30 setembro, 2013

Diálogo e oração pela paz, na Síria e no Médio Oriente: Papa aos participantes no Encontro Internacional pela paz, promovido pela Comunidade de Santo Egídio


(RV) “Continuemos a rezar pela paz no mundo, na Síria, no Médio Oriente, em tantos países do mundo”: o apelo do Papa Francisco, ao receber esta manhã no Vaticano uns trezentos dos participantes no Encontro internacional pela Paz, promovido pela Comunidade de Santo Egídio CSE). O Santo Padre agradeceu à Comunidade e ao seu fundador, Andrea Riccardi (foto), por terem seguido com tenacidade a estrada traçada pelo Beato João Paulo II, no histórico encontro de Assis, em 1986, com os líderes religiosos convocados para rezar pela paz: “não uns contra os outros, mas uns ao lado dos outros”.
“Precisamente nestes meses, sentimos que o mundo tem necessidade do espírito que animou aquele histórico encontro… Não podemos resignar-nos perante o sofrimento de povos inteiros, reféns da guerra, da miséria, da exploração”.
“Não podemos assistir indiferentes e impotentes – prosseguiu o Papa – ao drama de crianças, famílias, idosos, atingidos pela violência. Não podemos deixar que o terrorismo encadeie o coração de uns poucos violentos para semear em tantos sofrimento e morte”.
“De modo especial dizemos com força, todos, continuamente, que não pode haver qualquer justificação religiosas para a violência, qualquer que seja a forma em que se manifesta”.
O Papa Francisco sublinhou ainda que “a paz é responsabilidade de todos” e que “um líder religiosos é sempre homem de paz”.
“Cada um de nós está chamado a ser um artesão da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio e não o conservando, abrindo as vias do diálogo sem erguer novos muros! Dialogar, encontrar-nos para instaurar no mundo a cultura do diálogo, a cultura do encontro”.
Para tal, é indispensável também a oração. “Diálogo e oração crescem ou definham conjuntamente. A relação do homem com Deus é a escola e o alimento do diálogo com os homens”. “Continuemos a rezar pela paz no mundo, na Síria, no Médio Oriente, em tantos países do mundo” – pediu o Papa Francisco, concluindo com o convite a um momento final de silêncio de todos os presentes, na presença de Deus, como voto recíproco de paz.
Segundo declarou o presidente da CSE, Marco Impaliazzo, este encontro internacional reveste-se de grande importância precisamente “em função da crise síria e daquela mais ampla no Médio Oriente”. O título do evento, “A coragem da esperança” foi escolhido a pensar na “falta de esperança” que atinge o povo sírio e “tantas” outras “parte do mundo”.

Destaque ainda para a inclusão de um “tema novo” no debate, o “terrorismo religioso”, assunto que foi proposto pelo Papa para refletir sobre a forma como os crentes olham para a violência motivada pela religião e que atitudes tomam face a esta problemática.

O encontro internacional, que se prolonga até 1 de outubro, tem lugar no auditório da Via da Conciliação, perto do Vaticano.

A paz e a alegria e não a organização, é que são sinal da presença de Deus na Igreja – o Papa Francisco na Missa em Santa Marta

RealAudioMP3
 
(RV) Uma organização ou programação perfeitas não são sinal da presença de Deus, mas sim a paz e a alegria. Isto é o essencial da homilia do Papa Francisco esta manhã em Santa Marta.
Os discípulos eram entusiastas e faziam programações sobre quem era o maior e discutiam entre si. Mas, Jesus, descentrou-lhes as ideias dirigindo-se para as crianças dizendo que os mais pequenos são... os maiores. Ao mesmo tempo, numa das leituras do dia de hoje do Profeta Zacarias, fala-se dos sinais da presença de Deus que, disse o Santo Padre, são os velhos e as crianças que são o futuro de um povo. E nem uns nem outros são descartáveis. Mas, os discípulos não compreendiam estes sinais e estavam mais preocupados com a eficácia da organização...

“Eu percebo que os discípulos queriam eficácia, queriam que a Igreja caminhasse sem problemas e esta pode ser uma tentação para a Igreja: a Igreja do funcionalismo! A Igreja bem organizada! Tudo certinho, mas sem memória e sem promessa! Esta Igreja assim não vai bem: será uma Igreja de luta pelo poder, será a Igreja dos ciúmes entre os batizados e tantas outras coisas que existem quando não há memória nem promessa.”

Assim a vitalidade da Igreja não vem dos documentos e reuniões para planificar e fazer bem as coisas, estas são realidades necessárias – diz o Papa Francisco – mas não são sinal da presença de Deus...

“O sinal da presença de Deus é este, assim disse o Senhor: Velhos e velhas estarão sentados nas praças de Jerusalém, cada um com o seu cajado para sua longevidade. E as praças da cidade estarão cheias de meninos e meninas que jogarão nas praças. Jogo faz-nos pensar em alegria: é a alegria do Senhor. E estes anciãos, sentados com o seu cajado na mão, tranquilos, fazem-nos pensar na paz. Paz e alegria: este é o ar da Igreja.” (RS)

29 setembro, 2013

Paróquia de Ota - despedida do Pe. Manuel Silva

  
Despedida Pe. Manuel Silva - 29.SET.13

O Pe. Manuel Silva irá deixar-nos a partir de amanhã (30.SET.13), porque partirá para o Kosovo, como Capelão de um contingente militar que com ele seguirá para aquele País, onde permanecerão 6 meses.

Assim, hoje (29.SET.13) celebrou a sua última Missa em Ota, tendo no final reunido com vários representantes dos grupos e serviços da Paróquia, para discussão, organização e propostas de ação a tomar a curto prazo, de forma a ser obtida uma maior eficácia no campo da organização geral, tornando-os mais motivadores e produtivos, essencialmente no campo da evangelização.

Concluída a reunião, com resultados nitidamente positivos, iniciou-se um almoço de confraternização, preparado pela Cozinha Social de Santa Teresinha, da Paróquia de Ota (a cargo G. O.  do RCC, “Verdade e Vida”, desde a sua inauguração), que decorreu de forma franca e amistosa.

Perante a ausência do Pe. Manuel, a Eucaristia dominical passará a ter início às 09H30 e será presidida pelo Pe. José António, da paróquia de Abrigada. Durnante a semana não haverá Missas em Ota.
Para atendimento diverso estará presente em Ota, todas as quintas feiras a partir das 19H30,  o Pe. Francisco, de Alenquer.

REPORTAGEM FOTOGRÁFICA


O catequista é aquele que guarda e alimenta a memória de Deus – Papa na missa para o Dia do Catequista na Praça de São Pedro

RealAudioMP3

(RV) Hoje, Jornada do Catequista, o Papa Francisco presidiu à missa na Praça de São de São Pedro para cerca de dois mil catequistas vindos de várias partes do mundo em peregrinação à Sé de Pedro e para tomar parte no Congresso Internacional da Catequese, realizado nos últimos três dias em Roma, no âmbito do ano da Fé. Com o Santo Padre concelebraram numerosos bispos e padres da igreja universal, entre os quais D. Salvatore Fisichella, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que lhe dirigiu a palavra no final da missa.

Na sua homilia o Papa deixou-se inspirar pelas palavras do Profeta Amós que diz: “Ai dos que vivem comodamente (…) e não se preocupam dos outros”. Palavras duras – disse o Papa - mas que nos chamam a atenção para o perigo que todos corremos. O perigo de termos como centro de tudo apenas o nosso bem-estar, sem nos preocuparmos com os outros, com os pobres; o perigo de - tal como o rico citado no Evangelho - perdermos a nossa identidade de pessoa, o nosso rosto humano, e de termos como rosto e como identidade apenas os nossos haveres.

Mas porque é que acontece isto, perguntou o Papa, respondendo que isto acontece quando perdemos a memória de Deus:

Se falta a memória de Deus, tudo se nivela pelo eu, pelo meu bem-estar. A vida, o mundo, os outros perdem consistência, já não contam para nada, tudo se reduz a uma única dimensão: o ter. Se perdemos a memória de Deus, também nós mesmos perdemos consistência, também nós nos esvaziamos, perdemos o nosso rosto, como o rico do Evangelho! Quem corre atrás do nada, torna-se ele próprio nulidade – diz outro grande profeta, Jeremias. Estamos feitos à imagem e semelhança de Deus, não das coisas, nem dos ídolos!

E lançando o olhar à extensa Praça de São Pedro, repleta de catequistas (entre os outros fiéis) o Papa perguntou-se:

Quem é o catequista”? É aquele que guarda a alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-lo nos outros. É belo isto!

É belo isto, prosseguiu o Papa, referindo-se a Nossa Senhora que, depois de ter recebido o anuncio do Anjo de que ia ser a mãe de Jesus, soube, de forma humilde e cheia de fé, fazer memória de Deus.

A fé contém a memória de Deus, da história de Deus connosco, do Deus que toma a iniciativa de salvar o homem - continuou o Papa, afirmando que “o catequista é precisamente um cristão que põe esta memória ao serviço do anuncio: não para dar nas vistas, nem para falar de si, mas para falar de Deus, do seu amor, da sua fidelidade. Falar e transmitir tudo o que Deus revelou, isto é a Doutrina, isto é a doutrina na sua totalidade, sem cortar, nem acrescentar”

Uma tarefa não fácil, a de guardar memória de Deus e despertá-lo na no coração dos outros, pois que isto compromete a vida toda –continuou o Papa, recordando que o próprio Catecismo não é senão memória de Deus, memória da sua acção na História, presença de Cristo na sua Palavra… e aqui o Papa dirigiu-se directamente aos catequistas:

Amados catequistas pergunto-vos: Somos memória de Deus? Procedemos verdadeiramente como sentinelas que despertam nos outros a memória de Deus, que inflama o coração (…)? Que estrada seguir para não sermos pessoas “que vivem comodamente”, que põem a sua segurança em si mesmos e nas coisas, mas homens e mulheres da memória de Deus?

Como resposta o Papa sugeriu as indicações dadas por São Paulo na sua carta a Timóteo e que podem caracterizar também o caminho do catequista, isto é: procurar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão. E rematou:

O catequista é pessoa da memória de Deus, se tem uma relação constante, vital com Ele e com o próximo; se é pessoa de fé, que confia verdadeiramente em Deus e põe n’Ele a sua segurança; se é pessoa de caridade, de amor, que vê a todos como irmãos; se é “hypomoné”, pessoa de paciência e perseverança, que sabe enfrentar as dificuldades, as provas, os insucessos, com serenidade e esperança no Senhor; se é pessoa gentil, capaz de compreensão e de misericórdia

**

No final da missa, e antes da oração mariana do Angelus, o Papa agradeceu todos, especialmente os catequistas vindos de tantas partes do mundo e dirigiu uma saudação particular a Sua Beatitude Youhanna X, Patriarca greco-ortodoxo de Antioquia de todo o Oriente, definindo-o irmão e dizendo que a sua presença nos convida a rezar mais uma vez para a paz na Síria e no Médio Oriente…

Saudou, entre outros, também um grupo de peregrinos de Assis vindos a Roma a cavalo, os peregrinos da Nicarágua, país que celebra o centenário da fundação canónica da Província eclesiástica… e concluiu recordando que sábado foi proclamado Beato na Croácia, Mirislav Bulevisic, sacerdote, morto como mártir em 1947.

E no meio meio dum tripudio de bandeirinhas amarelas e brancas, cartazes com frases saudando o Papa, rostos sorridentes e num pano de fundo de cânticos, o Papa foi dando a mão, saudando prelados, padres, catequistas, fieis… primeiro a pé e depois no automóvel papal até à Via da Concilição cheinha de gentes de mãos no ar a acená-lo e sauda-lo com gritos de alegria…

RealAudioMP3

28 setembro, 2013

Pedir a graça de não escapar à Cruz – o Papa Francisco na Missa deste Sábado em Santa Marta


(RV) Na homilia desta manhã na Missa em Santa Marta, partindo da Leitura do Evangelho, proposta pela liturgia deste dia, em que Jesus anuncia a sua Paixão, o Santo Padre afirma que as palavras de Jesus gelaram os discípulos. Estes provavelmente esperavam um caminho triunfante e tinham medo de colocar perguntas:
“Tinham medo da Cruz. O próprio Pedro, depois daquela confissão solene na região de Cesareia, quando mais uma vez chama a atenção do Senhor: Não, nunca Senhor! Isto não! Tinha medo da Cruz. Mas não só os discípulos, também Jesus tinha medo da Cruz! Ele não podia enganar-se, Ele sabia. Tanto era o medo de Jesus que naquela noite de quinta-feira suou sangue; tanto era o medo de Jesus que quase dizia o mesmo que Pedro, quase...’Pai afasta de mim este cálice...Mas faça-se a Tua vontade.’ Esta era a diferença!”
A Cruz faz-nos medo mesmo nas obras de evangelização. E o Papa Francisco recordou que não há redenção sem a efusão de sangue, não há obra apostólica fecunda sem a Cruz:
“Talvez nós pensamos, cada um de nós pensará: E a mim o que acontecerá? Como será a minha Cruz? Não sabemos. Não sabemos, mas haverá! Devemos pedir a graça de não escapar à Cruz quando ela vier: com medo, eh! Isso é verdade! Aquilo faz-nos medo. Mas a sequela de Jesus termina aí. Vêm-me à mente as últimas palavras que Jesus disse a Pedro, naquela coroação pontifícia no Tiberiades: Amas-me! Paz!... Mas as últimas palavras eram aquelas: Vão levar-te onde tu não queres ir! A promessa da Cruz.” (RS)

Permaneçam em Cristo correndo o risco de ir às “periferias” – o Papa Francisco aos catequistas reunidos em Congresso

RealAudioMP3
 
(RV) O Papa encontrou na tarde desta sexta-feira, na Sala Paulo VI, os participantes do Congresso Internacional de Catequese organizado no âmbito do Ano da Fé. No seu discurso, o Santo Padre ressaltou que "a catequese é um pilar para a educação da fé".
"É preciso bons catequistas!"- exclamou, agradecendo aos presentes por esse serviço "à Igreja e na Igreja". Ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens a conhecer e a amar sempre mais o Senhor é uma das aventuras educacionais mais bonitas, e assim se constrói a Igreja! Mas devem ser catequistas e não trabalhar como catequistas” – observou ainda o Papa Francisco que convidou a recordar aquilo que Bento XVI disse: "A Igreja não cresce por proselitismo. Cresce por atração". "E aquilo que atrai – precisou o Papa – é o testemunho. Ser catequista significa dar testemunho da fé; ser coerente na própria vida. E isso não é fácil! Nós ajudamos, conduzimos ao encontro com Jesus com as palavras e com a vida, com o testemunho."
A este propósito o Papa Francisco recordou aquilo que São Francisco de Assis dizia aos seus confrades: "Preguem sempre o Evangelho e se for necessário também com as palavras". Mas antes vem o testemunho: "que as pessoas vejam o Evangelho na nossa vida. E 'ser' catequistas requer amor, amor sempre mais forte a Cristo, amor ao seu povo santo. E esse amor não se compra nas casas comerciais; não se compra nem mesmo aqui em Roma. Esse amor vem de Cristo! É um presente de Cristo!
Então, continuou o Papa devemos partir de Cristo. E o que é que isso significa?
O Papa respondeu com três coisas. Em primeiro lugar, partir novamente de Cristo significa ter familiaridade com Ele. "Se estivermos unidos a Ele – observou o Santo Padre – podemos dar fruto, e essa é a familiaridade com Cristo. Permanecer em Jesus!" É um permanecer apegado a Ele, "com Ele, falando com Ele: mas, permanecer em Jesus".
Depois acrescentou o segundo elemento: "partir novamente de Cristo significa imitá-lo no sair de si e ir ao encontro do outro. Essa é uma experiência bonita, e um pouco paradoxal. Por qual motivo? Porque quem coloca no centro da própria vida Cristo, descentra-se! Quanto mais se une a Jesus e Ele se torna o centro da sua vida, mais Ele o faz sair de si mesmo, descentra-se e abre-se aos outros…

“Prefiro mil vezes um catequista que tenha a coragem de correr o risco de sair de si mesmo do que um catequista que estude, saiba tudo, mas seja sempre fechado e doente. Ás vezes, é doente da cabeça...”

O terceiro elemento, com o qual terminou a sua mensagem, está sempre na linha dos anteriores: "partir novamente de Cristo significa não ter medo de ir com Ele às periferias" porque Jesus caminha sempre connosco e quando pensamos ir longe, a uma periferia extrema, Jesus está lá.

“ Vós sabeis qual é uma das periferias que me fazem mal? É aquela das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Esta é uma periferia! É preciso ir lá! (RS)

27 setembro, 2013

“Acompanho o Senhor até à Cruz?” – o Papa responde que só quem se humilha com alegria e paciência pode acompanhar Jesus

RealAudioMP3

(RV) A prova do cristão está na sua capacidade de suportar as humilhações com alegria e paciência – esta é a ideia principal da meditação matinal do Papa Francisco na Missa em Santa Marta.

Na homilia desta sexta-feira o Santo Padre falou de “tentações do bem-estar espiritual” que impedem de amar a Cristo. É o perigo dos cristãos mornos... dizer sim mas só até um certo ponto. Partindo do Evangelho de Lucas no episódio em que Jesus pergunta aos discípulos sobre a opinião das pessoas sobre quem ele é, e que depois também questiona-os, a eles seus discípulos, sobre o mesmo assunto, esta pergunta, diz o Santo Padre, é diretamente para cada um de nós. Desta forma, quem é para nós Jesus Cristo? Pedro respondeu que Ele era o Cristo de Deus...“Foi o Espírito Santo a tocar o coração de Pedro para dizer quem é Jesus” – continuou o Santo Padre – que referiu o facto de Jesus ter logo aí anunciado a sua Paixão, Morte e Ressurreição. E aqui o Papa Francisco recordou a reação de Pedro que de imediato se apressou a declarar que nada aconteceria a Jesus, como podemos ler no Evangelho de S. Mateus. Eis, diz o Papa, uma tentação que nos pode acontecer...

“Esta é a tentação do bem estar espiritual. Temos tudo: temos a Igreja, temos Jesus Cristo, os Sacramentos, a Nossa Senhora, tudo, um bom trabalho pelo Reino de Deus; somos todos bons. Porque pelo menos devemos pensar isto, porque se pensamos o contrário é pecado! Mas não basta este bem-estar espiritual até a um certo ponto. Falta esta última unção do cristão para ser um verdadeiro cristão: a unção da Cruz, a unção da humilhação. Ele humilhou-se a si próprio até à morte, à morte de tudo. Esta é a pedra de comparação, a avaliação da nossa realidade cristã: sou um cristão de cultura e bem-estar? Sou um cristão que acompanha o Senhor até à cruz? O sinal é a capacidade de suportar a humilhação.”
O escândalo da cruz continua a bloquear muitos cristãos. Todos querem ressuscitar mas nem todos estão dispostos a fazer o caminho da cruz:

“A avaliação se um cristão é um cristão verdadeiro é a sua capacidade de levar com alegria e paciência as humilhações; esta é uma coisa que não dá prazer...há tantos cristãos que, olhando para o Senhor, pedem humilhações para serem semelhantes a Ele. Esta é a escolha: ou cristão do bem-estar – Estás seguro que irás para o Céu? Estás seguro que te salvarás? – ou o cristão perto de Jesus, pelo caminho de Jesus.” (RS) RealAudioMP3

O DIVINO “ESCULTOR”



Senhor,
eu sei que és “oleiro”,
que trabalhas o “barro mole”
da vida de cada um,
para poderes moldar,
aqueles que a Ti se entregam
de alma e corpo inteiro.
 
 
Mas,
Senhor,
comigo tens que ser canteiro,
partir a pedra dura,
que teima em resistir
às mãos tuas a esculpir.
 
Tens que insistir,
Senhor,
nem que seja até quebrar,
para depois juntar os cacos,
para reconstruir,
ressuscitar,
para que mesmo homem velho,
na vida e no ser,
pelo teu infinito amor,
possa então eu renascer.
 
Tanto me faz que haja dor,
dure o tempo que durar,
molda,
Senhor,
rompe e quebra,
em Ti me quero abandonar,
porque a minha fé  e confiança,
é em Ti,
e só em Ti,
divino e eterno “Escultor”!
 
 
Monte Real, 27 de Setembro de 2013
Joaquim Mexia Alves

26 setembro, 2013

Para conhecer Jesus é preciso envolvermo-nos com Ele – o Papa na Missa desta quinta-feira

RealAudioMP3

(RV) Para conhecer Jesus é preciso envolvermo-nos com Ele – esta a mensagem principal do Papa Francisco na Missa desta manhã na Casa de Santa Marta. O Papa afirmou que Jesus só se pode conhecer na vida quotidiana. O Santo Padre desenvolveu a sua homilia partindo da pergunta que Herodes faz sobre Jesus. Uma interrogação que todos que O conhecem fazem, pois, como diz o Papa, da leitura do Evangelho percebe-se que muitos tinham medo daquele homem que lhes poderia trazer problemas políticos com os romanos. Porque Cristo traz tantos problemas...
“Não se pode conhecer Jesus sem ter problemas. E eu ousarei dizer: Queres ter problemas, vai pelo caminho de Jesus. Não vais ter um, mas tantos vais ter! Mas este é o caminho para conhecer Jesus! Não se pode conhecer Jesus na primeira classe! Jesus conhece-se no caminhar quotidiano de todos os dias. Não se pode conhecerJesus na tranquilidade, nem na biblbioteca...Conhecer Jesus!”
“Sim, deve-se conhecer Jesus no Catecismo. Mas não é suficiente conhecê-lo com a mente: é um passo. Mas Jesus é necessário conhecê-lo no diálogo com Ele, falando com Ele, na oração, de joelhos. Se tu não rezas, se tu não falas com Jesus, não O conheces. Tu sabes coisas de Jesus, mas não ficas com aquele conhecimento que te dá o coração na oração. Conhecer Jesus com a mente, o estudo do Catecismo; conhecer Jesus com o coração, na oração, no diálogo com Ele. Isto ajuda-nos bastante, mas não é suficiente...Há um terceiro caminho para conhecer Jesus: é a sequela. Ir com Ele; caminhar com Ele.”
É preciso percorrer os caminhos de Jesus... caminhando. É a linguagem da ação que propôs o Papa Francisco na missa desta manhã. Eis, portanto, as três linguagens que propõe o Santo Padre para conhecer Jesus: a mente, o coração e a ação. Temos que nos envolver com Ele:
“Não se pode conhecer Jesus sem nos envolvermos com Ele, sem arriscar a nossa vida por Ele. Quando tanta gente – e também nós – colocamos esta questão: Mas, quem é este? A Palavra de Deus responde-nos: Tu queres conhecer quem é este? Lê o que a Igreja diz sobre Ele, fala com Ele na oração e caminha pela estrada com Ele. Assim, tu conhecerás quem é este homem. Este é o caminho! Cada um fará a sua escolha!” (RS)
RealAudioMP3

25 setembro, 2013

PAPA FRANCISCO - Audiência Geral

Praça de São Pedro
.

Quarta-feira, 25 de Setembro de 2013


Locutor: 

Dizemos no Credo: «Creio na Igreja una…», isto é, professamos que é única; a Igreja é uma só para todos. Em todo o lado, mesmo no sítio mais isolado da Terra, na paróquia mais pequenina, aí existe a mesma e única Igreja; aí estamos em casa, somos irmãos e irmãs. Penso na experiência da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro: naquela multidão sem fim de jovens presentes na praia de Copacabana, ouviam-se falar muitas línguas, viam-se rostos com traços muito diversos; e, contudo, estávamos unidos, sentíamo-nos e éramos uma única Igreja. Perguntemo-nos: Sinto eu esta unidade? Quando ouço falar de cristãos que sofrem no mundo, fico indiferente ou sinto-o como se sofresse um da minha família? A unidade da Igreja, porém, não é primariamente fruto do nosso esforço por vivermos de acordo e unidos; o motor desta unidade é o Espírito Santo, que faz a harmonia na diversidade. Peçamos-Lhe que nos faça cada vez mais unidos e não nos deixe ser jamais instrumentos de divisão.

 * * *
Santo Padre: 

Carissimi pellegrini di lingua portoghese, seguendo ogni giorno strade diverse, oggi avete una fermata comune in quest’Incontro con il Vescovo di Roma, che vi dà il benvenuto e vi saluta tutti, in particolare le diverse comunità parrocchiali del Brasile e il gruppo di Lisbona. Il Signore Gesù vi riempia di gioia e il suo Spirito vi illumini e vi guidi nell’adempimento del vostro servizio di uomini e donne di comunione e di unità. Nello stringervi tutti al cuore, vi imparto la mia Benedizione, che estendo alle vostre famiglie.

* * *
Locutor:

[Amados peregrinos de língua portuguesa, seguindo caminhos diversos no dia a dia, mas hoje com paragem comum neste Encontro com o Bispo de Roma que vos dá as boas-vindas e saúda a todos, especialmente às diversas comunidades paroquiais do Brasil e ao grupo de Lisboa: O Senhor Jesus vos encha de alegria e o seu Espírito vos ilumine e guie na realização do vosso serviço de homens e mulheres de comunhão, de unidade. Estreitando-vos a todos ao coração, dou-vos a minha Bênção, extensiva às vossas famílias].



© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

24 setembro, 2013

“O sacramento não é um rito mágico, mas um encontro com Jesus Cristo” – Papa Francisco na missa desta terça-feira em Santa Marta

RealAudioMP3

 
(RV) Jesus Cristo sempre nos espera, esta é a humildade de Deus - o Papa Francisco retirou a sugestão para a sua mediatação na missa desta manhã do Salmo que nos diz: ” Iremos com alegria para a Casa do Senhor”. Mesmo com histórias e momentos marcados pelo pecado o Senhor sempre por nós espera de braços abertos:

E seja nos momentos maus, seja nos momentos bons, uma coisa sempre é igual: o Senhor está lá, nunca abandona o Seu povo! Porque o Senhor, no dia do pecado, no primeiro pecado, tomou uma decisão, fez uma escolha: fazer História com o Seu Povo. E Deus, que não tem História porque é eterno, quis fazer História, caminhar junto do Seu Povo. Mas mais ainda: fazer-se um de nós, caminhar connosco em Jesus. E isto diz-nos o que é a humildade de Deus”.

A grandeza de Deus é precisamente a humildade. Mesmo quando o seu povo o esquecia e regressava à idolatria, Deus ficava à sua espera. E Jesus veio para caminhar com o seu povo mesmo com os soberbos. E fez tanto para ajudar os corações soberbos dos fariseus:

Humildade. Deus sempre nos espera. Deus está connosco, Deus caminha connosco, é humilde: espera sempre por nós. Jesus sempre nos espera. Esta é a humildade de Deus. E a Igreja canta com alegria esta humildade de Deus que nos acompanha, como o fizemos no salmo. ‘Iremos com alegria para a casa do Senhor’: vamos com alegria porque Ele nos acompanha, Ele está connosco. É o Senhor Jesus, mesmo na nossa vida pessoal acompanha-nos: com os Sacramentos. O Sacramento não é um rito mágico: é um encontro com Jesus, nós encontramos o Senhor e Ele está junto a nós e nos acompanha.”

E se o Senhor entrou na nossa história, peçamos-Lhe a graça de que seja Ele a escrever a nossa história.”(RS)

23 setembro, 2013

"Sede sempre verdadeiros filhos de Maria e da Igreja" - o Papa Francisco no Angelus durante a sua visita à Nossa Senhora de Bonária em Cagliari na Sardenha

RealAudioMP3

 
(RV) No final da Eucaristia o Papa Francisco recitou a tradicional oração do Angelus aproveitando a ocasião para agradecer o acolhimento de todos, nomeadamente dos bispos, sacerdotes e religiosos. Na sua mensagem, para este momento mariano, o Santo Padre confiou todos a Nossa Senhora de Bonária e teve presente todos os outros santuários marianos da Sardenha:

“Sobretudo quero confiar-vos a Maria, Nossa Senhora de Bonária. Mas, neste momento penso em todos os numerosos santuários marianos da Sardenha: a vossa terra tem uma ligação forte com Maria, uma ligação que exprimis na vossa devoção e na vossa cultura. Sede sempre verdadeiros filhos de Maria e da Igreja e demonstrai-o com a vossa vida seguindo o exemplo dos santos!”
O Papa Francisco terminou a sua mensagem no Angelus deste domingo recordando Tomé Acerbis de Olera, frade capuchino proclamado ontem Beato em Bergamo na Itália e que viveu entre os séculos XVI e XVII e que deu testemunho da humildade e da caridade de Jesus Cristo.

Após a celebração eucarística o Santo Padre almoçou com os bispos da Sardenha no Seminário Pontifício Regional de Cagliari. Da parte da tarde estão previstos encontros com os pobres e com os presidiários na Catedral de Cagliari, um encontro com o mundo da cultura na Aula Magna da Faculdade de Teologia da Sardenha e ainda um encontro com os jovens no Largo Carlo Felice de Cagliari. O Papa Francisco egressa a Roma pelas 19.30h. (RS)
RealAudioMP3

21 setembro, 2013

Papa Francisco na Missa em Santa Marta: Não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Não se pode. Ou um ou outro"

RealAudioMP3

 
(RV) O dinheiro faz adoecer o pensamento e a fé e faz-nos ir por outros caminhos. Em síntese é esta a ideia principal da meditação matinal do Papa Francisco na Missa na Casa de Santa Marta. O Santo Padre sublinhou, assim, que da idolatria do dinheiro nascem outros males como a vaidade e o orgulho.
Não se pode servir a Deus e ao dinheiro. O Papa Francisco desenvolveu a sua homilia partindo das palavras de S. Paulo sobre a relação entre o caminho de Jesus e o dinheiro. Segundo o Santo Padre o dinheiro pode desviar-nos da fé e, nessas situações ficamos doentes...“O dinheiro também faz adoecer o pensamento e a fé e faz-nos ir por outros caminhos.” O Papa Francisco lembrou alguns que são católicos e até vão à missa, porque assim têm mais estatuto, mas depois... fazem as suas negociatas vivendo numa cultura do dinheiro...Escolhem a via do dinheiro e essa sedução leva à corrupção. E Jesus foi claro em relação a este assunto:
“Não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Não se pode. Ou um ou o outro! Isto não é comunismo, hen! Isto é o evangelho puro! Estas são as palavras de Jesus! O que é que acontece com o dinheiro? O dinheiro dá um certo bem-estar no início. Depois sentes-te um pouco importante e vem a vaidade. Ouvimos no Salmo dizer que se chega a esta vaidade. Esta vaidade que não serve, mas tu sentes-te uma pessoa importante: aquela é a vaidade. E da vaidade chega-se à soberba e ao orgulho. São três os degraus: riqueza, vaidade e orgulho.”
Ninguém se salva com o dinheiro – diz o Santo Padre – que avisou ser este o caminho do diabo, o caminho das tentações. Como diz S. Paulo, vivamos na justiça, na fé e na caridade e assim, diz o Papa, evitaremos as tentações do dinheiro e seguiremos os Mandamentos da Lei de Deus...
“Mas, Padre, eu leio os Dez mandamentos e nenhum fala mal do dinheiro. Contra que Mandamento se peca quando um de nós faz uma ação pelo dinheiro”. Contra o primeiro! Pecas por idolatria! Eis o porquê: Porque o dinheiro torna-se num ídolo e tu dás-lhe culto! E por isso Jesus diz-nos que não podemos servir ao ídolo do dinheiro e ao Deus Vivo: ou um ou o outro. Os primeiros padre da Igreja – do seculo III, mais ou menos entre o anos 200 e 300 diziam uma palavra forte: ‘O dinheiro é o excremento do diabo’. “ (RS)
RealAudioMP3

20 setembro, 2013

Papa Francisco, na primeira grande entrevista após a eleição: do que a Igreja mais precisa é curar feridas e aquecer o coração dos fiéis

.
AP Photo/Rodrigo De Luca


A revista "Brotéria", propriedade dos Jesuítas Portugueses, publica esta quinta-feira no seu site uma entrevista exclusiva que o papa Francisco concedeu a 16 publicações periódicas da Companhia de Jesus ao longo de três encontros, a 19, 23 e 29 de agosto, no Vaticano.

O entrevistador, padre Antonio Spadaro, diretor da revista italiana "La Civiltà Cattolica", estará em Portugal no início de outubro para participar nas Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, marcadas para Fátima.

A primeira grande entrevista que o papa concede após a sua eleição, a 13 de março, será também publicada na revista "Brotéria" que ficará disponível na próxima semana.

"Quem é Jorge Mario Bergoglio?", "viver em comunidade", "ouvir os outros", "santidade para todos", Igreja de portas abertas", "o que a Igreja mais precisa", "uma Igreja à procura de novos caminhos", "Igreja e homossexualidade", "aborto, casamento homossexual e métodos contracetivos", "anunciar o essencial está primeiro do que as normas morais", "sinodalidade", "mulher na Igreja", "perigo da instrumentalização do rito litúrgico anterior ao Concílio Vaticano II", "encontrar Deus no dia a dia, "paciência com Deus", "desconfiar de quem diz saber tudo de Deus", "a surpresa de Deus", "soluções disciplinares e segurança doutrinal", "referências culturais", "fé de fronteira", "pensamento da Igreja" e "oração", são alguns dos temas e questões abordadas na entrevista, de que apresentamos alguns excertos.

Os subtítulos foram escolhidos pela redação do site da Pastoral da Cultura. 

Quem é Jorge Mario Bergoglio?

Não sei qual possa ser a definição mais correta… Eu sou um pecador. Esta é a melhor definição. E não é um modo de dizer, um género literário. Sou um pecador. Sim, posso talvez dizer que sou um pouco astuto, sei mover-me, mas é verdade que sou também um pouco ingénuo. Sim, mas a síntese melhor, aquela que me vem mais de dentro e que sinto mais verdadeira, é exatamente esta: “Sou um pecador para quem o Senhor olhou”. Sou alguém que é olhado pelo Senhor. A minha divisa, "Miserando atque eligendo", senti-a sempre como muito verdadeira para mim. 

Viver em comunidade

Da Companhia impressionaram-me três coisas: o espírito missionário, a comunidade e a disciplina. Isto é curioso, porque eu sou um indisciplinado nato, nato, nato. Mas a sua disciplina, o modo de organizar o tempo, impressionaram-me muito. (...)
«E depois uma coisa para mim verdadeiramente fundamental é a comunidade. Procurava sempre uma comunidade. Eu não me via padre sozinho: preciso de uma comunidade. É mesmo isso que explica o facto de eu estar aqui
 


Ouvir os outros

Na minha experiência de superior na Companhia, para dizer a verdade, nem sempre me comportei assim, ou seja, fazendo as necessárias consultas. E isso não foi uma boa coisa. (...)

Agora oiço algumas pessoas que me dizem: “Não consulte demasiado e decida”. Acredito, no entanto, que a consulta é muito importante. Os Consistórios e os Sínodos são, por exemplo, lugares importantes para tornar verdadeira e ativa esta consulta. É necessário torná-los, no entanto, menos rígidos na forma. Quero consultas reais, não formais. A consulta dos oito cardeais, este grupo outsider, não é uma decisão simplesmente minha, mas é fruto da vontade dos cardeais, tal como foi expressa nas Congregações Gerais antes do Conclave. E quero que seja uma consulta real, não formal. 

Santidade para todos

Vejo a santidade no povo de Deus paciente: uma mulher que cria os filhos, um homem que trabalha para levar o pão para casa, os doentes, os sacerdotes idosos com tantas feridas mas com um sorriso por terem servido o Senhor, as Irmãs que trabalham tanto e que vivem uma santidade escondida. Esta é, para mim, a santidade comum. Associo frequentemente a santidade à paciência: não só a santidade como hypomoné, o encarregar-se dos acontecimentos e circunstâncias da vida, mas também como constância no seguir em frente dia após dia. Esta é a santidade da "Igreja militante" de que fala também Santo Inácio. Esta é também a santidade dos meus pais: do meu pai, da minha mãe, da minha avó Rosa, que me fez tanto bem. 

Igreja de portas abertas

Esta Igreja com a qual devemos “sentir” é a casa de todos, não uma pequena capela que só pode conter um grupinho de pessoas selecionadas. Não devemos reduzir o seio da Igreja universal a um ninho protetor da nossa mediocridade.

 O que a Igreja mais precisa

Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo. (...)

A Igreja por vezes encerrou-se em pequenas coisas, em pequenos preceitos. O mais importante, no entanto, é o primeiro anúncio: “Jesus Cristo salvou-te” (...)

Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora. Os ministros da Igreja devem ser misericordiosos, tomar a seu cargo as pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo. Isto é Evangelho puro. Deus é maior que o pecado. As reformas organizativas e estruturais são secundárias, isto é, vêm depois. A primeira reforma deve ser a da atitude. Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado. Os bispos, em particular, devem ser capazes de suportar com paciência os passos de Deus no seu povo, de tal modo que ninguém fique para trás, mas também para acompanhar o rebanho que tem o faro para encontrar novos caminhos». 

Uma Igreja à procura de novos caminhos

Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem. 

Igreja e homossexualidade

Devemos anunciar o Evangelho em todos os caminhos, pregando a boa nova do Reino e curando, também com a nossa pregação, todo o tipo de doença e de ferida. Em Buenos Aires recebia cartas de pessoas homossexuais, que são “feridos sociais”, porque me dizem que sentem como a Igreja sempre os condenou. Mas a Igreja não quer fazer isto. Durante o voo de regresso do Rio de Janeiro disse que se uma pessoa homossexual é de boa vontade e está à procura de Deus, eu não sou ninguém para julgá-la. Dizendo isso, eu disse aquilo que diz o Catecismo. A religião tem o direito de exprimir a própria opinião para serviço das pessoas, mas Deus, na criação, tornou-nos livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível. Uma vez uma pessoa, de modo provocatório, perguntou-me se aprovava a homossexualidade. Eu, então, respondi-lhe com uma outra pergunta: “Diz-me: Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afeto ou rejeita-a, condenando-a?” É necessário sempre considerar a pessoa. Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós devemos acompanhá-las a partir da sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia. Quando isto acontece, o Espírito Santo inspira o sacerdote a dizer a coisa mais apropriada. 

Não é preciso estar sempre a falar de aborto, casamento homossexual e métodos contracetivos

Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contracetivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente. 

Primeiro, anunciar o essencial; só depois as consequências morais

Os ensinamentos, tanto dogmáticos como morais, não são todos equivalentes. Uma pastoral missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente. O anúncio de caráter missionário concentra-se no essencial, no necessário, que é também aquilo que mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração, como aos discípulos de Emaús. Devemos, pois, encontrar um novo equilíbrio; de outro modo, mesmo o edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais simples, profunda, irradiante. É desta proposta que vêm depois as consequências morais. 

Sinodalidade

A sinodalidade vive-se a vários níveis. Talvez seja tempo de mudar a metodologia do sínodo, porque a atual parece-me estática. Isto poderá também ter valor ecuménico, especialmente com os nossos irmãos ortodoxos. Deles se pode aprender mais sobre o sentido da colegialidade episcopal e sobre a tradição da sinodalidade. O esforço de reflexão comum, vendo o modo como se governava a Igreja nos primeiros séculos, antes da rutura entre Oriente e Ocidente, dará frutos a seu tempo. Nas relações ecuménicas isto é importante: não só conhecer-se melhor, mas também reconhecer o que o Espírito semeou nos outros como um dom também para nós. Quero prosseguir a reflexão sobre como exercitar o primado petrino, já iniciada em 2007 pela Comissão Mista, e que levou à assinatura do documento de Ravena. É preciso continuar neste caminho.

 Mulher na Igreja

É necessário (...) aprofundar melhor a figura da mulher na Igreja. É preciso trabalhar mais para fazer uma teologia profunda da mulher. Só realizando esta etapa se poderá refletir melhor sobre a função da mulher no interior da Igreja. O génio feminino é necessário nos lugares em que se tomam as decisões importantes. O desafio hoje é exatamente esse: refletir sobre o lugar específico da mulher, precisamente também onde se exerce a autoridade nos vários âmbitos da Igreja. 

Perigo da instrumentalização do rito litúrgico anterior ao Concílio Vaticano II

O trabalho da reforma litúrgica foi um serviço ao povo como releitura do Evangelho a partir de uma situação histórica concreta. Sim, existem linhas de hermenêutica de continuidade e de descontinuidade. Todavia, uma coisa é clara: a dinâmica de leitura do Evangelho no hoje, que é própria do Concílio, é absolutamente irreversível. Depois existem questões particulares, como a liturgia segundo o Vetus Ordo [rito litúrgico da missa substituído em 1969, após o Concílio Vaticano II]. Penso que a escolha do Papa Bento XVI foi prudente, ligada à ajuda a algumas pessoas que têm esta sensibilidade particular. Considero, no entanto, preocupante o risco de ideologização do Vetus Ordo, a sua instrumentalização. 

Encontrar Deus no dia a dia

Deus está, certamente, no passado porque está nas pegadas que deixou. E está também no futuro como promessa. Mas o Deus “concreto”, digamos assim, é hoje. Por isso, os queixumes nunca, nunca, nos ajudam a encontrar Deus. As queixas de hoje de como o mundo anda “bárbaro” acabam por fazer nascer dentro da Igreja desejos de ordem entendidos como pura conservação, defesa. Não. Deus deve ser encontrado no hoje. 

Paciência com Deus

Deus encontra-Se no tempo, nos processos em curso. Não é preciso privilegiar os espaços de poder relativamente aos tempos, mesmo longos, dos processos. Devemos encaminhar processos, mais que ocupar espaços. Deus manifesta-Se no tempo e está presente nos processos da História. Isto faz privilegiar as ações que geram dinâmicas novas. E exige paciência, espera». 

Desconfiar de quem diz saber tudo de Deus

Neste procurar e encontrar Deus em todas as coisas fica sempre uma zona de incertezas. Tem de ser assim. Se uma pessoa diz que encontrou Deus com certeza total e não aflora uma margem de incerteza, então não está bem. Para mim, esta é uma chave importante. Se alguém tem a resposta a todas as perguntas, esta é a prova de que Deus não está com ela. Quer dizer que é um falso profeta, que usa a religião para si próprio. Os grandes guias do povo de Deus, como Moisés, sempre deixaram espaço para a dúvida. Devemos deixar espaço ao Senhor, não às nossas certezas. É necessário ser humilde. A incerteza existe em cada discernimento verdadeiro que se abre à confirmação da consolação espiritual.  

Procurar Deus: uma tarefa de todas as horas

«O risco no procurar e encontrar Deus em todas as coisas é, pois, a vontade de explicar demasiado, de dizer com certeza humana e arrogância: “Deus está aqui”. Encontraremos somente um deus à nossa medida. A atitude correta é a agostiniana: procurar a Deus para O encontrar e encontrá-l’O para O procurar sempre. (...) 

A surpresa de Deus

Encontra-se Deus caminhando, no caminho. E neste ponto alguém poderia dizer que isto é relativismo. É relativismo? Sim, se é mal interpretado, como espécie de panteísmo indistinto. Não, se é interpretado em sentido bíblico, onde Deus é sempre uma surpresa e, portanto, não sabes nunca onde e como O encontras, não és tu a fixar os tempos e os lugares do encontro com Ele. É necessário, portanto, discernir o encontro. Por isso, o discernimento é fundamental». 

Quem procura soluções disciplinares ou tende exageradamente à segurança doutrinal, não vai longe...

Se o cristão é restauracionista, legalista, se quer tudo claro e seguro, então não encontra nada. A tradição e a memória do passado devem ajudar-nos a ter a coragem de abrir novos espaços para Deus. Quem hoje procura sempre soluções disciplinares, quem tende de modo exagerado à “segurança” doutrinal, quem procura obstinadamente recuperar o passado perdido, tem uma visão estática e involutiva. E deste modo a fé torna-se uma ideologia entre tantas. 

Referências culturais

Gostei muito de autores diferentes entre si. Gosto muitíssimo de Dostoiévski e Hölderlin. De Hölderlin quero recordar aquela poesia para o aniversário da sua avó, que é de grande beleza e que me fez tanto bem espiritual. É aquela que termina com o verso “Que o homem mantenha o que o rapaz prometeu”. Impressionou-me também porque amava muito a minha avó Rosa, e ali Hölderlin compara a sua avó a Maria que gerou Jesus, que para ele é o amigo da terra que não considerou ninguém estrangeiro. Li I Promessi Sposi três vezes e tenho-o agora sobre a mesa para reler. Manzoni deu-me muito. A minha avó, quando eu era criança, ensinou-me de cor o início dos Promessi Sposi: “Quel ramo del lago di Como, che volge a mezzogiorno, tra due catene non interrotte di monti…” (Dos dois braços que formam o lago de Como, um deles dirige-se para o sul, entre duas cadeias ininterruptas de montanhas…) Também gostei muito de Gerard Manley Hopkins.

Na pintura admiro Caravaggio: as suas telas falam-me. Mas também Chagall, com a sua Crucifixão Branca...».

Na música gosto muito de Mozart, obviamente. Aquele Et Incarnatus est da sua Missa em Dó é insuperável: leva-te a Deus! Gosto muito de Mozart executado por Clara Haskil. Mozart preenche-me: não posso pensá-lo, devo ouvi-lo. Gosto de ouvir Beethoven, mas prometeicamente. E o intérprete mais prometeico para mim é Furtwängler. E depois as Paixões de Bach. O trecho de Bach de que gosto muito é o Erbarme Dich, o pranto de Pedro da Paixão segundo São Mateus. Sublime. Depois, num outro nível, não tão íntimo, gosto de Wagner. Gosto de ouvi-lo, mas não sempre. A Tetralogia do Anel executada por Furtwängler no Scala nos anos 50 é, para mim, a melhor. Mas também o Parsifalexecutado em 1962 por Knappertsbusch.

Deveríamos também falar do cinema. La strada, de Fellini, é talvez o filme de que mais gostei. Identifico-me com aquele filme, no qual está implícita uma referência a São Francisco. Depois, creio ter visto todos os filmes com Anna Magnani e Aldo Fabrizi quando eu tinha entre 10 e 12 anos. Um outro filme de que muito gostei é Roma città aperta. Devo a minha cultura cinematográfica sobretudo aos meus pais, que nos levavam frequentemente ao cinema.

Em todo o caso, em geral gosto muito dos artistas trágicos, especialmente os mais clássicos. Há uma bela definição que Cervantes coloca na boca do bacharel Carrasco para fazer o elogio da história de Dom Quixote: “Os rapazes têm-na entre as mãos, os jovens leem-na, os adultos entendem-na, os velhos elogiam-na”. Esta, para mim, pode ser uma boa definição para os clássicos.

Apercebo-me de estar absorvido por estas suas referências e de ter o desejo de entrar na sua vida, pela porta das suas escolhas artísticas. Seria um percurso a fazer, imagino que longo. E incluiria também o cinema, do neorrealismo italiano até a A Festa de Babette. Vêm-me à mente outros autores e outras obras que ele citou noutras ocasiões, mesmo menores ou menos conhecidas ou locais: de Martín Fierro de José Hernández à poesia de Nino Costa, a Il grande esodo de Luigi Orsenigo. Mas penso também em Joseph Malègue e José María Pemán. E, obviamente, em Dante e Borges, mas também em Leopoldo Marechal, o autor de Adán BuenosayresEl banquete de Severo Arcángelo e Megafón o la guerra. 

Fé de fronteira

Quando insisto na fronteira, de modo particular, refiro-me à necessidade para o homem da cultura de estar inserido no contexto em que opera e sobre o qual reflete. Está sempre à espreita o perigo de viver num laboratório. A nossa fé não é uma fé-laboratório, mas uma fé-caminho, uma fé histórica. Deus revelou-Se como história, não como um compêndio de verdades abstratas. Tenho medo dos laboratórios, porque no laboratório pegam-se nos problemas e levam-se para a própria casa, para domesticá-los, para os envernizar, fora do seu contexto. Não é preciso levar a fronteira para casa, mas viver na fronteira e ser audazes». 

Pensamento da Igreja deve recuperar a genialidade

Quando é que uma expressão do pensamento não é válida? Quando o pensamento perde de vista o humano ou até quando tem medo do humano ou se deixa enganar sobre si mesmo. É o pensamento enganado que pode ser representado como Ulisses diante do canto das sereias, ou como Tannhäuser, rodeado numa orgia por sátiros e bacantes, ou como Parsifal, no segundo ato da ópera wagneriana, no castelo de Klingsor. O pensamento da Igreja deve recuperar genialidade e entender sempre melhor como é que o homem se compreende hoje, para desenvolver e aprofundar o próprio ensino. 

Oração

Rezo o Ofício [Liturgia das Horas] todas as manhãs. Gosto de rezar com os Salmos. Depois, a seguir, celebro a Missa. Rezo o Rosário. O que verdadeiramente prefiro é a Adoração vespertina, mesmo quando me distraio e penso noutra coisa ou mesmo quando adormeço rezando. Assim, à tarde, entre as sete e as oito, estou diante do Santíssimo durante uma hora, em adoração. Mas também rezo mentalmente quando espero no dentista ou noutros momentos do dia.

E a oração é para mim uma oração “memoriosa”, cheia de memória, de recordações, também memória da minha história ou daquilo que o Senhor fez na sua Igreja ou numa paróquia particular. (...)Mas, sobretudo, eu sei também que o Senhor tem memória de mim. Eu posso esquecer-me d’Ele, mas sei que Ele nunca, nunca, se esquece de mim. 

--------------------------------------------

Reportagem por Antonio Spadaro
In Brotéria
© SNPC | 19.09.13