30 junho, 2014

«E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?»

 
 
 
«E vós, quem dizeis que Eu sou?» Mt 16,13

A esta pergunta de Jesus, respondemos nós também: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» Mt 16,16 ?

E, se respondemos assim, porque o fazemos nós?
Porque tal nos foi ensinado pelos nossos pais, na catequese, na Bíblia, nos livros que lemos, no conhecimento que procurámos, na inteligência que nos foi dada, na emoção do coração?

Se assim for, ainda bem, mas é pouco, muito pouco, pois precisaríamos de fazer tal afirmação «porque não foi a carne nem o sangue que no-lo revelou, mas o Pai que está no Céu.» Mt 16,17

Ou seja, essa resposta à pergunta, essa afirmação sobre Jesus Cristo, precisa de vir em primeiro lugar da fé, do acreditar, porque se assim for parte de uma relação pessoal com Deus, de um encontro pessoal com Cristo, de uma entrega ao Espírito Santo que nos revela essa Verdade.

Se assim for, então tudo aquilo que nos foi ensinado pelos nossos pais, na catequese, na Bíblia, nos livros que lemos, no conhecimento que procurámos, na inteligência que nos foi dada, na emoção do coração, se transforma numa vivência diária e coerente da fé, num viver por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Então também Jesus Cristo responderá ao coração de cada um: «És feliz, Joaquim, Maria, João, Rita ... filhos de Deus!» Mt 16,17



Marinha Grande, 30 de Junho de 2014
Joaquim Mexia Alves

Há mais cristãos perseguidos hoje do que nos primeiros séculos – o Papa na Missa em Santa Marta

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(RV) Há mais cristãos perseguidos hoje do que nos primeiros séculos – esta a principal mensagem do Papa Francisco na Missa em Santa Marta na manhã desta segunda-feira, 30 de junho, dia em que se faz memória dos Mártires da Igreja Romana, cruelmente assassinados no ano 64 na colina do Vaticano por ordem do Imperador Nero após do incêndio de Roma.
O Papa Francisco chamou a atenção para o testemunho dos cristãos especialmente dos mártires, afirmando que é assim que se faz a Igreja deixando germinar o Espírito:

“Sabemos que não há crescimento sem o Espírito: é Ele que faz a Igreja, é Ele que faz crescer a Igreja, é Ele que convoca a comunidade da Igreja. Mas também é necessário o testemunho dos cristãos. E quando o testemunho chega ao fim, quando as circunstâncias históricas pedem-nos um testemunho forte, ali estão os mártires, as maiores testemunhas. E aquela Igreja é regada pelo sangue dos mártires. E esta é a beleza do martírio. Começa com o testemunho, dia após dia e pode acabar como Jesus, o primeiro mártir, a primeira testemunha, a testemunha fiel: com o sangue.”

O Papa Francisco ao recordar na sua homilia os mártires dos primeiros séculos, não deixou de salientar os mártires de hoje que, segundo o Santo Padre, são mais do que aqueles das primeiras comunidades:

“Hoje há tantos mártires na Igreja, tantos cristãos perseguidos. Pensemos no Médio Oriente, cristãos que têm que fugir das perseguições, cristãos assassinados pelos seus perseguidores. Também os cristãos mandados embora em modo elegante, com luvas brancas: também isto é uma perseguição. Hoje há mais testemunhas, mais mártires na Igreja do que nos primeiros séculos. E nesta Missa, fazendo memória dos nossos gloriosos antepassados, aqui em Roma, pensemos também nos nossos irmãos que vivem perseguidos, que sofrem e que com o seu sangue fazem crescer a semente de tantas Igrejas pequeninas que nascem. Rezemos por eles e também por nós.” (RS)

29 junho, 2014

Irmãos bispos, de que temos nós medo? Porquê? Onde pomos a nossa segurança? - Papa, na Missa de São Pedro e São Paulo, confere o pálio a 24 arcebispos metropolitas

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(RV) O Papa Francisco preside na manhã deste domingo 29 de junho, na basílica de São Pedro, à Missa da solenidade de São Pedro e São Paulo, com a imposição a 24 arcebispos provenientes de todo o mundo do “pálio”, insígnia litúrgica símbolo da respetiva dignidade e jurisdição, a exercer em comunhão com o Papa e a Igreja de Roma. A celebração teve início às 9h30.
Segundo a tradição, está presente uma Delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. Também o Patriarcado de Moscovo está de algum modo representado pelo respetivo Coro Sinodal, que neste sábado à tarde, na Capela Sistina, animou um concerto espiritual, conjuntamente com o coro da Capela Sistina, que colabora também na celebração deste domingo.
Na homilia, partindo da primeira Leitura, dos Atos dos Apóstolos, que refere a experiência de Pedro, libertado da cadeia por intervenção do Senhor, o Papa Francisco insistiu na questão do medo e na busca de refúgios e protecções.

Pedro verifica que lhe caiem as cadeias que o prendiam e que a porta da prisão se abre sozinha. Pedro dá-se conta de que o Senhor o «arrancou das mãos de Herodes».
dá-se conta de que Deus o libertou do medo e das cadeias. Sim, o Senhor liberta-nos de todo o medo e de todas as cadeias, para podermos ser verdadeiramente livres.

Este facto – comentou o Papa - aparece bem expresso nas palavras do refrão do Salmo Responsorial: «O Senhor libertou-me de todos os medos».

Aqui está um problema que nos toca: o problema do medo e dos refúgios pastorais. Pergunto-me: Nós, amados Irmãos Bispos, temos medo? De que é que temos medo? E, se o temos, que refúgios procuramos, na nossa vida pastoral, para nos pormos a seguro?
Procuramos porventura o apoio daqueles que têm poder neste mundo? – interrogou-se o Papa. Ou deixamo-nos enganar pelo orgulho que procura compensações e agradecimentos, parecendo-nos estar seguros com isso?

Caros irmãos bispos: Onde pomos a nossa segurança? O testemunho do apóstolo Pedro lembra-nos que o nosso verdadeiro refúgio é a confiança em Deus: esta afasta todo o medo e torna-nos livres de toda a escravidão e de qualquer tentação mundana.

O exemplo de São Pedro desafia-nos a verificar a nossa confiança no Senhor – observou o Papa, que prosseguiu comentando o Evangelho segundo S. João em que Jesus por três vezes interpela o primeiro dos Apóstolos perguntando-lhe se o ama deveras. E confirma-o na missão de pastor do seu rebanho.

E aqui desaparece o medo, a insegurança, a covardia. Pedro experimentou que a fidelidade de Deus é maior do que as nossas infidelidades, e mais forte do que as nossas negações. Dá-se conta de que a fidelidade do Senhor afasta os nossos medos e ultrapassa toda a imaginação humana.

Jesus conhece os nossos medos e as nossas fadigas – prosseguiu o Papa. E é por isso que também a nós pergunta se o amamos mesmo. E Pedro indica-nos o caminho: fiarmo-nos d’Ele, que «sabe tudo» de nós, confiando, não na nossa capacidade de Lhe ser fiel, mas na sua inabalável fidelidade.

Jesus nunca nos abandona, porque não pode negar-Se a Si mesmo. Ele é fiel. A fidelidade que Deus, sem cessar, nos confirma também a nós, Pastores, independentemente dos nossos méritos, é a fonte de nossa confiança e da nossa paz.
A concluir, o Santo Padre comentou ainda o final do episódio do evangelho. Perante a pergunta de Pedro sobre o que vai ser de João, Jesus responde simplesmente: “Que tens tu a ver com isso. Segue-me!”

Esta experiência de Pedro encerra uma mensagem importante também para nós, amados irmãos Arcebispos. Hoje, o Senhor repete a mim, a vós e a todos os Pastores: Segue-Me! Não percas tempo em questões ou conversas inúteis; não te detenhas nas coisas secundárias, mas fixa-te no essencial e segue-Me.
(Texto completo da homilia na secção Mensagens e Documentos)

Na oração dos fiéis, a assembleia rezou-se em diversas línguas por variadas intenções: pela Igreja assente na rocha de Pedro (em russo), pelos novos arcebispos metropolitas (português), por todos os povos da terra e seus governantes (chinês), pelas pessoas pobres, solitárias ou idosas (francês) e pelos cristãos em geral (em língua iorubá, que se fala numa parte da Nigéria).

A bênção e imposição do pálio, faixa de lã branca com seis cruzes pretas de seda, teve lugar logo no princípio da celebração. Cada arcebispo, nomeado nos últimos 12 meses, profere um juramento no qual se compromete a ser “sempre fiel e obediente” à Igreja Católica, ao Papa e aos seus sucessores. Dos 24 arcebispos que receberam do Papa o pálio, os únicos lusófonos eram dois brasileiros. Quatro os arcebispos africanos presentes desta vez em São Pedro, provenientes da Nigéria, Malawi, Madagáscar e Tanzânia. Outros três arcebispos vão receber a insígnia nas suas respetivas sedes episcopais, por não se poderem deslocar ao Vaticano. O pálio é feito com a lã de dois cordeiros brancos benzidos pelo Papa na memória litúrgica de Santa Inês, a 21 de janeiro, todos os anos.

Preocupação do Papa e apelo sobre o Iraque. Manter a unidade e evitar a guerra! O diálogo é a única via para a paz! - Papa Francisco, ao Angelus

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(RV) Na alocução do meio-dia, falando à multidão congregada na Praça de São Pedro para a oração mariana do Angelus, o Santo Padre exprimiu toda a sua preocupação pelas notícias “muito dolorosas” – disse – que provêm do Iraque:


Uno-me aos bispos do país dirigindo um apelo aos governantes, para que, através do diálogo, possam preservar a unidade nacional e evitar a guerra. Estou próximo dos milhares de famílias, sobretudo cristãs, que tiveram que deixar as suas casas e que estão em grave perigo. A violência gera outra violência. O diálogo é a única via para a paz.
Rezemos a Nossa Senhora...

Na alocução inicial o Papa lembrou que Roma celebra hoje a festa dos seus santos patronos:

Desde os tempos antigos que a Igreja de Roma celebra os Apóstolos Pedro e Paulo, numa única festa no mesmo dia, 29 de junho.
A fé em Jesus Cristo tornou-os irmãos e o martírio fez deles uma só coisa – prosseguiu o Papa. São Pedro e São Paulo, tão diferentes entre si no plano humano, foram escolhidos pessoalmente pelo Senhor Jesus e responderam à chamada oferecendo toda a sua vida. Num e noutro a graça de Deus realizou grandes coisas, transformou-os. (…) Tornaram-se assim amigos e apóstolos de Cristo. Por isso continuam a falar à Igreja e ainda hoje nos indicam a estrada da salvação.

Caros irmãos e irmãs, esta festa suscita em nós uma grande alegria, porque nos coloca perante a obra da misericórdia de Deus no coração de dois homens, de dois pecadores. E Deus quer cumular-nos também a nós com a sua graça, como fez com Pedro e Paulo. Que a Virgem Maria nos ajude a acolhê-la como eles, de coração aberto, para a não receber em vão!

28 junho, 2014

Papa retoma atividades neste sábado. Destaque para os encontros com a Delegação do Patriarcado de Constantinopla e com o Presidente do Madagascar

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(RV) O Papa Francisco retomou a sua atividade normal na manhã deste sábado recebendo em audiência logo pela manhã o Cardeal Marc Ouellet, Prefeito para a Congregação dos Bispos e de seguida o Presidente da República de Madagáscar Hery Rajaonarimampianina (segunda foto). No final da manhã recebeu em audiência D. Zygmunt Zimowski, Presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde.

Entretanto a meio da manhã destaque para o encontro com uma Delegação Ecuménica do Patriarcado de Constantinopla (foto) por ocasião da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo que se celebra neste domingo. A esta festa litúrgica se referiu o Papa Francisco nas palavras que lhes dirigiu, agradecendo, desde logo, ao Patriarca Bartolomeu o envio desta delegação.

O Santo Padre aproveitou, assim, a oportunidade para recordar a recente viagem e encontro na Terra Santa com o Patriarca de Constantinopla que, nas palavras do Papa, foram um dom especial ter venerado, juntamente com Bartolomeu I, aqueles lugares santos, nomeadamente o Sepulcro de Cristo. O Papa Francisco recordou também a jornada vivida no passado dia 8 de junho no Vaticano com a invocação pela paz na Terra Santa acompanhados pelos presidentes israelita e palestiniano.

O Papa Francisco referiu-se ainda ao dom da unidade afirmando que:

“... se aprendermos, guiados pelo Espírito Santo, a olharmo-nos sempre uns aos outros em Deus, será ainda mais expedito o nosso caminho e mais ágil a colaboração em tantos campos da vida quotidiana que já agora felizmente nos unem.”

O Santo Padre sublinhou, assim, confiar no trabalho da Comissão Mista Internacional para que seja:

“... expressão desta compreensão profunda, desta teologia feita de joelhos.” Temos todos necessidade de abrirmo-nos com coragem e confiança à ação do Espírito Santo, deixando-nos envolver no olhar de Cristo sobre a Igreja sua esposa, no caminho deste ecumenismo espiritual reforçado pelo martírio de tantos nossos irmãos que, confessando Jesus Cristo, realizaram o ecumenismo de sangue.”

A mensagem tweet do Papa neste sábado diz-nos o seguinte:

Ser amigo de Deus significa rezar com simplicidade, como um filho fala com seus os pais. (RS)

“Especulações sem fundamento” – P. Lombardi sobre a saúde do Papa em entrevista à redacção brasileira da RV

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(RV) “Especulações completamente sem fundamento” – foi assim que o Padre Federico Lombardi, Director da Rádio Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé, respondeu às notícias publicadas recentemente pela imprensa de que o Papa Francisco estaria doente depois de cancelar ou reduzir alguns compromissos da sua agenda. Foi numa entrevista ao programa brasileiro da Rádio Vaticano conduzida por Silvonei José:

“São especulações completamente sem fundamento. Em parte, essas especulações se devem ao facto que publicamos qual é a actividade do Papa durante o período de verão europeu, portanto, a redução de seus compromissos habituais neste período. Isso significa que não haverá as audiências gerais do mês de Julho e as missas na Casa Santa Marta nos meses de Julho e agosto. Isso foi interpretado por alguns como redução dos compromissos por motivo de saúde. Isso é absolutamente desprovido de razão, porque é exactamente a mesma coisa que se fez no ano passado. Então isso é normal, não há nenhum motivo particular de saúde do Papa. Uma redução dos compromissos do Papa é também uma redução do trabalho de seus colaboradores. O Papa não está sozinho no Vaticano ou na Igreja: toda iniciativa do Papa envolve muitas pessoas que trabalham em função dos compromissos do Santo Padre. O Papa sabe que também essas pessoas precisam repousar de vez em quando. O Papa e seus colaboradores devem ter um ritmo humano de trabalho. É justo que, durante o período de verão, haja uma redução dos compromissos. É algo absolutamente normal e não há nenhum motivo de saúde. Agora, sabemos que está sendo preparada uma nova Encíclica, da qual falou, sobre a protecção da criação, sobre a ecologia. Há inúmeros empenhos importantes do Papa para o próximo outono, há o Sínodo sobre a Família, outras viagens. Há pouco anunciou a viagem à Albânia. Depois há viagem à Ásia e assim por diante. Os compromissos são numerosos e também a preparação para esses empenhos requer concentração e tempo.”

“Não cabe a nós fazer a agenda do Papa e ditar quais trabalhos que ele tem que fazer. O Papa certamente é muito activo, prepara documentos, faz reflexões. Não há as grandes audiências na Praça no mês de Julho, porém o Papa igualmente trabalha, reza, estuda, escreve e encontra pessoas como faz habitualmente. Gostaria de acrescentar outra pequena consideração: houve dias em que o Papa suspendeu algumas audiências previstas e as adiou para outro momento. Isso aconteceu porque havia naquele dia um motivo para descansar um pouco, devido a uma leve indisposição ou outra razão. Também isso deve ser considerado absolutamente normal para uma pessoa que tem um ritmo de actividade incrível, como o Papa tem, que trabalha de manhã, à tarde, quase sempre sem interrupção. Se ele tivesse uma actividade muito mais reduzida, isso não aconteceria. Mas ao invés, como sabemos, tem uma actividade realmente muito intensa. Ele não tem uma enfermidade; caso contrário, absolutamente não seria capaz de fazer tudo o que ele faz.”

Nesta entrevista à redacção brasileira da Rádio Vaticano o Padre Lombardi salientou não existirem elementos que nos possam dar a ideia de estarmos perante uma pessoa cansada ou doente. Pelo contrário o Papa Francisco tem uma intensidade da sua actividade e da criatividade impressionantes – declarou o Padre Lombardi na conclusão desta entrevista:

“É verdadeiramente impressionante a intensidade da sua actividade e da criatividade. A contínua produção de novas ideias, a vivacidade com que vive a relação com as pessoas que encontra... Não existem absolutamente elementos que dêem a ideia de uma pessoa cansada ou doente. Estamos diante de uma pessoa que nos impressiona continuamente pela intensidade de seus compromissos, da sua vida, da sua vivacidade espiritual.” (RS/SJ)

27 junho, 2014

Deus, Pai terno que nos ama e leva pela mão – o Papa em Santa Marta nesta sexta-feira

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(RV) No dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus o Papa Francisco em Santa Marta afirmou que Deus é um Pai que nos ama ternamente. Ele dá-nos a graça e a alegria de celebrarmos no coração do Seu Filho as grandes obras do seu amor. E na sua meditação o Santo Padre salientou dois traços característicos do amor:

“Há dois traços do amor. Primeiro, o amor está mais no dar que no receber. O segundo traço: o amor está mais nas obras do que nas palavras. Quando nós dizemos que é mais no dar que no receber, é que o amor comunica-se: sempre se comunica. E é recebido pelo amado. E quando dizemos que é mais nas obras do que nas palavras, o amor sempre dá vida, faz crescer.”

Segundo o Papa Francisco aquilo que Deus procura no homem é uma relação de um pai para com a sua criança, acariciando-a e dizendo-lhe com ternura “eu estou contigo”:

“Esta é a ternura do Senhor, no seu amor; isto é aquilo que Ele nos comunica e nos dá força à nossa ternura. Mas se nós nos sentimos fortes, nunca teremos a experiência do carinho do Senhor e as Suas carícias são tão belas.. ‘Não temas, eu estou contigo, eu levo-te pela mão...’ São todas palavras do Senhor que nos fazem entender aquele misterioso amor que Ele tem por nós. E quando Jesus fala de si próprio diz: ‘Eu sou manso e humilde de coração’. Também Ele, o Filho de Deus, baixa-se para receber o amor do Pai.”

O Papa Francisco concluiu a sua homilia afirmando que Deus nos leva pela mão nos caminhos da vida, Ele está sempre presente antes de nós e à nossa frente, pois sempre nos espera:

“Quando nós chegamos, Ele está. Quando nós procuramos, Ele procurou-nos antes. Ele está sempre à nossa frente, espera-nos para nos receber no seu coração, no seu amor. E estas duas coisas podem ajudar-nos a perceber este mistério do amor de Deus connosco. Para exprimir-se tem necessidade da nossa pequenez, do nosso baixarmo-nos. E também tem necessidade da nossa admiração quando procuramos e encontramo-Lo alí que nos espera.” (RS)

26 junho, 2014

DIÁLOGO COM O DIABO (10)

 
 
Diz ele: Vês, passas a vida a rezar pela paz no mundo e as guerras continuam.

Digo eu: As guerras são feitas pelos homens, não são feitas por Deus.

Diz ele: Pois, mas Ele podia interferir e obrigar os homens a viverem em paz.

Digo eu: Isso de obrigar é mais contigo! Deus criou-nos em liberdade porque nos ama.

Diz ele: Mas essa liberdade faz com que muitos de vós se afastem d’Ele.

Digo eu: Percebo-te! Uma das coisas que muito te irrita é a nossa capacidade de escolha em liberdade. É a tal “imagem e semelhança” de Deus que tanto te incomoda.

Diz ele: Ah, ah, mesmo assim faço cair tantos!

Digo eu: Farás mesmo? A multidão dos que se salvam é incomparavelmente maior do que alguns que se perdem.

Diz ele: Isso julgas tu!

Digo eu: Não julgo, tenho a certeza! É que amor de Deus é incomparavelmente maior do que o teu ódio. Ao rezar pela paz no mundo, rezo por aqueles que morrem, para que tenham tempo de se afastarem do teu ódio e receberem do amor de Deus.


Monte Real, 26 de Junho de 2014
Joaquim Mexia Alves
 
Série constante na faixa lateral deste blog, em "Pesquisa rápida" - "DIÁLOGO" COM O DIABO 

Apresentado Documento de trabalho para o Sínodo de Outubro sobre "Os desafios pastorais da família"


(RV) “A família é um elemento essencial para todo e qualquer progresso humano e social sustentável.” – esta a mensagem tweet do Papa Francisco, neste dia em que foi divulgado o texto preparatório – o chamado “Instrumento de trabalho” - do Sínodo extraordinário de outubro próximo que terá como tema “Os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização”. Numa conferência de imprensa, hoje ao meio-dia, foi apresentado este texto, divulgado nas seis línguas oficiais do Sínodo: alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português.
O Evangelho da família; as situações familiares difíceis; a educação para a vida e na fé no núcleo familiar: são as três áreas em que se desenvolve o Instrumentum Laboris. O documento contém e sintetiza as respostas ao questionário sobre os temas do matrimónio e da família, contido no Documento preparatório ao Sínodo, publicado em Novembro de 2013.

A primeira parte - "Comunicar o Evangelho da família hoje" – reitera antes de tudo o "dado bíblico" da família, baseada no matrimónio entre homem e mulher, criados à imagem e semelhança de Deus e colaboradores do Senhor no acolhimento e transmissão da vida.

Uma reflexão específica é dedicada à dificuldade de compreender o significado e o valor da "lei natural", colocada na base da dimensão esponsal entre o homem e a mulher. Para muitos, "natural" é sinónimo de "espontâneo", o que comporta que os direitos humanos são entendidos como a autodeterminação do sujeito individual que tende à realização dos próprios desejos.

Um outro grande desafio indicado pelo texto agora divulgado é a privatização da família, que já não é entendida como um elemento activo da sociedade e a sua célula fundamental. Por esta razão, é necessário que os núcleos familiares sejam tutelados pelo Estado e recuperem o seu papel de sujeitos sociais nos diferentes contextos: trabalho, educação, saúde, defesa da vida.

A segunda parte do Instrumento de Trabalho - "A pastoral da família diante dos novos desafios" - depois de ter recordado a importância da preparação para o matrimónio, da promoção da piedade popular em apoio à família e de uma espiritualidade familiar autenticamente missionária e não demasiado auto-referencial, chega ao coração dos desafios pastorais de hoje.
São muitas as situações críticas que a família deve enfrentar hoje: fraqueza da figura paterna, fragmentação devida a divórcios e separações, violências e abusos contra as mulheres e crianças ("um dado realmente muito preocupante que interroga toda a sociedade e a pastoral familiar da Igreja"), tráfico de menores, drogas, alcoolismo, dependência do jogo a dinheiro e também a dependência das redes sociais que impede o diálogo em família e rouba o tempo livre para as relações interpessoais.

O documento sinodal destaca também o impacto do trabalho sobre a vida familiar: horários extenuantes, insegurança no emprego, flexibilidade que envolve longos trajectos, ausência do repouso dominical dificultam a possibilidade de estar juntos, em família.

O documento enfrenta, depois, as situações pastorais difíceis e sublinha que a coabitação e as uniões de facto são muitas vezes devidas a uma deficiência de formação sobre o matrimónio, a percepção do amor apenas como "um facto privado", o medo do empenho conjugal entendido como perda da liberdade individual.

O documento dedica também uma grande parte às "situações de irregularidade canónica", porque as respostas recebidas estão sobretudo focalizadas nos divorciados e casados novamente. Em geral, põe-se em destaque o número consistente daqueles que vivem com "negligência" de tal condição e não pedem, portanto, para se aproximarem da Eucaristia e da reconciliação.
Em certos casos, algumas Conferências episcopais pedem novos instrumentos para abrir a possibilidade de exercer "misericórdia, clemência e indulgência" para com as novas uniões.

O Instrumentum mostra que, para as situações difíceis que a Igreja não deve assumir uma atitude de juiz que condena, mas a de uma mãe que sempre acolhe os seus filhos, sublinhando que "não aceder aos sacramentos não significa ser excluído da vida cristã e da relação com Deus"

A propósito das uniões entre pessoas do mesmo sexo, se põe em evidência que todas as Conferências Episcopais dizem não à introdução de uma legislação que permite tal união "redefinindo" o matrimónio entre homem e mulher. Pede-se, contudo, uma atitude respeitosa e de não-julgamento em relação a estas pessoas, enquanto se destaca a falta de programas pastorais a este respeito, uma vez que se trata de fenómeno recentes.

A terceira parte do documento – “A abertura à vida e à responsabilidade educativa” – faz notar antes de mais que é pouco conhecida na sua dimensão positiva a doutrina da Igreja sobre a abertura à vida da parte dos esposos, pelo que é considerada como uma ingerência na vida do casal e uma limitação à autonomia da consciência. Daqui a confusão que se cria entre os contraceptivos e os métodos naturais de regulação da fertilidade. Relativamente à profilaxia contra a sida, é necessário que a Igreja explique melhor a sua posição, também para contrastar algumas “reduções caricaturais” dos meios de comunicação e para evitar reduzir o problema a uma mera questão “técnica”, quando na realidade se trata de “dramas que marcam profundamente a vida de inumeráveis pessoas.
O “Instrumento de trabalho” para a preparação próxima e o debate da assembleia sinodal de outubro próximo conclui com a Oração à Sagrada Família, escrita pelo Papa e por ele mesmo recitada por ocasião do Angelus de 29 de dezembro passado, festa da Santa Família de Nazaré.

Jesus, o Bom Pastor, falava a língua do povo – o Papa em Santa Marta nesta quinta-feira


(RV) Na Missa em Santa Marta nesta quinta-feira o Papa Francisco baseou a sua homilia no Evangelho do dia onde podemos ler em S. Mateus, capítulo 7, versículos 28 e 29: “Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei.”.
Na sua meditação o Santo Padre chamou a atenção para o modo como Jesus falava com as pessoas, sublinhou mesmo que as multidões ficavam “maravilhadas com o seu ensinamento”. Os outros falavam, mas não chegavam ao povo. O Papa Francisco enumerou quatro grupos: os fariseus, antes de mais, faziam da religião um colar de mandamentos e os dez existentes passavam a ser trezentos, reduzindo a fé à casuística. Depois o Santo Padre citou ainda os saduceus que tinham perdido a fé e dedicavam-se aos acordos de poder, os zelotes que queriam fazer uma revolução para libertar o povo de Israel pela força e o Papa referiu ainda os essénios que eram monges que se tinham consagrado a Deus, mas que estavam longe do povo.
Segundo o Papa Francisco o povo seguia Jesus porque Ele era o Bom Pastor e falava a língua do povo:

“É por isto que o povo seguia Jesus, porque era o Bom Pastor. Não era nem um fariseu casuístico moralista, nem um saduceu que fazia negócios políticos com os poderosos, nem é um guerrilheiro que procurava a libertação política do seu povo, nem um contemplativo de mosteiro. Era um pastor! Um pastor que falava a língua do seu povo, fazia-se entender, dizia a verdade, as coisas de Deus: não negociava nunca as coisa de Deus! Mas dizia-as em tal modo que o povo amava as coisas de Deus. Por isso é que O seguia.”

O Papa Francisco concluiu a sua homilia exortando-nos a deixarmo-nos maravilhar por aquilo que Jesus nos diz.

25 junho, 2014

"Ninguém se torna cristão por si mesmo” – o Papa na audiência geral afirmou que ser cristão é pertencer à Igreja


(RV) Na audiência geral desta quarta-feira, dia 25 de junho, o Papa Francisco continuou, na sua catequese, a temática iniciada na semana passada: a Igreja. O Santo Padre, logo no início da sua intervenção, lançou a ideia fundamental da sua catequese deixando claro que “não estamos isolados, nem somos cristãos por conta própria.” Quando afirmamos que somos cristãos estamos a dizer que pertencemos à Igreja.

“A nossa identidade é pertença.”

Se acreditamos, se sabemos rezar, se conhecemos o Senhor e O reconhecemos nos nossos irmãos é porque outros, antes de nós, viveram a fé e no-la transmitiram e ensinaram – afirmou o Papa Francisco recordando todos aqueles que nas nossas famílias e nas comunidades nos transmitiram a fé.

Ninguém se torna cristão por si mesmo.

A Igreja é uma grande família – continuou o Santo Padre – na qual uma pessoa é acolhida e aprende a viver como crente, como discípulo de Jesus. Como disse o Papa nesta audiência o caminho da fé vive-se “… não apenas graças a outras pessoas, mas unidos a outras pessoas.”
Segundo o Papa Francisco, por vezes, ouve-se dizer: «Eu creio em Deus, creio em Jesus, mas a Igreja não me interessa…». Estas pessoas crêem que podem ter uma relação pessoal, direta, imediata com Jesus Cristo, fora da comunhão e da mediação da Igreja – sublinhou o Santo Padre. Não se pode amar a Deus sem amar os irmãos, não se pode estar em comunhão com Deus sem estar em comunhão com a Igreja e só podemos ser bons cristãos unidos a todos aqueles que procuram seguir Jesus, formando um só povo, um único corpo.

E isto significa pertencer à Igreja.

No final da catequese o Papa Francisco saudou também os peregrinos de língua portuguesa:

“Com cordial afeto, saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, em especial o grupo brasileiro de Nossa Senhora da Consolata, em São Manoel, e os fiéis do Santuário de Nossa Senhora do Porto, em Portugal. Irmãos e amigos, estais em boas mãos, estais nas mãos da Virgem Maria. Ela vos proteja da tentação de prescindir dos outros, de pôr a Igreja de lado, de pensar em salvar-vos sozinhos. Rezai por mim! Que Deus vos abençoe!

O Papa Francisco a todos deu a sua benção! (RS)

24 junho, 2014

Preparar, discernir, diminuir: as vocações de S. João Batista – Papa em Santa Marta. O cristão não se anuncia a si próprio mas o Senhor

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(RV) O cristão não se anuncia a si próprio mas o Senhor – afirmou o Papa Francisco no dia em que se celebra a natividade de S. João Batista. Na Missa em Santa Marta nesta terça-feira, o Santo Padre na sua homilia propôs os três verbos vocacionais do Profeta: preparar, discernir, diminuir. João preparava o caminho do Senhor não retirando nada para si – sublinhou o Papa – e quando lhe perguntaram se ele era o Messias ele respondeu que tinha vindo preparar o caminho do Senhor. Eis, portanto, a primeira vocação de João Batista: preparar a vinda do Senhor. Mas há, desde logo, uma segunda vocação – afirmou o Santo Padre – a vocação do discernimento, ou seja, discernir, entre tanta gente quem fosse o Senhor. E o Espírito revelou-lhe isto e João teve a coragem de dizer: é este o Messias – evidenciou o Papa Francisco:

“É esta a segunda vocação de João: discernir, entre tanta gente boa, quem fosse o Senhor. E o Espírito revelou-lhe isto e ele teve a coragem de dizer: É este.”

A terceira vocação de S. João Batista foi aquela de diminuir-se – continuou o Papa – ele tinha vindo anunciar a vinda do Messias e era preciso que ele se fizesse pequeno até à humilhação que João Batista conheceu na sua morte. Sentenciado pelo preço de um capricho – sublinhou o Santo Padre – João é humilhado mas com o coração em paz. Na conclusão da sua homilia o Papa Francisco recordou as vocações de S. João Batista e afirmou ainda que é belo que um cristão pense assim a sua vocação: não anunciar-se a si próprio, mas o Senhor, praticando o discernimento:

“Três vocações num homem: preparar, discernir, deixar crescer o Senhor e diminuir-se a si próprio. Também é belo pensar a vocação do cristão assim. Um cristão não anuncia a si próprio, anuncia um outro, prepara o caminho a um outro: o Senhor. Um cristão deve saber discernir, deve conhecer como discernir a verdade daquilo que parece verdade e não é: homem de discernimento.” (RS)

23 junho, 2014

Homilia de D. Manuel Clemente no Corpo de Deus de 2014

Foto: Arautos do Evangelho
  
22 de junho de 2014

Saciemos com Deus a fome do mundo
Celebrar o “Corpo de Deus” é relembrar uma história de amor. A mais verdadeira e autêntica história de amor. Precisamente o amor de Deus como se manifestou no tempo, como culminou em Cristo e como se há de manifestar muito concretamente agora.
Ouvíamos na primeira leitura: Caminhava o povo pelo deserto, onde faltava tudo. Não lhe faltaria o amor de Deus, desse mesmo Deus que o tirara do Egito e o chamava à terra da liberdade. Daí o maná de que se alimentaram ano após ano, como sinal dum amor que não cansa. Refiro-me, claro está ao de Deus, apesar de tudo, apesar até daquele povo de cerviz dura e esquecimento rápido, muito rápido em relação aos dons de Deus.
 Toda a história bíblica, em seguida, cresce e acresce na revelação dum Deus que não desiste nunca dum povo que, esse sim, desiste quase sempre. O “quase” restringe-se a alguma gente religiosa e simples que apesar de tudo esperava, ou a algum profeta que, de tempos a tempos, lembrava a Lei e retomava a promessa.
Chegaram finalmente os tempos últimos. Quando já ninguém os preveria, se é que ainda alguém os lembrava até... Um povo sombra do que fora, um tempo ao invés do que sonharam. Exatamente aí, Deus criou em Maria uma humanidade imaculada em que Ele próprio pudesse incarnar e ser inevitavelmente um de nós.
Tal era a sua vontade de nos retomar para si, de nos refazer consigo, de nos alimentar Ele próprio. De Deus criador a Deus redentor, assim foi Jesus. Com palavras suas, e há bem pouco ouvidas: «Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim».
Aprofundemos o mistério, ou seja, esta diviníssima verdade, que em Jesus se faz também humana. - Porque é que não chegara a lembrança do maná do deserto, porque é que foi necessário que o próprio Deus se fizesse em Cristo o pão da nossa vida? Adiantam-se duas razões: porque é essa a lógica do amor, que do dar coisas passa ao dar-se a si mesmo; e porque tinha de ultrapassar o excessivo esquecimento nosso pelo excessivo entregar-se seu.
Muito melhor do que poderíamos balbuciar tais verdades, demonstrou-as o autor da Carta aos Hebreus num trecho inultrapassável. Como que ouvindo um diálogo divino, a abrir a incarnação. Face à incapacidade do povo em corresponder a Deus, entrevê em Deus a vontade se fazer povo, carne e sangue de quem fosse seu: «Ao entrar no mundo, Cristo diz (ao Pai): . Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre» (Heb 10, 5 ss).
Vemos então o que é o corpo de Jesus Cristo, filho de Maria, em primeira aceção: é a expressão física da vontade de Deus em estar connosco e da vontade, finalmente humana, de estar com Deus. E assim mesmo devemos entender o que o corpo seja. Biblicamente, «o corpo é o que permite ao homem entrar em relação com os seus irmãos e com o universo, é a sua capacidade de expressão» (Léon-Dufour). Não um objeto de fazer ou desfazer, desfrutar ou dispensar, mas a manifestação concreta de alguém que se dá ou pede o nosso dom. Quase em mútua alimentação, mas sobressaindo o dom e a graça, pois que estes mesmos geram a retribuição.
O “Corpo de Deus” demonstra-nos a compaixão divina no olhar de Jesus. O corpo de Deus fala-nos com a autoridade absoluta com que atraía a tantos e calava os demais. O corpo de Deus suporta-nos na paciência infinita com que sofreu as nossas dores, salvando-as sob o peso delas. O corpo de Deus alimenta-nos com tudo o que Cristo transporta, oferece e salva. Sustenta-nos em Deus e para Deus; para sempre, como também ouvimos: «Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente».
Assim com Jesus, “Corpo de Deus” no mundo para alimentar definitivamente a quem O aceite. Pão disponível, como ficou naquela ceia, que é a última porque é a única. Mas, na segunda leitura, São Paulo como que estendia a dimensão deste corpo à larguíssima medida de todos os comungantes.
- Pois, como havemos de entender o que ele diz?! Falava aos cristãos de Corinto, que eram vários, mas viviam de um só, ressuscitado e presente, presente porque ressuscitado e em oferta infinita de si mesmo. Concluindo: «Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão».
Esta afirmação atinge-nos diretamente e, como se diz, em cheio. Se nos alimentamos de Cristo, palavra e sacramento, formamos com Ele e entre nós um só corpo, exprimindo o mesmo sentimento de um Deus que de si mesmo nos sustenta e que, também de si, nos oferece ao mundo, como Cristo continuado em todos os confins da terra e em cada ocasião do tempo.
Não é de modo algum por acaso que cada celebração eucarística se conclui, ou melhor, se expande, com palavras de envio: «Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!». É Ele que vai connosco, para, através de nós, acompanhar a todos, colmatando assim a imensa solidão do mundo.
Como Ele é “pão”, é assim por nós, que O recebemos, que quer alimentar o mundo. Já o dissera na multiplicação dos pães: «Dai-lhes vós mesmos de comer!». Somos nós também, somos nós agora, urgentemente agora, o corpo de Cristo no mundo, o pão de Deus para matar tanta fome: fome de vida e fome de paz, fome de alimentos e fome de companhia, fome de trabalho e fome de verdade. Fome das vidas sem Deus e fome divina de conviver com todos.
Por tudo isto comecei, dizendo que celebrar o “Corpo de Deus” é retomar uma história de amor. A verdadeira história dum amor verdadeiro. - E quanta luz a brilhar daí, quantas lições a tirar de seguida! Deus que nos alimenta com a vida de Cristo, vida de Cristo feita pão do mundo, pão do céu a distribuir na terra, por nós todos que o havemos de levar. Pão da verdade, pão da caridade, pão e oferta nas vidas que se entregam.
E também corporeidade reencontrada e perfeita, onde se corrija tudo o que amesquinha os corpos sem alma, os gestos sem sentido, a contrafação egoísta do que havia de ser expressão de sentimentos belos, autênticos e finalmente compensadores.
Começamos agora o caminho sinodal da Igreja de Lisboa, partilhando o grande sonho do Papa Francisco, o “sonho missionário de chegar a todos”. Cumpramo-lo então e de modo profundamente eucarístico. Oiçamo-lo na exortação Evangelii Gaudium (nº 264): «A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-lo cada vez mais. Com efeito, um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de a apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria? (…) Como é doce permanecer diante dum crucifixo ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente dos seus olhos! Como nos faz bem deixar que Ele volte a tocar a nossa vida e nos envie para comunicar a sua vida nova!». 
Celebraremos assim o “Corpo de Deus” completo e perfeito, como pode e deve ser no mundo, por Cristo e em nós, no mesmo Espírito  de vida e amor. Festejemo-lo agora e alarguemo-lo depois. Saciemos com Deus a fome do mundo, saciemos no mundo a fome divina. A que Jesus tinha de nós, a que tão profundamente temos de Deus. 
+ Manuel Clemente
Sé de Lisboa, 22 de junho de 2014

Patriarcado de Lisboa

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Quem julga os outros é um hipócrita, coloca-se no lugar de Deus – o Papa em Santa Marta

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(RV) Quem julga os outros é um hipócrita, coloca-se no lugar de Deus – esta a principal mensagem do Papa Francisco na Missa em Santa Marta na manhã desta segunda-feira. No Evangelho do dia encontramos o capítulo 7 de S. Mateus em que Jesus nos diz: ”Não julgueis para não serdes julgados...” Partindo deste ensinamento o Papa Francisco afirmou que quem julga engana-se, confunde-se e torna-se num derrotado. Aquele apelativo “hipócritas” que Jesus lançou várias vezes aos doutores da lei – continuou o Santo Padre – é afinal uma expressão dirigida a qualquer um de nós. Porque quem julga fá-lo no imediato, enquanto que Deus para julgar toma algum tempo.
“ Quem julga torna-se num derrotado, acaba mal, porque a mesma medida será usada para julgá-lo a ele.”
O único que julga é Deus – afirmou o Papa Francisco que indicou a atitude de Jesus como o exemplo para imitarmos. Pois Jesus perante Deus nunca acusa, mas sempre defende. (RS)

22 junho, 2014

A medida do amor de Deus é amar sem medida. A tortura é pecado mortal – o Papa durante o Angelus


(RV) Perante uma imensa multidão de fiéis reunida na Praça de S. Pedro para a oração mariana do Angelus Papa Francisco começou por recordar que a Igreja na Itália e em muitos outros Países do mundo celebra neste Domingo a festa do Corpo e Sangue de Cristo e comentou o Evangelho de João que apresenta o discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum sobre o “pão de vida”. Jesus sublinha nas suas palavras – disse o Papa – que não veio a este mundo para dar alguma coisa mas para dar a si mesmo, a sua vida, como alimento para aqueles que têm fome d’Ele. E explicou:

Esta comunhão com o Senhor empenha a nós, seus discípulos, a imitá-lo, fazendo da nossa existência um pão partido para os outros, como o Mestre partiu o pão que é a sua carne.

E todas as vezes que participamos na Missa e nos alimentamos do Corpo de Cristo, continuou o Papa Francisco, a presença de Jesus e do Espírito Santo opera em nós, molda o nosso coração, e nos comunica atitudes interiores que se traduzem em comportamentos segundo o Evangelho:

Antes de tudo, a docilidade à Palavra de Deus, depois a fraternidade entre nós, a coragem do testemunho cristão, a fantasia da caridade, a capacidade de dar esperança aos desesperados, de acolher os excluídos. Deste modo, a Eucaristia faz amadurecer um estilo de vida cristã. A caridade de Cristo, acolhida de coração aberto, nos transforma, nos torna capazes de amar não segundo a medida humana, que é limitada, mas segundo a medida de Deus, isto é, sem medida.
Deste modo, nos tornamos capazes de amar até mesmo aqueles que não nos amam, de resistirmos ao mal com o bem, a perdoar, a partilhar, a acolher, e a nossa vida se tornam "pão partido" para os nossos irmãos. E, vivendo assim, descobrimos a verdadeira alegria, a alegria de nos fazermos dom para os outros, em troca do grande dom que recebemos, sem o nosso mérito.
E o Papa concluiu dizendo que Jesus desceu do céu e se fez carne graças à fé de Maria. Ela, depois de o ter trazido consigo com amor inefável, também o seguiu fielmente até à Cruz e à ressurreição, convidando em seguida os fiéis a pedir a intercessão de Maria para que a todos ajude a redescobrir a beleza da Eucaristia e a fazer dela o centro da vida

Depois do Angelus o Papa recordou que no próximo dia 26 de Junho celebra-se o Dia das Nações Unidas para as Vítimas da Tortura, e exprimiu a sua condenação por todos tipos de tortura no mundo:
Por esta circunstância, reitero a minha firme condenação de qualquer forma de tortura e convido os cristãos a empenharem-se para colaborar na sua abolição e para apoiar as vítimas e os seus familiares. Torturar as pessoas é um pecado mortal, um pecado muito grave!
E por último o Papa dirigiu a sua saudação a todos os presentes, romanos e peregrinos, e de modo particular, e de todos se despediu com o seu habitual
“Bom Domingo, bom almoço, rezai por mim, … e arrivederci!”