29 fevereiro, 2012

Patriarca de Lisboa antecipa a 2.ª Catequese Quaresmal

28 de fevereiro de 2012


NOTA: Na faixa lateral deste blogue, em "Pesquisa rápida". poderá facilmente encontrar o acesso às anteriores Catequeses.

A LUZ E AS TREVAS


 
Este tempo da Quaresma, é um tempo particularmente indicado para meditarmos na nossa caminhada com Deus e para Deus.

Assim e mais uma vez me coloquei perante esta incrível constatação, que consiste em que quanto mais caminho, mais me falta caminhar, quanto mais tento resistir ao pecado, mais me parece que o pecado me tenta e ainda, que ao vencer, pela graça de Deus, algumas fraquezas do meu dia-a-dia, logo surgem outras que anteriormente não me parecia importante combater.

E, claro, lembro-me de algumas pessoas que me questionavam por isso mesmo, ou seja, que na caminhada que vão fazendo com Deus e para Deus, aquilo que dantes não lhes aparecia como fraqueza, se torna agora pecado a vencer.

Veio então ao meu pensamento esta imagem de me saber num quarto escuro, sem luz, escolhendo uma peça de roupa para vestir, mas que pretendo “perfeita”, não só na conjugação da cor, mas também numa perfeita qualidade de confecção.

A verdade é que, no meio das trevas, nada consigo distinguir e, portanto, ao toque, a minha sensação é de que aquela peça de roupa será a mais indicada pois parece-me não ter defeitos, e até posso acreditar que a cor é a mais perfeita para o que desejo.

Trago então a peça de roupa para um local com um pouco mais de luz, uma penumbra, e se ainda não consigo distinguir bem a cor, nem qualquer imperfeição, percebo sem dúvida uma mancha, que me parece uma nódoa, pois destoa na uniformidade do tom da peça que consigo ver. Mas não tem problema, julgo eu, pois com uma simples lavagem a nódoa sairá.

Passo então para um lusco-fusco e já me é dado perceber que a nódoa é efectivamente grande, mas mais do que isso detecto um pequeno buraco na peça de roupa que me parece um buraco feito por uma traça.
Ainda não me preocupo em demasia, porque um pequeno ponto de costura dado no sítio certo, fará com que tal buraco desapareça.

Aproximo-a então da luz de um candeeiro, o que já me permite perceber que a cor é de um tom indeterminado, e que talvez existam algumas imperfeições de confecção da peça de roupa.
Ainda não desanimo, porque provavelmente são coisas que não se notarão muito.

Saio então para a luz do dia e aí consigo já ver que o tom da cor não tem grande definição, ou seja, não é uma cor definida que eu possa conjugar com facilidade com o resto da minha roupa.
Confirmo também que se a nódoa é grande, sairá no entanto com facilidade numa lavagem simples e que o buraco da traça não se notará, depois de cosido.
Mas, àquela luz natural, a peça de roupa não me agrada muito, pois parece-me carregada de pequenas imperfeições que eu ainda não tinha conseguido identificar.
Se fosse para usar em ambientes fechados, com luz artificial, até poderia passar, mas para usar assim, à luz do dia, julgo que não me agrada, nem agradará a outros.

Sou então levado pela curiosidade de perceber até que ponto aquela peça de roupa tem defeitos e aproximo-a da luz do sol, para que incida totalmente sobre ela e eu possa descortinar os mais ligeiros defeitos.

Então, sob essa luz, já não ligo sequer à nódoa e ao buraco da traça, que facilmente serão eliminados, mas percebo perfeitamente pequenos defeitos na confecção da peça de roupa, que assim vistos e percebidos, retiram toda a graça, toda a beleza daquela peça de roupa que eu tinha escolhido para vestir.
Aquela peça de roupa que me parecia perfeita nas trevas, foi ganhando defeitos à medida que a luz incidia nela, de tal modo, que agora percebo que a não posso usar todos os dias, porque não só não me agrada, mas também porque com certeza não agradará àqueles que comigo se cruzam.

Connosco, na nossa caminhada com Deus e para Deus, sucede o “mesmo”.

À medida que nos afastamos das trevas para a Luz de Deus, vamos percebendo primeiro os grandes defeitos, os grandes pecados, que por Sua graça, combatemos com êxito.

Mas depois, à medida que nos vamos “examinando” à Luz de Deus, vamos descobrindo os nossos “defeitos”, as nossas fraquezas, que dantes não nos incomodavam, mas que agora, numa caminhada de verdade, percebemos que é necessário combater, para nos “fazermos” mais conformes à imitação de Cristo.

Por isso na nossa caminhada com Deus e para Deus, iremos sempre descobrindo na nossa vida terrena, “montes” para aplanar, “curvas” para endireitar, “espinhos” para aceitar, mas vivendo ao mesmo tempo a certeza inabalável que Ele está sempre connosco, e nos dá forças e “ferramentas” para a caminhada.

Por isso mesmo, ao contrário da peça de roupa que já não quero vestir, porque não a posso emendar de todos os defeitos, nós podemos sempre, pela graça de Deus, ir nascendo de novo pelo seu perdão, e purificando-nos do mal pelo seu amor.

E este é o caminho de conversão que nunca está acabado, enquanto não formos por Ele chamados, e pela sua graça, vivermos no seu gozo, eternamente.

Monte Real, 29 de Fevereiro de 2012
Joaquim Mexia Alves

27 fevereiro, 2012

25 fevereiro, 2012

Comemoração do VII Aniversário do G.O. 'Raboni, meu Mestre'


Raboni Meu Mestre


O grupo de oração carismática Raboni “Meu Mestre”, ainda de tenra idade, apenas sete anos de existência, viveu pela primeira vez (em festa) o dia do seu aniversário, que se realizou no dia 25 de Fevereiro de 2012.
No início, quando tive a ideia de tornar uma realidade de comemorar o aniversário do grupo, pensei em comemorá-lo só com os elementos que fazem parte do mesmo. Com o amadurecer da ideia e oração, comecei a ver o grupo como uma árvore que necessita de ser alimentada, pois por si só se torna difícil sobreviver, é necessário abrir as portas a outras fontes carismáticas para que elas brotem de si o alimento das suas vivências cristãs e assim possam nascer rebentos novos e rejuvenescimento entre todos.
Falar do dia 25 de Fevereiro de 2012 é falar de amor, fé, partilha, entrega e comunhão. Este dia não é fácil para mim explicá-lo, porque o vivi intensamente, muitas vezes, olhando para cada um dos presentes, não tinha palavras para descrever o rosto de cada um, pareciam-me todos iguais.
Há algo evidente, a felicidade que transparecia no rosto das pessoas, sem falar em nomes, algumas dessas pessoas mesmo em sofrimento mostravam alegria, vida, fé que brotava dentro do coração de cada uma delas.
Precisamos fazer mais comunhão uns com os outros, para que possamos através dessa comunhão, levá-la também aonde pouco ou nada existe.
Que o eco do Amor que Cristo nos deixou, me leve a mim e a todos nós à evangelização que é tarefa contínua, não esquecendo nunca, que a Ota foi aqui, em fraternidade, que iniciaram sua caminhada e com Azambuja com quem partilhamos o Seminário de Vida Nova no Espírito, no mesmo sentido de unidade.
«O pouco que se dá poder-se-á transformar em muito».
António Louro
(G.O. 'Raboni, Meu Mestre')


ENSINAMENTO

EUCARISTIA e FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO

 Maria Olga e João Silva


EUCARISTIA


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Reportagem fotográfica, em vídeo (com som):






Reportagem fotográfica, em imagem:

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O G.O. ‘Verdade e Vida’ - Ota, esteve presente no Aniversário deste Grupo irmão, partilhando o mesmo sentir, a mesma alegria, o mesmo reforço e vontade de viver  caminhando no Espírito.
Presente e bem representado, notoriamente manifestando o mesmo sentir, esteve também o G.O. ‘Boa Nova do Reino’ - Azambuja.
 Maria Olga e João Silva (antigos Coordenadores Diocesanos) presentearam-nos, não só com a sua atenta e activa presença, mas também, com o seu profundo ensinamento.
Presidiu a Eucaristia, o dinâmico e saudoso Pe. Rui Tereso (antigo auxiliar do Assistente Diocesano do RCC da Diocese de Lisboa, Pe. Manuel Carvalho, já falecido, e que muito contribuiu para o enriquecimento do RCC da Diocese).
O GOVV  felicita o G.O. ‘Raboni, Meu Mestre’, pelo seu Aniversário, assim como, pela organização eficaz da Assembleia e efeitos que contribuíram para a manutenção e reforço da necessidade de partilha entre os Grupos irmãos, e essencialmente, pela força do Espírito Santo, que contribuiu para um reactivar de energia para o progresso na caminhada.

Missão Metrópoles: Patriarca de Lisboa apresenta primeira catequese e convida catecúmenos



23 fevereiro, 2012

«PEGA NO TEU CATRE E ANDA»



Evangelho segundo S. Marcos 2,1-12.

Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaúm e se soube que estava em casa, juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra.
Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens.
Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico.
Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»
Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações:
«Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?»
Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações?
Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer:
'Levanta-te, pega no teu catre e anda’?
Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa». Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»

No Domingo passado foi-nos dado ler e meditar nesta passagem tão conhecida do Evangelho de São Marcos, que nos é referida também em São Mateus (Mt 9, 1-8), em São Lucas (Lc 5, 17-26) e, de uma forma diferente, em São João (Jo 5, 1-18).
Procurando algo mais do que tudo aquilo que eu já tinha reflectido e meditado nesta passagem, (porque a Palavra de Deus é viva e sempre nova), detive-me no pormenor do “catre”, e no facto de Jesus dizer àquele homem para levar o “catre” consigo.
Em Marcos três vezes é feita menção à ordem de Jesus «pega no teu catre e anda», em Mateus apenas uma vez, em Lucas duas vezes e em João nada menos do que cinco vezes.
Fiquei a meditar no que queria dizer para mim, para a minha vida, este pormenor tantas vezes repetido nestes Evangelhos?
O “catre” significou então para mim, não só os pecados daquele homem, mas também aquilo que o prendia e não o deixava andar, falando espiritualmente, claro.
O “catre” era assim também o passado daquele homem, um passado de pecado e paralisia que nã
Porquê então a necessidade de, depois de curado, levar consigo o “catre” e “andar”?
Deus não quer apagar o nosso passado, nem nós devemos querer apagar o nosso passado, ou tentar fazer que ele deixe de existir.
O nosso passado, com o que teve de bom, mas também com o que teve de mau, faz parte de nós e não o podemos apagar, porque a nossa vida seria então incompleta.
O nosso passado deve então ser vivido como um ensinamento permanente daquilo que fizemos bem e tudo aquilo que devemos evitar porque fizemos mal.
Pela graça de Deus, «os teus pecados estão perdoados», o nosso passado está perdoado, mas não deixa de fazer parte da nossa vida, apenas que, pelo perdão de Deus, já não nos magoa, já nem sequer nos deve envergonhar, mas apenas ser uma memória que nos ensina o que evitar para não voltar a pecar.
Sei, por experiência própria, o que é viver isto mesmo que agora aqui reflicto.
Com efeito, nos muitos anos em que andei afastado de Deus, da Fé, da Igreja, também “ganhei” um “catre”, um pesado “catre”, que não me deixava ser livre, que não me deixava caminhar na vida ao encontro de Deus, o Único que nos dá a vida completa, a «vida em abundância», e que nos faz inteiramente livres.
Durante algum tempo foi muito difícil carregar o “catre”, porque ele pesava muito, e por isso eu queria deixá-lo, queria apagá-lo da minha vida.
E pedi muito a Deus que me ajudasse a esquecê-lo, que me ajudasse a libertar dele, para que me sentisse livre para caminhar.
Até que um dia, em adoração e suplicando mais uma vez a graça de me ver livre do meu “catre”, percebi intimamente, por graça de Deus, que eu só poderia ser livre quando aceitasse o meu “catre” com tudo aquilo que ele tinha de mau, mas aceitando-o com a certeza de que ele já não me poderia pesar, pois Deus no Seu perdão, o tinha aliviado desse peso do pecado.
Mas mais do que isso, teria de o carregar, já não como um peso, mas como um ensinamento de tudo o que deveria evitar na minha vida, para não mais paralisar a minha caminhada.
E mais ainda, que esse “catre” deveria servir também para eu dar testemunho a outros, de como o perdão de Deus é infinito, como o encontro pessoal com Ele muda as nossas vidas, e como não há nada que Deus não perdoe, perante o nosso sincero arrependimento.
Percebi então como era importante aquele homem, nós homens, transportarmos os nossos “catres”: nós somos um todo com o nosso passado, com o nosso presente, com o nosso futuro.
Mesmo quando no passado, por qualquer razão nos afastámos de Deus, Ele não deixou de nos amar, de estar connosco, e até de carregar o nosso “catre” connosco.
Perdoados os pecados, ficamos curados da paralisia espiritual e podemos então caminhar livres, com tudo aquilo que fomos e somos, pois o “catre” já não nos pesa, pela graça do perdão de Deus.

Marinha Grande, 22 de Fevereiro de 2012
Joaquim Mexia Alves

BENTO XVI - SANTA MISSA, BÊNÇÃO E IMPOSIÇÃO DAS CINZAS

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
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Basílica de Santa Sabina

Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2012


Venerados Irmãos
Queridos irmãos e irmãs

Com este dia de penitência e de jejum — Quarta-Feira de Cinzas — iniciamos um novo caminho rumo à Páscoa de Ressurreição: o caminho da Quaresma. Gostaria de meditar brevemente sobre o sinal litúrgico das cinzas, um sinal material, um elemento da natureza, que na Liturgia se torna um símbolo sagrado, muito importante neste dia que dá início ao itinerário quaresmal. Antigamente, na cultura judaica, o uso de colocar sobre a cabeça cinza em sinal de penitência era comum, combinado muitas vezes com o vestir-se com um saco ou com trapos. Para nós cristãos, ao contrário, há este momento único, que tem aliás uma notável relevância ritual e espiritual.

Antes de tudo, a cinza é um destes sinais materiais que levam a criação dentro da Liturgia. Os principais são evidentemente os dos Sacramentos: a água, o óleo, o pão e o vinho, que se tornam verdadeira matéria sacramental, instrumento através do qual se comunica a graça de Cristo que chega até nós. No caso das cinzas trata-se ao contrário de um sinal não sacramental, mas contudo sempre relacionado com a oração e a santificação do Povo cristão. Com efeito, é prevista, antes da imposição individual sobre a cabeça — que faremos daqui a pouco — com duas fórmulas possíveis. Na primeira elas são definidas «símbolo austero»; na segunda invoca-se directamente sobre elas a bênção e faz-se referência ao texto do Livro do Génesis, que também pode acompanhar o gesto da imposição: «Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar» (cf. Gn 3, 19).

Detenhamo-nos um momento sobre este versículo do Génesis. Ele conclui o juízo pronunciado por Deus depois do pecado original: Deus maldiz a serpente, que fez pecar o homem e a mulher; depois pune a mulher anunciando-lhe as dores de parto e uma relação desequilibrada com o marido; por fim, castiga o homem, anuncia-lhe a fadiga do trabalho e amaldiçoa o solo. «Maldita seja a terra por tua causa!» (Gn 3, 17), por causa do teu pecado. Por conseguinte, o homem e a mulher não são directamente amaldiçoados como ao contrário a serpente, mas, por causa do pecado de Adão, é amaldiçoada a terra, com a qual ele tinha sido moldado. Releiamos a magnífica narração da criação do homem com a terra: «O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que havia formado» (Gn 2, 7-8); assim narra o Livro do Génesis.

Eis por conseguinte que o sinal das cinzas nos conduz ao grande afresco da criação, no qual se diz que o ser humano é uma singular unidade de matéria e de sopro divino, através da imagem do pó da terra plasmada por Deus e animada pelo seu sopro insuflado pelas narinas da nova criatura. Podemos observar como na narração do Génesis o símbolo do pó sofre uma transformação negativa por causa do pecado. Enquanto antes da queda a terra é uma potencialidade totalmente boa, irrigada por uma nascente de água (cf. Gn 2, 6) e capaz, por obra de Deus, de germinar «todas as espécies de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer» (Gn 2, 9), depois da queda e da consequente maldição divina ela produzirá «espinhos e abrolhos» e só em troca «de penoso trabalho» e do «suor do rosto» concederá ao homem os seus frutos (cf. Gn 3, 17-18). O pó da terra já não recorda só o gesto criador de Deus, totalmente aberto à vida, mas torna-se sinal de um destino inexorável de morte: «Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar» (Gn 3, 19).

É evidente no texto bíblico que a terra participa no destino do homem. Diz a este propósito são João Crisóstomo, numa das suas homilias: «Vê como depois da sua desobediência tudo é imposto sobre ele [o homem] de forma contrária ao seu estilo de vida precedente» (Homilias sobre o Génesis 17, 9: pg 53, 146). Esta maldição da terra tem uma função curativa para o homem, que pelas «contrariedades» da terra deveria ser ajudado a manter-se nos seus limites e reconhecer a própria natureza (cf. ibid.). Assim, com uma bonita síntese, exprime-se outro antigo comentário, que diz: «Adão foi por Deus criado puro para o seu serviço. Todas as criaturas lhe foram concedidas para o servir. Ele fora destinado para ser o senhor e rei de todas as criaturas. Mas quando o mal chegou e conversou com ele, ele recebeu-o por meio de uma escuta externa. Depois, adentrou-se no seu coração e apoderou-se de todo o seu ser. Quando, deste modo, foi capturado, a criação, que o tinha assistido e servido, foi capturada com ele» (Pseudo-Macário, Homilias 11, 5; pg 34, 547).

Dizíamos há pouco, citando são João Crisóstomo, que a maldição da terra tem uma função «curativa». Isto significa que a intenção de Deus, que é sempre benéfica, é mais profunda do que a própria maldição. Com efeito, é devida não a Deus mas ao pecado, mas Deus não pode deixar de a infligir, porque respeita a liberdade do homem e as suas consequências, até negativas. Por conseguinte, no âmbito da punição, e também da maldição da terra, permanece uma intenção boa que provém de Deus. Quando Ele diz ao homem: «Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar!», juntamente com o justo castigo pretende anunciar também um caminho de salvação, que passará precisamente através da terra, através do «pó», da «carne» que será assumida no Verbo. É nesta perspectiva salvífica que a palavra do Génesis é retomada pela Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas: como convite à penitência, à humildade, a ter presente a própria condição mortal, e não para acabar no desespero, mas sim para acolher, precisamente nesta nossa mortalidade, a proximidade impensável de Deus que, além da morte, abre a passagem para a ressurreição, o paraíso finalmente reencontrado. Neste sentido orienta-nos um texto de Orígenes, que diz: «Aquilo que inicialmente era carne, da terra, um homem de pó (cf. 1 Cor 15, 47), e foi dissolvido através da morte e de novo tornado pó e cinza — de facto está escrito: és pó e em pó te hás-de tornar — é feito ressuscitar da terra. Em seguida, segundo os merecimentos da alma que habita o corpo, a pessoa caminha rumo à glória de um corpo espiritual» (Sobre os Princípios 3, 6, 5: Sch., 268, 248).

Os «merecimentos da alma», dos quais fala Orígenes, são necessários; mas fundamentais são os merecimentos de Cristo, a eficácia do seu Mistério pascal. São Paulo ofereceu-nos dele uma formulação sintética na Segunda Carta aos Coríntios, segunda Leitura de hoje: «Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós para que nos tornássemos n’Ele justiça de Deus» (2 Cor 5, 21). A nossa possibilidade do perdão divino depende essencialmente do facto que o próprio Deus, na pessoa do seu Filho, quis partilhar a nossa condição, mas não a corrupção do pecado. E o Pai ressuscitou-o com o poder do seu Espírito Santo e Jesus, novo Adão, tornou-se, como diz são Paulo, «espírito dador de vida» (1 Cor 15, 45), primazia da nova criação. O mesmo Espírito que ressuscitou Jesus dos mortos pode transformar os nossos corações de pedra em corações de carne (cf. Ez 36, 26). Invocámo-lo há pouco com o Salmo Miserere: «Cria em mim, ó Deus, um coração puro / renova em mim um espírito firme. / Não me afastes da tua presença / e não me prives do teu santo espírito» (Sl 50, 12-13). Aquele Deus que expulsou os progenitores do Éden, enviou o seu Filho à nossa terra devastada pelo pecado, não o poupou, para que nós, filhos pródigos, pudéssemos voltar, arrependidos e remidos pela sua misericórdia, à nossa pátria verdadeira. Assim seja, para cada um de nós, para todos os crentes, para cada homem que humildemente se reconhece necessitado de salvação. Amém. 

© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana 

22 fevereiro, 2012

PAPA BENTO XVI - Audiência Geral

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2012


Quarta-feira de Cinzas
Queridos irmãos e irmãs,
Nos próximos quarenta dias, que nos levarão até ao Tríduo Pascal – celebração da paixão, morte e ressurreição de Cristo –, somos convidados a viver um caminho de conversão e renovação espiritual, que nos faça sair de nós mesmos para ir ao encontro do Senhor. Este período será um tempo propício para uma experiência mais profunda de Deus, que torne forte o espírito, confirme a fé, alimente a esperança e anime a caridade. Poderemos assim ver e recordar tudo aquilo que Ele fez por nós. Daí concluiremos que só o Senhor nos merece; e, sem mais adiamentos nem hesitações, entregar-nos-emos nas suas mãos. E Cristo tornar-nos-á participantes da vitória sobre o pecado e a morte, que Ele nos alcançou com o seu amor levado até ao extremo da imolação por nós na cruz. Seguindo o caminho da cruz com Jesus, ser-nos-á aberto o mundo luminoso de Deus, o mundo da luz, da verdade e da alegria. Inundados por esta luz, ganharemos nova coragem para aceitar, com fé e paciência, todas as dificuldades, aflições e provações da vida, sabendo que, das trevas, o Senhor fará surgir a alvorada nova da ressurreição.
* * *
A minha saudação amiga para o grupo escolar da Lourinhã e todos os peregrinos presentes de língua portuguesa. A Virgem Maria tome cada um pela mão e vos acompanhe durante os próximos quarenta dias que servem para vos conformar ao Senhor ressuscitado. A todos desejo uma boa e frutuosa Quaresma!
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19 fevereiro, 2012

Catequese e Renovamento



Isabel Moraes Marques

Formas de Louvor
É necessário que, no contexto do grupo carismático de oração, o coordenador seja um instrumento dócil ao Espírito de Deus e atento às suas moções. Só assim poderá levar os participantes do grupo a uma vida cristã adulta e poderosa, uma vida repleta de frutos do Espírito, amadurecidos e transbordantes, uma vida de santidade e de apostolado, no centro do qual está Jesus como Senhor e Salvador. E porque todos queremos ser carismáticos, não apenas de nome mas verdadeiramente movidos e dirigidos pelo Espírito santo, a Revista Pneuma iniciou, do número de Agosto/Setembro, uma série de artigos fundamentados em ensinamentos do Pe. Alírio Pedrini, especialista de teologia do Espírito Santo e do Renovamento Carismático, com uma vasta e preciosa obra de ‘«literatura carismática» publicada. O primeiro artigo lançou uma pergunta «Grupo de oração, ou grupo carismático der oração?», a que se seguiu um conjunto de três artigos sobre o louvor. «O louvor do grupo carismático», «Louvor inspirado» e, agora neste número de Fevereiro, «Formas de Louvor».
O Espírito santo tem suscitado e renovado, através do Renovamento Carismático, formas profundas e ricas de louvor individual e comunitário. Para os participantes no Renovamento, algumas formas de louvor parecem estranhas, diferentes e, até, incompreensíveis. Por um lado, não fomos educados para a oração mais espontânea, mas pessoal, que brota do coração de quem ora; por outro lado, estas formas comunitárias de louvor, comuns nas comunidades dos primeiros séculos, desapareceram (pela maior fixação de orações escritas e prescritas) mas, depois de experimentadas, revelam a sua beleza, facilidade e eficácia espiritual. Para que todos possam aprender a louvar, participando cada vez melhor nas reuniões de oração, passamos a apresentar as várias formas enunciadas pelo Pe. Alírio.

1.  LOUVOR INDIVIDUAL

É a forma de louvar mais simples e bem conhecida no Renovamento. Pode ser feito a sós, na oração pessoal, ou nas reuniões de oração. Vamos referir-nos ao louvor individual usando uma reunião de oração. Louvor individual é aquele pronunciado por uma pessoa, que louva em voz alta e é ouvido por todos os outros. Os ouvintes acompanham o louvor em silêncio, com o coração atento e alegre por perceberem que o Senhor está a ser elogiado; no final, podem participar e confirmar o louvor com alguma exclamação: «Glória ao senhor!» ou «Louvado seja o Senhor», ou «Aleluia». Um após outro, vários louvores vão desfilando, entremeados por cânticos de louvor. Nos grupos participantes, assim como nos grupos que não evoluíram e sonde esta é quase a única forma de louvar, observaremos três tipos de louvor individual: louvor esperado, mini-louvor e louvor variedades.
Louvor esperado: É o louvor individual feito por várias pessoas, uma após outra, mas sem um tema. Como uma manta de retalhos, neste louvor vão-se sucedendo os mais diversos motivos de louvor: um louva a Deus pela criação; outro, pela sua família, outro, pela alegria; outro, pelo sucesso do filho; outro, pela cura recebida; outro, pelas forças que tem para superar os problemas. Os louvores são como peças separadas, não havendo um assunto definido, uma linha. Em grupos principiantes, deve aceitar-se tranquilamente este louvor; porém, não pode continuar para sempre. O coordenador deve perceber o momento certo de amadurecer o grupo, ensinando, exercitando, introduzindo novas formas mais adultas e ricas.

Mini-louvor: é o louvor individual realizado em frases muito curtas, em que o pensamento, o tema, não foi desenvolvido por palavras mais esclarecedoras. Quem ouve o mini-louvor não percebe, em maior dimensão, o porquê daquele louvor. Dois exemplos de mini-louvor: «Senhor, eu vos louvo pela vida que me destes. Eu vos louvo, Senhor»; «Louvado sejais sempre, Senhor, pelo nosso grupo de oração. Obrigado, Senhor». O mini-louvor não é mau, não é errado, é bom em si mesmo. Há pessoas simples que só podem exprimir as suas ideias em frases curtas. Respeitemo-las; devem continuar a fazer o mini-louvor. No entanto, os coordenadores precisam de ensinar os participantes dos grupos a desenvolver e explicar o seu louvor. O louvor mais explicado é uma forma de motivar o grupo ao crescimento espiritual. Ouvindo bons louvores, não só aprendemos a louvar como, às vezes, aprendemos novas verdades e realidades da nossa fé, da nossa vida, da nossa Igreja.

Louvor-variedades: é o louvor no qual a pessoa que ora relata uma série variada de motivos e louva ao mesmo tempo por todos, sem esclarecer os porquês daquele louvor. Um exemplo de louvor-variedades: «Senhor Deus, Pai criador, eu vos louvo pelo Sol que criastes, pelas plantas, pelo mar, pelos passarinhos, pelos rios e fontes, pelos peixes. Toda a glória e louvor a vós, Senhor». Este louvor-variedades não é errado, é louvor e, portanto, bom em si mesmo. Mas pode ser melhorado, tomando um só tema, por exemplo, o Sol, e explorando-o em profundidade: «Senhor Pai criador, eu vos louvo pelo sol que criastes; a sua existência é tão importante e imprescindível para nós, para a nossa vida e saúde. Os seus raios iluminam a Terra e do teu calor beneficiam a todos os animais e plantas. Pelas maravilhas do Sol e todo o bem e beleza que dele recebemos, glória e louvor a vós, Senhor».

2.  LOUVOR INDIVIDUAL INSPIRADO

Geralmente, o louvor individual feito nas reuniões de oração é o louvor esparso: não devolve um tema, não acompanha uma inspiração, o que bem mostra a falta de conhecimento e de atenção ao Espírito Santo. É preciso aprender e deixar-se inspirar para que este louvor siga um tema. Como fazer para chegar a este louvor? Relembremos o que já explicámos em número anterior desta revista: saberqu3e o inspirador é o Espírito santo; entregar-se ao Espírito esvaziando-se de si, e educar-se para ouvir com os ouvidos do coração e do corpo. O tema do louvor surgirá ou da oração inicial do coordenador; ou do cântico inicial; um de uma palavra bíblica que foi colocada no início da reunião; ou do louvor espontâneo de alguém. Quando surgir o tema, todos devem entrar e ficar no tema, por todo o tempo que o Espírito for inspirando. Tudo convergirá para o tema: os louvores, os cânticos, as profecias, as palavras bíblicas. Às vezes, vem outro tema inspirado; em geral, este novo tema virá, da seguinte forma, ligado ao primeiro.
O louvor individual inspirado enriquece muito a vida espiritual, proporcionando o crescimento de cada um e do grupo. É, pois, fundamental que os coordenadores percebam a necessidade de ensinar e treinar os participantes do grupo para a forma de louvar, com ensinamentos claros, repetidos, e exercícios constantes. A maior parte dos coordenadores encontra dificuldades no crescimento do grupo, exactamente pela falta de imaginação. Apresentamos um exercício criativo para desenvolver a capacidade de descobrir muitos e variados motivos para louvar. O coordenador começa por dar ao grupo um tema, por exemplo: Deus é bom. A seguir, pede que os participantes conversem dois a dois, ou três a três, para encontrar o maior número de motivos para louvar a Deus porque Ele é bom. Após cinco minutos de trabalho, o coordenador pede que digam, em voz alta, todos os motivos encontrados. Por fim, o coordenador leva o grupo a louvar, baseado nos motivos apresentados. Este exercício muito simples aumenta a capacidade dos presentes para a participação no louvor inspirado. Em cada reunião de oração os coordenadores podem fazer este exercício de cada vez com outro tema.

3.  LOUVOR PARTICIPADO

Participar é tomar parte em alguma coisa, em algum acontecimento. O louvor participado só pode ser feito em reuniões de oração; é louvor comunitário, é participar no louvor da comunidade, no louvor do grupo de oração. Há três tipos de louvor participado: individual. Comunitário ou misto.
Louvor participado individual é aquele proferido por uma pessoa após outra, com o fim de reafirmar e completar o louvor feito por alguém. Suponhamos que estás numa reunião de oração. Quando alguém concluiu o seu louvor, tu, que ouvistes atentamente, animado e alegre pelo louvor do irmão, louvas o Senhor pelos mesmos motivos apresentados no louvor anterior. A seguir, outras pessoas que se sentem motivadas e inspiradas continuam a louvar pelo mesmo motivo. A seguir, outras pessoas que se sentem motivadas e inspiradas continuam a louvar pelo mesmo motivo. O louvor participado individual deve ser feito em voz firme e bem audível por todos; todos precisam de perceber que tu queres louvar individualmente.
Louvor participado comunitário é aquele realizado por grande parte dos participantes da reunião de oração, ou até mesmo por todos, orando ao mesmo tempo em voz alta e, assim, participando do louvor feito por outra pessoa. Todos os que sentiram a inspiração prorrompem em louvor, orando ao mesmo tempo. É como que um coro de vozes louvando alegremente o Senhor. É necessário saber ouvir atenta e inteligentemente todas as orações feitas em voz alta, como também perceber o conteúdo, o significado e a beleza da oração dos irmãos, para poder participar comunitariamente, com entusiasmo e vibração. Após este coro de vozes, normalmente é entoado um cântico de louvor, animado e piedoso.
Louvor participado misto é aquele que reúne a participação individual e a participação comunitária. De que maneira? Após um louvor feito por alguém, aqueles que se sentem inspirados passam a participar, alguns individualmente, outros, comunitariamente.

4.  LOUVOR DESENCADEADO

Outra forma rica e bela de louvor. Ensinada, aprendida e realizada, será uma nova riqueza para o grupo de oração, sobretudo para o amadurecimento e vivacidade das reuniões de oração. O louvor desencadeado realiza-se com um participante que louva em voz alta. Os outros escutam, atentamente, para receber a inspiração. Em dado momento, durante esta oração de louvor, alguém recebe inspiração e começa a louvar simultaneamente com o primeiro, em voz audível mas menos forte. Depois outros que ouvem o louvor também sentem o impulso e começam a participar dele; e assim sucessivamente. Duas observações práticas sobre este louvor: aquele que inicia o louvor com voz forte, ao ouvir os outros entrarem no louvor desencadeado deve diminuir o volume da voz, para não dominar ou abater o louvor dos outros; ao terminar o seu louvor desencadeado, ninguém deve fazer aquela conclusão costumeira «Glória a Ti, Senhor!» pois cortaria o andamento natural do louvor.
Poder-se-ia perguntar: qual a diferença entre o louvor participado e o desencadeado? No louvor participado comunitário, todos louva ao mesmo tempo, em voz altar, por um único motivo apresentado no louvor de alguém e assumido por todos. No louvor desencadeado, pelo contrário, todos louvam em voz alta, ao mesmo tempo, mas cada qual por um motivo seu, pessoal, particular. Cada louvor é distinto um do outro. É importante que se compreenda esta diferença. Para que os membros do grupo aprendam e usem este louvor, é preciso explicá-lo, ensiná-lo, exercitá-lo.
Ao concluir estes ensinamentos sobre o louvor e as suas formas, uma palavra de incentivo para os coordenadores dos grupos de oração. Os coordenadores devem estar muito atentos ao processo de crescimento e amadurecimento das formas de louvar dos participantes do grupo. Prosseguir com um grupo não amadurecido, não carismático, e não ter a coragem de planear a transformação deste num grupo verdadeiramente carismático é condenar os participantes a um estado primário e privá-los de uma evolução maravilhosa na vida do Espírito e do envolvimento em algo grandioso que é um grupo carismático de oração. Se o coordenador foi chamado pelo Senhor a ser pastor, servidor de uma parcela do Seu rebanho, o Senhor espera que ele sirva o melhor possível. Basta que o coordenador faça um planeamento de ensinamentos e exercícios e, aos poucos, o aplique em cada reunião de oração, obedecendo às moções e inspirações do Espírito santo, que quer ser a alma das pessoas e dos grupos de oração.
Revista Pneuma n.º 244, de Fevereiro de 2012

18 fevereiro, 2012

Patriarca de Lisboa apresenta Missão Metrópoles



CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS E PELO VOTO DE ALGUNAS CAUSAS DE CANONIZAÇÃO

 DISCURSO DO SANTO PADRE BENTO XVI

Basílica Vaticana

Sábato, 18 de fevereiro de 2012

«Tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo Ecclesiam meam». 

Venerados Irmãos,
Amados irmãos e irmãs!

Com estas palavras do cântico de entrada, teve início o rito solene e sugestivo do Consistório Ordinário Público para a criação dos novos Cardeais, que inclui a imposição do barrete cardinalício, a entrega do anel e a atribuição do título. Trata-se das palavras com que Jesus constituiu, eficazmente, Pedro como firme alicerce da Igreja. E o factor qualificativo deste alicerce é a fé: realmente Simão torna-se Pedro – rocha – por ter professado a sua fé em Jesus, Messias e Filho de Deus. Quando anuncia Cristo, a Igreja está ligada a Pedro, e Pedro permanece colocado na Igreja como rocha; mas, quem edifica a Igreja, é o próprio Cristo, sendo Pedro um elemento particular da construção. E deve sê-lo por meio da fidelidade à sua confissão feita junto de Cesareia de Filipe, ou seja, em virtude da afirmação: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo».

As palavras, que Jesus dirige a Pedro, põem claramente em destaque o carácter eclesial da celebração de hoje. De facto, através da atribuição do título duma igreja desta Cidade [de Roma] ou duma diocese suburbicária, os novos Cardeais ficam, para todos os efeitos, inseridos na Igreja de Roma guiada pelo Sucessor de Pedro, para cooperar estreitamente com ele no governo da Igreja universal. Estes dilectos Irmãos, que dentro de momentos começarão a fazer parte do Colégio Cardinalício, unir-se-ão, por vínculos novos e mais fortes, não só com o Pontífice Romano mas também com toda a comunidade dos fiéis espalhada pelo mundo inteiro. Com efeito, no desempenho do seu peculiar serviço de apoio ao ministério petrino, os neo-purpurados serão chamados a analisar e avaliar os casos, os problemas e os critérios pastorais que dizem respeito à missão da Igreja inteira. Nesta delicada tarefa, servir-lhes-á de exemplo e ajuda o testemunho de fé prestado pelo Príncipe dos Apóstolos, com a sua vida e morte, pois, por amor de Cristo, deu-se inteiramente até ao sacrifício extremo.

É com este significado que se deve entender também a imposição do barrete vermelho. Aos novos Cardeais, é confiado o serviço do amor: amor a Deus, amor à sua Igreja, amor aos irmãos com dedicação absoluta e incondicional – se for necessário – até ao derramamento do sangue, como diz a fórmula para a imposição do barrete cardinalício e como indica a cor vermelha das vestes que trazem. Além disso, é-lhes pedido que sirvam a Igreja com amor e vigor, com a clareza e a sabedoria dos mestres, com a energia e a fortaleza dos pastores, com a fidelidade e a coragem dos mártires. Trata-se de ser servidores eminentes da Igreja, que encontra em Pedro o fundamento visível da unidade.

No texto evangélico há pouco proclamado, Jesus apresenta-Se como servo, oferecendo-Se como modelo a imitar e a seguir. No cenário de fundo do terceiro anúncio da paixão, morte e ressurreição do Filho do Homem, sobressai, pelo seu clamoroso contraste, a cena dos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, ao lado de Jesus, ainda correm atrás de sonhos de glória. Pediram-Lhe: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda» (Mc 10, 37). Contundente é a resposta de Jesus, e inesperada a sua pergunta: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo?» (Mc 10, 38). A alusão é claríssima: o cálice é o da paixão, que Jesus aceita para cumprir a vontade do Pai. O serviço a Deus e aos irmãos, a doação de si mesmo: esta é a lógica que a fé autêntica imprime e gera na nossa existência quotidiana, mas que está em contradição com o estilo mundano do poder e da glória. 

Com o seu pedido, Tiago e João mostram que não compreendem a lógica de vida que Jesus testemunha, aquela lógica que deve – segundo o Mestre –caracterizar o discípulo no seu espírito e nas suas acções. E a lógica errada não reside só nos dois filhos de Zebedeu, mas, segundo o evangelista, contagia também «os outros dez» apóstolos, que «começaram a indignar-se contra Tiago e João» (Mc 10, 41). Indignam-se, porque não é fácil entrar na lógica do Evangelho, deixando a do poder e da glória. São João Crisóstomo afirma que ainda eram imperfeitos os apóstolos todos: tanto os dois que procuravam obter precedência sobre os outros dez, como os dez que tinham inveja dos dois (cf. Comentário a Mateus, 65, 4: PG 58, 622). E São Cirilo de Alexandria, ao comentar passagens paralelas no Evangelho de Lucas, acrescenta: «Os discípulos caíram na fraqueza humana e puseram-se a discutir uns com os outros qual deles seria o chefe, ficando superior aos outros. (…) Isto aconteceu e foi-nos narrado para nosso proveito. (…) O que sucedeu aos santos Apóstolos pode revelar-se, para nós, um estímulo à humildade» (Comentário a Lucas, 12, 5, 24: PG 72, 912). Este episódio deu ocasião a Jesus para Se dirigir a todos os discípulos e «chamá-los a Si», de certo modo para os estreitar a Si, a fim de formarem como que um corpo único e indivisível com Ele, e indicar qual é a estrada para se chegar à verdadeira glória, a de Deus: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos» (Mc 10, 42-44).

Domínio e serviço, egoísmo e altruísmo, posse e dom, lucro e gratuidade: estas lógicas, profundamente contrastantes, defrontam-se em todo o tempo e lugar. Não há dúvida alguma sobre a estrada escolhida por Jesus: e não Se limita a indicá-la por palavras aos discípulos de ontem e de hoje, mas vive-a na sua própria carne. Efectivamente explica: «Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua via em resgate por muitos» (Mc 10, 45). Estas palavras iluminam, com singular intensidade, o Consistório público de hoje. Ecoam no fundo da alma e constituem um convite e um apelo, um legado e um encorajamento especialmente para vós, amados e venerados Irmãos que estais para ser incluídos no Colégio Cardinalício.

Segundo a tradição bíblica, o Filho do Homem é aquele que recebe de Deus o poder e o domínio (cf. Dn 7, 13-14). Jesus interpreta a sua missão na terra, sobrepondo à figura do Filho do Homem a imagem do Servo sofredor descrita por Isaías (cf. Is 53, 1-12). Ele recebe o poder e a glória apenas enquanto «servo»; mas é servo na medida em que assume sobre Si o destino de sofrimento e de pecado da humanidade inteira. O seu serviço realiza-se na fidelidade total e na plena responsabilidade pelos homens. Por isso, a livre aceitação da sua morte violenta torna-se o preço de libertação para muitos, torna-se o princípio e o fundamento da redenção de cada homem e de todo o género humano.

Amados Irmãos que estais para ser inscritos no Colégio Cardinalício! Que a doação total de Si mesmo, feita por Cristo na cruz, vos sirva de norma, estímulo e força para uma fé que actua na caridade. Que a vossa missão na Igreja e no mundo se situe sempre e só «em Cristo» e corresponda à sua lógica e não à do mundo, sendo iluminada pela fé e animada pela caridade que nos vem da Cruz gloriosa do Senhor. No anel que daqui a pouco vos entregarei, aparecem representados São Pedro e São Paulo e, no centro, uma estrela que evoca Nossa Senhora. Trazendo este anel, sois convidados diariamente a recordar o testemunho de Cristo que os dois Apóstolos deram até ao seu martírio aqui em Roma, tornando assim fecunda a Igreja com o seu sangue. Por sua vez a evocação da Virgem Maria constituirá para vós um convite incessante a seguir Aquela que permaneceu firme na fé e serva humilde do Senhor.

Ao concluir esta breve reflexão, quero dirigir a minha grata e cordial saudação a todos vós aqui presentes, particularmente às Delegações oficiais de diversos Países e aos Representantes de numerosas dioceses. No seu serviço, os novos Cardeais são chamados a permanecer fiéis a Cristo, deixando-se guiar unicamente pelo seu Evangelho. Amados irmãos e irmãs, rezai para que possa reflectir-se ao vivo neles o Senhor Jesus, o nosso único Pastor e Mestre e a fonte de toda a sabedoria que indica a estrada a todos. E rezai também por mim, para que sempre possa oferecer ao Povo de Deus o testemunho da doutrina segura e reger, com suave firmeza, o timão da santa Igreja.  

© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana 

15 fevereiro, 2012

PAPA BENTO XVI - Audiência Geral

Sala Paulo VI
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Quarta-feira, 15 de Fevereiro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho de São Lucas transmite-nos três palavras de Jesus na Cruz. A primeira é um pedido de perdão para os seus algozes: «Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem». Deste modo, Jesus cumpre aquilo que ensinara no Sermão da Montanha: «Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam». A segunda palavra de Jesus na Cruz é a resposta ao pedido do “bom ladrão”, um dos homens que estavam crucificados com Ele: «Ainda hoje estarás comigo no Paraíso». Jesus está ciente de entrar diretamente na comunhão com o Pai e de abrir de novo ao homem a estrada para o Paraíso de Deus. A última palavra de Jesus é um grito de derradeira entrega a Deus, num ato de total abandono: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Ao colocar-Se inteiramente nas mãos do Pai, Jesus nos comunica a certeza de que por mais duras que sejam as provas, jamais nos encontraremos fora das mãos de Deus, as mesmas que nos criaram, sustentaram e acompanham no caminho da vida, com um amor infinito e fiel.
* * *
Saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os fiéis brasileiros vindos de Curitiba, a quem exorto a aprender do exemplo da oração de Jesus, uma oração cheia de serena confiança e firme esperança no Pai do Céu, que nunca nos abandona. Que as Suas Bênçãos sempre vos acompanhem! Ide em paz!
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14 fevereiro, 2012

Mensagem do Cardeal-Patriarca de Lisboa para a Quaresma


Introdução
A Quaresma é o tempo litúrgico que nos convida a situar a nossa vida cristã no essencial da sua verdade: a de peregrinos do Céu, na humildade da nossa fragilidade e na coragem da nossa fidelidade. Experimentamos já uma realidade que ainda não possuímos completamente. O desejo da plenitude é o motor da nossa fidelidade. Só no Céu viveremos plenamente a Páscoa de Jesus; mas ela é já a realidade decisiva da nossa vida. Em cada Quaresma, que o mesmo é dizer em cada Páscoa, somos chamados a viver com uma fidelidade renovada esta semente de eternidade que foi semeada em nós pelo Espírito de Cristo ressuscitado. É assim que o Santo Padre começa a sua Mensagem: “A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito, este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e pela partilha, pelo silêncio e pelo jejum, com a esperança de viver a alegria pascal”. 
         
A Mensagem de Bento XVI é muito bela; devemos todos partir dela para a vivência sincera da nossa Quaresma. Esta minha mensagem não pretende ser “outra mensagem”, ao lado da do Santo Padre. Quanto muito, posso considerar alguns dos desafios que nos lança, situando-os nas realidades concretas da nossa Igreja Diocesana. 

     
A segurança da nossa fé 


1. A fé é uma atitude que cresce e se aprofunda, à medida que nos leva a entrar em comunhão pessoal com Cristo e, por Ele, com Deus Trindade Santíssima. A Quaresma tem de ser tempo de aprofundamento da fé, pessoal e comunitária. O Santo Padre afirma: “Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua”. A firmeza ou a fragilidade da nossa fé tem aí a sua origem. Quem não vive a fé, torna-a mais fraca, menos segura, mais exposta às dúvidas; quem progride na fé, torna-a mais sólida, atitude inabalável, que vive a dúvida como um desafio, e enfrenta, sem vacilar, as diversas compreensões da vida que, hoje mais do que nunca, nos são dirigidas pelas vozes do mundo. A fragilidade da fé é a sua rotina, é a tibieza nos sentimentos, é a sua redução a tradições, que se vão esfarelando no embate com as vozes do mundo.           
A firmeza da fé é um dom do Espírito Santo, o dom da fortaleza, o que nos recorda que só conduzidos por Ele crescemos na fé e que este crescimento nos aproxima mais de Deus e da plenitude da vida. A fé é para ser vivida, na ousadia da liberdade e da vida, e não para ser guardada no cofre das memórias de família. Sempre que dizemos “eu creio”, afirmamos a nossa decisão de vida, a sua compreensão e o itinerário para atingir a sua plenitude. A firmeza da fé foi a força dos mártires, o desafio dos santos, levou à coerência da vida, vivida na lógica da fé, da Palavra de Deus, da Palavra da Igreja, dos mandamentos do Senhor. 

A persistência da esperança
2. A verdade da Quaresma reside na sinceridade com que nos relacionamos com Jesus Cristo, cuja Páscoa celebramos. Como diz o Santo Padre: “O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais”. À firmeza da fé, junta-se a persistência da esperança.

Vivem da esperança aqueles que já experimentaram a realidade definitiva da Páscoa de Jesus, inauguração da vida definitiva; e, porque já a experimentaram, desejam a sua plenitude. A esperança é persistência no que já se tem, como fruto da nossa união a Cristo, e desejo de aprofundar essa vida nova. O próprio esforço de fidelidade está ligado à esperança. Só o Espírito Santo pode alimentar em nós esse desejo de plenitude.

Num momento particularmente difícil que estamos a viver, são muitas as vozes a tentar suscitar a esperança. Nós, os cristãos, queremos viver a esperança teologal, isto é, aquela que só é possível com a força do Espírito, que nos faz desejar a plenitude da vida em Cristo. Esta esperança teologal engloba todas as realidades da nossa vida presente, que ganham em Cristo um sentido novo. A esperança é a virtude que nos ajuda a viver toda a realidade humana à luz da Páscoa de Jesus. A esperança exprime a fé no concreto da vida presente. Só a esperança teologal nos ajuda a não “desesperar” quando o sofrimento nos bate à porta.
A primazia da caridade
3. São Paulo afirma que, nesta vida presente, em que, unidos a Cristo, vivemos já as “primícias” do Reino dos Céus, permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas que a maior é a caridade, a única que permanecerá no Reino definitivo (cf. 1Cor. 13, 8.13). Viver unido a Cristo é uma experiência de caridade: o amor com que Deus nos ama no Seu Filho e, com a força do amor de Deus, o amor com que nos amamos uns aos outros. A fé e a esperança são experiência do amor próprias da nossa situação de peregrinos do Reino dos Céus. Quando o cristão diz “eu creio”, no fundo ele diz: “eu amo” a Deus em Quem acredito; quando diz “eu espero”, ele diz: eu desejo deixar-me amar, e desejo amar de uma maneira cada vez mais generosa e total. É a caridade, vivida e desejada, que dá densidade à fé e à esperança.
O amor dos irmãos
4. O amor de Deus e o amor dos irmãos, para os cristãos, são um único amor, que é infundido no nosso coração pelo Espírito Santo. Quem ama a Deus, ama os irmãos. Se isso não acontecer, é porque o nosso amor a Deus não é sincero. A fé e a esperança exprimem-se, também, no amor fraterno.

Compreende-se, assim, que o Santo Padre, ao desafiar-nos para uma Quaresma vivida na profunda união a Jesus Cristo, ponha o acento no amor fraterno. Este não é redutível a esquemas impessoais de solidariedade; é amor de uma pessoa por outra, que se olham de frente, que se conhecem em toda a sua realidade. Noutro texto, o Santo Padre disse que a caridade fraterna é “um coração que vê”. Quando olhamos para o nosso irmão com o coração, quando ele nos comove, ele torna-se o nosso próximo. No fundo é ter para com os nossos irmãos a mesma atitude que a fé nos leva a ter com Jesus Cristo: olhá-lo de frente, como o outro que vem ao meu encontro, tentando perceber quem é e o que faz por mim. Ouçamos o Santo Padre: “é um convite a fixar o nosso olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos”.
Olhar toda a realidade dos nossos irmãos
5. Pode acontecer que quando estamos sobretudo sensíveis às necessidades materiais, ignoremos a verdade espiritual do nosso irmão, a sua necessidade de conversão à fé e à esperança. Um falso sentido de respeito pela intimidade do outro, a perda da noção do que é verdadeiramente bom ou mesmo a perda da noção da diferença do bem e do mal, podem dispensar-nos de, ao olharmos para o nosso irmão, o amarmos em toda a sua realidade. Se a fonte do nosso amor fraterno é o amor com que Deus nos ama, a ajuda material aos irmãos pode ser ocasião do anúncio do amor de Deus e de convite à conversão. Eu posso matar a fome aos meus irmãos, mas não ficarei bem com a consciência se nada fizer para os ajudar a recuperar espiritualmente o caminho da vida. A caridade fraterna impele-me tanto a socorrer os meus irmãos nas necessidades materiais como a ajudá-los a descobrir Jesus Cristo e o amor de Deus. E isto é mais possível se a nossa ajuda for fruto da caridade que aprendemos com Jesus Cristo. A caridade vivida é sempre o anúncio da salvação. 

A fé, a esperança e a caridade, e o anúncio da salvação
6. Convido-vos, pois, na sequência do Santo Padre, a vivermos esta Quaresma ao ritmo das três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade, o que exige de nós uma coerência com a profundidade sobrenatural da vida em união com Cristo, de cuja Páscoa vivemos, e que nos preparamos para celebrar. Convido-vos a mergulhar no mistério de Deus, Trindade Santíssima e a arrastarmos para essa comunhão as pessoas a quem amamos com um amor que tem a sua fonte em Deus.

Como dissemos, a caridade fraterna é sempre anúncio de Jesus Cristo, que ao transformar o nosso coração, fez dele “um coração que vê”. O Patriarcado de Lisboa aceitou o convite do Santo Padre, através do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, para participar num programa de evangelização com outras onze cidades europeias, entre as quais aquelas que organizaram o Congresso Internacional para a Nova Evangelização. Para nós, Diocese de Lisboa, a participação neste programa de Nova Evangelização será ocasião de reavivar a memória do que foi o ICNE entre nós.

Este programa tem a sua sede na Catedral e no ministério do Bispo diocesano. Tem como primeira concretização o anúncio da nossa fé, para as pessoas do nosso tempo, no realismo humano da nossa população. Será prioritariamente dirigido aos catecúmenos, às famílias, aos jovens, aos intervenientes na cultura, aos obreiros da solidariedade e aos responsáveis pela construção da comunidade.

Outras duas formas de anúncio completarão este programa: uma proposta actual da mensagem de Santo Agostinho, anunciando a fé cristã aos que não têm fé, e uma leitura do Evangelho de Marcos.
Para as comunidades cristãs, o anúncio será completado com outras duas iniciativas: vivência do mistério da reconciliação através do Sacramento da Penitência, e a partilha fraterna. A caminhada na fé supõe sempre o abandono ao amor misericordioso de Deus expresso no ministério da Igreja, que perdoa e reconduz os filhos pródigos à intimidade com o Pai.
A partilha fraterna do que temos, para ajudar os que têm menos, entre nós tem já a longa tradição da “Renúncia Quaresmal”. Este ano pensaremos sobretudo naqueles irmãos das nossas comunidades que foram mais atingidos pela actual crise. O resultado desta partilha engrossará o nosso Fundo Diocesano “Igreja Solidária”, mas encontraremos formas de ligar mais ao concreto, garantindo que cada comunidade possa destinar aquilo que recolhe aos necessitados da própria comunidade, sem esquecer que a verdadeira dimensão desta família de irmãos é a Diocese, e que uma organização diocesana, garantida pela Caritas, é conveniente e necessária.

Espero que este programa interesse toda a Diocese, quer mobilizando para as actividades diocesanas, quer encontrando formas de fazer ecoar em cada comunidade o que se passa no coração da Diocese.

Não esqueçamos que só haverá Nova Evangelização se o nosso anúncio tiver um novo ardor, e se ousar novos métodos e novas expressões. É preciso ir além das nossas rotinas pastorais e voltar a encarnar a ousadia da Igreja apostólica. Esta Quaresma tem mesmo de ser, para todos nós, ocasião de conversão. Cristo, que continua a querer salvar todos os homens, precisa da nossa ousadia, porque O queremos seguir e partilhar com Ele a missão, nesta sociedade que parece ter-se afastado tanto d’Ele e do Seu Evangelho.

Lisboa, 7 de Fevereiro de 2012, Festa das Cinco Chagas do Senhor

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca