30 novembro, 2014

Patriarca Bartolomeu e Papa Francisco assinam Declaração conjunta



(RV) A Declaração conjunta refere expressamente a preocupação comum pela situação no Iraque, na Síria e em todo o Médio Oriente, declarando-se “unidos no desejo de paz e estabilidade e na vontade de promover a resolução dos conflitos através do diálogo e da reconciliação”.

“Ao mesmo tempo que reconhecemos os esforços que já estão a ser feitos para dar assistência à região (lê-se no texto), apelamos a quantos têm a responsabilidade dos destinos dos povos que intensifiquem o seu empenho a favor das comunidades que sofrem, consentindo a todas, incluindo as cristãs, de permanecerem na sua terra natal. Não podemos resignar-nos com um Médio Oriente sem os cristãos, que ali professaram o nome de Jesus durante dois mil anos. Muitos dos nossos irmãos e irmãs são perseguidos e, com a violência, foram forçados a deixar as suas casas.”

“A dramática situação dos cristãos e de todos aqueles que sofrem no Médio Oriente exige não só uma oração constante, mas também uma resposta apropriada por parte da comunidade internacional.

“Os grandes desafios, que o mundo enfrenta na situação actual, exigem a solidariedade de todas as pessoas de boa vontade. Por isso, reconhecemos a importância também da promoção dum diálogo construtivo com o Islão, assente no respeito mútuo e na amizade. Inspirados por valores comuns e animados por um genuíno sentimento fraterno, muçulmanos e cristãos são chamados a trabalhar, juntos, por amor da justiça, da paz e do respeito pela dignidade e os direitos de cada pessoa, especialmente nas regiões onde durante séculos viveram em coexistência pacífica e agora, tragicamente, sofrem juntos os horrores da guerra. Além disso, como líderes cristãos, exortamos todos os líderes religiosos a continuarem com maior intensidade o diálogo inter-religioso e fazerem todo o esforço possível para se construir uma cultura de paz e solidariedade entre as pessoas e entre os povos.”

Não falta uma referência também à Ucrânia, “país com uma antiga tradição cristã”. Para além de assegurar a oração pela paz, os signatários apelam “às partes envolvidas no conflito para que procurem o caminho do diálogo e do respeito pelo direito internacional para pôr fim ao conflito e permitir que todos os ucranianos vivam em harmonia”.

Papa Francisco assegura empenho na busca da unidade com os Ortodoxos



(RV) Neste último dia da sua viagem apostólica à Turquia, o Papa Francisco esteve presente, na igreja patriarcal de São Jorge, em Istambul, à solene Divina Liturgia da festa de Santo André, presidida pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I. Uma celebração quase inteiramente cantada, segundo a rica tradição comum a todas as Igrejas de tradição bizantina (ortodoxas e católicas) da Grécia, do Médio Oriente, do Leste europeu e mesmo do sul da Itália.
Intervindo no final da celebração, o Papa Francisco sublinhou a importância da experiência do encontro pessoal, tanto na vida da cristã como no caminho ecuménico e recordou três “vozes” que as Igrejas cristãs não podem deixar de ouvir: a voz dos pobres, das vítimas dos conflitos e dos jovens. Não faltou uma referência ao recente atentado numa mesquita da Nigéria.
… a vida cristã é uma experiência pessoal, um encontro transformador com Aquele que nos ama e nos quer salvar. Também o anúncio cristão se difunde graças a pessoas que, apaixonadas por Cristo, não podem deixar de transmitir a alegria de serem amadas e salvas.
Neste sentido, é esclarecedor o exemplo do Apóstolo André, referido no evangelho de São João: depois de ter seguido Jesus até onde ele morava detendo-se ali com Ele, «encontrou primeiro o seu irmão Simão e disse-lhe: “Encontrámos o Messias!” – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus». Fica, assim claro que nem sequer o diálogo entre cristãos pode subtrair-se a esta lógica do encontro pessoal – sublinhou o Papa, que evocou, como exemplo, o abraço entre o Patriarca Atenágoras e Papa Paulo VI, há cinquenta anos, em Jerusalém.
Recordando o Decreto do Concílio Vaticano II sobre a busca da unidade entre todos os cristãos, Unitatis redintegratio, publicado há precisamente 50 anos, o Papa sublinhou que neste “documento fundamental” a Igreja católica reconhece que as Igrejas ortodoxas «têm verdadeiros sacramentos e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia». Afirma-se, portanto, que, para guardar fielmente a plenitude da tradição cristã e levar a termo a reconciliação dos cristãos do Oriente e do Ocidente, é de extrema importância conservar e sustentar o riquíssimo património das Igrejas do Oriente, não só no que diz respeito às tradições litúrgicas e espirituais, mas também as disciplinas canónicas, sancionadas pelos santos padres e pelos concílios, que regulam a vida dessas Igrejas.
Considero importante reiterar o respeito deste princípio como condição essencial e recíproca para o restabelecimento da plena comunhão, que não significa submissão de um ao outro nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um para manifestar ao mundo inteiro o grande mistério da salvação realizado por Cristo Senhor por meio do Espírito Santo.
Quero assegurar a cada um de vós que, para se chegar à suspirada meta da plena unidade, a Igreja católica não tem intenção de impor qualquer exigência, excepto a da profissão da fé comum, e que estamos prontos a buscar juntos, à luz do ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milénio, as modalidades pelas quais garantir a necessária unidade da Igreja nas circunstâncias actuais.
A única coisa que a Igreja católica deseja e que eu procuro como Bispo de Roma, «a Igreja que preside na caridade» (declarou ainda o Papa), é a comunhão com as Igrejas ortodoxas. Esta comunhão será sempre fruto do amor «que foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado», amor fraterno que dá expressão ao vínculo espiritual e transcendente que nos une como discípulos do Senhor.
Foi neste contexto que Papa Francisco recordou a necessidade de escutar aquelas vozes que se erguem com intensidade no mundo actual: os pobres, as vítimas dos conflitos e os jovens.
Antes de mais os pobres, que sofrem de grave desnutrição, com o desemprego crescente e pelo aumento da exclusão social.
Não podemos ficar indiferentes perante as vozes destes irmãos e irmãs. Estão-nos pedindo não só que lhes demos uma ajuda material, necessária em muitas circunstâncias, mas sobretudo que os ajudemos a defender a sua dignidade de pessoas humanas.
Além disso – observou o Papa – eles pedem-nos para lutar, à luz do Evangelho, contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de um trabalho digno, da terra e da casa, a negação dos direitos sociais e laborais. Como cristãos, somos chamados a vencer, juntos, a globalização da indiferença.
Uma segunda voz que brada forte em muitas partes do mundo é a das vítimas dos conflitos – prosseguiu o Papa, evocando “algumas nações vizinhas” da Turquia, “marcadas por uma guerra atroz e desumana”.
Turvar a paz de um povo, cometer ou consentir qualquer género de violência, especialmente contra pessoas frágeis e indefesas, é um pecado gravíssimo contra Deus, porque significa não respeitar a imagem de Deus que está no homem. A voz das vítimas dos conflitos impele-nos a avançar apressadamente no caminho de reconciliação e comunhão entre católicos e ortodoxos.
Neste contexto, o Papa fez uma referência expressa às vítimas do recente atentado numa mesquita da Nigéria, exprimindo todo o sofrimento e solidariedade perante este atroz ato de violência contra fiéis reunidos num local de oração.
Finalmente, uma terceira voz que nos interpela é a dos jovens. Muitos deles vivem sem esperança, dominados pelo desânimo e a resignação.
As novas gerações não poderão jamais adquirir a verdadeira sabedoria e manter viva a esperança, se nós não formos capazes de valorizar e transmitir o autêntico humanismo, que brota do Evangelho e da experiência milenar da Igreja. São precisamente os jovens… que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão.

29 novembro, 2014

Irmãos na esperança, para caminhar juntos: Papa na oração ecuménica



(RV) Após a Missa, o Papa para a sede do Patriarcado de Constantinopla, para participar na Oração de vésperas da festa de Santo André com o patriarca Bartolomeu.
Através das palavras do profeta Zacarias – comentou o Papa numa breve intervenção - o Senhor mostra-nos  “o fundamento que está na base da nossa tensão entre um hoje e um amanhã, a rocha firme sobre a qual podemos mover juntos os nossos passos com alegria e esperança; este alicerce rochoso é a promessa do Senhor: «Eis que eu salvo o meu povo do Oriente e do Ocidente (...) na fidelidade e justiça».
Dirigindo-se ao “venerado e querido Irmão Bartolomeu”, Papa Francisco agradeceu-o pelo seu acolhimento fraterno, observando:

Sinto que a nossa alegria é maior porque a fonte está mais além, não está em nós, não está no nosso compromisso e nos nossos esforços – que também existem, como de dever –, mas está na comum entrega à fidelidade de Deus, que lança as bases para a reconstrução do seu templo que é a Igreja (cf. Zc 8, 9).

«Está aqui a semente da paz» (Zc 8, 12); está aqui a semente da alegria. Aquela paz e aquela alegria que o mundo não pode dar, mas que o Senhor Jesus prometeu aos seus discípulos e lha deu como Ressuscitado, no poder do Espírito Santo.

“André e Pedro – prosseguiu ainda o Papa - ouviram esta promessa, receberam este dom.”
(André e Pedro) eram irmãos de sangue, mas o encontro com Cristo transformou-os em irmãos na fé e na caridade. E nesta noite jubilosa, nesta oração de vigília, quero sobretudo dizer: irmãos na esperança.

Que grande graça, Santidade, poder ser irmãos na esperança do Senhor Ressuscitado! Que grande graça – e que grande responsabilidade – poder caminhar juntos nesta esperança, sustentados pela intercessão dos Santos irmãos Apóstolos André e Pedro!  E o Papa terminou pedindo ao Patriarca uma bênção para si e para a Igreja de Roma.

No final da celebração, o Patriarca Bartolomeu convidou o Papa a subir consigo ao segundo andar da residência patriarcal, para um colóquio privado.

Assim se concluiu esta segunda jornada da viagem do Papa na Turquia. Amanhã, domingo, 30 de novembro, festa de Santo André, Papa Francisco celebra privadamente, de manhã cedo, na representação pontifícia de Istambul, onde recebe o Grande rabino da Turquia, Isak Haleva.

Partirá então para a Igreja patriarcal de São Jorge, onde participa na Divina Liturgia celebrada pelo Patriarca Bartolomeu, no final da qual darão conjuntamente, da varanda da residência, a bênção ecuménica e assinarão uma Declaração conjunta, almoçando juntos.

Por volta das 4 da tarde, já na residência pontifícia de Istambul, o Papa acolherá uns 50 jovens do Oratório da Comunidade salesiana de Istambul, junto da catedral latina. Trata-se de jovens provenientes não só de várias partes da Turquia, mas também de refugiados vindos de diversos países do Médio Oriente e da África.

Imediatamente depois o Papa desloca-se para o aeroporto, estando a partida marcada para as 17 horas locais. A chegada a Roma está prevista para as 18.40.

O Espírito Santo assegura a unidade na Igreja: Papa na Missa em Istambul



(RV) “O Espírito Santo é a alma da Igreja”, dá vida, suscita os diversos carismas e cria a unidade. Ele é a harmonia” – esta a mensagem central transmitida pelo Papa Francisco aos católicos da Turquia, na missa do primeiro domingo do Advento, celebrada este sábado à tarde, na presença do Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, na catedral de Istambul, dedicada precisamente ao Espírito Santo.

    O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diversos carismas que enriquecem o povo de Deus e sobretudo cria a unidade entre os crentes: de muitos faz um único corpo, o corpo de Cristo. Toda a vida e missão da Igreja dependem do Espírito Santo.
Partindo da primeira leitura da missa, em que São Paulo recorda que «Ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, senão pelo Espírito Santo», o Papa observou que quando rezamos, fazemo-lo porque o Espírito Santo suscita a oração… quando… saímos de nós mesmos e nos aproximamos dos outros para os encontrar, escutar, ajudar, é o Espírito de Deus que nos impele. Assim também quando descobrimos em nós uma capacidade inusual de perdoar, de amar a quem não gosta de nós…
É verdade! O Espírito Santo suscita os diversos carismas na Igreja;
à primeira vista, isto parece criar desordem, mas na realidade, sob a sua guia, constitui uma imensa riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidade, que não significa uniformidade. Só o Espírito Santo pode suscitar a diversidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade.

Quando somos nós a querer fazer a diversidade e fechamo-nos nos nossos particularismos e exclusivismos, trazemos a divisão – advertiu o Santo Padre. Quando somos nós a querer fazer a unidade com os nossos projectos humanos, acabamos por trazer a uniformidade e a homologação.

É o Espírito Santo que faz a unidade da Igreja: unidade na fé, unidade na caridade, unidade na coesão interior. A Igreja e as Igrejas são chamadas a deixarem-se guiar pelo Espírito Santo, colocando-se numa atitude de abertura, docilidade e obediência.
Em nós está sempre presente a tentação de opor resistência ao Espírito Santo, porque perturba, porque revolve, faz caminhar, impele a Igreja a avançar. E é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas...

A Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de O regular e domesticar. E nós, cristãos, tornamo-nos autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos conduzir pelo Espírito. Ele é frescor, criatividade, novidade.

A Igreja, nascida do Pentecostes, recebe em herança o fogo do Espírito Santo… é investida pelo vento do Espírito, que não transmite um poder, mas habilita para um serviço de amor, uma linguagem que cada um é capaz de compreender.

No nosso caminho de fé e de vida fraterna, quanto mais nos deixarmos guiar humildemente pelo Espírito do Senhor, tanto mais superaremos as incompreensões, as divisões e as controvérsias, tornando-nos sinal credível de unidade e de paz.

Quase a concluir, o Santo Padre saudou os bispos e patriarcas presentes, assim como os presbíteros, diáconos e leigos, católicos e ortodoxos: antes de mais o Patriarca Siro-Católico, o Presidente da Conferência Episcopal, o Vigário Apostólico, outros Bispos e Exarcas, os presbíteros e diáconos, as pessoas consagradas e os leigos, das várias comunidades e diversos ritos; e também o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, o Metropolita Siro-Ortodoxo, o Vigário Patriarcal Arménio Apostólico e os responsáveis das Comunidades Protestantes, exprimindo-lhes gratidão pelo gesto fraterno que a sua presença representa.
E concluiu dirigindo o pensamento à Virgem Maria, a santa Mãe de Deus, que no Cenáculo rezou com os Apóstolos à espera do Pentecostes.

Peçamos ao Senhor que envie o seu Santo Espírito aos nossos corações e nos torne testemunhas do seu Evangelho em todo o mundo. Amem!

28 novembro, 2014

Muçulmanos, judeus e cristãos "irmãos e companheiros": Papa no encontro com autoridades turcas



(RV) Muçulmanos, judeus e cristãos reconheçam-se como “irmãos e companheiros de viagem” e assumam o “compromisso de construir uma paz sólida”. Há que “renovar sempre a coragem da paz”! É urgente promover o “diálogo inter-religioso e intercultural, a fim de banir toda a forma de fundamentalismo e de terrorismo”. “Ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais que incentivam incompreensões e discriminações, é preciso contrapor a solidariedade de todos os crentes”.
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    Estas as afirmações fundamentais da primeira intervenção do Papa em terras turcas, no encontro com as autoridades do país. O Santo Padre congratulou-se com a oportunidade que de prosseguir nesta visita “um diálogo de amizade, estima e respeito”, na senda traçada pelos antecessores, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI; diálogo aliás preparado e favorecido pela acção do então Delegado Apostólico Mons. Ângelo Roncalli, mais tarde João XXIII, e pelo Concílio Vaticano II.
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O Papa recordou a necessidade de “prosseguir, com paciência, o compromisso de construir uma paz sólida, assente no respeito pelos direitos fundamentais e deveres ligados com a dignidade do homem”. Só assim se poderão “superar preconceitos e falsos temores”.
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Para isso, é fundamental que os cidadãos muçulmanos, judeus e cristãos … gozem dos mesmos direitos e respeitem os mesmos deveres. Assim, hão-de mais facilmente reconhecer-se como irmãos e companheiros de viagem, afastando cada vez mais as incompreensões e favorecendo a colaboração e o acordo.
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Referindo-se em particular ao Médio Oriente, “há demasiado tempo teatro de guerras fratricidas, que parecem nascer uma da outra, como se a única resposta possível à guerra e à violência tivesse de ser sempre uma nova guerra e outra violencia”, exclamou o Papa:
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Quanto tempo deverá sofrer ainda o Médio Oriente por causa da falta de paz? Não podemos resignar-nos com a continuação dos conflitos, como se não fosse possível mudar a situação para melhor! Com a ajuda de Deus, podemos e devemos sempre renovar a coragem da paz!
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Uma importante contribuição nesse sentido – considerou o Papa – “pode vir do diálogo inter-religioso e intercultural, a fim de banir toda a forma de fundamentalismo e de terrorismo, que humilha gravemente a dignidade de todos os seres humanos e instrumentaliza a religião”.
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Ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais que incentivam incompreensões e discriminações, é preciso contrapor a solidariedade de todos os crentes – que tenha como pilares o respeito pela vida humana, pela liberdade religiosa, que é liberdade do culto e liberdade de viver segundo a ética religiosa –, o esforço por garantir a todos o necessário para uma vida digna, e o cuidado do meio ambiente.
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Referindo expresamente os “graves conflitos” que afetam a Síria e o Iraque – onde “a violência terrorista não dá sinais de diminuir”, Papa Francisco recordou as perseguições de que são vítimas nomeadamente os cristãos destas terras:
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Regista-se a violação das normas humanitárias mais elementares contra prisioneiros e grupos étnicos inteiros; verificaram-se, e continuam ainda, graves perseguições contra grupos minoritários, especialmente – mas não só – cristãos e yazidis: centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas e a sua pátria, para poderem salvar a sua vida e manter-se fiéis ao próprio credo.
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Especialmente tocada por esta situação a Turquia, que acolhe tão grande número de refugiados. A comunidade internacional tem a obrigação moral de a ajudar a cuidar dos refugiados. Juntamente com a assistência humanitária necessária, não se pode permanecer indiferente àquilo que provocou estas tragédias. Se “é lícito deter o injusto agressor – sempre no respeito pelo direito internacional – não se pode contudo confiar a resolução do problema somente à resposta militar” – advertiu o Papa.
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Que o Altíssimo abençoe e proteja a Turquia e a ajude a ser uma válida e convicta artífice de paz!
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(Texto integral do discurso do Papa na secção Documentos e Mensagens)
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    Concluído há pouco o encontro com as Autoridades turcas, no Palácio presidencial, o Santo Padre teve um breve colóquio com o primeiro ministro, Ahmed Davutoglu. O Papa Francisco desloca-se seguidamente ao Departamento para as Questões Religiosas, onde pronunciará o segundo discurso desta viagem, último momento público do programa de hoje.
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Amanhã, sábado, a transferência para Istambul, com o encontro com a pequena comunidade católica da Turquia e, sobretudo, com o Patriarca Ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I, com o qual celebrará, domingo, a festa de Santo André, patrono do patriarcado ecuménico.
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Esta viagem coloca-se no âmbito de anteriores visitas dos Bispos de Roma, sempre ligadas à relação especialíssima com o Patriarcado de Constantinopla. Começou Paulo VI, em 1967, seguindo-se-lhe João Paulo II, em 1979, e Bento XVI em 2006. Antes ainda, como figura tutelar que preparou o terreno a um clima cordial de diálogo ecuménico e mesmo inter-religioso, há que recordar Angelo Roncali, depois Papa João XXIII, que ao longo de dez anos foi Delegado Apostólico na Turquia e na Grécia, deixando a sua marca de respeito por todos e de amizade e testemunho cristão.
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O encontro com o Patriarca Bartolomeu, em Istambul, sábado à tarde e domingo de manhã, culminará com a assinatura de uma Declaração conjunta e a bênção final da varanda do Palácio patriarcal, após a Divina Liturgia da festa de Santo André, celebrada pelo Patriarca na presença do Papa. Embora desde há muito reinem boas relações eclesiais entre Roma e Constantinopla, é de sublinhar a especial cordialidade e amizade pessoal que se estabeleceu desde o primeiro momento entre o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu.

Card.Tauran em Teerão: chegou o tempo para desenvolver atitudes concretas



(RV) NA viagem do Papa Francisco à Turquia será uma oportunidade de diálogo entre cristãos e muçulmanos. Precisamente sobre este tema do diálogo inter-religioso decorreu em Teerão no Irão esta semana um encontro promovido pelo Centro para o Diálogo Inter-religioso (CID) da Organização da Cultura Islâmica e Relações Internacionais e pelo Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, subordinado ao tema: “cristãos e muçulmanos em diálogo construtivo para o bem da sociedade”.

Na abertura do encontro o Cardeal Jean Louis Tauran, Presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso declarou que “não podemos permanecer em silêncio ou indiferentes diante da extrema, desumana e multiforme violência sofrida pelos cristãos e yazidis” no Iraque.

O Cardeal Tauran afirmou ainda que muitas destas pessoas sujeitas a perseguições “preferiram a morte a renunciar à sua fé” e o sacrifício destes “verdadeiros mártires”, expulsos das suas casas muitas vezes só com a roupa do corpo, não deve ser esquecido.
No seu discurso o purpurado sublinhou ainda que “invocar a religião para justificar estes crimes é um crime contra a própria religião” e destacou que, após o sucesso dos diálogos, chegou o tempo para desenvolver atitudes concretas.

O Cardeal reconheceu, contudo, que os tempos são difíceis, todavia exortou aqueles que creem em Deus a serem profetas de esperança a partir de um comportamento coerente com a religião. “Se cristãos e muçulmanos foram capazes de trabalhar juntos no passado e dar origem a civilizações brilhantes, então o que foi feito ontem poderá ser repetido hoje, levando em consideração o decorrer da evolução das sociedades humanas” – concluiu o Cardeal Tauran.

Este encontro de Teerão abordou alguns sub-temas tais como: “Espiritualidade: a sua natureza, papel e significados da sua promoção” e “Os media: o seu papel na promoção de uma cultura de diálogo”.

Uma curiosidade: a Delegação Católica presidida pelo Cardeal Tauran era constituída por doze membros, entre os quais o colega do Programa Árabe da Rádio Vaticano Nagui Rizk.
A 10ª edição deste encontro inter-religioso está já marcada e terá lugar em Roma, em 2016, e será precedida por um encontro preparatório em 2015. (RS)

27 novembro, 2014

Não ceder à depressão perante o mal e viver em esperança – o Papa em Santa Marta



(RV) O Papa Francisco na Missa em Santa Marta exortou os cristãos a não cederem à depressão perante o mal e a viverem em esperança. Nas leituras do dia duas cidades: Babilónia e Jerusalém – por motivos diferentes ambas caíram por não acolherem o Senhor

Mesmo no meio das dificuldades o cristão não cede à depressão. Este foi a mensagem principal da homilia do Papa Francisco na missa celebrada na manhã desta quinta-feira, 27/141, na Casa Santa Marta. Francisco advertiu que a corrupção e a distração afastam-nos do encontro com o Senhor.

Babilónia e Jerusalém: Estas duas cidades, citadas no Apocalipse e no Evangelho de São Lucas, atraem a nossa atenção para o fim deste mundo. O Papa meditou sobre “a ruína destas duas cidades que não acolheram o Senhor”.
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“A corrupção dá alguma felicidade, dá poder e faz-te sentir satisfeito de si mesmo: não deixa espaço para o Senhor, para a conversão... a cidade corrupta... esta palavra, ‘corrupção’, hoje nos diz muito: não só corrupção económica, mas corrupção com muitos pecados: com o espírito pagão, com o espírito mundano. A pior corrupção é o espírito da mundanidade.”
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“Babilónia cai por corrupção; Jerusalém, por distração, por não receber o Senhor que vem salvá-la. Não sentia a necessidade de salvação. Tinha as escrituras dos profetas, de Moisés e isso era-lhe era suficiente. Mas eram escrituras fechadas! Não deixavam lugar para a salvação: tinha a porta fechada para o Senhor! O Senhor batia à porta, mas não havia disponibilidade para recebê-lo, ouvi-lo, deixar-se salvar por Ele. E cai…”
Estes dois exemplos – observou o Santo Padre – “podem-nos ajudar a pensar na nossa vida”: somos parecidos com “a Babilónia corrupta e autossuficiente” ou com “distraída” Jerusalém?
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Jesus exorta-nos a levantar a cabeça, a não deixarmo-nos assustar pelos pagãos. Eles têm o seu tempo e devemos ampará-los com paciência, como fez o Senhor com a sua Paixão”:
“Quando pensamos no fim, com todos os nossos pecados, com toda a nossa história, pensamos no banquete que gratuitamente nos será dado e levantamos a cabeça. Nada de depressão: esperança! Mas a realidade é má: há muitos, muitos povos, cidades e pessoas que sofrem; tantas guerras, tanto ódio, inveja, mundanidade espiritual e corrupção. Sim, é verdade! Tudo isso ruirá! Mas peçamos ao Senhor a graça de estarmos preparados para o banquete que nos espera, com a cabeça sempre erguida”. (RS/BF/CM)

Papa à Família Paulina: gratuidade, comunicação e também testemunhar



(RV) A maior audiência do dia 27 de novembro, quinta-feira teve lugar na Sala Paulo VI que esteve absolutamente repleta de peregrinos da Família Paulina presentes em Roma no âmbito da peregrinação do centenário da Fundação da Sociedade de S. Paulo pelo Beato Giacomo Alberione.

No seu discurso o Papa sublinhou o dom da gratuidade explicando que a gratuidade é amor. Encorajou a Família Paulina a prosseguir no caminho que o Beato Giacomo Alberione abriu sempre olhando para largos horizontes. E invocou todos para a missão:
“Este impulso para as “gentes”, mas também às periferias existenciais, este impulso católico, vós tendes no sangue, no vosso DNA, pelo facto de que o vosso fundador foi inspirado pela figura e pela missão do Apóstolo Paulo.”

O Papa Francisco afirmou ainda que é fundamental na ação de cada um estar sempre bem presente a ideia de favorecer a unidade da Igreja e não os conflitos.

O Santo Padre concluiu a sua breve alocução exortando a Família Paulina a viverem o seu carisma “partindo o Pão da Palavra com linguagens adequadas aos tempos” mas, ao mesmo tempo, o Papa Francisco pediu que sejam também capazes de testemunhar a Palavra nos mais diversos ambientes sociais.

O Papa Francisco recordou ainda, a finalizar, o Ano da Vida Consagrada que está para se iniciar e que, certamente, será uma grande ajuda também para a Família Paulina. (RS)

CHAMASTE-ME, SENHOR?

 
 
Chamaste-me, Senhor?

Pareceu-me ouvir a tua voz
vinda de dentro de mim,
da mente, do coração,
do centro do amor e da paz,
da minha vida,
do meu eu,
onde Tu estás.

Chamaste-me, Senhor?

É que ouvi um sussurro,
num fugidio momento,
um canto, uma melodia,
um suspiro,
parecia levado p’lo vento,
tão repleto de alegria,
que respondo ao chamamento.

Chamaste-me, Senhor?

É que senti no coração
um amor tão grande e puro,
que logo me apercebi,
sendo eu assim tão impuro,
que esse amor feito oração,
só podia vir de Ti.

Chamaste-me, Senhor?

Aqui estou ajoelhado,
esperando que me levantes,
assim por Ti abraçado,
cheio da tua bondade,
abrindo-me todo a Ti,
para fazer a tua vontade.

Chamaste-me, Senhor?

Aqui estou!
Enche-me do teu amor,
e envia-me,
porque por Ti, Senhor,
eu vou!



Marinha Grande, 27 de Novembro de 2014

Joaquim Mexia Alves

Papa: A Igreja mude de mentalidade pastoral e passe do esperar ao procurar



(RV) ma Igreja em saída, samaritana, para encontrar Deus que habita na cidade e nos pobres. Este o fulcro das palavras dirigidas pelo Papa Francisco aos 25 cardeais e bispos que participaram na segunda fase do Congresso internacional da pastoral nas grandes cidades, realizado nos dias passados em Barcelona e que teve a sua conclusão na Basílica da Sagrada Família, obra do grande arquitecto António Gaudí.
O Congresso foi dividido em duas partes, uma realizada de 22 a 24 de Maio e em que tomaram parte peritos em sociologia, pastoral e teologia e outra nos dias 24 e 25 do corrente mês em que participou um importante número de cardeais e arcebispos provenientes de grandes cidades dos cinco continentes e que foram recebidos esta quinta-feira em audiência pelo Papa.
O Papa Francisco já tinha enviado uma mensagem aos congressistas através do arcebispo de Barcelona, Cardeal Lluis Martinez Sistach, pondo em evidência a sua experiência como “pastor na populosa e multicultural cidade de Buenes Aires” e os encontros tidos nos anos passados com os bispos da Argentina. A mensagem reflecte também a sua Exortação “Evangeli Gaudium”.
E ao receber hoje os acima referidos cardeais e arcebispos, o Papa Francisco solicitou uma mudança da mentalidade pastoral a fim de “aumentar a nossa capacidade de dialogar com as diversas culturas”, “valorizar” a religiosidade dos povos, partilhando pão e Evangelho com os mais pobres. Traçando um quadro dos aglomerados urbanos de hoje, o Papa mostrou como é necessário “reposicionar os nossos pensamentos e as nossas atitudes por forma a não “permanecer desorientados”, confundindo também “o povo de Deus”. A proposta do Papa é, portanto, a de “uma verdadeira transformação eclesial em chave missionária:
“Uma mudança de mentalidade: do receber ao sair, do esperar que venham ter connosco ao ir procurá-los. Para mim esta é a chave! Sair para encontrar Deus que habita na cidade e nos pobres. Sair para se encontrar com eles, para ouvir, abençoar, para caminhar com as gentes. E facilitar o encontro com o Senhor. Tornar acessível o sacramento do Baptismo. Igrejas abertas. Secretarias com horários para pessoas que trabalham. Catequeses que se adaptam, no conteúdo e nos horários, às cidades”.
A Igreja – recordou o Papa – Tem “uma prática pastoral secular” em que “era a única referente da cultura” e “sentiu, portanto, a responsabilidade de delinear, e de impôr, não só as formas culturais, mas também valores”. Mas o Papa fez notar que já não estamos nessa época:
Já passou. Já não estamos na cristandade. Hoje já não somos os únicos que produzem cultura, nem os primeiros, nem os mais ouvidos. Temos, portanto, necessidade de uma mudança de mentalidade  pastoral, mas não de uma “pastoral relativista” que querendo estar na “cozinha cultural” perde o horizonte evangélico, deixando o homem confiado a si mesmo e emancipado da mão de Deus
Com este comportamento, não se teria “verdadeiro interesse pelo homem”; esconder-se-lhe-ia “Jesus e a verdade sobre o próprio homem”:
É necessário ter a coragem de fazer uma pastoral evangelizadora audaz e sem temor, porque o homem, a mulher, a família e os vários grupos que habitam a cidade esperam de nós (e têm necessidade dela para a sua vida), a Boa Nova que é Jesus e o seu Evangelho. Muitas vezes oiço dizer que se tem vergonha de expor-se. Devemos trabalhar no sentido de não ter vergonha ou recuo no anunciar Jesus.”
Um diálogo pastoral sem relativismo, explicou o Papa, é aquele que não negocia a própria identidade cristã, mas que deseja chegar ao coração do outro, dos outros diferentes de nós e ali semear o Evangelho”. Sem recusar, portanto, “o contributo das diversas ciências para conhecer o fenómeno urbano”, é preciso descobrir “o fundamento das culturas, sedentas de Deus, na sua profundidade”, conhecendo “os imigrados e as cidades invisíveis, isto é os grupos e os territórios humanos que se identificam nos seus símbolos, linguagens, ritos e formas para contar a vida”. Por outro lado, recordou o Papa, “Deus habita na cidade”: é preciso ir procurá-lo e parar “lá onde Ele está a agir”. O convite é, portanto, no sentido de  “descobrir, na religiosidade dos nossos povos, o autentico substrato religioso, que em muitos casos é cristão e católico”
“Ir para ali, para o núcleo. Não podemos ignorar, nem desprezar tais experiências de Deus que, embora sendo, por vezes, dispersas ou misturadas, pedem para ser descobertas e não construídas. Ali estão as sementes do Verbo semeadas pelo Espírito Santo” .
Mesmo nas expressões de “religiosidade natural” é, portanto, possível começar “o diálogo evangelizador” tal como já aconteceu na Igreja que está na América Latina e nas Caraíbas, que, desde há alguns decénios “deu-se conta da força religiosa, que vem sobretudo das maiorias pobres”:
“Deus continua a falar-nos hoje, como sempre fez, através dos pobres, do “resto”. De forma geral, as grandes cidades são hoje habitadas por numerosos migrantes e pobres, que provêm das zonas rurais, ou doutros continentes, com outras culturas”.
O Papa, que os vê também em Roma, define-os “peregrinos da vida” à procura da salvação, que têm muitas vezes a capacidade de andar para a frente obtendo força apenas da “experiencia simples e profunda da fé em Deus”. O desafio, na óptica do Papa Francisco é duplo:
“Ser acolhedores em relação a pobres e migrantes – de forma geral a cidade não o é, afasta – e valorizar a sua fé. É muito provável que esta fé esteja misturada com elementos do pensamento mágico e imanente, mas devemos procurá-la, valorizá-la, interpretá-la e, seguramente, evangelizá-la também. Mas não tenho dúvidas de que na fé destes homens e mulheres há um potêncial enorme para a evangelização das áreas urbanas”.
A realidade da cidade de que não se pode, portanto, prescindir, é a dos pobres, dos excluídos, dos descartados:
A Igreja não pode ignorar o seu grito, nem entrar no jogo dos sistemas injustos, mesquinhos e interessados que procuram torná-los invisíveis. Tantos pobres, vítimas de antigas e novas pobrezas. Há novas pobrezas! Pobrezas estruturais e endémicas que estão a excluir gerações de famílias. Pobrezas económicas, sociais, morais e espirituais. Pobrezas que marginalizam e descartam pessoas, filhos de Deus. Na cidade, o futuro dos pobres é mais pobre”.
O convite do Papa Francisco – inspirando-se nos ensinos de Bento XVI – é a de “aprender a suscitar a fé”, através da catequese e não só, voltando a suscitar “a curiosidade e o interesse por Jesus Cristo”, mediante uma Igreja samaritana: na pastoral urbana, a qualidade será dada pela capacidade de testemunho que saberá dar, juntamente com cada cristão:
Com o testemunho podemos incidir nos núcleos mais profundos, lá onde nasce a cultura. Através do testemunho, a Igreja semeia o grão de mostarda, mas fá-lo no próprio coração das culturas que se estão a gerar nas cidades
Um testemunho concreto de misericórdia e ternura “que procura estar presente nas periferias existenciais e pobres”, poderá ajudar os cristãos no “construir uma cidade na justiça, na tolerância, e na paz”: para além de ser através duma colaboração com “irmãos de outras Igrejas e comunidades eclesiais” e da pastoral ecuménica caritativa, isto será também mediante o empenho das Caritas e de outras organizações sociais da Igreja, dos mesmos pobres e dos leigos.
“Também a liberdade do leigo. Porque o que nos torna prisioneiros, que não faz abrir as portas de par em par, é uma “a doença do clericalismo”.
(DA con GA)

25 novembro, 2014

Construir uma Europa em torno da pessoa humana, não da economia - Papa no Parlamento Europeu

 

(RV) Foi uma mensagem de esperança e de encorajamento que o Papa Francisco levou aos Parlamentares Europeus.  Pondo em realceb o mundo em mutação, menos eurocêntrico e uma União Europeia cada vez mais alargada, o Papa chamou, no entanto atenção para o envelhecimento deste continente, onde não obstante o projecto inicial de pôr a pessoa humana, dotada de dignidade transcendental, no centro de tudo,  persistem hoje situações em que o ser humano é tratado como objecto que pode ser descartado quando não é útil.

O Papa sublinhou também o paradoxal abuso do conceito de direitos humanos ligado a uma reivindicação cada vez maior dos direitos individuais a despeito da conexão entre direitos e deveres e do contexto social em que as pessoas vivem.

A dignidade transcendente do ser humano leva a ver nele antes de mais um ser relacional. Mas hoje na Europa tende-se a difundir a solidão, agravada pela crise económica e pela falta de confiança nas instituições - afirmou o Papa – acrescentando:

“Tem-se uma impressão geral de cansaço e de envelhecimento, de uma Europa avô que já não é fértil nem vivaz. Os grandes ideais que inspiraram a Europa parecem ter perdido força de atracção em favor do tecnicismo burocrático das instituições”.

Condenando a absolutização das técnicas em relação à afirmação da dignidade e da preciosidade da vida humana, o Papa perguntou-se:

“Como voltar então a dar esperança ao futuro, confiança para continuar os grande ideais da uma Europa unida e de paz, criativa e empreendedora, respeitosa dos direitos e dos próprios deveres?”

O Papa Francisco respondeu a esta pergunta recorrendo a exemplos de arte e filosofia europeias que recordam a união entre Céu e Terra, sublinhando que uma Europa que não é capaz de se abrir à dimensão transcendental da vida é uma Europa que corre o risco de perder, lentamente, o seu “espírito humanístico”, a centralidade da pessoa humana”.

O Papa enalteceu depois o património cristão que contribuiu e continuará a contribuir agora e no futuro para o crescimento sócio-cultural da Europa. E essa contribuição  - disse - não constitui um perigo para a laicidade dos Estados e para a independência das instituições da União. É sim um enriquecimento centrado no principio do humanismo, do respeito da dignidade da pessoa humana.

A Santa Sé está disposta a colaborar – através da COMECE, ao diálogo transparente e profícuo com as instituições europeias -  prosseguiu o Papa recordando as numerosas injustiças e as violências barbáricas cometidas em relação a minorias religiosas, sobretudo cristãs, no mundo, perante o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.

Recordando que o mote da União Europeia é a “unidade na diversidade” o Papa apelou ao respeito das diferenças, evitando uniformidade, o nominalismo politico, e liberando a Europa de manipulações e fobias. Mas não é tudo:

O desafio de reforçar as democracias europeias implica também a defesa das força politicas expressivas dos povos da Europa. Dar esperança à Europa significa investir nos âmbitos em que se formam os talentos das pessoas; criar condições favoráveis para a vida familiar; dar perspectivas às novas gerações; ao desenvolvimento; à educação a todos os níveis, uma formação que leve a olhar para o futuro com esperança.

O Papa não deixou de referir-se também à importância do empenho em relação ao ambiente e à protecção do Criado, utilizando-o para o bem comum. Recordando que o ser humano é parte fundamental do Criado, o Papa chamou mais uma vez atenção para o facto de milhões de pessoas morrerem de fome no mundo, enquanto que toneladas de comida são deitadas fora.

De entre os elementos indispensáveis para dar esperança à Europa, o Papa indicou também a questão do trabalho, voltando a sublinhar com força a urgência de dar dignidade ao trabalho, o que significa – disse – encontrar novas formas de combinar a flexibilidade do mercado com a garantia do trabalho e a possibilidade de construir família.

Não ficou de lado no intenso discurso do Papa a questão das migrações. Não é tolerável que o Mar Mediterrâneo se torne num cemitério  - disse – solicitando legislações adequadas que saibam ao mesmo tempo tutelar os direitos dos cidadãos europeus e garantir o acolhimento dos migrantes. Mas é necessário também adoptar políticas concretas que ajudem os países de origem dos migrantes no desenvolvimento sócio-politico e na superação de conflitos internos, em vez de politicas de interesse que aumentam e alimentam tais conflitos.

Por fim o Papa Francisco sublinhou o papel da consciência da própria identidade num diálogo propositivo com os Estados que pediram para fazer parte da União Europeia, nomeadamente os países balcânicos; nas relações com os países vizinhos, de modo particular os que se debruçam sobre o Mediterrâneo.

E foi pela história de dois milénios que liga a Europa ao cristianismo que o Papa concluiu o seu discurso, recordando que essa história resta em grande parte por escrever a fim de se construir uma Europa que gira não em torno da economia, mas sim da sacralidade da pessoa humana e dos seus valores inalienáveis.

Chegou o momento de abandonar a ideia de uma Europa amedrontada e debruçada sobre si mesma para suscitar uma Europa protagonista, portadora de ciência, de arte, de música, de valores humanos e também de fé; uma Europa que olha, defende e tutela a pessoa humana.

A semana do Papa de 17 a 23 de novembro

Dia 17

O Papa Francisco recebeu em audiência, na manhã de segunda-feira, dia 17 de novembro, os bispos da Zâmbia que vieram a Roma em visita “ad limina apostolorum” . No seu discurso de destacar o encorajamento que o Papa Francisco deu aos bispos zambianos para ajudarem as famílias cristãs, para que amem as verdades da fé mais profundamente, protegendo-se assim daquelas correntes que as podem destruir.
Na segunda-feira 17 o Papa Francisco confirmou a sua presença no Encontro Mundial da Família. Foi no âmbito da 1ª sessão do Simpósio Inter-religioso internacional subordinado ao tema “A complementaridade entre homem e mulher” promovido pela Congregação para a Doutrina da Fé.

Dia 18

A conversão é certa quando chega ao bolso – esta a forte mensagem do Papa Francisco na manhã de terça-feira, dia 18 de novembro. Na sua homilia na missa na Casa Santa Marta, o Santo Padre destacou que os cristãos devem sempre atender ao chamamento de Jesus à conversão, para não passarem de pecadores a corruptos.

“A conversão é uma graça, é uma visita de Deus”, disse o Papa meditando sobre a liturgia do dia, extraída do Livro do Apocalipse de S. João e do encontro de Jesus com Zaqueu.

“Era um como muitos dirigentes que nós conhecemos: corruptos. Esses que, em vez de servirem o povo, exploravam-no para servirem-se a si mesmos. Existem alguns assim no mundo. E as pessoas não o queriam. Não era morno; não estava morto. Estava em estado de putrefação. Corrupto, justamente. Mas sentiu algo dentro: ‘este profeta que dizem que fala tão bem, eu gostaria de encontrá-lo, por curiosidade’. O Espírito Santo é sagaz! E semeou a semente da curiosidade, e aquele homem para vê-lo comporta-se de maneira um pouco ridícula. Pensem num dirigente importante, e também corrupto, um chefe dos dirigentes, mas sobe numa árvore para observar uma procissão: pensem nisso. Que ridículo!”

Zaqueu queria ver Jesus pois “dentro dele trabalhava o Espirito Santo”. E depois “a Palavra de Deus entrou naquele coração e, com a Palavra, entrou a alegria”. “Os da comodidade e da aparência – disse o Papa – tinham esquecido o que era a alegria; e este corrupto recebe-a imediatamente, “o coração muda, converte-se”. E é assim que Zaqueu promete devolver quatro vezes o que roubou:

“Quando a conversão chega até ao bolso, é certa. Cristãos de coração? Sim, todos. Cristãos de alma? Todos. Mas cristãos de bolso, poucos! Poucos. Mas, a conversão … e aqui chegou logo: a palavra autêntica. Converteu-se. Mas diante desta palavra, havia outra, a dos que não queriam a conversão, que não se queriam converter: ‘Vendo isso, murmuravam: ‘Entrou na casa de um pecador!’: sujou-se, perdeu a pureza. Deve purificar-se porque entrou na casa de um pecador’”.

Dia 19

Quarta-feira, 19 de novembro manhã de sol em Roma. Na Praça de S. Pedro largos milhares de peregrinos acolheram o Papa Francisco para a tradicional Audiência Geral. Na sua catequese o Santo Padre falou sobre a vocação à santidade.

No final da audiência o Papa Francisco fez dois apelos importantes. O primeiro dirigido aos recentes acontecimentos de violência em Jerusalém. O outro apelo foi para a oração pelas comunidades religiosas de clausura por ocasião da Memória Litúrgica da Apresentação de Maria Santíssima no Templo que se celebrou na sexta-feira, 21 de novembro.

Dia 20

Jesus chora quando o nosso coração se fecha às suas surpresas – esta a principal mensagem do Papa Francisco na missa em Santa Marta na quinta-feira dia 20 de novembro.

No Evangelho do dia proposto por S. Lucas encontramos Jesus que chora sobre a cidade de Jerusalém. O Papa Francisco referiu-se ao fechamento do coração da cidade eleita. Segundo o Santo Padre estava satisfeita de si mesma, contente e tranquila, não precisava do Senhor. Não tinha percebido que precisava de salvação.

 “Jerusalém era tranquila, feliz - continuou o Papa - o templo funcionava. Os sacerdotes faziam os sacrifícios, as pessoas vinham em peregrinação, os doutores da lei tinham organizado tudo! Tudo claro! Todos os mandamentos claros... Mesmo com tudo isso Jerusalém tinha a porta fechada”. A cruz, “preço daquela rejeição” - observa o Papa - mostra-nos o amor de Jesus, o que o leva a “chorar também hoje - tantas vezes - pela sua Igreja”.

“Eu me pergunto-me: hoje nós cristãos, que conhecemos a fé, o catecismo, que vamos à missa todos os domingos, nós cristãos, nós pastores estamos felizes de nós mesmos? Porque temos tudo resolvido e não precisamos de novas visitas do Senhor... E o Senhor continua a bater à porta de cada um de nós e da sua Igreja, dos pastores da Igreja. Sim, a porta do nosso coração, da Igreja, dos pastores não se abre: o Senhor chora, também hoje”.

Também na quinta-feira dia 20 o Papa Francisco visitou a Sede da FAO em Roma onde decorreu a 2ª Conferência Internacional sobre desnutrição. No seu discurso o Santo Padre falou sobre a luta contra a fome e a desnutrição que é dificultada pela «prioridade do mercado» e pela «proeminência da ganância», que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer, sujeita à especulação, inclusive financeira. E enquanto se fala de novos direitos – continuou o Papa Francisco – o faminto está aí, na esquina da rua, e pede um documento de identidade, quer ser considerado na sua condição, receber uma alimentação de base saudável. Pede-nos dignidade e não esmola – reiterou o Papa Francisco.

Dia 21

O Papa Francisco recebeu na sexta-feira dia 21 os participantes ao VII Congresso Mundial da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, acompanhados pelo Cardeal Antonio Maria Vegliò. No seu discurso, aos presentes, o Papa Francisco exprimiu os seus sinceros sentimentos de apreço e de gratidão pelo serviço e solicitude que dispensam aos homens, mulheres e crianças, que, também nos nossos dias, empreendem a “viagem da esperança” pelas estradas da emigração.

Também na sexta-feira foi dada a conhecer a mensagem do Papa Francisco aos participantes no Festival da Doutrina Social que decorreu em Verona sob o tema "Para além dos lugares dentro do tempo". Não desanimar perante a crise, mas  libertar energias para repensar a economia e o mundo do trabalho. O Santo Padre na sua mensagem sublinhou que o verdadeiro problema não é o dinheiro, mas as pessoas, e dirigiu um pensamento particular aos muitos jovens que vivem o drama do desemprego.

Na missa em Santa Marta no dia 21 o Santo Padre afirmou que “a Igreja nunca seja um comércio, a redenção de Cristo é gratuita”. Na sua breve reflexão, o Papa sublinhou a passagem evangélica na qual Jesus expulsa os vendilhões do Templo.

“Porque a redenção é gratuita; Ele vem trazer a gratuidade de Deus, a gratuidade total do amor de Deus. E quando a Igreja ou as Igrejas se tornam comércio, diz-se que ..., não é tão gratuita, a salvação... É por isso que Jesus pega o chicote na mão para fazer este rito de purificação no Templo. Hoje a liturgia celebra a Apresentação de Nossa Senhora no Templo: da menina... Uma mulher simples, como Ana que está naquele momento, e entra Nossa Senhora. Que ela ensine a todos nós, a todos os pastores, a todos aqueles que têm responsabilidades pastorais, a manter limpo o Templo, para receber com amor os que vêm, como se cada um deles fosse Nossa Senhora".

Dia 22

No final da manhã deste sábado dia 22 de novembro o Papa Francisco encontrou-se na Sala Paulo VI com os agentes da pastoral da saúde que estão reunidos em Roma no âmbito da 29ª Conferência Internacional. Este ano esta conferência tem como temática  o problema do autismo.

Em concreto sobre esta doença o Papa Francisco afirmou que:

“É necessário o empenho de todos para promover o acolhimento, o encontro, a solidariedade, numa concreta obra de apoio e de renovada promoção da esperança, contribuindo em tal modo a romper o isolamento e, em muitos casos, também o estigma que afetam sobre as pessoas que sofrem de disturbios do tipo autístico, como frequentemente também sobre as suas famílias.”

O Santo Padre concluiu a sua breve intervenção saudando o empenho e o testemunho de todos e encorajando a investigação de novas terapias e instrumentos de ajuda para este problema do autismo.

Dia 23

Papa Francisco celebrou na manhã deste domingo, dia 23 na Praça de S. Pedro a Santa Missa por ocasião da solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo e durante a qual procedeu à canonização dos seguintes Beatos: Giovanni Antonio Farina (italiano), Kuriakose Elias Chavara (Indiano) da Sagrada Família; Ludovico Casoria italiano; Nicola Longobardi, italiano; Eufrasia Eluvathingal do sagrado Coração, indiana e Amato Ronconi, italiano.

 Na homilia o Papa Francisco afirmou que o Evangelho recorda-nos hoje que “a proximidade e a ternura são as regras de vida também para nós e é sobre isso que seremos julgados”.

No final da celebração eucarística em que o Santo Padre canonizou quatro italianos e dois indianos, o Papa Francisco, durante a Oração do Angelus, saudou todos que estiveram na Praça São Pedro para prestar a sua homenagem aos novos santos. Em modo particular, às delegações oficiais da Índia e da própria Itália, país ao qual fez uma menção especial a exemplo dos quatro Santos italianos, nascidos nas províncias de Vicenza, Napoli, Cosenza e Rimini.

E com o Angelus deste domingo terminamos esta síntese das principais atividades do Santo Padre que foram notícia de 17a 23 de novembro. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua portuguesa. (RS)

RV