31 janeiro, 2014

Cuidar da integridade da fé é tarefa delicada e importante, a realizar em colaboração com os Pastores locais: Papa Francisco à plenária da Congregação para Doutrina da Fé

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(RV) “Promover e tutelar a doutrina sobre a fé e os costumes em todo o orbe católico” é a função da Congregação para a Doutrina da Fé, ligada à missão do Sucessor de Pedro de “confirmar os irmãos na fé”: recordou-o o Papa Francisco, ao receber, nesta sexta-feira, os participantes na assembleia plenária desta Congregação da Cúria Romana, no final da respectiva assembleia plenária.
Trata-se de “um verdadeiro serviço oferecido ao Magistério do Papa e a toda a Igreja – sublinhou o Santo Padre, que indicou que hão-de ser “sempre os critérios da fé a prevalecer nas palavras e na prática da Igreja”. “Quando a fé brilha na sua simplicidade e pureza originária, também o tecido eclesial se torna o lugar em que a vida da Igreja emerge com toda a sua fascinação e dá fruto”.
“Desde os primeiros tempos da Igreja que existe a tentação de entender a doutrina num sentido ideológico ou de a reduzir a um conjunto de teorias abstractas e cristalizadas. Na realidade a doutrina tem como único objectivo servir a vida do Povo de Deus, assegurando à nossa fé um fundamento seguro”.
O Papa Francisco reconheceu que “é uma tarefa muito delicada” este cuidar da integridade da fé e recomendou que seja realizada “sempre em colaboração com os Pastores locais e com as Comissões Doutrinais das Conferências Episcopais”.
“Isto serve a salvaguardar o direito de todo o Povo de Deus a receber o depósito da fé na sua pureza e integridade. Um trabalho que procura ter sempre presente também as exigências do diálogo construtivo, respeitoso e paciente com os Autores. Se a verdade exige fidelidade, esta cresce sempre na caridade e na ajuda fraterna a quem está chamado a maturar ou clarificar as próprias convicções”.
Aludindo ao tema desta assembleia plenária - relação entre fé e Sacramento do matrimónio – o Santo Padre observou que se trata de uma “reflexão de grande relevância”, sobretudo nestes tempos em que o contexto cultural se alterou, como fez notar, no ano passado, Bento XVI propondo este estudo aprofundado.

Se perdemos o sentido do pecado, o maior dos pecados parece pequeno – Papa na missa em Santa Marta

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(RV) O sentido do pecado – este o tema da homilia do Papa Francisco na missa em Santa Marta nesta sexta-feira. Quando Deus está menos presente na nossa vida aparece a ‘mediocridade cristã’. Assim, um pecado grave como o adultério parece algo pouco importante. Tal como nos é narrado pelo Primeiro Livro de Samuel, David apaixona-se por Betsabé, mulher de Urias, um seu general, fica com ela e envia o marido para a frente de batalha onde este vem a falecer. David comete um grande pecado mas não o sente como tal – afirmou o Papa Francisco que colocou em relevo o facto de a David não lhe ter ocorrido pedir perdão pelo pecado de adultério mas sim a questão: como resolvo isto?

“A todos nós pode acontecer esta coisa. Todos somos pecadores e todos somos tentados e as tentações é o pão nosso de cada dia. Se algum de nós dissesse: ‘Mas eu nunca tive tentações, ou és um anjo ou és um tolo! Percebe-se...É normal na vida a luta e o diabo não está tranquilo, ele quer a sua vitória. Mas o problema – o problema mais grave nesta passagem – não é tanto a tentação e o pecado contra o nono mandamento, mas é como age David. E David aqui não fala de pecado mas de um problema que tem que resolver. E isto é um sinal! Quando o Reino de Deus está menos presente, quando o Reino de Deus diminui, um dos sinais é que se perde o sentido do pecado.”
O poder do homem, no lugar da glória de Deus! Este é o pão de cada dia. Por isto a oração de todos os dias a Deus ’Venha o teu Reino, cresça o Reino’ porque a salvação não virá das nossas espertezas, das nossas astúcias, da nossa inteligência de fazer negócios. A salvação virá da graça de Deus e do treino quotidiano que nós fazemos desta graça na vida cristã.”
“O maior pecado de hoje é que os homens perderam o sentido do pecado” – afirmou o Papa Francisco recordando a frase do Papa Pio XII e logo voltou o seu olhar para Urias, o homem inocente mandado para morrer na frente de batalha pelo seu rei. Segundo o Santo Padre, Urias é como que, o emblema de todas as vítimas da nossa inconfessada soberba:

“Eu confesso-vos que quando vejo estas injustiças, esta soberba humana, mesmo quando vejo o perigo que a mim próprio possa suceder isto, o perigo de perder o sentido do pecado, faz-me bem pensar aos tantos Urias da história, aos tantos Urias que mesmo hoje sofrem a nossa mediocridade cristã, quando nós perdemos o sentido do pecado, quando nós deixamos que o Reino de Deus caia... Estes são os mártires dos nossos pecados não reconhecidos. Vai-nos fazer bem hoje rezar por nós, para que o Senhor nos dê sempre a graça de não perder o sentido do pecado, para que o Reino não baixe em nós. Mesmo levar uma flor espiritual ao túmulo destes Urias contemporâneos, que pagam a conta do banquete dos
seguros, daqueles cristãos que se sentem seguros.” (RS)

30 janeiro, 2014

SER SANTO




 
 
Quando eu era rapaz, lá pelos finais dos anos 50, começo dos anos 60, os Santos e Santas, eram algo muito longínquo no tempo, na história da Igreja.

Eram quase sempre bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, ou mártires dos primeiros alvores do cristianismo.

Tirando algumas excepções, as suas vidas descritas em livros, eram quase “lendas”, recheadas de pormenores místicos, em que os milagres acontecidos pela sua intercessão, ocupavam a nossa imaginação, mais do que as suas virtudes e também suas fraquezas.

Esta realidade que envolvia os Santos daquele tempo, levava-nos a uma distanciação da santidade, como algo de inatingível a nós, “pobres mortais”, muito longe daqueles “eleitos”, que assim apareciam aos nossos olhos.
Havia até quase um sentimento, (falo por mim e por aqueles do meu tempo), que os Santos tinham acabado, e que nos tempos que vivíamos e nos tempos vindouros, não haveria lugar a mais canonizações, a não ser que viessem do longínquo passado.

Esta situação, (e repito que falo por mim), abria uma distância espiritual, sentimental e até física, com esses Santos, e como tal, a relação com a santidade era algo muito mais de devoção e admiração, do que vontade e prática de imitação das virtudes, na sensação de que a santidade era algo de inatingível nos nossos tempos.

O Concílio Vaticano II, sobretudo na Constituição Dogmática Lumen Gentium, veio, no entanto, chamar-nos e mostrar-nos esse caminho da santidade nos diversos estados de vida de cada um, como uma vocação de todos os baptizados

Entretanto, chegados aos pontificados, sobretudo, de João Paulo II e Bento XVI, a Igreja começou a revelar-nos Santos e Santas dos nossos dias, dos nossos tempos, perto de nós, dos nossos pais e avós, gente como nós, que viveu tempos como nós, que viveu as motivações, as alegrias, as tristezas, as dificuldades destes últimos três séculos.

Alguns, conhecemo-los já realmente, fisicamente. Tiveram parte nas notícias dos nossos jornais, das nossas televisões, vimo-los com os nossos olhos, pudemos tocá-los com as nossas mãos.
As suas virtudes tornaram-se reais para nós, e percebemos que percorriam os mesmos caminhos que nós percorremos, ou seja, que não viviam num qualquer estado de graça fora deste nosso mundo.
Viviam, sim, num estado de graça, mas neste mundo, porque procuravam em tudo fazer a vontade de Deus, o que não amenizava, nem tornava mais fácil, antes pelo contrário, as dificuldades de viver a Fé e a Doutrina num mundo particularmente adverso a essa vivência coerente e em testemunho constante.

Vem isto a propósito da Beatificação da Madre Maria Clara do Menino Jesus, ocorrida neste Sábado em Lisboa, e em que, graças a Deus, estive presente.

Lembro-me bem da minha mãe me falar da sua prima, (como gostava de lhe chamar), dizendo-me do orgulho em pertencer à família de tão virtuosa mulher.

Não sei o que pode ser mais chegado à realidade da santidade do que isto, ou seja, ter na sua própria família alguém que a Igreja colocou nos altares, e que está afinal tão perto de nós no tempo.
Realmente, quando a Beata Maria Clara faleceu em 1 de Dezembro de 1899, já o meu pai era nascido há 5 meses, e minha mãe nasceria apenas 10 anos depois!

Mas de tudo isto, o que mais importa, é percebermos que a santidade não é algo de longínquo, mas sim uma realidade permanente em cada vida que a queira procurar, não para se ser reconhecido como santa ou santo, mas apenas e tão só, para fazer a vontade de Deus.

É que, ao fazermos a vontade de Deus, estamos a dar-nos, a Ele e aos outros, e estamos a aceitar a vida como um dom de Deus com tudo o que Ele nela queira permitir, em alegrias e também em provações.

E vemos, nesta lista imensa de Santos e Santas nos últimos anos beatificados, canonizados, desde crianças, a pais e mães de família, a jovens, a gente enfim, em tudo semelhante a nós, e vivendo no mesmo mundo em que nós vivemos.

Teria gostado que a Igreja em Portugal tivesse dado uma muito maior divulgação e projecção a esta Beatificação da Madre Maria Clara do Menino Jesus, bem com há cerca de 5 anos à Beatificação de Madre Rita Amada de Jesus, em Viseu, aproveitando para fazer desses dias, duas grandes festas, duas grandes celebrações de alegria, de união, de comunhão, por mais estas duas grandes graças que o Senhor quis conceder aos Portugueses.

E, seja-me permitido, tomar o exemplo da Beata Maria Clara e transportá-lo para os nossos dias de agora, para estes nossos tempos conturbados em que a Fé e a Doutrina são permanentemente postos em causa por um mundo que se afasta de Deus.

Com efeito, a Madre Maria Clara arrostou no seu tempo com uma perseguição maciça e total á Igreja, com a expulsão de Ordens Religiosas, perseguições e atentados de toda a espécie.
Mas nada disso a retirou do seu propósito, da sua vontade, de fazer a vontade de Deus na sua vida, e, se teve que ir para França para prosseguir a finalidade de se consagrar inteiramente a Deus numa congregação religiosa, não deixou de voltar ao seu país para, arrostando com contínuas provações e dificuldades, levar a cabo a vontade Deus inscrita no seu coração, e fundar uma congregação que se dedicava inteiramente aos outros, sobretudo aqueles que mais sofrem.

Não vemos então o paralelismo com os nossos tempos?

Nem todos somos chamados, com certeza, a fundar congregações ou outras instituições, mas somos sem dúvida chamados a darmo-nos aos outros, a entregarmos a nossa vida, as nossas capacidades, os dons que o Senhor nos dá, ao Seu serviço, que é no fundo servir os outros, amando-os e ajudando-os, exactamente como Ele nos ama e serve.

«Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» Mt 20, 28

E essa coragem que a Beata Maria Clara teve, para afrontar um mundo hostil que se afastava de Deus, é a coragem que devemos encontrar em nós, pela graça de Deus, para darmos testemunho constante e permanente, de não cedermos a leis iníquas, que atentam contra a vida, contra a família, e, na força do testemunho coerente, (também pelo nosso voto no dia das eleições), afirmarmos que só em Deus encontramos o verdadeiro Caminho, a verdadeira Verdade, a verdadeira Vida.

Que a Beata Maria Clara do Menino Jesus interceda por nós, portugueses, para que o Senhor derrame em nós continuamente o Espírito Santo, para na Sua força, darmos testemunho vivo, coerente e permanente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.


Monte Real, 23 de Maio de 2011
Joaquim Mexia Alves



Nota: 
Porque é tão actual, republico este texto escrito em 2011.

Amar Cristo sem a Igreja é uma dicotomia absurda – o Papa na missa em Santa Marta

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(RV) A homilia do Papa na Missa desta quinta-feira na Casa de Santa Marta partiu da figura do rei David que nos é apresentada pelas leituras do dia como um homem que fala com o Senhor que fala com o Pai e, mesmo quando recebe um não, aceita-o com alegria. David tinha um sentimento forte de pertença ao Povo de Deus – afirmou o Papa Francisco – e esta sua atitude faz-nos pensar sobre o nosso sentido de pertença à Igreja, o nosso sentir com a Igreja e na Igreja – considerou o Santo Padre:

O cristão não é um batizado que recebe o Batismo e depois segue o seu caminho. O primeiro fruto do Batismo é fazer-te pertencer à Igreja, ao Povo de Deus. Não se entende um cristão sem Igreja. E por isto o grande Paulo VI diz que é uma dicotomia absurda amar Cristo sem a Igreja; escutar Jesus mas não a Igreja. Não se pode. É uma dicotomia absurda.

Segundo o Papa Francisco há três pilares de pertença à Igreja, de sentir-se Igreja. São eles a humildade, a fidelidade e a oração pela Igreja. Referiu-se em primeiro lugar à humildade, considerando que cada um de nós é uma pequena parte de um grande povo. Depois a fidelidade à Igreja como vínculo aos seus ensinamentos. Finalmente, abordou o pilar da oração pela Igreja:

Uma pessoa que não é humilde, não pode sentir com a Igreja, sentirá aquilo que lhe agrada. E esta humildade que se vê em David: ‘ Quem sou eu, Senhor Deus, e que coisa é a minha casa?’. Com aquela consciência que a história da salvação não começou comigo e não terminará quando eu morro. Não, é toda uma história da salvação: eu venho, o Senhor pega em ti, faz-te andar para a frente e depois chama-te e a história continua. A história da Igreja começou antes de nós e continuará depois de nós. Humildade: somos uma pequena parte de um grande povo, que vai pelo caminho do Senhor.”


Fidelidade à Igreja; fidelidade ao seu ensinamento; fidelidade ao Credo; fidelidade à doutrina, conservar esta doutrina. Humildade e fidelidade. Também Paulo VI nos recordava que nós recebemos a mensagem do Evangelho como um dom e devemos transmiti-lo como um dom, mas não como uma coisa nossa: é um dom recebido que damos. E nesta transmissão ser fieis. Porque nós recebemos e devemos dar um Evangelho que não é nosso, que é de Jesus e não devemos – dizia ele – ser donos do Evangelho, donos da doutrina recebida, para utiliza-la ao nosso prazer.”

O Papa Francisco terminou a sua meditação desta manhã afirmando que o terceiro pilar do sentimento de pertença à Igreja é a oração pela Igreja. Desta forma, o Santo Padre exortou os cristãos a rezarem pela Igreja presente em todas as partes do mundo e pediu ao Senhor que nos ajude a ir por este caminho para aprofundarmos a nossa pertença e o nosso sentir com a Igreja. (RS) 

29 janeiro, 2014

O Papa na Audiência Geral: Sacramento da Confirmação - a força do Espírito Santo para vivermos como verdadeiros cristãos

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(RV)
Numa manhã muito fria em Roma, estiveram cerca de vinte mil peregrinos na Praça de São Pedro para a audiência geral com o Papa Francisco. O tema da catequese de hoje foi o Sacramento da Confirmação

“... nesta terceira catequese sobre os Sacramentos, daremos hoje atenção à Confirmação ou Crisma, que deve ser entendida em conjunto com o Batismo ao qual está ligado em modo inseparável.”

O sacramento do Crisma ou Confirmação forma, juntamente com o Batismo e a Eucaristia, a chamada “iniciação cristã”, um único evento de salvação no qual somos inseridos em Jesus morto e ressuscitado e nos tornamos novas criaturas e membros da Igreja. Habitualmente, chamamos a este sacramento Crisma, palavra que significa unção; nele usa-se o óleo do Santo Crisma, com o qual somos ungidos pela força do Espírito Santo que nos plasma à imagem de Cristo.

“O termo Confirmação recorda-nos que este Sacramento promove um crescimento da graça batismal: une-nos mais fortemente a Cristo; cumpre a nossa ligação à Igreja; dá-nos uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé, para confessar o nome de Cristo e para nunca nos envergonharmos da Cruz.”

O Santo Padre recordou ainda os sete dons do Espírito Santo, reforçando que o Sacramento da Confirmação não é obra dos homens mas de Deus:

“ A Confirmação como cada Sacramento, não é obra dos homens, mas de Deus, que toma conta da nossa vida em modo de nos plasmar à imagem do seu Filho, para fazer-nos capazes de amar como Ele. Ele fá-lo infundindo em nós o seu Espírito Santo, cuja ação inunda toda a pessoa e toda a vida, como transparece dos sete dons que a Tradição, à luz da Sagrada Escritura sempre evidenciou: a Sabedoria, o Intelecto, o Conselho, a Fortaleza, a Ciência, a Piedade e o Temor de Deus. A estes dons pretendo dedicar as catequeses que se seguirão àquelas dos Sacramentos.”

Desta forma – afirmou ainda o Papa Francisco - quando acolhemos em nós o Espírito Santo, o próprio Cristo faz-se presente e toma forma na nossa vida; será Ele que através de nós rezará, infundirá consolação, far-se-á próximo aos necessitados, criará união e semeará a paz.

“... recordemo-nos que recebemos a Confirmação! Recordemos antes de mais para agradecer ao Senhor este dom, e depois para pedir-lhe que nos ajude a viver como verdadeiros cristãos, a caminhar sempre com alegria segundo o Espírito Santo que nos foi dado.”

No final da audiência o Papa Francisco dirigiu-se também aos peregrinos de língua portuguesa:

“Queridos peregrinos de língua portuguesa: uma cordial saudação para todos! Lembrai-vos de agradecer o Senhor pelo dom do sacramento da Crisma, pedindo-Lhe que vos ajude a viverdes sempre como verdadeiros cristãos, para confessar por todo o lado o nome de Cristo! Desça sobre vós a Bênção do Senhor!”

De entre as saudações finais aos variados grupos de peregrinos italianos, de salientar a que o Santo Padre dirigiu às famílias dos operários de uma fábrica da diocese de Florença, acompanhadas pelo respectivo bispo, cardeal Betori.

“Ao mesmo tempo que exprimo a minha proximidade, faço votos de que se façam todos os esforços possíveis da parte de todas as instâncias competentes, para que o trabalho, fonte de dignidade, seja preocupação central de todos! Que não falte o trabalho! É fonte de dignidade!”
Saudando depois as Fundações Associadas Anti-usura, acompanhadas do arcebispo de Bari, o Papa exprimiu o desejo e a esperança de que “as instituições possam intensificar o seu empenho a favor das vítimas da usura, dramática praga social”.

“Quando uma família não tem que comer, porque deve pagar os juros aos usurários, isto não é cristão, não é humano! É uma dramática praga social que fere a dignidade inviolável da pessoa humana”.
O Papa Francisco a todos deu a sua benção. (RS)

28 janeiro, 2014

Gritas um golo da tua equipa e não és capaz de cantar louvores ao Senhor? – a interpelação do Papa na missa desta terça-feira


(RV) Gritas um golo da tua equipa e não és capaz de cantar louvores ao Senhor? – o Papa na missa desta terça-feira

A oração de louvor faz-nos fecundos – esta a principal conclusão da homilia na Missa desta terça-feira na Capela da Casa de Santa Marta. O Papa Francisco partindo da leitura do Segundo Livro de Samuel, desenvolveu a sua meditação da ideia que o texto propõe: ‘David dançava com todas as suas forças diante do Senhor’. Segundo o Santo Padre, esta oração de louvor é menos frequente na vida de cada um de nós:

“ Mas Padre, isto é para aqueles do Renovamento no Espírito, não para todos os cristãos!’ Não, a oração de louvor é uma oração cristã para todos nós! Na Missa, todos os dias, quando cantamos o Santo... Esta é uma oração de louvor: louvamos o Senhor pela sua grandeza, porque é grande! E dizemos coisas belas, porque nós gostamos que seja assim. Mas, Padre eu não sou capaz... Mas és capaz de gritar quando a tua equipa marca um golo e não és capaz de cantar louvores ao Senhor? De sair um pouco da tua contenção para cantar isto? Louvar Deus é totalmente gratuito! Não pedimos, não agradecemos: louvamos!”
“Uma bela pergunta que nós podemos fazer hoje é : Mas como vai a nossa oração de louvor? Eu sei louvar o Senhor? Sei louvar o Senhor ou quando rezo o Glória e o Sanctus faço-o apenas com a boca e não com todo o coração? O que me diz David, dançando assim? Quando David entra na cidade começa uma outra coisa: uma festa!”
A alegria do louvor – continuou o Santo Padre – leva-nos à alegria da festa. A festa da família. O Papa Francisco recordou, assim, que quando David regressa ao palácio, a filha do rei Saúl, Mikal, chamou-o à atenção perguntando-lhe se não tinha vergonha por ter dançado daquele modo diante de todos. Mikal desprezou David:

“Eu pergunto-me quantas vezes nós desprezamos no nosso coração pessoas boas, gente boa que louva o Senhor como lhe vem, assim espontaneamente, porque não são cultos, não seguem as atitudes formais? É o desprezo. E diz a Bíblia que Mikal ficou estéril por toda a vida por isto! O que quer dizer a Palavra de Deus aqui? Que a alegria, que a oração de louvor faz-nos fecundos! Aquele homem ou aquela mulher que louva o Senhor, que reza louvando o Senhor, que quando reza o Glória alegra-se por isso, quando canta o Sanctus na Missa alegra-se por cantá-lo, é um homem ou uma mulher fecundo.” (RS)

27 janeiro, 2014

Obrigado a tantos sacerdotes que dão a sua vida no silêncio – o Papa na missa desta segunda-feira

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(RV) A Igreja não é apenas uma simples organização humana. O que faz a diferença é a unção que dá aos bispos e sacerdotes a força do Espírito Santo para servir o Povo de Deus. O Papa Francisco na missa desta segunda-feira em Santa Marta agradeceu a todos os sacerdotes santos que dão a sua vida no anonimato do seu serviço quotidiano. Comentando a primeira leitura da liturgia deste dia, que fala das tribos de Israel que ungem David como seu rei, o Papa Francisco explicou o significado da unção espiritual sem a qual David teria sido apenas o chefe de uma empresa ou de uma organização política. O mesmo acontece com os bispos e com os padres:
Os bispos não são eleitos apenas para levar para a frente uma organização que se chama Igreja particular, são ungidos, têm a unção e o Espírito do Senhor está com eles. Mas todos os bispos são pecadores, todos! Mas somos ungidos. Mas todos queremos ser mais santos cada dia, mais fieis a esta unção. E aquele que faz a Igreja e que dá unidade à Igreja é a pessoa do bispo, em nome de Jesus Cristo, porque é ungido, não porque foi votado pela maioria. Porque é ungido. E nesta unção uma Igreja particular tem a sua força. E por participação também os padres são ungidos.
De outra forma não se entende a Igreja; mas não só não se entende não se pode explicar como é que a Igreja continue a andar para a frente apenas com as forças humanas. Esta diocese avança porque tem um povo santo e tantas coisas e também um ungido que a leva, que a ajuda a crescer. Esta paróquia vai para a frente porque tem tantas organizações, tantas coisas, mas também tem um padre, um ungido que a leva para a frente. E nós na história conhecemos uma mínima parte, mas quantos bispos santos, quantos sacerdotes, quantos padres santos que deram a sua vida ao serviço das dioceses, das paróquias; quanta gente recebeu a força da fé, a força do amor, a esperança destes párocos anónimos, que nós não conhecemos. E há tantos!

Segundo o Papa Francisco os párocos da aldeia e da cidade, que com a sua unção deram força ao povo, transmitiram a doutrina, deram os sacramentos, ou seja a santidade. São tantos, mas raramente fazem notícia. É graças a eles que hoje estamos aqui – afirmou o Papa Francisco:

Mas Padre, eu li no jornal que um bispo fez isto e um padre fez aquilo! Eh sim, eu também li, mas diz-me, nos jornais vêm as notícias daquilo que fazem tantos sacerdotes, tantos padres em tantas paróquias da cidade ou da aldeia, tanta caridade que fazem, tanto trabalho que fazem para levar em frente o seu povo? Ah não! Isto não é notíca! É aquilo de sempre: faz mais barulho uma árvore que cai, que uma floresta que cresce. Hoje pensando nesta unção de David, vai-nos fazer bem pensar nos nossos bispos e nos nossos padres corajosos, santos, bons e fieis e rezar por eles. Graças a eles hoje estamos aqui!” (RS)

26 janeiro, 2014

A Boa Nova do Evangelho é para todos: Papa no Angelus - Apelo ao dialogo na Ucrania e oração pelos doentes de lepra no mundo

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(RV) Durante a oração mariana do Angelus, perante uma imensa multidão reunida na Praça de S. Pedro, o Papa comentou o Evangelho deste 3°domingo comum que conta o início da vida pública de Jesus nas cidades e aldeias da Galileia. A sua missão, disse o Papa Francisco, não parte de Jerusalém, do centro religioso, social e político, mas de uma zona periférica, desprezada pelos judeus mais observadores, por causa da presença de diferentes populações naquela região, indicada pelo profeta Isaías como "Galileia dos gentios" .

É uma terra de fronteira, uma zona de trânsito, onde se encontram pessoas de diferentes raças, culturas e religiões. A Galileia torna-se assim o lugar simbólico para a abertura do Evangelho a todos os povos. Sob este ponto de vista, a Galileia se parece com o mundo de hoje: coexistência de diversas culturas, necessidade de confronto e de encontro. Também nós estamos imersos todos os dias numa "Galileia dos gentios" e, neste tipo de contexto, nos podemos assustar e ceder à tentação de construir recintos para estarmos mais seguros, mais protegidos. Mas Jesus nos ensina que a Boa Nova não está reservada a uma parte da humanidade, deve-se comunica-la a todos. É uma boa notícia destinada a todos os que esperam por ela, mas também para aqueles que talveznão esperam em nada e nem sequer têm força para procurar e pedir.

Partindo da Galileia, continuou o Papa, Jesus nos ensina que ninguém é excluído da salvação de Deus, antes pelo contrário, que Deus prefere partir da periferia, dos últimos, para alcançar a todos. Ele nos ensina um método, o seu método, que porém exprime o conteúdo, ou seja, a misericórdia do Pai. "Cada cristão e cada comunidade poderá discernir qual é o caminho que o Senhor pede, mas todos nós somos convidados a aceitar esta chamada: sair do próprio conforto e ter a coragem de chegar a todas as periferias que precisam da luz do Evangelho" (Exortação Apostólica . Evangelii gaudium, 20).

Jesus começa a sua missão não apenas de um lugar descentralizado, mas também com homens que se diriam "de baixo perfil". Para escolher os seus primeiros discípulos e futuros apóstolos, não se dirige às escolas dos escribas e doutores da lei, mas a pessoas simples e humildes, que se preparam com empenho para a vinda do Reino de Deus. Jesus vai chamá-los de onde trabalham, na margem do lago: são pescadores. Chama-os, e eles o seguem, imediatamente. Deixam as redes e vão com Ele: a sua vida se transformará em aventura extraordinária e fascinante.

E terminou a sua reflexão sublinhando que o Senhor continua ainda hoje a chamar:

Passa pelas estradas da nossa vida quotidiana; nos chama para irmos com Ele, e trabalhar com Ele para o Reino de Deus, nas "Galileias" dos nossos tempos. Deixemo-nos levar pelo seu olhar, a sua voz, e sigamo-lo! "Para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia seja privada da sua luz"


Após o Angelus o Papa recordou o Dia Mundial dos Doentes de Lepra que hoje se celebra. Esta doença, embora em declínio, infelizmente, ainda afecta muitas pessoas em condições de grave miséria. É importante manter viva a solidariedade com estes irmãos e irmãs. A eles asseguremos a nossa oração; e rezemos também por todos aqueles que os assistem e, em muitos modos, se empenham para derrotar esta doença – disse o Papa.

E sobre a difícil situação na Ucrânia o Papa afirmou:

Estou perto com a oração à Ucrânia, em particular àqueles que perderam suas vidas nestes dias e às suas famílias. Espero que se desenvolva um diálogo construtivo entre as instituições e a sociedade civil e, evitando qualquer recurso a acções violentas, possam prevalecer nos corações de todos o espírito de paz e a busca pelo bem comum!

E o Papa Francisco dirigiu o seu pensamentos para Cocò Campolongo, uma criança que nos últimos dias, com apenas três anos, foi queimada num carro em Cassano:

"Esta crueldade por uma criança assim tão pequena parece não ter precedentes na história do crime. Rezemos com Coco, que certamente está com Jesus no céu para as pessoas que fizeram este crime, para que se arrependam e se convertam ao o Senhor ".

E aos milhões de pessoas que do Extremo Oriente ou espalhados em várias partes do mundo, incluindo chineses, coreanos e vietnamitas que nos próximos dias celebrarão o Ano Novo Lunar, o Papa Francisco desejou uma vida cheia de alegria e esperança:

O anseio irreprimível de fraternidade, que habita no seu coração, encontre na intimidade da família o lugar privilegiado, onde ele pode ser descoberto, educado e realizado. Esta será uma contribuição valiosa para a construção de um mundo mais humano, onde a paz reina”.

O Papa recordou ainda a Beata Maria Cristina de Savóia que ontem, em Nápoles, foi proclamada; viveu na primeira metade do século XIX, foi mulher de profunda espiritualidade e humildade, capaz de suportar o sofrimento de seu povo, tornando-se uma verdadeira mãe dos pobres. O seu exemplo extraordinário de caridade mostra que a vida boa do Evangelho é possível em todos os ambientes e condições sociais.

Uma afectuosa saudação dirigiu o Papa aos peregrinos de diferentes paróquias da Itália e de outros países, bem como as associações, grupos escolares e outros. Em particular, o Papa quis exprimir a sua proximidade às pessoas afectadas pelas cheias na região italiana de Emilia.

E a terminar, dirigindo aos meninos e meninas da Acção Católica da Diocese de Roma, o Papa agradeceu-lhes por terem vindo assim numerosos também este ano, acompanhados pelo Cardeal Vigário, como etapa final da sua "Caravana da Paz". E após a leitura da mensagem por um dos dois meninos que estavam com o Papa, foram libertadas duas pombinhas brancas, símbolo de paz.

Patriarca de Lisboa anuncia Sínodo para a diocese

O Patriarcado de Lisboa vai viver um Sínodo diocesano em 2016. A proposta foi feita ao Conselho Presbiteral da diocese, que esteve reunido esta semana no Seminário dos Olivais, e anunciada à Igreja de Lisboa na celebração da Solenidade de São Vicente, que decorreu esta quarta-feira, dia 22 de janeiro, na Sé Patriarcal.
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Na proposta que apresentou, D. Manuel Clemente refere que é programa para os próximos anos a diocese constituir-se em estado permanente de missão. Este Sínodo acontece, também, no contexto da celebração dos três séculos sobre a qualificação Patriarcal de Lisboa, que ocorre em novembro de 2016.


A preparação para este Sínodo “deve começar desde já, e deverá retomar e projetar para o futuro o melhor fundamento da qualificação Patriarcal de Lisboa", salientou D. Manuel Clemente.

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Patriarcado de Lisboa

25 janeiro, 2014

Divisão da Igreja, um escândalo para o mundo: Papa Francisco na celebração das véspras na Basílica de S. Paulo Fora dos Muros


(RV) Esta tarde às 17,30 horas de Roma, o Papa Francisco presidiu a celebração das vésperas na Basílica de S. Paulo Fora dos Murros. Na sua homilia, o Papa Francisco procurou responder à pergunta do Apostolo Paulo aos cristãos de Coríntios: «Estará Cristo dividido?» (1 Cor 1, 13). Recordou que, “este repto forte, que São Paulo lança quase ao início da sua Primeira Carta aos Coríntios e que ressoou na liturgia desta tarde, foi escolhido por um grupo de irmãos cristãos do Canadá como linha de fundo para a nossa meditação durante a Semana de Oração deste ano”.
Com grande tristeza, salientou o Papa Francisco, o Apóstolo soube que os cristãos de Corinto estão divididos em várias facções. Uns afirmam: «Eu sou de Paulo»; outros dizem: «Eu sou de Apolo»; e outros: «Eu sou de Cefas»; e há ainda quem sustente: «Eu sou de Cristo» (cf. 1 Cor 1, 12). Entretanto, disse, “nem sequer estes que pretendem apelar-se a Cristo podem ser elogiados por Paulo, porque usam o nome do único Salvador para se distanciarem dos outros irmãos dentro da comunidade. Por outras palavras, a experiência particular de cada um, o referimento a algumas pessoas significativas da comunidade tornam-se a norma para julgar a fé dos outros.
É nesta situação de divisão que Paulo, «em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo», exorta os cristãos de Corinto a serem todos unânimes no falar, para que não haja, entre eles, divisões mas perfeita união na maneira de pensar e de sentir (cf. 1 Cor 1, 10).
Mas, observa o Papa Francisco, a comunhão, a que chama o Apóstolo, não poderá ser fruto de estratégias humanas. De facto, a perfeita união entre os irmãos só é possível se referida ao pensamento e aos sentimentos de Cristo Jesus (cf. Fil 2, 5). “Nesta tarde, encontrando-nos aqui reunidos em oração, sentimos que Cristo – que não pode ser dividido – quer atrair-nos a Si, aos sentimentos do seu coração, ao seu abandono total e íntimo nas mãos do Pai, ao seu esvaziar-se radicalmente por amor da humanidade. Só Ele pode ser o princípio, a causa, o motor da nossa unidade”.
Eis portanto que diz o Santo Padre, encontrando-nos na sua presença, tornamo-nos ainda mais conscientes de que não podemos considerar as divisões na Igreja como um fenómeno de certo modo natural, inevitável em toda a forma de vida associativa. As nossas divisões ferem o corpo de Cristo, ferem o testemunho que somos chamados a prestar-Lhe no mundo. Neste sentido o Papa recorda que o Decreto do Concílio Vaticano II sobre o ecumenismo, fazendo apelo ao texto de São Paulo que estamos a meditar, afirma significativamente: «Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja. Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo. Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes, como se o próprio Cristo estivesse dividido». E, depois, acrescenta: «Esta divisão, porém, contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura» (Unitatis redintegratio, 1).
Daí portanto, o grito do Papa Francisco: “Queridos amigos, Cristo não pode estar dividido! Esta certeza deve incentivar-nos e suster-nos a continuar, com humildade e confiança, o caminho para o restabelecimento da plena unidade visível entre todos os crentes em Cristo”. O Santo padre cita como exemplo nesta direcção a obra de dois grandes Papas: os Beatos João XXIII e João Paulo II. Em ambos, disse, foi amadurecendo, ao longo do percurso de suas vidas, a consciência de como era urgente a causa da unidade e, uma vez eleitos para a Sé de Pedro, guiaram decididamente todo o rebanho católico pelas estradas do caminho ecuménico: o Papa João XXIII, abrindo caminhos novos e quase impensáveis antes; o Papa João Paulo, propondo o diálogo ecuménico como dimensão ordinária e imprescindível da vida de cada Igreja particular. A eles o Santo Padre associa também o Papa Paulo VI, outro, disse o Papa Francisco, grande protagonista do diálogo: justamente, acrescentou, nestes dias, recordamos o cinquentenário daquele seu abraço histórico, em Jerusalém, ao Patriarca de Constantinopla Atenágoras.
O obra destes meus antecessores fez com que a dimensão do diálogo ecuménico se tivesse tornado um aspecto de tal modo essencial do ministério do Bispo de Roma, que hoje não se compreenderia plenamente o serviço petrino sem incluir nele esta abertura ao diálogo com todos os crentes em Cristo. Podemos afirmar também que o caminho ecuménico permitiu aprofundar a compreensão do ministério do Sucessor de Pedro e devemos ter confiança de que vai continuar a fazê-lo também no futuro. Ao mesmo tempo que olhamos com gratidão para os passos que o Senhor nos concedeu realizar, mas sem ignorarmos as dificuldades que o diálogo ecuménico atravessa actualmente, peçamos a graça de sermos todos revestidos dos sentimentos de Cristo, para podermos caminhar para a unidade querida por Ele.
Neste clima de oração pelo dom da unidade, concluiu dizendo o Santo Padre, quero dirigir as minhas cordiais e fraternas saudações a Sua Eminência o Metropolita Gennadios, representante do Patriarcado Ecuménico, a Sua Graça David Moxon, representante pessoal em Roma do Arcebispo de Cantuária, e a todos os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais, aqui reunidos nesta tarde.
Amados irmãos e irmãs, ao Senhor Jesus, que nos tornou membros vivos do seu Corpo, peçamos que nos conserve profundamente unidos a Ele, nos ajude a superarmos os nossos conflitos, as nossas divisões, os nossos egoísmos e a vivermos unidos uns aos outros por uma única força, a do amor, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). Amen.

24 janeiro, 2014

FAZER A TUA VONTADE


 
Fazer a tua vontade,
Senhor,
é mais do que viver,
é sempre
e também um morrer,
para o que me afasta da verdade
para o que me afasta do teu caminho,
buscando o efémero prazer,
que me faz caminhar sozinho,
e não me leva à felicidade,
a que com amor me  chamas
se só a Ti pertencer.

Fazer a tua vontade
é ser assim disponível
em cada momento
em cada hora,
não ser um cata-vento
que roda sem direcção
conforme lhe dá o vento,
mas ter aberto o coração,
antes, depois e agora,
para Te ouvir
e seguir,
sem hesitação,
sem demora.

Fazer a tua vontade
é abrir-me todo ao confiar,
em Ti,
sempre,
sem hesitar,
é vestir-me de esperar
na doce certeza de saber
que a roupa que hei-de vestir
é aquela que me vais dar.

Fazer a tua vontade
é gritar ao sete ventos,
hoje,
amanhã,
e no fim:
«Já não sou eu que vivo
mas é Cristo que vive em mim!»*


*Gl 2,20
Marinha Grande, 24 de Janeiro de 2014
Joaquim Mexia Alves

Construir pontes de diálogo e não muros de ressentimento – o Papa na missa em Santa Marta

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(RV) Na homilia na missa desta manhã de sexta-feira na Casa de Santa Marta o Papa Francisco continuou a centrar a sua atenção sobre o conflito entre David e o Rei Saúl, no relato que nestes dias a liturgia nos tem proposto. David, perseguido por Saul, tem oportunidade de se vingar dele, matando-o. Mas respeita a sua dignidade e oferece-lhe mais uma oportunidade de reconciliação. David faz o caminho do diálogo para fazer a paz – afirmou o Papa Francisco:

Para dialogar é necessário mansidão, sem gritaria. É necessário também pensar que a outra pessoa tem qualquer coisa a mais do que eu e David pensava nisto: ‘Ele é o ungido do Senhor, é mais importante do que eu.’ Humildade, mansidão... Para dialogar, é necessário fazer aquilo que pedimos hoje na oração no início da Missa: fazer-se tudo a todos. Humildade, mansidão, fazer-se tudo a todos e também – embora não esteja escrito na Bíblia – todos sabemos que para fazer estas coisas é preciso engolir tantos sapos. Mas, temos que o fazer, porque a paz faz-se assim: com humildade, tentando ver sempre no outro a imagem de Deus.

Humilhar-se é sempre fazer uma ponte. Sempre. E isto é ser cristão. Não é fácil. Jesus fê-lo: humilhou-se até ao fim, fez-nos ver o caminho. É necessário que não passe tanto tempo: quando há um problema, o mais depressa possível, no momento em que se possa fazer, depois de passada a tormenta, aproximar-se ao diálogo, porque o tempo faz crescer o muro, como faz crescer a erva má que impede o crescimento do grão. E quando os muros crescem é tão difícil a reconciliação: é tão difícil!

Não é um problema se, às vezes voam os pratos - na família, nas comunidades, nos bairros – afirmou o Papa Francisco – o importante é procurar a paz o mais depressa possível com uma palavra ou mesmo com um gesto. Segundo o Santo Padre é fundamental fazer pontes e não erguer muros como aquele que por tantos anos dividiu Berlim:

Eu tenho medo destes muros, destes muros que crescem cada dia e favorecem os ressentimentos. Também o ódio. Pensemos neste jovem David: poderia ter-se vingado perfeitamente, poderia ter feito desaparecer o rei mas ele escolheu o caminho do diálogo, com humildade, mansidão, doçura. Hoje podemos pedir a S. Francisco de Sales, Doutor da doçura, que dê a todos nós a graça de fazer pontes com os outros, nunca muros.” (RS)

Homilia de D. Manuel Clemente na solenidade de São Vicente, padroeiro do patriarcado de Lisboa

Foto: Patriracado de Lisboa

Porque o grão caído na terra frutifica num mundo de irmãos
Homilia na solenidade de São Vicente, padroeiro do patriarcado de Lisboa


1.A solenidade de São Vicente, diácono e mártir, padroeiro principal do patriarcado de Lisboa, celebra-se este ano no especial contexto da receção atenta e consequente da exortação apostólica Evangelii Gaudium, em que o Papa Francisco nos entregou um verdadeiro “programa” de missão geral e evangelizadora.

É uma feliz coincidência que, hoje mesmo, a nossa diocese encete um caminho sinodal nesse sentido, que até 2016 – tricentenário da nossa qualificação “patriarcal” – a todos nos fará cumprir, o mais cabalmente possível, a determinação pontifícia, como vem no número 25 da exortação: «Sublinho que aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes. Espero que todas as comunidades se esforcem por usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão».

Isto mesmo, caríssimos irmãos. Como se o Papa dissesse que, se queremos mudar o mundo, temos de começar por nós, Igreja de Cristo para o mundo, retomando e aprofundando a sua atitude essencial de Filho de Deus e irmão universal, tão profundamente orante e tão ativamente evangélico. E há tanto para mudar no nosso mundo, nos vários patamares da sociabilidade humana, das famílias às comunidades, da vida pessoal à  vida pública, do que se passa fronteiras adentro ao que se passa nas relações internacionais… Do que se passa e do que ainda não passa e devia passar, em termos de solidariedade concreta e humanidade compartilhada!

É bem significativo que tenhamos São Vicente por padroeiro, e precisamente na atual conjuntura. Viveu há muitos séculos, no outro lado da Península Ibérica, sendo diácono e acompanhando o seu bispo, quando o Império Romano se opunha ainda à Igreja de Cristo. Chegou a perseguição e Vicente não recuou nem fugiu, enfrentando os tormentos com uma coragem que não mais foi esquecida.

Daí que lhe guardassem os restos mortais, pois que assinalavam tanta vida. Vida pascal e portanto vitoriosa, na vitória de Cristo sobre a morte. Segundo a tradição de Lisboa, coeva da fundação da nacionalidade, foram essas relíquias que se guardaram aqui e ainda hoje reverenciamos. Não tanto a elas, mas sumamente ao que nos lembram – a vitória evangélica das vidas que se entregam. Porque – como há pouco ouvimos no Evangelho de João - «se o grão de trigo cair na terra e não morrer, fica só ele; mas, se morrer, dá muito fruto».

Nas atuais circunstâncias, que com os nossos concidadãos partilhamos, a memória de Vicente na memória de Cristo é-nos muito inspiradora. Revivendo em cada comunidade cristã o mesmo empenho e tal entrega, nada nos deterá na missão evangélica. Serviço solidário, porque dum diácono se tratava, adstrito por isso à ação caritativa. Serviço solidário ainda, por atender às necessidades do corpo e do espírito, na realidade total de quantos encontrava.

E hoje em dia, sabemo-lo bem, só com idêntica amplitude e projeção podemos cumprir o que o mundo pede à Igreja que somos e havemos de ser, em função de Deus e dos outros. Respostas parciais, num resumo materialista ou espiritualista que fosse, não são verdadeiramente humanas e humanizadoras, nem correspondem a um desenvolvimento autêntico – aquele que Paulo VI referia «a todos os homens e ao homem todo».

2. É neste sentido global que tanto nos importam as indicações do Papa Francisco sobre o “espírito” da missão evangelizadora que temos por diante. Encontramo-las no último capítulo da exortação apostólica e cada uma delas nos reconduz a Cristo e a Vicente, para o serviço atual dum mundo de que Deus não desiste.

Como aconteceu com Vicente, «a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-lo cada vez mais» (EG, 264). Por espantoso que pareça, é esta a única razão de estarmos hoje aqui e nos projetarmos em missão, amanhã e sempre.

Aconteceu-nos na vida a presença de Cristo, pensarmos nele como só se pensa em alguém vivo e que nos faz viver, doutra maneira e melhor. Doutra maneria, mas no mundo de toda gente e de todos os dias. Melhor, porque transfigura tudo, do nascer ao morrer, do ganhar ao perder, do fruir ao sofrer, como só uma vida humana divinamente vivida – precisamente a de Cristo – realiza e oferece.

Vida oferecida e continuamente praticável, em constante doação aos outros – pois isso mesmo é viver. Vida que, convencendo-nos profundamente a nós, garante a coincidência com o que todos igualmente esperam, através de nós. E o Papa acrescenta, com palavras que certamente lhe brotam de muita meditação evangélica: «Toda a vida de Jesus, a sua forma de tratar os pobres, os seus gestos, a sua coerência, a sua generosidade simples e quotidiana e, finalmente, a sua total entrega, tudo é precioso e fala à nossa vida pessoal. Todas as vezes que alguém volta a descobri-lo, convence-se de que é isso mesmo o que os outros precisam, embora não o saibam» (EG, 265). Foi sempre esta e só esta a garantia e a força dos evangelizadores autênticos.

De relação se trata, e no sentido absoluto que se chama amor. Melhor dizendo, participamos no amor de Cristo ao Pai e aos outros, com os quais se irmana, plena e realmente. Por isso aprendemos de Cristo e com ele exercitamos uma religião plenamente social, que compartilha a sua dedicação ao bem de todos e cada um: «Para sermos evangelizadores com espírito é preciso também desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas, até chegar a descobrir que isto se torna fonte de uma alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus e, simultaneamente, uma paixão pelo seu povo» (EG, 268).

Mais adiante, com grande realismo cristão, certamente espiritual mas nada “espiritualista”, o Papa dirá que esta participação nos sentimentos de Cristo em relação aos outros é, por si mesma, revelação de Deus: «Cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus. Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer a Deus» (EG, 273). Resumiremos que, na caridade de Cristo, missão e teologia se tornam numa coisa só.

3. É ainda na recordação do martírio de São Vicente que podemos concluir. Podia ter sido uma vida mais, um momento forte de convicções demonstradas, apesar dos tormentos, mas acabando ali. Porém, o facto de estarmos agora, tantos séculos volvidos, nesta catedral que lhe guarda as relíquias, significa outra coisa e infindamente mais. Significa que nele, na sua memória viva, na totalidade com que reviveu a morte de Cristo em testemunho de Deus e na entrega por todos, reforçamos a convicção de que vale sempre a pena ir até ao fim, abrindo o futuro onde diziam que acabávamos. Como escreve o Papa: «A sua ressurreição [de Cristo] não é algo do passado, contém uma força de vida que penetrou o mundo. […] É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto» (EG, 276). 
Não precisaremos de mais neste momento, para, com São Vicente, testemunharmos a Páscoa de Cristo, em incansável missão. Porque o grão caído na terra frutifica num mundo de irmãos.

+ Manuel Clemente
Sé de Lisboa, 22 de janeiro de 2014