciativas em prol do diálogo inter-religioso visando promover a compreensão entre judeus, cristãos e muçulmanos, nomeadamente a «Mensagem Inter-religiosa de Aman», e por ter promovido no âmbito da ONU a celebração anual da «Semana de Harmonia entre as Religiões».

Uma saudação cheia de afecto quero agora dirigir às comunidades cristãs, que, presentes no país desde a era apostólica, oferecem a sua contribuição para o bem comum da sociedade na qual estão plenamente inseridas. Embora hoje sejam numericamente minoritárias, conseguem desempenhar uma qualificada e apreciada acção no campo da educação e da saúde, através de escolas e hospitais, e podem professar com tranquilidade a sua fé, no respeito da liberdade religiosa, que é um direito humano fundamental, esperando vivamente que o mesmo seja tido em grande consideração em todo o Médio Oriente e no mundo inteiro. Tal direito «implica tanto a liberdade individual e colectiva de seguir a própria consciência em matéria de religião, como a liberdade de culto (...), a liberdade de escolher a religião que se crê ser verdadeira e de manifestar publicamente a própria crença» (BENTO XVI, Exort. ap. Ecclesia in Medio Oriente, 26). Os cristãos sentem-se e são cidadãos de pleno direito e pretendem contribuir para a construção da sociedade, juntamente com os seus compatriotas muçulmanos, oferecendo a sua específica contribuição.

Por fim, formulo sentidos votos de paz e prosperidade para o Reino da Jordânia e seu povo, com a esperança de que esta visita contribua para incrementar e promover boas e cordiais relações entre cristãos e muçulmanos.
Agradeço-vos pela vossa hospitalidade e cortesia. Deus Omnipotente e Misericordioso conceda a Suas Majestades felicidade e longa vida e cubra a Jordânia com as suas bênçãos. Salam!

Momento culminante deste primeiro dia de viagem será a Missa que o Papa celebra num estádio de Amã. Ao fim da tarde, um encontro com refugiados e com pessoas deficientes
.