31 julho, 2013

Visita apostólica do Papa Francisco ao Brasil - 22-29 de Julho de 2013

Semanário ECCLESIA

EDIÇÃO ESPECIAL


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30 julho, 2013

Conferência de imprensa a bordo do avião: o Papa Francisco respondeu a tudo com espontaneidade e franqueza


(RV) Em jeito de conferência de imprensa, o Papa respondeu, no voo de regresso a Roma, às numerosas perguntas que ao longo de quase uma hora e meia, os 70 jornalistas a bordo, lhe dirigiram. O Papa enfrentou com a simplicidade e a franqueza que lhe são caracteristicas diversas questões como a reforma da Cúria Romana, do IOR, a questão dos lobbies, e o papel da mulher na Igreja. Oiça aqui algumas das suas respostas... RealAudioMP3

"Foi uma viagem bonita; espiritualmente, fez-me bem": o Papa estava visivelmente satisfeito com a experiência vivida com os jovens da JMJ no Brasil. "Encontrar as pessoas faz bem", continuou ele, "podemos sempre receber tantas coisas bonitas dos outros." E depois, uma referência às medidas de segurança que levantaram algumas preocupações:

"Não houve nenhum acidente em todo o Rio de Janeiro, nestes dias, e tudo era espontâneo. Com menos segurança, eu pude estar com as pessoas, abraçá-las, saudá-las, sem carros blindados ... É a segurança de quem confia no povo. Realmente, há sempre o perigo que haja um louco ... oh, sim, que haja um louco que faça alguma coisa, mas também está o Senhor, hein? Mas, fazer um espaço de blindagem entre o bispo e o povo é uma loucura, e eu prefiro este risco".

O Papa agradeceu depois aos organizadores e operadores da informação pela preciosa colaboração dada para contar os eventos desta 28ª JMJ. “A bondade e o sofrimento do povo brasileiro”, disse-lhes, são os aspectos que particularmente o impressionaram nesta viagem:

"A bondade, o coração do povo brasileiro é grande, é verdade, é grande; mas, é um povo tão amável, um povo que gosta de festa e que, mesmo no sofrimento, encontra sempre uma maneira para procurar o bem de todos os lados. E isto faz bem: é um povo alegre, um povo que sofreu tanto!".

Uma referência indirecta, esta, à comovente visita à favela de Varginha, em contacto com a pobreza extrema e a dor de tantas famílias. E depois a maravilha do Papa Francisco, pela participação de mais de três milhões de jovens de 178 Países na Missa de encerramento do último Domingo, em Copacabana; mas também a oração, sublinhou o Papa Francisco, foi o leitmotiv desta JMJ, como no dia da visita ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida:

"Aparecida, para mim, é uma experiência religiosa forte", disse o Papa. Evidentemente, o Papa Bergoglio recorda aquilo que este lugar, assim tão caro aos brasileiros, significou para a Igreja latino-americana, depois de ter sido a sede da V Conferência do episcopado do Continente, em Maio de 2007.

O Papa referiu-se também no colóquio com os jornalistas à próxima canonização dos dois pontífices João XXIII e João Paulo II: vão ser proclamados santos numa única celebração. Quanto à data, pensava-se no dia 8 de Dezembro, mas poderá ser adiada para a próxima primavera porque naquele período, na Polónia, as estradas estão cheias de gelo e os que vêm de autocarros, por não terem a possibilidades de vir a Roma de avião, correm o risco de não estar presentes. Sobre a sua escolha de viver de modo simples, em Santa Marta, o Papa respondeu:

“Eu não posso viver sozinho, ou com um pequeno grupo! Sinto a necessidade de estar com as pessoas, de encontrar gente, de falar com a gente… Cada um deve viver como o Senhor lhe pede para viver. Mas, a austeridade – uma austeridade geral – creio que seja necessária para todos aqueles que se põem a trabalhar pela Igreja”.

Resolvida, em seguida, com a ironia e a simplicidade próprias do Papa Bergoglio, o grande “mistério” da pasta preta, levada pessoalmente na viagem ao Brasil:

“aí não estava a chave da bomba atómica! Mas trazia-a eu porque fiz sempre assim… E o que é que contém!? Está gilete, está o breviário, está a agenda, está um livro de leitura – trouxe um sobre Santa Teresinha a quem sou devoto … andei sempre com a pasta, nas viagens: é normal. Mas temos de ser normais.”

O Papa abordou também temas mais delicados, como a reforma do IOR, dizendo: “não sei em que é que será transformado esse Instituto, se numa banca ou um fundo de ajudas, mas transparência e honestidade isto sim, devem ser os critérios em que se inspira esse organismo. O problema do IOR – continuou o Papa é “como reforma-lo, como sanear aquilo que deve ser saneado”.

Em seguida o Papa exprimiu a sua dor pelo escândalo criado por um monsenhor que acabou recentemente por ser encarcerado. Mas “existem santos na cúria
– especificou – e, mesmo se existe um ou outro que não seja tanto santo, estes são aqueles que fazem mais barulho: sabeis que faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce.

No que toca a temas éticos como o aborto e o casamento gay, o Papa voltou a sublinhar que não falou deles na JMJ de Rio, porque a posição da Igreja sobre isso é já conhecida e clara.

A uma pergunta sobre a questão da lobby gay no Vaticano, o Papa disse:

“Bem, escreve-se muito sobre a lobby gay. Eu ainda não encontrei ninguém que me tenha dado o bilhete de identidade no Vaticano com a escrita “gay”. Dizem que há. Creio que quando nos vemos perante uma pessoa assim, devemos distinguir o facto de ser uma pessoa gay do facto de fazer lobby, porque as lobbies não são boas. Não se trata duma coisa boa. Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade… mas quem sou eu para a julgar?”

Sobre a questão da comunhão aos divorciados que voltaram a casar-se, o Papa Francisco explicou que é um problema “complexo” que será tido em conta também pelo Conselho dos oito cardeais em Outubro próximo, mas recordou o que já dizia o cardeal Quarracino, segundo o qual metade dos matrimónios são nulos devido à imaturidade com que são contraídos.

Respondendo a um jornalista acerca do papel da mulher na Igreja, o Papa considerou que “se deve ir para a frente na explicitação do papel e do carisma da mulher” na Igreja e que não se fez ainda “uma profunda teologia da mulher na Igreja”.

O Pontífice falou depois dos movimentos eclesiais dizendo que “são necessários… são uma graça do Espírito”. Falou também da espiritualidade oriental com estas palavras: “temos necessidade… deste ar fresco do Oriente, desta luz do Oriente”.

Por fim, sobre a presença de Bento XVI no Vaticano disse:

“É como ter um avô em casa, mas um avô sábio. Quando numa família o avô vive em casa, é venerado, é amado, é ouvido. Ele é um homem de grande prudência, não se imiscui. Eu já lhe disse várias vezes: “Mas Santidade, faça a sua vida, receba hóspedes, participe nas nossas iniciativas… “. Participou na inauguração e bênção da Estátua de São Miguel… Para mim, é como ter um avô em casa. O meu pai. Se tivesse uma dificuldade ou algo que não compreendesse, havia de telefonar e dizer “mas diga-me, acha que posso fazer isto, aquilo?”. E quando fui ter com ele para falar daquele grande problema do vatileaks, ele disse tudo com grande simplicidade… ao serviço”.

29 julho, 2013

Papa Francisco envia mensagem a Dilma, ao sair do espaço aéro do Brasil

  
Inagem da Lusa


Texto integral:

Excelentíssima Senhora Dilma Rousseff, Presidenta da República Federativa do Brasil, ao deixar o espaço brasileiro, renovo a minha sincera gratidão pelo acolhimento generoso que me reservou e pela solicitude do Governo em assegurar uma tranquila realização dessa minha primeira visita ao Brasil. Faço votos de que a Jornada Mundial da Juventude possa reavivar os valores cristãos no coração dos jovens, contribuindo na construção de uma nação mais justa e fraterna e invocando a materna proteção de Nossa Senhora Aparecida, em cujo os pés depositei a vida de cada brasileiro. Envio uma propiciadora benção apostólica.

Francisco, o Papa.

28 julho, 2013

Brasil - Cerimónia de despedida do Papa Francisco


Imagens do CTV - Arranjo do GOVV
Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2013

Francisco completou primeira viagem internacional do pontificado que foi acompanhada por milhões de pessoas


Rio de Janeiro, Brasil, 28 jul 2013 (Ecclesia) – O Papa concluíu hoje uma visita de sete dias ao Brasil, durante a qual se mostrou atento às desigualdades e deixou apelos à renovação da Igreja e da sociedade, a partir dos jovens.

O voo papal descolou às 19h36 locais (mais quatro horas em Lisboa), depois do discurso final de Francisco, em que este disse partir com “saudades” do país e do seu povo.

A primeira viagem internacional do pontificado centrou-se na realização da 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que o Papa denominou como “festa da fé”, apresentado Jesus Cristo como a resposta definitiva às questões das novas gerações sobre o sentido da vida, ao contrário da “embriaguez” provisória do poder e do dinheiro.

Francisco falou da fé como uma “revolução”, tendo mais tarde convidados os participantes a assumir a missão de testemunhar e anunciar essa mesma fé nas “periferias” da humanidade, numa Igreja chamada a “promover a cultura do encontro”.

“Os jovens nas ruas são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem que outros sejam os protagonistas da mudança, vocês é que têm o futuro”, disse este sábado, perante mais de três milhões de pessoas na Praia de Copacabana.

O segundo Papa a visitar favelas do Rio de Janeiro entrou em casa de uma família da comunidade de Varginha, onde ficou durante cerca de 10 minutos, e lançou um apelo à superação das “intoleráveis desigualdades" sociais e económicas bem como da “cultura do descartável”.

O programa incluiu uma visita a um hospital onde ouviu testemunhos de ex-toxicodependentes e se mostrou contrário à legalização das drogas, pedindo “coragem” contra o narcotráfico.

Francisco viria depois a encontrar-se em privado com jovens reclusos, com os quais rezou pelo fim da violência, e deixou diversos apelos à valorização dos mais velhos, que disse serem vítimas de “eutanásia cultural”.

O contacto com os participantes na JMJ incluiu a confissão de cinco peregrinos e um almoço com 12 jovens, entre eles um português, em representação dos cinco continentes e do Brasil.

O Papa, que chegou ao Brasil na segunda-feira, apresentou-se como um visitante disponível para estabelecer um “diálogo de amigos”, pouco depois do primeiro banho de multidão e de ter ficado preso no trânsito do Rio de Janeiro.

Num contexto social e político marcado pelas manifestações das últimas semanas, Francisco foi ao Santuário de Aparecida (São Paulo) dizer que os católicos devem ajudar o país a “conservar a esperança”.

Mais tarde, de volta ao Rio de Janeiro, Francisco falou aos jovens que “perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e mesmo em Deus, pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho”.

Aos políticos e manifestantes, o Papa apresentou o “diálogo construtivo” como alternativa à “indiferença egoísta e o protesto violento”, num contexto de “humildade social”, para “reabilitar a política”.

A viagem deixou ainda os anúncios de que o Papa quer voltar ao Brasil em 2017, para assinalar o 300.º aniversário da descoberta da imagem da Virgem de Aparecida, e que a cidade polaca de Cracóvia, intimamente ligada a João Paulo II, vai receber a JMJ 2016.

A chegada a Roma de Francisco, primeiro Papa latino-americano da Igreja, está prevista para as 11h30 locais (menos uma hora em Lisboa) de segunda-feira.

OC

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VÍDEO


Encontro com os Voluntários da XXVIII JMJ - Francisco defende rebelião dos jovens católicos face à «cultura do provisório»


Pavilhão 5 do Rio Centro, Rio de Janeiro

Imagens do CTV - Arranjo do GOVV
Domingo, 28 de Julho de 2013

Papa agradece dedicação dos voluntários e pede-lhes a «coragem» de serem felizes


Rio de Janeiro, Brasil, 28 jul 2013 (Ecclesia) – O Papa agradeceu hoje no Rio de Janeiro o empenho e “disponibilidade” dos 60 mil voluntários da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), entre eles cerca de 600 portugueses, e pediu que sejam “revolucionários” contra a corrente.

“Peço que se rebelem, que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens”, afirmou sob os aplausos dos cerca de 12 mil representantes desses voluntários, no centro de congressos ‘Rio Centro’.

Francisco convidou os presentes a descobrirem o projeto de Deus para cada um e a assumirem “escolhas definitivas”, como no matrimónio.

“Há quem diga que hoje o casamento está ‘fora de moda’ – está fora de moda? -; a cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, ‘para sempre’, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã”, observou.

Nesse contexto, o Papa desafiou os jovens a terem coragem de "ir contra a corrente" e de “ser felizes”.

“Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer ‘sim’ a Deus”, sustentou, ao referir-se às vocações ao sacerdócio e à vida religiosa.

Francisco destacou a “prontidão e generosidade” dos voluntários da JMJ, deixando votos de que “sejam sempre generosos com Deus e com os outros”.

“Cada um, a seu modo, foi um instrumento para que milhares de jovens tivessem o ‘caminho preparado’ para encontrar Jesus e esse é o serviço mais bonito que podemos realizar como discípulos missionários”, disse.

O encontro contou com intervenções de um jovem brasileiro e uma jovem da Polónia, país que vai acolher a próxima edição internacional da JMJ (Cracóvia 2016).

"Caros amigos, novamente lhes agradeço por tudo o que fizeram nestes dias. Não se esqueçam de nada do que vocês viveram aqui! Podem contar sempre com minhas orações", concluiu o Papa.

Francisco, já com a sua pasta preta, voltaria ao palco para deixar um pedido: "Rezem por mim".

OC

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VÍDEO



Texto integral do discurso do Santo Padre

Queridos voluntários, boa tarde!
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Não podia regressar a Roma sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuoso, a cada um de vocês pelo trabalho e dedicação com que acompanharam, ajudaram, serviram aos milhares de jovens peregrinos; pelos inúmeros pequenos detalhes que fizeram desta Jornada Mundial da Juventude uma experiência inesquecível de fé.

Com os sorrisos de cada um de vocês, com a gentileza, com a disponibilidade ao serviço, vocês provaram que "há maior alegria em dar do que em receber" (At 20,35).
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O serviço que vocês realizaram nestes dias me lembrou da missão de São João Batista, que preparou o caminho para Jesus. Cada um, a seu modo, foi um instrumento para que milhares de jovens tivessem o “caminho preparado” para encontrar Jesus. E esse é o serviço mais bonito que podemos realizar como discípulos missionários: preparar o caminho para que todos possam conhecer, encontrar e amar o Senhor. A vocês que, neste período, responderam com tanta prontidão e generosidade ao chamado para ser voluntários na Jornada Mundial, queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e com os demais. Não se perde nada; ao contrário, é grande a riqueza da vida que se recebe!
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Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação é caminhar para a realização feliz de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um. 

Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”. Está fora de moda? [Não…]. Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E tenham também a coragem de ser felizes!
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O Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais necessitados.

Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Flores para me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria!
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Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho. Como fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto (cf. 1Sm 3,1-10) . Peçam vocês também a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?
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Caros amigos, novamente lhes agradeço por tudo o que fizeram nestes dias. Agradeço aos grupos pastorais, aos movimentos e novas comunidades que colocaram seus membros ao serviço desta Jornada. Obrigado! Não se esqueçam de nada do que vocês viveram aqui! Podem contar sempre com minhas orações, e sei que posso contar com as orações de vocês. Uma última coisa: rezem por mim.


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