30 novembro, 2013

Sede protagonistas e não espectadores dos acontecimentos do mundo actual - Papa a estudantes e docentes durante a Oração das Primeiras Vésperas em São Pedro


(RV) Na tarde deste sábado, como já é tradição no inicio do Advento, o Papa rezou, na Basílica de São Pedro, as primeiras Vésperas com os Estudantes e Professores das Universidades Pontifícias e Ateneus Romanos e italianos.

Nas palavras que lhes dirigiu o Papa Francisco disse que Deus nos concedeu muitos tesouros espirituais. Porque, então, deve intervir sempre para os manter íntegros? – perguntou-se, logo respondendo que é porque nós somos débeis, a nossa natureza humana é frágil e os dons de Deus são conservados em nós como que num vaso de barro.

A intervenção de Deus a favor da nossa perseverança até ao encontro definitivo com Jesus, é expressão da sua fidelidade, antes de mais consigo próprio. A obra que começou em cada um de nós, leva-o ao cumprimento. E isto dá-nos segurança e confiança, uma confiança que assenta em Deus e requer a nossa colaboração activa e corajosa, perante os desafios do presente.

O Papa disse ainda aos jovens universitários que com a sua vontade e capacidade, unidas à potência do Espírito Santo que habita em cada um,
consentem-lhes ser não espectadores, mas protagonistas do mundo contemporâneo.

O Papa Francisco gostaria de visitar os pobres à noite

 
O esmoler pontifício, monsenhor Konrad Krajewski, nega que o Santo Padre o tenha acompanhado nas suas rondas entre os marginalizados de Roma mas admite: Há sempre o risco de que venha comigo" 

Roma, (Zenit.org) Luca Marcolivio

Muitos já tinham imaginado a cena: um homem vestido de branco que, na calada da noite, distribui esmola aos pobres nas ruas de Roma. É uma das tantas “lendas urbanas” sobre o Papa Francisco mas com um fundo de verdade.

Quem realmente executa esta atividade é monsenhor Konrad Krajewski, esmoler de sua Santidade, que admitiu: "Quando eu lhe contava que estava indo com eles, me perguntava se podia vir comigo".
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Encontrando com um grupo de jornalistas, dom Corrado (por esse nome é familiarmente conhecido monsenhor Krajewski no Vaticano) tratou de forma alegre aqueles que lhe perguntavam se alguma vez o Papa o tinha efetivamente acompanhado nas suas saídas noturnas. “Por favor, vos peço, façam-me outra pergunta”, disse sorrindo o bispo polaco.
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Sabe-se que, durante os anos de seu ministério episcopal em Buenos Aires, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, normalmente era encontrado entre as pessoas marginalizadas da capital argentina. Em Roma, porém, isso seria logisticamente muito inconveniente , tanto para o Papa, quanto para a Gendarmeria Vaticana. Ao Papa foi, então, desaconselhado uma presença noturna “on the road” por motivos de oportunidade e segurança.
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"Nós rapidamente percebemos que poderia haver problemas de segurança. É uma coisa complicada. Mas ele é assim, não pensa nos problemas”, explicou o esmoler.
O próprio fato de que monsenhor Krajewski não tenha confirmado, nem negado, uma presença do Papa ao seu lado, durante as visitas noturnas aos pobres, fez pensar que algumas vezes o Santo Padre possa ter realmente ido.
Além disso, o prelado brincou: “Quando falo para o Papa, saio esta noite para a cidade, há sempre o risco de que venha comigo".
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O que é certo é que o pontífice argentino tem particularmente no coração a atividade do seu esmoler ao qual disse um dia: “os teus braços serão uma extensão dos meus braços”. Cada pobre que encontre, “dom Corrado”, abrace, dando-lhe simbolicamente o abraço do Papa.
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"Olhe - disse uma vez Francisco - estes são os meus braços, são limitados, se os estendemos aos de Corrado podemos tocar os pobres de toda a Itália”.
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Desde o momento da sua nomeação, no passado mês de agosto, monsenhor Krajewski , que dá voltas por Roma a bordo de um Fiat Qubo, visitou 15 casas, dormitórios e famílias necessitadas.
Há pouco tempo foi à Lampedusa, onde levou 1600 cartões telefônicos aos sobreviventes depois do último naufrágio perto da ilha.
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Seguindo o conselho do mesmo Papa Francisco, o esmoler pontifício renunciou a sua escrivaninha: “não combina contigo, você pode vendê-la”, disse o papa
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“Dom Corrado” não espera que os pobres toquem na porta dos Muros Leoninos: é ele mesmo que sai por aí procurando-os, e também esta é uma indicação precisa de Bergoglio.
Sempre foi o papa a dizer-lhe: "Toda vez que alguém te chame de "excelência", peça a taxa para os pobres: 5 euros!”
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Normalmente monsenhor Krajewski distribui aos pobres de 200 a 1000 euros por dia. A instituição de caridade que dirige, é definida por ele como o "Pronto Socorro do Papa”: só em 2002, este departamento pontifício distribuiu aos pobres um milhão (1.000.000) de euros.
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Toda vez que Francisco encontra o seu esmoler, pergunta se precisa de dinheiro. Um vez lhe disse: “a conta está boa quando está vazia, significa que o dinheiro saiu para fazer o bem”.
(Tradução Thácio Siqueira)
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29 novembro, 2013

Pensar segundo Deus - o Papa na missa desta sexta-feira afirmou que o cristão não cede ao pensamento uniforme

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(RV) O cristão pensa segundo Deus e, por isso, recusa o pensamento débil e uniforme. Esta a principal mensagem do Papa Francisco na missa desta sexta-feira na Capela da Casa de Santa Marta. O Senhor ensina os seus discípulos a compreenderem “os sinais dos tempos”, sinais que os fariseus não souberam acolher. O Papa partindo do Evangelho do dia deteve-se na ideia de “pensar em cristão”. Quem segue Jesus não pensa só com a cabeça mas também com o coração:
“No Evangelho Jesus não se zanga, mas faz de conta quando os discípulos não percebiam as coisas. Àqueles de Emaus diz: ‘Homens sem inteligência e lentos de coração’... Aquele que não percebe as coisas de Deus é uma pessoa assim. O Senhor quer que nós percebamos o que acontece: o que acontece no meu coração, o que acontece na minha vida, o que acontece no mundo, na história... O que significa este o que acontece agora?... Estes são os sinais dos tempos! Ao contrário, o espírito do mundo faz-nos outras propostas, porque o espírito do mundo não nos quer povo: quer-nos massa, sem pensamento, sem liberdade.”
“O pensamento uniforme, o pensamento igual, o pensamento débil, um pensamento assim difuso. O espírito do mundo não quer que nós nos perguntemos perante Deus: ‘Mas porquê isto e porque é que acontece aquilo? Ou também nos propõe um pensamento prêt-a-porter, segundo os próprios gostos: ‘Eu penso como eu gosto!’ Mas isso está bem dizem eles... mas aquilo que o espírito do mundo não quer é aquilo que Jesus nos pede: o pensamento livre, o pensamento de homem e de uma mulher que são parte do Povo de Deus e a salvação foi isto mesmo! Pensai nos profetas...’Tu não eras meu povo e agora chamo-te meu povo: assim diz o Senhor. E esta é a salvação: fazer-nos povo, povo de Deus, ter liberdade.”
O Santo Padre considerou ainda que Jesus pede-nos para pensar livremente para perceber o que acontece, para compreendermos os sinais dos tempos, sempre com a ajuda de Deus:
“...apenas temos um pensamento segundo Deus. Com este pensamento, que é um pensamento da mente, do coração e da alma. Com este pensamento, que é dom do Espirito, procurar o significado das coisas e compreender bem os sinais dos tempos.” (RS)

28 novembro, 2013

A religião não é um facto privado: adoremos Jesus até ao fim com confiança e fidelidade - o Papa na missa desta quinta-feira

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(RV) Existem poderes mundanos que gostariam que a religião fosse uma coisa privada. Mas Deus, que venceu o mundo, deve-se adorar até ao fim com confiança e fidelidade. Esta a mensagem principal do Papa Francisco na missa desta quinta-feira na Casa de Santa Marta. Tal como as provas passadas por Jesus durante a sua vida: os insultos, as calúnias, a cruz – também todos os que n’Ele acreditam terão que enfrentar provações em nome da fé:
“Quando Jesus fala desta calamidade, noutra passagem diz-nos que será uma profanação do templo, uma profanação da fé, do povo: será a abominação, será a desolação da abominação. O que significa aquilo? Será como o triunfo do príncipe deste mundo: a derrota de Deus.”
Recordando a primeira leitura que nos conta o martírio de Daniel que é atirado para a fossa dos leões por ter adorado a Deus e não ao seu rei, o Papa Francisco considerou ser esta uma das provações que estamos a viver nos nossos dias - a proibição de adoração:
“ Não se pode falar de religião, é uma coisa privada, não é? Disto publicamente não se fala: Os símbolos religiosos são tolos. Temos que obedecer às ordens que vêm dos poderes mundanos. Podem-se fazer tantas coisas, coisas lindas, mas adorar Deus não. Proibição de adoração. Os cristãos que sofrem tempos de perseguição, tempos de proibição de adoração são uma profecia daquilo que nos acontecerá a todos.”
“Não tenhamos medo, apenas Ele nos pede fidelidade e paciência. Fidelidade como Daniel, que foi fiel ao seu Deus e adorou o seu Deus até ao fim. E paciência, porque os cabelos da nossa cabeça não caírão. Adorar até ao fim com confiança e fidelidade: esta a graça que devemos pedir esta semana.” (RS)

Não à homologação de um pensamento único pretensamente neutro: Papa à Plenária do Conselho para o Diálogo inter-religioso


(RV) Dialogar não significa renunciar à própria identidade, nem muito menos ceder a compromissos sobre a fé e sobre a moral cristã. A verdadeira abertura implica manter-se firme nas próprias convicções, mas ao mesmo tempo aberto a compreender as razões do outro, capaz de relações humanas respeitosas. Palavras do Papa Francisco, ao receber nesta quinta-feira os participantes na assembleia plenária do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, que teve desta vez como tema “Membros de diferentes tradições religiosas na sociedade civil”.

O Papa observou que o nosso mundo se tem tornado, num certo sentido, cada vez “mais pequeno”. De facto, o fenómeno das migrações aumenta os contactos entre pessoas e comunidades de tradição, cultura e religião diversa.

“Esta realidade interpela a nossa consciência de cristãos, é um desafio para a compreensão da fé e para a vida concreta das Igrejas locais, das paróquias e de muitíssimos crentes”.
O Papa Francisco evocou mesmo algumas passagens da sua Exortação Apostólica ontem mesmo publicada e em que considera que há-de ser “uma atitude de abertura na verdade e no amor “ a “caracterizar o diálogo com os crentes das várias religiões não cristãs, e isso não obstante diversos obstáculos e dificuldades, particularmente os fundamentalismos de ambas as partes”.

“O encontro com quem é diverso de nós pode ser ocasião de crescimento na fraternidade, de enriquecimento e de testemunho. É por isso que diálogo inter-religioso e evangelização não se excluem, mas se alimentam reciprocamente”.
O Santo Padre advertiu para o facto de hoje em dia, nas sociedades fortemente secularizadas, “a religião é vista como algo de inútil ou mesmo perigoso”. Por vezes, pretende-se que os cristãos renunciem às próprias convicções religiosas e morais, no exercício da profissão” e difunde-se a mentalidade segunda a qual a convivência só seria possível dissimulando a própria pertença religiosa, encontrando-se (todos) numa espécie de espaço neutro, isento de referências à transcendência”. Uma atitude que precisa de ser revista e superada.

Se “é necessário que tudo ocorra no respeito pelas convicções dos outros, mesmo de quem não crê”, em todo o caso, “precisamos de ter a coragem e a paciência de irmos ao encontro uns dos outros com aquilo que somos”.

“O futuro está na convivência respeitadora das diversidades, não na homologação de um pensamento único teoricamente neutro. É imprescindível o reconhecimento do direito fundamental à liberdade religiosa”.
“Temos a convicção de que é por este caminho que passa a edificação da paz do mundo”.
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Para além dos participantes na Plenária do Conselho para o Diálogo Inter-religioso, o Santo Padre recebeu nesta quinta-feira de manhã, em audiências sucessivas:
- o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, D. Gerhard Muller;
- D. Diego Causero, Núncio Apostólico na Suíça e no Principado de Liechtenstein;
- o Núncio Apostólico na Bósnia-Herzegovina e em Montenegro, D. Luigi Pezzuto; e
- o Irmão Alois, Prior da Comunidade de Taizé.

27 novembro, 2013

Papa Francisco - Audiência Geral

Praça de São Pedro


Quarta-feira, 27 de Novembro de 2013 

Locutor:
Queridos irmãos e irmãs,
Para levar a termo o ciclo de catequeses sobre o Credo, desenvolvidas durante o Ano da Fé, tratar-se-á agora o tema da ressurreição da carne. Hoje o faremos sob o prisma da morte em Cristo. Existe um modo equivocado de conceber a morte: para alguns, ela é o fim de tudo, um caminhar para o nada. Tal ideia só pode trazer medo e desilusão. Contudo, cada um de nós, ao perder uma pessoa amada, experimenta a convicção de que não pode ter acabado tudo. Trata-se de uma sede de vida que encontra na ressurreição de Cristo uma resposta real, que garante uma certeza de vida para além da morte. Por fim, justamente porque cremos que esta vida é uma peregrinação para a vida futura, é necessário estar vigilantes, preparando-nos para a morte, sobretudo, por meio da prática da misericórdia para com os mais fracos e necessitados, com quem Jesus quis se identificar de modo especial: assim nossa morte se tornará uma porta que nos introduzirá no Céu, para a nossa morada junto de Deus.
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Santo Padre:
Rivolgo un cordiale saluto ai pellegrini di lingua portoghese presenti a quest’Udienza, in particolare ai gruppi qui giunti dal Brasile. Cari amici, cercate sempre di essere solidali con quelli che soffrono, nella certezza che condividere il dolore e infondere speranza è premessa e condizione per ricevere in eredità il Regno dei Cieli preparato per noi. Dio vi benedica! 
* * *
Locutor:
Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, presentes nesta Audiência, especialmente aos grupos vindos do Brasil. Queridos amigos, buscai ser sempre solidários com aqueles que sofrem, na certeza de que compartilhar a dor e infundir esperança é premissa e condição para receber em herança o Reino dos Céus preparado para nós. Que Deus vos abençoe!


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EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM





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26 novembro, 2013

"A alegria do Evangelho": publicada a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo actual

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(RV) "A alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus": assim inicia a Exortação Apostólica "Evangelii Gaudium" com a qual o Papa Francisco desenvolve o tema do anúncio do Evangelho no mundo de hoje, recolhendo por outro lado a contribuição dos trabalhos do Sínodo que se realizou no Vaticano de 7 a 28 de Outubro de 2012, com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé". "Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos - escreve o Papa - para os convidar a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria e indicar direcções para o caminho da Igreja nos próximos anos" (1).

O Papa convida a "recuperar a frescura original do Evangelho”, encontrando "novas formas" e "métodos criativos", sem deixarmos enredar Jesus nos nossos "esquemas monótonos" (11). Precisamos de uma "uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão" (25). Requer-se uma "reforma das estruturas" eclesiais para que "todas se tornem mais missionárias" (27) . O Pontífice pensa também numa "conversão do papado", para que seja "mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades actuais da evangelização". A esperança de que as Conferências Episcopais pudessem dar um contributo para que "o sentido de colegialidade" se realizasse “concretamente” – afirma o Papa - "não se realizou plenamente" (32). E’ necessária uma “saudável descentralização" (16). Nesta renovação não se deve ter medo de rever costumes da Igreja "não directamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns dos quais profundamente enraizados ao longo da história" (43) .

Sinal de acolhimento de Deus é "ter por todo o lado igrejas com as portas abertas" para que os que vivem uma situação de procura não encontrem "a frieza de uma porta fechada". "Nem mesmo as portas dos Sacramentos se deveriam fechar por qualquer motivo". O Papa Francisco reafirma preferir uma Igreja "ferida e suja por ter saído pelas estradas, em vez de uma Igreja... preocupada em ser o centro e que acaba por ficar prisioneira num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se algo nos deve santamente perturbar ... é que muitos dos nossos irmãos vivem "sem a amizade de Jesus” (49).

O Papa aponta as "tentações dos agentes da pastoral": o individualismo, a crise de identidade, o declínio no fervor (78). "A maior ameaça" é "o pragmatismo incolor da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede na faixa normal, quando na realidade a fé se vai desgastando" (83). Exorta a não se deixar levar por um "pessimismo estéril " (84 ) e a sermos sinais de esperança (86) aplicando a "revolução da ternura" (88).

O Papa lança um apelo às comunidades eclesiais para não caírem em invejas e ciúmes: “dentro do povo de Deus e nas diversas comunidades, quantas guerras!" (98). "A quem queremos nós evangelizar com estes comportamentos?" (100). Sublinha a necessidade de fazer crescer a responsabilidade dos leigos, mantidos "à margem nas decisões" por um "excessivo clericalismo" (102). Afirma que "ainda há necessidade de se ampliar o espaço para uma presença feminina mais incisiva na Igreja", em particular "nos diferentes lugares onde são tomadas as decisões importantes" (103). "As reivindicações dos direitos legítimos das mulheres ... não se podem sobrevoar superficialmente" (104). Os jovens devem ter "um maior protagonismo" (106). (…)

Abordando o tema da inculturação, o Papa lembra que "o cristianismo não dispõe de um único modelo cultural" e que o rosto da Igreja é "multiforme" (116). "Não podemos esperar que todos os povos ... para expressar a fé cristã, tenham de imitar as modalidades adoptadas pelos povos europeus num determinado momento da história" (118). O Papa reitera "a força evangelizadora da piedade popular" (122) e incentiva a pesquisa dos teólogos.

O Papa detém-se depois, "com uma certa meticulosidade, na homilia", porque "são muitas as reclamações em relação a este importante ministério e não podemos fechar os ouvidos" (135). A homilia "deve ser breve e evitar de parecer uma conferência ou uma aula " (138), deve ser capaz de dizer "palavras que façam arder os corações", evitando uma "pregação puramente moralista ou para endoutrinar" (142). Sublinha a importância da preparação." (…) O próprio anúncio do Evangelho deve ter características positivas: "proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena" (165).

Falando dos desafios do mundo contemporâneo, o Papa denuncia o actual sistema económico, que "é injusto pela raiz" (59). "Esta economia mata" porque prevalece a "lei do mais forte". A actual cultura do "descartável" criou "algo de novo": “os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘lixo’, 'sobras'" (53). Vivemos uma "nova tirania invisível, por vezes virtual" de um "mercado divinizado", onde reinam a "especulação financeira", "corrupção ramificada", "evasão fiscal egoísta" (56). Denuncia os "ataques à liberdade religiosa" e as "novas situações de perseguição dos cristãos ... Em muitos lugares trata-se pelo contrário de uma difusa indiferença relativista" (61). A família - continua o Papa - "atravessa uma crise cultural profunda.

O Papa reafirma "a íntima conexão entre evangelização e promoção humana" (178 ) e o direito dos Pastores a "emitir opiniões sobre tudo o que se relaciona com a vida das pessoas" (182). "Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião à secreta intimidade das pessoas, sem qualquer influência na vida social". "A política, tanto denunciada" - diz ele - "é uma das formas mais preciosas de caridade". "Rezo ao Senhor para que nos dê mais políticos que tenham verdadeiramente a peito ... a vida dos pobres!" Em seguida, um aviso: "qualquer comunidade dentro da Igreja" que se esquecer dos pobres corre "o risco de dissolução" (207) .

O Papa convida a cuidar dos mais fracos: "os sem-tecto, os dependentes de drogas, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados" e os migrantes, em relação aos quais o Papa exorta os Países "a uma abertura generosa" (210 ). "Entre estes fracos que a Igreja quer cuidar" estão "as crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer negar a dignidade humana" (213) . "Não se deve esperar que a Igreja mude a sua posição sobre esta questão ... Não é progressista fingir resolver os problemas eliminando uma vida humana" (214). Neste contexto, um apelo ao respeito de toda a criação: "somos chamados a cuidar da fragilidade das pessoas e do mundo em que vivemos" ( 216) .

Quanto ao tema da paz, o Papa afirma que é "necessária uma voz profética" quando se quer implementar uma falsa reconciliação "que mantém calados" os pobres, enquanto alguns "não querem renunciar aos seus privilégios" (218). Para a construção de uma sociedade "em paz, justiça e fraternidade" indica quatro princípios: "trabalhar a longo prazo, sem a obsessão dos resultados imediatos"; "operar para que os opostos atinjam "uma unidade multifacetada que gera nova vida"; "evitar reduzir a política e a fé à retórica; colocar em conjunto globalização e localização.

"A evangelização - prossegue o Papa - também implica um caminho de diálogo", que abre a Igreja para colaborar com todas as realidades políticas, sociais, religiosas e culturais (238). O ecumenismo é "uma via imprescindível da evangelização". Importante o enriquecimento recíproco: "quantas coisas podemos aprender uns dos outros!". Por exemplo, “no diálogo com os irmãos ortodoxos, nós os católicos temos a possibilidade de aprender alguma coisa mais sobre o sentido da colegialidade episcopal e a sua experiência de sinodalidade" (246). "O diálogo e a amizade com os filhos de Israel fazem parte da vida dos discípulos de Jesus" (248). "O diálogo inter-religioso", que deve ser conduzido "com uma identidade clara e alegre", é "condição necessária para a paz no mundo" e não obscurece a evangelização (250-251). "Diante de episódios de fundamentalismo violento", a Exortação Apostólica convida a "evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islão e uma adequada interpretação do Alcorão se opõem a toda a violência" (253). Contra a tentativa de privatizar as religiões em alguns contextos, o Papa afirma que "o respeito devido às minorias de agnósticos ou não-crentes não se deve impor de forma arbitrária, que silencie as convicções das maiorias de crentes ou ignore a riqueza das tradições religiosas" (255). Reafirma, assim, a importância do diálogo e da aliança entre crentes e não-crentes (257) .

O último capítulo é dedicado aos "evangelizadores com o Espírito", aqueles "que se abrem sem medo à acção do Espírito Santo", que "infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia, em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente" (259). Trata-se de "evangelizadores que rezam e trabalham" (262), na certeza de que "a missão é uma paixão por Jesus mas, ao mesmo tempo, uma paixão pelo seu povo" (268): "Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros" (270). "Na nossa relação com o mundo – esclarece o Papa - somos convidados a dar a razão da nossa esperança, mas não como inimigos que apontam o dedo e condenam" (271). "Pode ser missionário - acrescenta ele - apenas quem busca o bem do próximo, quem deseja a felicidade dos outros" (272): "se eu conseguir ajudar pelo menos uma única pessoa a viver melhor, isto já é suficiente para justificar o dom da minha vida" (274)

25 novembro, 2013

O PADRE LAPA, A PNEUMAVITA E EU (2)



E assim começou a Vida Nova, começou o “nascer do Alto” de que Jesus fala a Nicodemos (Jo 3, 3).
E foi um crescendo, a seguir àquela assembleia, que foi sendo vivido num grupo de oração perto de casa, num encontro com o Espírito Santo, com a oração, com a Palavra de Deus, com os outros, encontros semanais que foram derrubando barreiras de timidez, de orgulho, de vaidade, de pretensa superioridade, tendo sempre presente o conselho avisado do Padre José da Lapa.
 
Toda essa vida nova que fui vivendo, (e ainda vivo, graças a Deus), está bem expressa na carta que então escrevi ao Padre Lapa, (publicada aqui) que era e é para mim, a referência, da vida entregue a Cristo, guiada pelo Espírito Santo no amor do Pai, em Igreja.
 
Lembro-me de, perante as minhas conversas com ele, lhe ouvir dizer coisas que nunca esqueci:
«Joaquim, o Espírito Santo é como uma “epidemia”, quando entra não só nos toca mas toca os que estão ao nosso lado.»
Constatei e constato isso tantas vezes ao longo destes anos.
 
Lembro-me, (e muitos se lembrarão), da sua frase tantas vezes repetida: «Eu sou o burrinho de Jesus.»
E eu pensava para mim: Se ele é o burrinho, eu nem para chão para ser pisado, sirvo!
 
As cartas sucedem-se, numa “vertigem” cheia de ansiedade de querer mais, querer “mais” Deus, querer compreender melhor, querer viver mais e mais sentir, querer fazer “coisas”, e o Padre Lapa, cheio de paciência vai-me respondendo com conselhos avisados, exortando-me e acalmando o meu “nervosismo” religioso.
Escreve ele, em resposta a uma das minhas cartas: «A maior necessidade que terás nesta fase é de orientação espiritual carismática e de uma comunidade na qual possas rezar, participar e colaborar.»
E noutra ainda: «Procura ler e selecionar bons livros.»
 
E mais uma assembleia e um retiro, e as cartas sucedem-se, (pobre Padre Lapa, ter que aturar um “exaltado” religioso).
 
Escrevo eu, em Novembro de 1998: «Sinto que o Senhor quer muito mais de mim, que eu ainda não sei o que é, mas espero que Ele mo mostre brevemente, pois o que faço, o que digo, o que sou, não me chega, sinto que não estou a aproveitar totalmente as capacidades que Ele me deu para O servir e servir aqueles que me rodeiam.»
E perante o problema de não arranjar um Director Espiritual, insisto: «Volto-me novamente para si, pedindo-lhe a sua ajuda e atrevendo-me até a perguntar: Porque não o Padre José Lapa, meu amigo?»
E ele responde com a humildade que o caracteriza: «Logo que seja possível falaremos, face a face, mais e melhor. Para já, sem recusar a ajudar-te, digo-te para escolheres como 1º Director Espiritual o Espírito Santo.»
E mais à frente: «Tu és o instrumento de que Deus se quer servir. Não procures fora aquilo que está dentro de ti e entre nós.»
 
Começa por essa altura a despontar a ideia, sugerida pelo Padre Lapa, da realização de uma assembleia do RCC em Monte Real, e homem de Igreja como é, insiste comigo, (que tudo queria fazer num instante), que devemos rezar pedindo ao Espírito Santo que nos desse o discernimento sobre tal assembleia, que não poderia ser realizada, (insiste ele), sem o acordo e autorização prévia do Pároco de Monte Real, do Assistente Diocesano do RCC e o conhecimento do Bispo da Diocese de Leiria-Fátima.
 
Entretanto convida-me, (com a minha mulher que caminha comigo este caminho novo), em Maio de 1999, a frequentar um Seminário de Aprofundamento com a Comunidade Pneumavita, na Torre d’Aguilha, orientado pelo Padre Vicente Borragán Mata, Seminário que se torna decisivo na confirmação da mudança da minha vida.
 
Neste Seminário acontecem então três coisas da maior importância para mim.
Quando cheguei, ainda tímido, (era assim quando não conhecia as pessoas), sou recebido pelas irmãs e irmãos da Comunidade Pneumavita como se de um filho se tratasse, com palavras e gestos de tal acolhimento, alegria e amor, que imediatamente me senti em família, sentimentos que ainda agora vivo sempre que tenho a possibilidade de estar com a Pneumavita, seja qual for a actividade em que nos encontramos. É um ninho para mim, um ninho onde me sinto amado, acolhido, desejado, sentimentos, aliás, partilhados pela minha mulher.
 
A outra “coisa” que aconteceu foi, que quase no fim do Seminário, o Padre Lapa me chamou para que ele, o Padre Vicente Mata, o Padre António Fernandes e alguns membros da Pneumavita rezassem por mim pedindo a Efusão do Espírito Santo.
Não se julgue que tive visões, ou qualquer outro tipo de manifestações “maravilhosas”, porque não tive nada disso! Tive sim a certeza de que Deus me amava e ama com amor infinito e me chamava e chama a servi-Lo, servindo os outros.
Durante a viagem de regresso, veio ao meu coração e à minha mente, o texto que ao chegar a casa escrevi num repente e que publiquei aqui.
 
A terceira nota sobre este Seminário, é para referir a importância de ter conhecido o Padre António Fernandes, (Beneditino, que já está em Deus), porque a sua amizade e conselho, em conjunto com o Padre Lapa e a Pneumavita, foram os alicerces fortes da morada que Deus quis construir em mim.
 
 
 
Marinha Grande, 25 de Novembro de 2013
Joaquim Mexia Alves
Nota:
O testemunho/homenagem que queria fazer ao Padre José da Lapa e à Comunidade Pneumavita, está a revelar-se no meu coração bem maior do que eu pensava, e por isso mesmo, vou-me deixando levar até onde Ele me quiser levar.

24 novembro, 2013

Peregrinação da Diocese de Lisboa - Encerramento do Ano da Fé

 Encerramento Ano da Fé - 24.11.13

 Catequese proferida por D. Manuel  .Clemente 


 
Algumas imagens da peregrinação
até ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios







 Homilia de D. Manuel Clemente 


  
 Homilia de D. Manuel Clemente, em texto.

A fé em Cristo na caridade do seu reino



Reunimo-nos aqui, caríssimos irmãos, para concluir o Ano da Fé. E fazemo-lo neste santuário de Nossa Senhora dos Remédios, porque é em lugar mariano que melhor celebraremos a fé de todos, que antes de mais foi a d’Ela. Sim, a fé com que aderiu inteiramente ao propósito divino de vir a este mundo e viver entre nós. Como em Jesus Cristo, o Filho de Maria, finalmente aconteceu.
- E que importante é esta primeira alusão! Da anunciação do anjo à hora da cruz, é com Maria que vivemos a fé, com ela aprendida. Com Maria, recebemos o Cristo que Deus Pai nos oferece; com Maria, crescemos em Cristo, guardando no coração as palavras com que Ele mesmo se revela, mais e mais; com Maria, permanecemos ao pé da cruz, onde Ele nos dá a sua vida e partilha connosco a sua mãe.
Por isso estamos aqui, provindos de tantos lugares do nosso Patriarcado, para com Maria nos salvarmos na cruz do seu Filho. E assim mesmo compreenderemos como a Igreja tem em Maria o seu resumo e imagem, pois se trata de repercutir nas nossas vidas pessoais e comunitárias os sentimentos com que Ela recebeu, seguiu e assinalou a vinda de Cristo ao mundo.
Presença de Cristo que inaugura o Reino. Os nossos antepassados do Antigo Testamento, guardavam a memória do rei David, que representara quase tudo o que Israel tivera de grande entre os povos. Os profetas divisaram depois um novo Reino, ainda maior na dimensão e nos propósitos, concentrado num “Filho de David”, como o próprio Jesus seria anunciado e aclamado.
Mas, em Jesus, se há continuidade e resposta em relação às melhores expectativas humanas, há sempre novidade no modo desse mesmo acontecer. Porque, em Jesus, Deus não se limita a responder-nos no sentido curto do que imediatamente nos conviria. Em Jesus, Deus dá-nos respostas definitivas, a que só poderemos aceder se nos dispusermos a viver definitivamente a vida. Na cruz, a entrega divina é total. Ao pé da cruz, a adesão de Maria é completa, representando já a da Igreja toda – o que a nossa há de ser, como verdadeira obra da fé.

Caríssimos irmãos, eu creio e quero crer que tudo quanto aconteceu nas nossas vidas e comunidades ao longo do Ano da Fé, hoje concluído, serviu de facto para nos convencer ainda mais de que, enquanto cristãos, só podemos ser assim, definitivos e totais no acolhimento e seguimento de Cristo. Cristo nas Escrituras, sempre ouvidas e lembradas. Cristo nos sacramentos, outros tantos sinais da sua entrega e companhia, pedindo-nos coerência e progresso na comunhão com Ele. Cristo nos irmãos, em que clama pela nossa atenção e serviço, para afinal nos retribuir a cem por um.
Isto mesmo creio e espero, como fruto dum Ano da Fé traduzido em caridade. Porque a nossa fé não tem nada de imaginário ou abstrato, antes se focaliza inteiramente na vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, o Filho de Maria e nosso Cristo. E, assim focalizada, não tira os olhos de quanto aconteceu do presépio à cruz, aí mesmo apercebendo os primeiros fulgores da ressurreição garantida. E, se assim nos fixamos, também assim o experimentamos, verificando como o Espírito vai reproduzindo em nós a vida, morte e ressurreição do mesmo Cristo.
- Pois não é espantoso, irmãos, sabermos e reconhecermos que, em todos e cada um dos que aqui viemos, a vida de Cristo se prolonga no mundo?! – E que assim mesmo se alarga aquele Reino e convivência nova em que tudo em nós ganha e realiza a caridade, que outra coisa não é – mas isso mesmo há de ser! – do que o amor com que Cristo nos amou?!
Aqui estamos, pois, e graças a Deus, com Maria ao pé da cruz. Aqui começa o Reino anunciado, porque, acontecendo no coração do mundo, só poderia ser onde o coração humano mais sofre e mais ama. Nada nos é oferecido em Cristo, senão na cruz do mundo, em que inteiramente se entrega. É por isso também que a nossa fé nada tem de alienante, pois, longe de nos alhear do drama e das dores da condição humana, nesta mesma nos faz encontrar a Deus, que exatamente aí nos espera, em Cristo crucificado, e donde Cristo ressuscita.
Por isso São Paulo podia resumir assim a sua pregação, escrevendo aos coríntios: «Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e este crucificado» (1 Cor 2, 2). E isso dizia, por experimentar vivamente o amor com que Cristo o salvara, como que fazendo dos dois uma só vida. São de fogo estas palavras de Paulo aos gálatas: «Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gl 2, 19-20).
Amados irmãos, importa saber, importa reter, que a fé cristã é um compromisso total com a cruz do mundo, em que Cristo nos espera. Aí mesmo experimentaremos – quando nos abeirarmos de todas as dores e expetativas dos outros – a presença de Cristo, que tão solidariamente nos salva. Aí e só aí se repetirá o diálogo que ouvimos no Evangelho; sendo agora Cristo e nós, cada um de nós, os protagonistas: «E acrescentou [um dos que foram crucificados com Jesus]: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso”».
Compreendemos pois que, concluindo o Ano da Fé, o nosso programa diocesano seja agora “atuá-la pela caridade”. Direi até que, com este ou outro lema, nesta ou noutra oportunidade, sempre teria de ser assim, para ser autenticamente cristão. E nunca nos faltam ocasiões para crescer na fé, atuando a caridade.                  
Olhe cada um para si, para a família, para os outros, na cruz que aí permanece e onde Cristo nos espera. Como Teresa de Calcutá, que, duma multidão compacta, que enchia uma imensa gare, ouviu um dia o clamor de Cristo na cruz: «Tenho sede! “. E nunca mais deixou de ouvi-lo… É nesta sede compartilhada que também nos dessedentaremos a nós.

Durante o Ano da Fé, repetimos com consciência renovada as frases dum Credo que resume tudo o que aprendemos de Cristo. Sobre o Pai, magnificamente revelado na misericórdia com que aguarda e refaz todos os pródigos, que somos nós. Sobre o próprio Cristo, verdadeiro irmão mais velho, que – ao contrário do da parábola – partilha inteiramente da misericórdia do Pai e nos vem buscar aonde estamos e mal estamos, para nos levar à casa paterna. Sobre o Espírito, em que nos envolve no amor que partilha com o Pai. Sobre a Igreja, que somos nós todos, na comunhão com Ele, para glória de Deus e salvação do mundo. Sobre a vida eterna, outro nome da caridade que o seu Espírito infunde nos nossos corações e não acabará jamais.
 Quando cada um destes artigos articula de facto o nosso ser, em contemplação e ação, estamos deveras no seu Reino e alargamo-lo diariamente neste mundo que, sendo nosso, há de ser finalmente o seu. Finalmente de Cristo, único modo de ser de todos, na caridade, na justiça e na paz.
Ainda na cruz que nos cabe, voltemo-nos para Ele na sua, como fez o bom ladrão. E as duas serão uma só, pois por todos se entrega e a todos oferece a sua vida, como aconteceu naquele dia derradeiro: ao bom ladrão ofereceu o paraíso, ao discípulo amado a sua mãe, a todos a própria vida, no sangue e na água que lhe brotaram do inextinguível coração.
Uma última coisa vos quero dizer, caríssimos irmãos, e especialmente operativa, programática quase: Quando professamos o Credo, há um momento central em que quase nos detemos, sempre inclinamos – e até genufletimos, no Natal e na Anunciação: é quando lembramos que Jesus Cristo, Filho de Deus, «encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem».
Tiremos daqui toda a consequência contemplativa e prática, pois assim mesmo e só assim cresce o Reino de Cristo no mundo. Incarnação significou para Cristo fazer sua a natureza humana, no que esta tem de promessa e igualmente de carência, contradição e até miséria. E aí mesmo estar connosco, estar com todos, com aquela proximidade absoluta que só Deus pode ter, como Criador que absolutamente nos conhece e como Salvador que inteiramente nos redime.
Pois bem: se já vivemos da sua misericórdia, sejamos também sinais ativos dela, junto de todas as necessidades do próximo, único modo de sermos concidadãos e testemunhas do seu Reino. Isso mesmo lembra outro passo evangélico, falando o próprio Cristo: «Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitastes.me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 34-36).
E não nos pareça grande demais o enunciado, pois se trata dum único sentimento, repercutido nos diferentes campos em que a nossa vida se desdobra, em relação indispensável com os outros. Trata-se sempre da caridade de Cristo, única naturalidade do seu Reino, a alargar no mundo pelos que queiram ser realmente seus.
Deste Reino somos e queremos ser. Por isso aqui estamos e assim daqui partimos, para os compromissos diários da nossa fé, que sempre atua pela caridade, e apenas nesta se credibiliza e demonstra (cf. Tg 2, 18).
Connosco temos a Mãe de Cristo, que diante de todas as carências, nossas e alheias, nos repetirá o que disse nas bodas de Caná: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Assim fez sobretudo Ela, e agora reina com Cristo, no coração de Deus e do mundo. Assim nos ensinará a fazer, para que o Reino de Cristo seja a imbatível esperança de nós todos!

+ Manuel Clemente

Nossa Senhora dos Remédios (Peniche), 24 de novembro de 2013, solenidade de Cristo Rei e encerramento do Ano da Fé.
 
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no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios








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