31 março, 2014

IV Catequese Quaresmal 2014 - D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa



CATEQUESE QUARESMAL

Sé Patriarcal de Lisboa, 30 março 2014


“CADA CRISTÃO E CADA COMUNIDADE SÃO CHAMADOS A SER INSTRUMENTOS DE DEUS AO SERVIÇO DA LIBERTAÇÃO E PROMOÇÃO DOS POBRES, PARA QUE SE POSSAM INTEGRAR PLENAMENTE NA SOCIEDADE” (EG 187)

1. A dimensão social da evangelização
Na Exortação Apostólica ”A alegria do Evangelho” o Papa Francisco sublinha fortemente a dimensão social da evangelização. É uma das suas preocupações, porque, diz ele, “se esta dimensão não for devidamente explicitada, corre-se sempre o risco de desfigurar o sentido integral da missão evangelizadora” (EG 176).
Segundo o Papa, duas questões parecem fundamentais neste momento da história e que, segundo ele, “virão a determinar o futuro da humanidade: “A primeira é a inclusão dos pobres; e a segunda a questão da paz e do diálogo social” (EG 185).
Por isso, “cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que estes se possam integrar plenamente na sociedade” (EG 187).

2. O clamor dos pobres
É preciso escutar o clamor dos pobres, “estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo”, diz-nos o Santo Padre.
É necessário tornarmo-nos aliados de Deus nesta escuta. As Escrituras testemunham que Deus «vê», «ouve», «conhece» o sofrimento dos pobres, mostra-se solícito para com as suas necessidades e faz-se presente junto deles através dos seus enviados, dos seus amigos, como Moisés e os Profetas. (cf. Ex 3,7-8.10).
Os pobres ocupam um lugar de preferência no coração de Deus, que em Jesus se fez pobre, para partilhar com eles a sua vida. “Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres” (Cf. EG 197).
“Quando Jesus começou a anunciar o Reino, seguiam-no multidões de deserdados, pondo assim em evidência o que ele mesmo dissera: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres» (Lc 4,18). E quantos sentiam o peso do sofrimento, acabrunhados pela pobreza, assegurava-lhes que Deus os tinha no amago do seu coração: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6,20); e com eles se identificou: «Tive fome e deste-me de comer» ensinando que a misericórdia para com eles é a chave do Céu” (EG 197).
Hoje Deus quer fazer-se presente junto dos pobres através de cada um de nós e das nossas comunidades.
Numa das recentes homilias em Santa Marta (27 de março), o Papa Francisco sublinhou que a vida de fé está estreitamente unida com a vida de caridade para com os pobres. Sem essa vida de caridade em união com a vida de fé, o que se professa é pura hipocrisia. “Existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres” (EG 48).
E o Papa acrescentava que o cristianismo não é uma regra sem alma, não é um manual de observações formais para pessoas que mostram a face aparentemente bela da hipocrisia para esconder um coração vazio de caridade.
A fé cristã consiste em participar ativamente na atividade salvífica de Jesus Cristo, faz sair do individualismo e cria uma comunhão com Deus e, consequentemente, entre nós.
O encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade em relação ao outro e aos outros.
A fé cristã leva-nos a contemplar Cristo sofredor no rosto dos pobres e a servi-lo e amá-lo neles e através deles.
“Os cristãos são chamados, em todo o lugar e circunstância, a ouvir o clamor dos pobres” (EG 191).
Os pobres interpelam a ação pastoral da Igreja e o nosso compromisso cristão. Tudo o que tem a ver com Cristo tem a ver com os pobres e tudo o que se refere aos pobres nos remete para Cristo: “Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25,40).
A fé em Cristo leva-nos a escutar o grito dos pobres. “O grito do pobre atravessa as nuvens” (Ecl 35,21), não podemos silenciá-lo ou ignorá-lo. Ele deve chegar também os nossos ouvidos e ao nosso coração, do mesmo modo que chega ao coração de Deus.
Hoje Deus quer que, como Ele e com Ele, escutemos o clamor dos pobres, sejamos os Seus ouvidos, o Seu coração, as Suas mãos, o Seu instrumento para os libertar, os promover, defendendo a sua dignidade e os seus direitos.
“Ficar surdos ao seu clamor, quando somos instrumentos de Deus para ouvir o pobre, coloca-nos fora da vontade do Pai e do seu projeto, porque esse pobre «clamaria ao Senhor contra ti, e aquilo tornar-se-ia para ti um pecado» (EG 187).

3. Escutar e agir
O Santo Padre convida-nos não só a escutar o clamor dos pobres, mas a agir, a ser instrumentos da sua libertação, promoção e integração na sociedade.
Escutar não só com os ouvidos, mas sobretudo com o coração. «Ter um coração que vê», como o coração de Deus. Ter um coração que se compadece, que se debruça sobre a sua situação, que escuta o seu clamor, por vezes, silencioso, oprimido pela vergonha de uma pobreza humilhante, esmagadora, degradante da dignidade humana.
Escutar, ver com o coração, ir ao encontro, fazer-se próximo, partilhar, como Jesus fez e ensinou, é o que o Senhor e os pobres esperam de nós. Ser presença, sinal, portadores do amor de Deus junto dos pobres.
Se o não somos, é mau sinal, é porque não temos em nós o amor de Deus, como diz o apóstolo S. João: “Se alguém possuiu bens deste mundo e, vendo o seu irmão em necessidade, lhe fechar o coração como é que o amor de Deus pode permanecer nele?” (1 Jo 3.17).
Quando sabemos que no nosso país há cerca de dois milhões de pobres, que duzentas mil pessoas têm apenas uma refeição completa e trinta e cinco mil não têm nenhuma; quando sabemos que há idosos que vivem com o que lhes resta das reduzidas pensões de reforma, depois de comprar os medicamentos de que necessitam; quando há crianças que comem apenas o que lhes é dado nas creches, escolas e ATL; quando há famílias com magros ou nenhuns recursos, que lutam pela sobrevivência, poderemos ficar indiferentes ou lamentando que infelizmente assim seja? Antes, temos de perguntar o que posso fazer? O que podemos fazer como comunidade cristã?
É certo que com a pobreza cresce também a solidariedade. É verdade que muitos cristãos e comunidades cristãs se movem para responder às necessidades crescentes dos pobres, mas não podem ser apenas alguns, temos de ser todos.
Esta solicitude deve começar pela vizinhança, pela proximidade, pela escuta e atenção a situações de antigas e novas pobrezas.
O flagelo da pobreza tem diversas expressões: económica, física, espiritual, moral, cultural… Crescem o número de pobres reais que vivem numa situação de injustiça e de insignificância social.
A surdez, a indiferença, o coração fechado a esta realidade, leva-nos a perguntar como o apóstolo S. João: Onde está o amor de Deus? Como é que o amor de Deus pode permanecer num coração insensível, indiferente a esta realidade da pobreza?

4. “Escutar o clamor pela justiça”
“Escutar o clamor pela justiça” e responder com todas as forças, diz-nos o Santo Padre.
Escutar o clamor pelo direito à educação, ao acesso aos cuidados de saúde, ao trabalho, ao salário justo, à habitação.
Escutar o clamor pela proteção do direito à vida desde o nascimento até à morte.
Escutar o clamor das pessoas presas que lutam pela sua dignidade.
Escutar o clamor dos sós, dos idosos, dos deficientes, que clamam justiça e solidariedade.
Escutar e agir. Cooperar com todas as pessoas de boa vontade, com instituições, criar sinergias, para socorrer os pobres e remover as causas estruturais da pobreza.
Não basta ficar na análise das situações e discorrer sobre elas. Tal como disse aos discípulos de então, perante a necessidade concreta das pessoas que o rodeavam, hoje Jesus diz-nos a nós – a cada um e às nossas comunidades: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37).
Jesus pede-nos gestos de solidariedade concretos, simples, diários, não apenas ocasionais, que sejam resposta às necessidades dos pobres que vivem à nossa volta ou que encontramos no nosso caminho.
Mas Jesus pede-nos também que nos empenhemos para remover as causas que geram a pobreza. É preciso ir contra a corrente de uma economia que cria pobreza e acentua cada vez mais o fosso entre ricos e pobres. Ir contra a corrente não significa ir contra ninguém, mas defender a todos, porque a injustiça cria instabilidade, fragmentação social e ameaça a paz. “Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas enquanto não se diminuir a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência” (EG 59), lembra-nos o Papa Francisco.
A solidariedade “significa muito mais do que alguns atos esporádicos de generosidade; supõe a criação de uma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns” (EG 188).
O Papa Francisco recorda que “a posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los de modo a servirem melhor o bem comum, pelo que a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde” (EG 189).
“É preciso repetir – diz o Santo Padre – que “os mais favorecidos devem renunciar a alguns dos seus direitos para poderem colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros. Para falarmos adequadamente dos nossos direitos, é preciso alongar mais o olhar e abrir os ouvidos ao clamor dos outros povos ou de outras regiões do próprio país. Precisamos de crescer numa solidariedade que «permita a todos tornarem-se artífices do seu destino», tal como «cada um é chamado a desenvolver-se» (EG 190).
“Escandaliza-nos o facto de saber que existe alimento suficiente para todos e que a fome se deve à má repartição dos bens e do lucro e à prática generalizada do desperdício” (EG 191). “Não se pode tolerar o facto de se lançar comida ao lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social!” (EG 53). Isto é pecado!
“Vivemos numa sociedade que desperdiça muito das suas riquezas e dos seus valores, já que a abundância de bens, embora mal distribuído lhe faz esquecer a importância de cada um e a forma como deve ser otimizado para o bem de cada um”.
O Papa Francisco tem advertido seriamente para o fenómeno da “globalização da indiferença” que se insinua na nossa cultura e pode insinuar-se também na nossa vida e na vida das nossas comunidades cristãs. Diz o Santo Padre: “Quase sem nos apercebermos, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não comprámos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (EG 54).

5. Promover a integração social dos pobres
A libertação e a promoção dos pobres, em ordem à sua integração, não se pode fazer sem eles. Temos de fazer com que eles sejam artificies do seu próprio destino, que tenham voz na sociedade surda ao seu clamor de libertação e de justiça.
A aspiração mais profunda dos pobres é de serem sujeitos construtores da sua própria história e tornarem-se também eles sujeitos de evangelização e de promoção humana integral.
A exigência de solidariedade com os pobres e com a justiça social só é verdadeiramente compreendida na relação com Deus e com o seu amor por cada pessoa.
A experiência jubilosa do encontro com Jesus amplia o nosso olhar e abre o nosso coração e leva-nos à solidariedade e amizade para com os pobres, a dar-lhe o nosso tempo, a prestar-lhe uma afetuosa atenção, a escutá-los com interesse, a acompanhá-los nos momentos difíceis, a condividir com eles a nossa vida e, partindo deles e com eles, transformar a sua própria situação.
“Só a proximidade nos torna amigos” e faz emergir as pobrezas escondidas e, por vezes, dolorosas, cobertas com um véu de pudor e de silêncio. Estas só veem à superfície depois de um longo período de amizade.
A parábola evangélica do samaritano (cf. Lc 10,29-37) continua a ser inspiradora da prática da caridade dos discípulos de Jesus.
Ela deve inspirar a nossa ação em relação aos pobres. Nela encontramos a primazia do outro e a necessidade de abandonar a nossa própria estrada para ir ao seu encontro. Esta é uma das linhas de força da mensagem de Jesus, que o Papa Francisco nos lembra com o pedido de sermos uma «Igreja em saída», ir ao encontro de todos, mas sobretudo daqueles que vivem em situação de marginalidade social, como fez Jesus. O Papa convida-nos a pormos “a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres “ (EG 97), uma Igreja samaritana.
A parábola do samaritano vem na sequência do diálogo sobre o amor a Deus e o amor ao próximo, que leva o doutor da lei a perguntar: “E quem é o meu próximo?” (Lc 10,29).
A resposta que recebe não é uma definição conceptual, mas uma explicitação concreta, com a história de uma pessoa com necessidade de ajuda, frente a três personagens, dos quais somente um se aproxima dela, o samaritano.
Esta parábola ajuda-nos a tomar consciência de que o próximo não é aquele que é vizinho, mas aquele de quem nos aproximamos. Os pobres serão nossos próximos se nos aproximarmos deles, se nos debruçarmos sobre as suas feridas, sobre as suas necessidades, sobre a condição em que se encontram.
O Evangelho de Jesus consiste precisamente no chamamento a abandonar o universo focalizado sobre o nosso eu egocêntrico e entrar no mundo do outro. Por isso, o Papa Francisco pede a cada um de nós e às nossas comunidades para nos colocarmos em movimento de saída, antes de mais de nós mesmos, para irmos ao encontro dos pobres, dos feridos, dos sós, abandonados, “meios mortos”, sem esperança.
Na parábola é o homem maltratado e esquecido que indica o sentido da proximidade, que não é uma simples proximidade física ou cultural, mas uma proximidade feita de compaixão, de atitudes e de gestos.
O personagem central da parábola é simplesmente “um homem” (Lc 10,30), um ferido, abandonado, sem nome nem qualificação. É um personagem anónimo e insignificante como tantos da nossa sociedade.
O anonimato e a nudez social de tantos pobres são uma manifestação da sua insignificância, da sua exclusão, que os coloca à «beira da estrada», à margem da sociedade. A estrada pode perfeitamente ser a imagem da vida de cada dia, de qualquer época, de hoje.
É ao longo da estrada que nos cruzamos continuamente com os outros, com pessoas conhecidas e desconhecidas, e quando se trata de pobres e marginalizados por várias razões, não podemos passar adiante, ser indiferentes, ignorar. É preciso parar, olhar, ver, compadecer-se, como fez Jesus.
“O Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e as suas reivindicações” (EG 89).
O «próximo» não é simplesmente a pessoa que encontramos no nosso caminho, mas é aquela a quem vamos ao encontro, aquela que nos faz parar, abandonar o nosso caminho, para entrar no seu e cuidar com ele, como fez o samaritano. Trata-se de tornar próximo aquele que é afastado, aquele que não se encontra no nosso espaço geográfico, social e cultural.
Rigorosamente pode-se dizer que não temos «próximos», mas que fazemos «próximos» mediante atitudes, iniciativas e gestos, que nos tornam vizinhos, amigos, verdadeiramente próximos daqueles que estão afastados do nosso mundo e começam a ser parte dele.
Aproximar-se do outro e dos outros comporta um duplo efeito: tornamo-nos próximos e o outro torna-se nosso próximo. É um caminho de ida e de retorno. A proximidade implica reciprocidade e acontece quando reconhecemos a dignidade do outro, o seu ser nosso igual, nosso irmão.
É então que os integramos como parte de nós, como membros de direito da sociedade, como artificies do seu próprio destino.
E só então é que acontece a solidariedade, porque a verdadeira solidariedade tem uma proximidade afetiva, amiga, que promove, dignifica, não humilha. A solidariedade exige relação, acolhimento, hospitalidade e, em primeiro lugar, no coração.
O Deus da Bíblia que em Jesus Cristo entrou na nossa história, o Emanuel, hospedou-nos em primeiro lugar no seu coração, para depois nos tornar também hóspedes do seu Reino. Assim também nós temos de hospedar os pobres em primeiro lugar no nosso coração, para depois eles se tornarem cidadãos de pleno direito da sociedade.
A história do samaritano apresenta um caminho que cada cristão, e a Igreja no seu conjunto, são chamados a assumir: o caminho de uma solidariedade que liberta, promove, integra, restituiu a dignidade e uma cidadania plena, uma cidadania humana e cristã.
Dar testemunho do Evangelho significa condividir a alegria da presença do amor de Deus nas nossas vidas; significa empenharmo-nos na promoção da justiça, da dignidade humana, da libertação de toda a pobreza, em comunhão com o Deus da vida.
A autenticidade da nossa vida cristã e da nossa ação evangelizadora está na atenção aos pobres. “Quando S. Paulo foi ter com os apóstolos a Jerusalém para discernir «se estava a correr ou tinha corrido em vão» (Gl 2,2) o critério chave de autenticidade que lhe indicaram foi que não se esquecesse dos pobres (Cf. Gl2,10).
Este critério importante para que as comunidades não se deixassem arrastar por um estilo de vida individualista dos pagãos tem grande atualidade no contexto atual em que tende a desenvolver-se um novo paganismo individualista. A própria beleza do Evangelho nem sempre a conseguimos manifestar adequadamente, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora” (EG 195).
Que este critério não falte na nossa vida cristã nem na vida das nossas comunidades. Que a nossa solicitude pelos pobres se traduza numa proximidade real e cordial, porque só “unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação. Só isto tornará possível que «os pobres se sintam em cada comunidade cristã como “em casa” (…). Sem a opção preferencial pelos pobres o «anúncio do Evangelho – e este anúncio é a primeira caridade - corre o risco de não ser compreendido ou de se afogar naquele mar de palavras que a atual sociedade da comunicação diariamente nos apresenta» (EG 199).
 “Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade de Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem horizonte e sentido de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6,37).
Acolhamos este convite de Jesus e respondamos-lhe com generosidade e alegria!

† Joaquim Mendes
Bispo Auxiliar de Lisboa

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"Pesquisa rápida" - "CATEQUESE QUARESMAL 2014"

Caminhar em direção às promessas de Deus, senão somos “turistas existenciais” – o Papa em Santa Marta


(RV) Na homilia da Missa na Casa de Santa Marta nesta segunda-feira o Papa Francisco falou dos cristãos parados, dos que se enganam no caminho e dos que andam às voltas numa espécie de ‘turismo existencial’. Tomando como estímulo da sua meditação a leitura do Profeta Isaías o Papa Francisco evidenciou o facto de que Deus, antes de pedir alguma coisa, faz uma promessa. E nas promessas de Deus devemos confiar. Mas não basta, pois devemos caminhar para elas – afirmou o Papa Francisco – mas são muitos os cristãos que estão... parados:
“Tantos cristãos parados! Estão tantos para trás que têm uma débil esperança. Sim, acreditam que haverá um Céu e tudo estará bem. Está bem que acreditem, mas não procuram! Cumprem os mandamentos, os preceitos: tudo... Mas estão parados. O Senhor Não pode fazer deles fermento no seu povo, porque não caminham. E este é um problema: os parados. Depois, existem outros que se enganam no caminho: todos nós algumas vezes enganamo-nos no caminho, isso já o sabemos. O problema não é enganar no caminho; o problema é não voltar para trás quando reparamos que nos enganamos.”
O modelo de quem acredita e segue aquilo que a fé lhe indica é o funcionário do rei que procura a cura para o filho doente, tal como nos descreve S. João no Evangelho de hoje – continuou o Santo Padre – este funcionário é um homem e não duvida um instante de Jesus. Mete-se em caminho em direção a casa quando Jesus lhe assegura que o filho está curado. Oposto a esta modelo existe aquele dos que vão à procura mas andam sempre às voltas sem tomarem a sério as promessas de Deus. São ‘turistas existenciais’ – afirmou o Papa Francisco:
“São os cristãos errantes: andam às voltas como se a vida fosse um turismo existencial, sem meta, sem tomar as promessas a sério. Aqueles que andam às voltas e enganam-se, porque dizem: ‘Eu caminho!’. Não tu não caminhas, tu andas às voltas.”
“A Quaresma é um belo tempo para pensar se eu sou em caminho eu se eu estou demasiado parado: converteu-vos. Ou se eu sou um turista teologal, um destes que fazem a volta da vida mas nunca fazem um passo à frente. E peço ao Senhor a graça de retomar o caminho, de meter-nos em caminho, mas em direção às promessas.” (RS)

30 março, 2014

O drama da "cegueira interior" de quem recusa ser iluminado por Jesus: Papa ao Angelus, comentando o episódio do cego de nascença

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(RV) O drama da “cegueira interior” de quem não reconhece Jesus como Luz do mundo foi sublinhado pelo Papa neste domingo ao meio-dia, na Praça de São Pedro, comentando antes da oração do Angelus, o Evangelho da cura do cego de nascença proposto pela liturgia.
Trata-se do longo capítulo 9 do Evangelho segundo São João, que inicia com um cego que passa a ver e se conclui com gente que presume ver mas que se obstinam em permanecer cegos na alma. O milagre da cura do cego é contado em dois versículos apenas – fez notar o Papa. O evangelista quer centrar as atenções não tanto na cura em si, mas nas discussões que esta suscita.

“No final, o cego curado chega à fé, e esta é a maior graça que lhe é feita por Jesus: não só ver, mas conhecê-Lo a Ele, que é a luz do mundo”. “Ao mesmo tempo que o cego se aproxima gradualmente da luz, os fariseus, pelo contrário, vão-se afundando cada vez mais na cegueira interior.”

“Fechados na sua presunção, crêem ter já a luz; e por isso não se abrem à verdade de Jesus. Fazem tudo para negar a evidência” – fez notar o Papa, que observou ainda que o caminho do cego é um percurso com etapas. É só no final que Jesus volta a dar a vista ao que tinha sido cego e que entretanto tinha sido expulso do Templo. “Jesus encontra-o de novo e abre-lhe os olhos pela segunda vez, revelando-lhe a própria identidade. E então aquele que tinha sido cego exclama ‘Creio, Senhor!’ e prostra-se diante de Jesus”.

“O drama da cegueira interior de tanta gente, também de nós!... A nossa vida por vezes é semelhante à do cego que se abriu à luz, a Deus e à sua graça. Por vezes, infelizmente, é um pouco como a dos fariseus: do alto do nosso orgulho julgamos os outros, até mesmo o Senhor. Hoje somos convidados a abrir-nos à luz de Cristo, para dar fruto na nossa vida, para eliminar os comportamentos que não são cristãos”.

 
De entre os muitos grupos de peregrinos presentes hoje na praça de São Pedro saudados pelo Papa, não faltou hoje um grupo de “emigrados portugueses de Londres”… Mencionados também, com apreço, militares italianos que realizaram uma longa peregrinação a pé do santuário de Loreto a Roma, rezando pela resolução justa e pacífica dos contenciosos. “Felizes os construtores da paz!” – foi a bem-aventurança evocada a este propósito pelo Papa, que se despediu sugerindo aos presentes que, ao voltar a casa, tomassem o Evangelho para ler e meditar integralmente o episódio evangélico hoje proposto pela liturgia: o capítulo 9 de São João.

29 março, 2014

“Com o perdão o coração renova-se e rejuvenesce” – o Papa Francisco na celebração penitencial

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(RV) O Papa Francisco presidiu a uma celebração penitencial não final da tarde desta sexta-feira na Basílica de São Pedro. O Santo Padre confessou alguns fiéis e depois confessou-se com um dos 61 sacerdotes presentes na basílica vaticana. Esta celebração marcou o início da iniciativa "24 horas para o Senhor", promovida pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. Este grande evento está a decorrer em várias dioceses do mundo durante este sábado.
No decorrer da celebração penitencial o Papa Francisco começou por considerar que no período da Quaresma, a Igreja, em nome de Deus, renova o seu apelo à conversão. É um chamamento para mudar de vida:

Converter-se não é uma questão de um momento ou de um período do ano... é um compromisso que dura toda a vida.

O Papa Francisco citou o Apóstolo João que escreve: “Se dissermos: ‘Não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará os nossos pecados e nos purificará de toda injustiça.” Entra-se, assim, numa vida nova na qual somos chamados a renunciar ao pecado permitindo ver a realidade com olhos diferentes – salientou o Papa Francisco:

Esta vida nova permite-nos ver a realidade com olhos diferentes, sem nos deixar distrair por coisas que não contam nada e que não podem durar no tempo. Por isso, somos chamados a renunciar a comportamentos de pecado e a dirigir os nossos olhos ao essencial.”


O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem’ – disse o Papa citando a Constituição Pastoral ‘Gaudium et Spes’. Eis, assim, a diferença entre a vida deformada pelo pecado e a vida iluminada pela graça:
Do coração do homem renovado por Deus, provêm bons comportamentos: falar sempre a verdade e evitar toda a mentira; não roubar, mas compartilhar aquilo que se tem com os outros, especialmente com quem precisa; não ceder à ira, ao rancor e à vingança, mas ser dócil, generoso e pronto ao perdão; não fazer calúnias que arruínam a fama das pessoas, mas ver mais o lado positivo de cada um. “

O Papa Francisco referiu-se depois ao amor de Jesus Cristo no qual devemos permanecer:

O amor de Jesus Cristo dura para sempre, nunca terá fim, porque é a própria vida de Deus. Este amor vence o pecado e dá a força para nos reerguermos e recomeçar, porque com o perdão, o coração renova-se e rejuvenesce.”

O nosso Pai nunca se cansa de amar e os seus olhos não se cansam de olhar para o caminho para ver se o filho que saiu volta ou perdeu-se – continuou o Santo Padre que afirmou ainda que ‘Deus não está somente na origem do amor, mas, em Jesus Cristo, chama-nos a imitar o seu mesmo modo de amar: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Na medida em que os cristãos vivem este amor, tornam-se discípulos credíveis de Cristo no mundo. O amor não consegue ficar fechado em si mesmo. É aberto por natureza, difunde-se e é fecundo, gera sempre novo amor.”

Finalmente o Papa Francisco referiu-se à iniciativa “24 horas para o Senhor”, dizendo que muitos serão missionários e proporão a outros a experiência da reconciliação com Deus. “24 horas para o Senhor” uma iniciativa à qual aderiram muitas dioceses, em várias partes do mundo:

A todos os que encontrardes, podereis comunicar a alegria de receber o perdão do Pai e de reencontrar a amizade plena com Ele. E dizer-lhes que o nosso Pai espera-nos, o nosso Pai perdoa-nos e mais ainda, faz festa.” (RS)

Papa Francisco acolheu Cegos e Surdos-Mudos


(RV) O Papa Francisco recebeu, este sábado, em audiência, na Sala Paulo VI, no Vaticano, milhares de cegos e surdos e encorajou-os a construir relações fraternas.
“Só quem reconhece a própria fragilidade, o próprio limite, é que pode construir relações fraternas e solidárias, na Igreja e na sociedade”, disse o Papa Francisco aos cerca de 6 mil membros do «Movimento Apostólico Cegos» e da «Pequena Missão para os Surdos», entre familiares, Congregações, escolas, associações, entidades e movimentos, provenientes do Brasil, Argentina, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra e Malta.
Nas suas palavras - traduzidas para língua gestual - o Papa pôs em destaque as culturas opostas da sociedade: “A cultura do encontro e a cultura da exclusão, do preconceito”.
“A pessoa doente ou com deficiência, a partir da sua fragilidade, do seu limite, pode tornar-se testemunha do encontro: o encontro com Jesus, que abre à vida e à fé e ao encontro com os outros, com a comunidade”, afirmou Francisco.
Só quem reconhece “a própria fragilidade, o próprio limite”, é que pode construir “relações fraternas e solidárias, na Igreja e na sociedade”, acrescentou.
O encontro teve início com um momento de oração, guiado pelos organizadores, seguido por testemunhos de pessoas surdas e cegas do «Movimento Apostólico Cegos».
No final, o Papa Francisco deteve-se a cumprimentar pessoalmente os presentes, muitos dos quais acompanhados dos seus cães-guia.

Fotos: Missa para surdos e Papa Francisco saudando surdos e cegos, no encontro de sábado

28 março, 2014

Deus espera-nos sempre. Deus não se cansa de perdoar – o Papa na Missa em Santa Marta

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(RV) Nesta sexta-feira na Missa na Capela da Casa de Santa Marta o Papa Francisco, tomando como primeiro estímulo da sua homilia a leitura do Livro do Profeta Oseias, evidenciou o coração de Deus-Pai que nunca se cansa de esperar por nós:

É o coração do nosso Pai, é assim Deus: não se cansa, não se cansa! E por tantos séculos fez isto, com tanta apostasia do povo. E Ele sempre volta, porque o nosso Deus é um Deus que espera. Desde aquela tarde no Paraíso terrestre, Adão saiu do Paraíso com uma pena e também uma promessa. E Ele é fiel, o Senhor é fiel à sua promessa, porque não pode renegar-se a si próprio. É fiel. E assim esperou por todos nós ao longo da história. É o Deus que nos espera, sempre.”

De seguida o Santo Padre recordou a parábola do filho pródigo. O Evangelho de Lucas conta-nos nessa parábola que o pai vê e reconhece o filho ao longe porque o esperava. Andava todos os dias no terraço para ver se o filho voltava. Esperava-o:

Este é o nosso Pai, o Deus que nos espera. Sempre. ‘Mas padre, eu tenho tantos pecados, não sei se Ele ficará contente’. Mas experimenta ! Se tu queres conhecer a ternura deste Pai, vai ter com Ele e experimenta, e depois contas-me’. O Deus que nos espera. Deus que nos espera e também Deus que perdoa. É o Deus da misericórdia: não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir o perdão, mas Ele não se cansa. Setenta vezes sete: sempre para a frente com o perdão. E do ponto de vista de uma empresa, o balanço é negativo. Ele sempre perde: perde no balanço das coisas, mas ganha no balanço do amor.

“Assim, que esta palavra nos ajude a pensar no nosso Pai que nos espera sempre, que nos perdoa sempre e que faz festa quando voltamos.”
(RS)

“Confissão não é um tribunal de condenação, mas uma experiência de perdão e misericórdia”: Papa Francisco aos participantes no XXV Curso sobre Foro interno


(RV) O Santo Padre Francisco recebeu em audiência nesta sexta-feira aos participantes à XXV edição do Curso sobre Foro interno, organizado pela Penitenciaria Apostólica, sobretudo para neo-sacerdotes e diáconos, uma iniciativa que decorre anualmente como oportunidade para formar confessores e ajudá-los a melhor exercer o importante ministério da misericórdia.
Após as palavras de agradecimento ao Cardeal Penitenciário-Mor, Dom Mauro Piacenza, o Papa Francisco sublinhou antes de tudo que o protagonista do ministério da reconciliação é o Espírito Santo e que o perdão que o Sacramento confere é a vida nova transmitida pelo Senhor ressuscitado. Os confessores são, portanto, chamados a ser sempre “homens do Espírito Santo”, testemunhas e anunciadores, alegres e fortes, da ressurreição do Senhor.
O sacerdote, explicou o Papa, acolhe por conseguinte os penitentes não com a atitude de um juiz e muito menos com a de um simples amigo, mas com a caridade de Deus, com o amor de um pai que vê o filho regressar e vai ao seu encontro, do pastor que encontrou a ovelha perdida. Os confessores têm, sim, o papel de médico e juiz, mas não se deve esquecer, adverte o Papa, que o confessor, como médico, é chamado a curar e como juiz a absolver.
Em seguida o Papa reiterou que, se a reconciliação transmite a vida nova do Ressuscitado e renova a graça baptismal, então a tarefa dos confessores é doar generosamente aos irmãos essa vida nova. E por isso, um sacerdote que não cuida desta parte do seu ministério, é como um pastor que não cuida das ovelhas que se perderam, um pai que se esquece do filho perdido e não espera por ele. Por esta razão, insistiu o Papa, devemos trabalhar muito sobre nós mesmos, sobre a nossa humanidade, para não sermos obstáculo para os fiéis, mas sempre favorecermos a sua aproximação à misericórdia e ao perdão. E para isto, é preciso evitar os dois extremos opostos: o rigorismo e o laxismo, e adoptar sentimentos da misericórdia que escuta realmente com o coração de Deus e quer acompanhar a alma no caminho da reconciliação, porque a confissão não é um tribunal de condenação, mas uma experiência de perdão e misericórdia!

E por último, para ajudar os fiéis a superar as dificuldades que muitas vezes encontram na confissão, o Papa mostrou a importância que em todas as dioceses e comunidades paroquiais, se cuide particularmente a celebração do sacramento do perdão e da salvação, e que em cada paróquia, particularmente nas Comunidades religiosas, os fiéis saibam quando podem encontrar sacerdotes disponíveis.

27 março, 2014

Abrir o coração ao Senhor – o Papa Francisco na missa com os parlamentares italianos

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(RV) No tempo de Jesus havia uma classe dirigente que se tinha distanciado do povo, que o tinha abandonado e que seguia a sua ideologia deslizando até à corrupção – esta a mensagem principal do Papa Francisco na homilia da missa desta quinta-feira que o Santo Padre celebrou na Basílica de São Pedro com a presença de 493 parlamentares italianos.
A primeira leitura desta dia é do Livro de Jeremias, que nos mostra o profeta a dar voz ao ‘lamento de Deus’ acerca de uma geração que – segundo observou o Santo Padre – não acolheu os mensageiros de Deus. Voltaram-lhes as costas – continuou o Papa – que considerou ser esta também uma situação presente no Evangelho desta quinta-feira, retirada do texto de S. Lucas em que, sobretudo, os líderes do povo não acolheram Jesus:
“O coração desta gente. Este grupinho com o tempo tinha-se endurecido de tal forma que era impossível ouvir a voz do Senhor. E como pecadores deslizaram até à corrupção, tornaram-se corruptos. É muito difícil que um corrupto consiga voltar para trás. O pecador sim, porque o Senhor é misericordioso e espera-nos a todos. Mas o corrupto é fixado nas suas coisas, e estes eram corruptos.”
Estas pessoas enganaram-se no caminho – afirmou o Papa Francisco – recusaram uma lógica de liberdade que lhes oferecia o Senhor, para uma lógica de necessidade, onde não há lugar para Deus...
“Recusaram o amor do Senhor e esta recusa fez com que eles fossem por um caminho que não era aquele da dialética da liberdade oferecida pelo Senhor, mas era aquele da lógica da necessidade, onde não há lugar para o Senhor. Na dialética da liberdade está o Senhor bom que nos ama, ama-nos tanto! Ao contrário, na lógica da necessidade não há lugar para Deus: deve-se fazer, deve-se ... Tornaram-se comportamentais... Homens de boas maneiras, mas de maus hábitos. Jesus chama-lhes sepulcros esbranquiçados...”
“Neste caminho da Quaresma vai-nos fazer bem, a todos nós, pensar neste convite do Senhor ao amor, a esta dialética da liberdade onde está o amor e perguntarmo-nos, todos: Mas eu estou neste caminho? (RS)

26 março, 2014

O sacerdote sirva a sua comunidade com amor, senão não serve – o Papa Francisco na audiência geral

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(RV) Nesta quarta-feira foi com frio que um enorme calor humano recebeu o Papa Francisco para a audiência geral. Dezenas de milhares de peregrinos saudaram e ouviram o Santo Padre. Hoje a catequese foi sobre o Sacramento da Ordem:

A Ordem compreendida nos três graus de episcopado, presbiterado e diaconado, é o Sacramento que habilita ao exercício do ministério, confiado pelo Senhor Jesus aos Apóstolos de apascentar as suas ovelhas, no poder do seu Espírito e segundo o seu coração.”

“O sacerdote deve apascentar com amor, se não o faz com amor não serve.”

O Santo Padre apresentou três aspetos importantes sobre o Sacramento da Ordem:

“Um primeiro aspeto. Aqueles que são ordenados são postos à cabeça da comunidade. À cabeça, para Jesus, significa pôr a própria autoridade ao serviço, como Ele próprio mostrou e ensinou aos discípulos com estas palavras: ‘Vós sabeis que os governantes das nações dominam e os chefes oprimem-nas. Entre vós não será assim; mas quem quiser tornar-se grande entre vós, será vosso servidor e quem quer ser o primeiro entre vós será escravo. Como o Filho do Homem que não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida por resgate de muitos.”

A Ordem – disse o Papa – torna capaz de apascentar o rebanho de Jesus, com a força do seu Espírito e segundo o seu coração. Na verdade, o ministro ordenado é posto à cabeça da comunidade, mas devemos entender este ato de presidir como serviço: «Quem no meio de vós quiser ser o primeiro – ensinou Jesus – seja vosso servo».

“Uma outra caraterística que deriva sempre da questão sacramental com Cristo é o amor apaixonado pela Igreja.”

Em virtude da Ordem – continuou o Santo Padre – o ministro dedica-se inteiramente à própria comunidade e ama-a com todo o seu coração: é ela a sua família, que deve amar com amor apaixonado. Isto, porém, sem ceder à tentação de a considerar como sua propriedade.

“Um último aspeto, o apóstolo Paulo recomenda ao seu discípulo Timóteo que não se canse de reavivar o dom que está nele, recebido pela imposição das mãos.”


O Papa Francisco reforçou a ideia de que o ministro ordenado precisa de contínua conversão e assídua entrega à misericórdia de Deus; e esta entrega é a sua força e também um válido exemplo que pode oferecer aos irmãos da sua comunidade.

No final da catequese o Papa Francisco pediu ao Senhor que nunca faltem nas nossas comunidades pastores autênticos e exortou os jovens a discernirem no seu coração o chamamento de Deus para uma vida de serviço total aos outros como sacerdotes.

O Santo Padre saudou também os peregrinos de língua portuguesa:

“Queridos amigos de língua portuguesa, que hoje tomais parte neste Encontro com o Sucessor de Pedro: Obrigado pela vossa presença e sobretudo pelas vossas orações! A todos saúdo, especialmente ao grupo de Brasília, encorajando-vos a apostar em ideais grandes de serviço, que engrandecem o coração e tornam fecundos os vossos talentos. Sobre vós e vossas famílias desça a Bênção do Senhor!”

O Papa Francisco a todos deu a sua benção! (RS)

25 março, 2014

O SIM MAIS DIFÍCIL DA HUMANIDADE

 
 
 
Será mais fácil dizer sim ou dizer não?

À primeira vista pareceria que seria bem mais fácil dizer sim.
Dizendo sim, faz-se a vontade do outro e portanto termina por aí tudo o que uma situação exige, ou seja, o outro fica contente, agradado, e nada mais exige de nós.
Ao dizer não, são precisas explicações, são precisos argumentos, para fundamentar o não a algo que nos é pedido, para além de que, apesar de tudo, ainda podermos incorrer no desagrado do outro e numa consequente frieza ou fim de uma relação.
Visto assim, poderíamos então inferir que é mais fácil dizer sim do que dizer não.

Pois, mas não foi assim com a Virgem Maria!

O sim que Ela disse foi bem mais difícil, foi bem mais complicado, do que o não que Ela poderia ter dito na sua liberdade.
Se dissesse não tudo terminaria ali para a sua pessoa, e como o outro neste caso era Deus, a sua relação com Ele continuaria exactamente a mesma, visto que Deus respeita a liberdade de cada um dos seus filhos, porque os ama com amor eterno.

Mas o sim de Maria foi bem mais difícil por muitas e variadas razões.

Primeiro, porque para dizer sim naquele momento, (a algo tão inverosímil), era preciso acreditar com fé firme que aquilo que o anjo Lhe dizia era possível, ou seja, que Deus queria e podia fazer aquilo para que Lhe pedia o sim.

Segundo, porque era preciso acreditar na sua humildade, que Ela era digna daquilo que Deus Lhe pedia, abandonando-se e aceitando a vontade de Deus, apesar de se reconhecer uma simples serva.

Terceiro, porque ficar grávida fora do casamento, quando se sabia que Ela «não conhecia homem» (Lc 1,34), era naquele tempo algo tão grave que podia levar à delapidação, à própria morte.

Quarto, porque perante esse estado de gravidez, aquele a quem Ela tinha sido entregue em casamento, José, podia repudiá-la com tudo o que isso significava naquela sociedade.

Quinto, porque o normal seria que a própria família a repudiasse.

Sexto, porque se fosse repudiada e sobrevivesse teria que, sozinha, alimentar, educar, tomar conta daquele Filho, que nunca seria aceite na sociedade.

Sétimo, porque se tentasse explicar a alguém o porquê do seu sim, apenas se ririam na sua cara e mais do que isso, condená-la-iam por blasfémia ao dizer que estava grávida do Filho de Deus.

E quantas razões mais poderíamos acrescentar, que à luz das nossas humanas fraquezas, “aconselhavam” um não à “proposta” feita.

Portanto, as razões para um não eram incomparavelmente “melhores” do que as razões que poderiam sustentar o sim naquele momento, e não nos esqueçamos que «Ela se perturbou», (Lc 1,29), pelo que não estava “fora de si”, mas sim perfeitamente consciente do momento e do que Lhe era pedido.

Sim, o Sim de Maria, foi o Sim mais difícil da humanidade e, ao mesmo tempo, o Sim mais importante da humanidade e para a humanidade.

Obrigado Mãe, porque «acreditaste, que se ia cumprir tudo o que te tinha sido dito da parte do Senhor.» (Lc 1, 45)

Obrigado Senhor por teres escolhido Maria como Mãe e obrigado Senhor por no-la teres dado como Mãe também.


Marinha Grande, 25 de Março de 2014
Joaquim Mexia Alves

25 de Março 2014 - Dia Mundial da Criança Concebida

Solenidade da Anunciação do Senhor


25 de Março, dia Mundial da Criança Concebida



Deus, Pai Santo, que na vossa benigna providencia
nos abris o caminho à natureza divina,
ajudai-nos a aprender com Maria a acolher a vossa Palavra,
para que ela encarne na história de cada casal,
dando graças continuamente pelo dom da vida.

Nós vos pedimos que nos livreis de todas as condicionantes
que exercem um desgaste terrível na família;
Que o desejo de ter filhos corresponda à natural essência do matrimónio
e que cada casal possa avaliar retamente para distinguir o que é construtivo,
humano e respeitador da vida que nos ofereceis.

Nós vos pedimos, Senhor que a vossa misericórdia
seja o refúgio de todos os que optaram por interromper a vida nascente,
e que por essa decisão se sentem atormentados,
porque a ciência cura, mas só o vosso amor salva.

Criai em nós, que somos templo do Senhor Jesus e morada do Espírito Santo,
um coração confiante e atento às surpresas do vosso amor redentor.
Por Jesus Cristo, Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Amén 

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Encontro de Preparação da Festa da Família

 

Sexta, 28 de Março pelas 21h15 no auditório Beatriz Costa em Mafra
Conferência sobre o tema "Família e Sociedade"
D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa



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O amor não cansa nem se cansa

 

Nos dias 29 de Março e 12 de Abril nos Jerónimos pelas 15h00











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Pastoral da Família
Patriarcado de Lisboa