31 dezembro, 2011

ANO NOVO, NOVA VIDA


Senhor,
para o ano vou ser melhor!

Vou rezar cada vez mais,
e amar mais o meu irmão,
vou compreender melhor,
os que não me compreendem,
vou ser mais coração,
do que frieza de pensamento,
vou partilhar mais o que me dás,
com aqueles que nada têm,
vou ser mais Igreja,
vou ser mais Tu,
do que eu,
para que toda a gente Te veja.

Vou mudar tanta coisa,
Senhor,
que tenho nos meus planos,
que tenho na minha vontade,
que tenho no meu querer,
que vou ser muito diferente,
à vista de toda a gente.

É isso que queres,
não é Senhor?

Que eu seja mais,
o que acho devo ser,
que tome cada vez mais conta,
da minha forma de viver,
que mude a minha forma de amar,
para encontrar a felicidade,
não é,
Senhor?

O que me dizes,
Senhor?

Ah, afinal
basta-me fazer a Tua vontade! 



Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2011
Joaquim Mexia Alves

28 dezembro, 2011

PAPA BENTO XVI - Audiência Geral

 
Sala Paulo VI
 Quarta-feira, 28 de Dezembro de 2011


Queridos irmãos e irmãs,
No clima natalício que nos envolve, convido-vos a reflectir sobre a oração na vida da Sagrada Família de Nazaré, tomando por modelo Jesus, Maria e José. Como toda a família judia, os pais de Jesus – tinha ele quarenta dias - sobem ao templo para consagrar a Deus o filho primogénito. Maria ouve lá, do velho Simeão, palavras que lhe anunciam glórias e tribulações. Ela «guardava todas estas coisas no seu coração». Esta capacidade de Maria era contagiosa, sendo o seu primeiro beneficiário José. De facto ele, com Maria e sobretudo depois com Jesus, aprende a relacionar-se de modo novo com Deus, colaborando no seu projecto de salvação. Como era tradição, José presidia à oração doméstica no dia a dia: de manhã, à noite e nas refeições. Assim Jesus aprendeu a alternar oração e trabalho, e a oferecer a Deus o suor e cansaço para ganhar o pão de cada dia. Se uma criança não aprende a rezar em família, este vazio será difícil de preencher depois. Possam todos descobrir, na escola de Nazaré, a beleza de rezarem juntos como família.
* * *
Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação amiga, vendo a vossa presença como a ocasião propícia para confiar ao Pai do Céu as vossas famílias e os sonhos de bem que abrigam no coração. Recebei, como penhor de paz e consolação, a minha Bênção Apostólica.
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25 dezembro, 2011

MENSAGEM URBI ET ORBI DE SUA SANTIDADE BENTO XVI

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Santo Natal, 25 de Dezembro de 2011

  (Vídeo)


Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!

Cristo nasceu para nós! Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado: a todos chegue o eco deste anúncio de Belém, que a Igreja Católica faz ressoar por todos os continentes, sem olhar a fronteiras nacionais, linguísticas e culturais. O Filho de Maria Virgem nasceu para todos; é o Salvador de todos.

Numa antífona litúrgica antiga, Ele é invocado assim: «Ó Emanuel, nosso rei e legislador, esperança e salvação dos povos! Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus». Veni ad salvandum nos! Vinde salvar-nos! Tal é o grito do homem de todo e qualquer tempo que, sozinho, se sente incapaz de superar dificuldades e perigos. Precisa de colocar a sua mão numa mão maior e mais forte, uma mão do Alto que se estenda para ele. Amados irmãos e irmãs, esta mão é Cristo, nascido em Belém da Virgem Maria. Ele é a mão que Deus estendeu à humanidade, para fazê-la sair das areias movediças do pecado e segurá-la de pé sobre a rocha, a rocha firme da sua Verdade e do seu Amor (cf. Sal 40, 3).

E é isto mesmo o que significa o nome daquele Menino (o nome que, por vontade de Deus, Lhe deram Maria e José): chama-se Jesus, que significa «Salvador» (cf. Mt 1, 21; Lc 1, 31). Ele foi enviado por Deus Pai, para nos salvar sobretudo do mal mais profundo que está radicado no homem e na história: o mal que é a separação de Deus, o orgulho presunçoso do homem fazer como lhe apetece, de fazer concorrência a Deus e substituir-se a Ele, de decidir o que é bem e o que é mal, de ser o senhor da vida e da morte (cf. Gn 3, 1-7). Este é o grande mal, o grande pecado, do qual nós, homens, não nos podemos salvar senão confiando-nos à ajuda de Deus, senão gritando por Ele: «Veni ad salvadum nos – Vinde salvar-nos!»

O próprio facto de elevarmos ao Céu esta imploração já nos coloca na justa condição, já nos coloca na verdade do que somos nós mesmos: realmente nós somos aqueles que gritaram por Deus e foram salvos (cf. Est (em grego) 10, 3f). Deus é o Salvador, nós aqueles que se encontram em perigo. Ele é o médico, nós os doentes. O facto de reconhecer isto mesmo é o primeiro passo para a salvação, para a saída do labirinto onde nós mesmos, com o nosso orgulho, nos encerramos. Levantar os olhos para o Céu, estender as mãos e implorar ajuda é o caminho de saída, contanto que haja Alguém que escute e possa vir em nosso socorro.

Jesus Cristo é a prova de que Deus escutou o nosso grito. E não só! Deus nutre por nós um amor tão forte que não pôde permanecer em Si mesmo, mas teve de sair de Si mesmo e vir ter connosco, partilhando até ao fundo a nossa condição (cf. Ex 3, 7-12). A resposta que Deus deu, em Cristo, ao grito do homem, supera infinitamente as nossas expectativas, chegando a uma solidariedade tal que não pode ser simplesmente humana, mas divina. Só o Deus que é amor e o amor que é Deus podia escolher salvar-nos através deste caminho, que é certamente o mais longo, mas é aquele que respeita a verdade d’Ele e nossa: o caminho da reconciliação, do diálogo e da colaboração.

Por isso, amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, neste Natal de 2011, dirijamo-nos ao Menino de Belém, ao Filho da Virgem Maria e digamos: «Vinde salvar-nos»! Repitamo-lo em união espiritual com tantas pessoas que atravessam situações particularmente difíceis, fazendo-nos voz de quem a não tem.

Juntos, invoquemos o socorro divino para as populações do Nordeste da África, que padecem fome por causa das carestias, por vezes ainda agravadas por um estado persistente de insegurança. A comunidade internacional não deixe faltar a sua ajuda aos numerosos refugiados vindos daquela Região, duramente provados na sua dignidade.

O Senhor dê conforto às populações do Sudeste asiático, particularmente da Tailândia e das Filipinas, que se encontram ainda em graves situações de emergência devido às recentes inundações.

O Senhor socorra a humanidade ferida por tantos conflitos, que ainda hoje ensanguentam o Planeta. Ele, que é o Príncipe da Paz, dê paz e estabilidade à Terra onde escolheu vir ao mundo, encorajando a retoma do diálogo entre israelitas e palestinianos. Faça cessar as violências na Síria, onde já foi derramado tanto sangue. Favoreça a plena reconciliação e a estabilidade no Iraque e no Afeganistão. Dê um renovado vigor, na edificação do bem comum, a todos os componentes da sociedade nos países do Norte da África e do Médio Oriente.

O nascimento do Salvador sustente as perspectivas de diálogo e colaboração no Myanmar à procura de soluções compartilhadas. O Natal do Redentor garanta a estabilidade política nos países da região africana dos Grande Lagos e assista o empenho dos habitantes do Sudão do Sul na tutela dos direitos de todos os cidadãos.

Amados irmãos e irmãs, dirijamos o olhar para a Gruta de Belém: o Menino que contemplamos é a nossa salvação. Ele trouxe ao mundo uma mensagem universal de reconciliação e de paz. Abramos- Lhe o nosso coração, acolhamo-Lo na nossa vida. Repitamos-Lhe com confiada esperança: «Veni ad salvandum nos». 

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24 dezembro, 2011

MISSA DA NOITE DE NATAL - Homilia do Santo Padre Bento XVI

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

Basílica Vaticana

24 de Dezembro de 2011



Amados irmãos e irmãs!

A leitura que ouvimos, tirada da Carta do Apóstolo São Paulo a Tito, começa solenemente com a palavra «apparuit», que encontramos de novo na leitura da Missa da Aurora: «apparuit – manifestou-se». Esta é uma palavra programática, escolhida pela Igreja para exprimir, resumidamente, a essência do Natal. Antes, os homens tinham falado e criado imagens humanas de Deus, das mais variadas formas; o próprio Deus falara de diversos modos aos homens (cf. Heb 1, 1: leitura da Missa do Dia). Agora, porém, aconteceu algo mais: Ele manifestou-Se, mostrou-Se, saiu da luz inacessível em que habita. Ele, em pessoa, veio para o meio de nós. Na Igreja antiga, esta era a grande alegria do Natal: Deus manifestou-Se. Já não é apenas uma ideia, nem algo que se há-de intuir a partir das palavras. Ele «manifestou-Se». Mas agora perguntamo-nos: Como Se manifestou? Ele verdadeiramente quem é? A este respeito, diz a leitura da Missa da Aurora: «Manifestaram-se a bondade de Deus (…) e o seu amor pelos homens» (Tt 3, 4). Para os homens do tempo pré-cristão – que, vendo os horrores e as contradições do mundo, temiam que o próprio Deus não fosse totalmente bom, mas pudesse, sem dúvida, ser também cruel e arbitrário –, esta era uma verdadeira «epifania», a grande luz que se nos manifestou: Deus é pura bondade. Ainda hoje há pessoas que, não conseguindo reconhecer a Deus na fé, se interrogam se a Força última que segura e sustenta o mundo seja verdadeiramente boa, ou então se o mal não seja tão poderoso e primordial como o bem e a beleza que, por breves instantes luminosos, se nos deparam no nosso cosmos. «Manifestaram-se a bondade de Deus (…) e o seu amor pelos homens»: eis a certeza nova e consoladora que nos é dada no Natal.

Na primeira das três leituras desta Missa de Natal, a liturgia cita um texto tirado do livro do Profeta Isaías, que descreve, de forma ainda mais concreta, a epifania que se verificou no Natal: «Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros, e dão-lhe o seguinte nome: “Conselheiro admirável! Deus valoroso! Pai para sempre! Príncipe da Paz!” O poder será engrandecido numa paz sem fim» (Is 9, 5-6). Não sabemos se o profeta, ao falar assim, tenha em mente um menino concreto nascido no seu período histórico. Mas isso parece ser impossível. Trata-se do único texto no Antigo Testamento, onde de um menino, de um ser humano, se diz: o seu nome será Deus valoroso, Pai para sempre. Estamos perante uma visão que se estende muito para além daquele momento histórico apontando para algo misterioso, colocado no futuro. Um menino, em toda a sua fragilidade, é Deus valoroso; um menino, em toda a sua indigência e dependência, é Pai para sempre. E isto «numa paz sem fim». Antes, o profeta falara duma espécie de «grande luz» e, a propósito da paz dimanada d’Ele, afirmara que o bastão do opressor, o calçado ruidoso da guerra, toda a veste manchada de sangue seriam lançados ao fogo (cf. Is 9, 1.3-4).

Deus manifestou-Se… como menino. É precisamente assim que Ele Se contrapõe a toda a violência e traz uma mensagem de paz. Neste tempo, em que o mundo está continuamente ameaçado pela violência em tantos lugares e de muitos modos, em que não cessam de reaparecer bastões do opressor e vestes manchadas de sangue, clamamos ao Senhor: Vós, o Deus forte, manifestastes-Vos como menino e mostrastes-Vos a nós como Aquele que nos ama e por meio de quem o amor há-de triunfar. Fizestes-nos compreender que, unidos convosco, devemos ser artífices de paz. Amamos o vosso ser menino, a vossa não-violência, mas sofremos pelo facto de perdurar no mundo a violência, levando-nos a rezar assim: Demonstrai a vossa força, ó Deus. Fazei que, neste nosso tempo e neste nosso mundo, sejam queimados os bastões do opressor, as vestes manchadas de sangue e o calçado ruidoso da guerra, de tal modo que a vossa paz triunfe neste nosso mundo.

Natal é epifania: a manifestação de Deus e da sua grande luz num menino que nasceu para nós. Nascido no estábulo de Belém, não nos palácios do rei. Em 1223, quando Francisco de Assis celebrou em Greccio o Natal com um boi, um jumento e uma manjedoura cheia de feno, tornou-se visível uma nova dimensão do mistério do Natal. Francisco de Assis designou o Natal como «a festa das festas» – mais do que todas as outras solenidades – e celebrou-a com «solicitude inefável» (2 Celano, 199: Fontes Franciscanas, 787). Beijava, com grande devoção, as imagens do menino e balbuciava-lhes palavras de ternura como se faz com os meninos – refere Tomás de Celano (ibidem). Para a Igreja antiga, a festa das festas era a Páscoa: na ressurreição, Cristo arrombara as portas da morte, e assim mudou radicalmente o mundo: criara para o homem um lugar no próprio Deus. Pois bem! Francisco não mudou, nem quis mudar, esta hierarquia objectiva das festas, a estrutura interior da fé com o seu centro no mistério pascal. Mas, graças a Francisco e ao seu modo de crer, aconteceu algo de novo: ele descobriu, numa profundidade totalmente nova, a humanidade de Jesus. Este facto de Deus ser homem resultou-lhe evidente ao máximo, no momento em que o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, foi envolvido em panos e colocado numa manjedoura. A ressurreição pressupõe a encarnação. O Filho de Deus visto como menino, como verdadeiro filho de homem: isto tocou profundamente o coração do Santo de Assis, transformando a fé em amor. «Manifestaram-se a bondade de Deus e o seu amor pelos homens»: esta frase de São Paulo adquiria assim uma profundidade totalmente nova. No menino do estábulo de Belém, pode-se, por assim dizer, tocar Deus e acarinhá-Lo. E o Ano Litúrgico ganhou assim um segundo centro numa festa que é, antes de mais nada, uma festa do coração.

Tudo isto não tem nada de sentimentalismo. É precisamente na nova experiência da realidade da humanidade de Jesus que se revela o grande mistério da fé. Francisco amava Jesus menino, porque, neste ser menino, tornou-se-lhe clara a humildade de Deus. Deus tornou-Se pobre. O seu Filho nasceu na pobreza do estábulo. No menino Jesus, Deus fez-Se dependente, necessitado do amor de pessoas humanas, reduzido à condição de pedir o seu, o nosso, amor. Hoje, o Natal tornou-se uma festa dos negócios, cujo fulgor ofuscante esconde o mistério da humildade de Deus, que nos convida à humildade e à simplicidade. Peçamos ao Senhor que nos ajude a alongar o olhar para além das fachadas lampejantes deste tempo a fim de podermos encontrar o menino no estábulo de Belém e, assim, descobrimos a autêntica alegria e a verdadeira luz.

Francisco fazia celebrar a santíssima Eucaristia, sobre a manjedoura que estava colocada entre o boi e o jumento (cf. 1 Celano, 85: Fontes, 469). Depois, sobre esta manjedoura, construiu-se um altar para que, onde outrora os animais comeram o feno, os homens pudessem agora receber, para a salvação da alma e do corpo, a carne do Cordeiro imaculado – Jesus Cristo –, como narra Celano (cf. 1 Celano, 87: Fontes, 471). Na Noite santa de Greccio, Francisco – como diácono que era – cantara, pessoalmente e com voz sonora, o Evangelho do Natal. E toda a celebração parecia uma exultação contínua de alegria, graças aos magníficos cânticos natalícios dos Frades (cf. 1 Celano, 85 e 86: Fontes, 469 e 470). Era precisamente o encontro com a humildade de Deus que se transformava em júbilo: a sua bondade gera a verdadeira festa.

Hoje, quem entra na igreja da Natividade de Jesus em Belém dá-se conta de que o portal de outrora com cinco metros e meio de altura, por onde entravam no edifício os imperadores e os califas, foi em grande parte tapado, tendo ficado apenas uma entrada com metro e meio de altura. Provavelmente isso foi feito com a intenção de proteger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas sobretudo para evitar que se entrasse a cavalo na casa de Deus. Quem deseja entrar no lugar do nascimento de Jesus deve inclinar-se. Parece-me que nisto se encerra uma verdade mais profunda, pela qual nos queremos deixar tocar nesta noite santa: se quisermos encontrar Deus manifestado como menino, então devemos descer do cavalo da nossa razão «iluminada». Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba intelectual, que nos impede de perceber a proximidade de Deus. Devemos seguir o caminho interior de São Francisco: o caminho rumo àquela extrema simplicidade exterior e interior que torna o coração capaz de ver. Devemos inclinar-nos, caminhar espiritualmente por assim dizer a pé, para podermos entrar pelo portal da fé e encontrar o Deus que é diverso dos nossos preconceitos e das nossas opiniões: o Deus que Se esconde na humildade dum menino acabado de nascer. Celebremos assim a liturgia desta Noite santa, renunciando a fixarmo-nos no que é material, mensurável e palpável. Deixemo-nos fazer simples por aquele Deus que Se manifesta ao coração que se tornou simples. E nesta hora rezemos também e sobretudo por todos aqueles que são obrigados a viver o Natal na pobreza, no sofrimento, na condição de emigrante, pedindo que se lhes manifeste a bondade de Deus no seu esplendor, que nos toque a todos, a eles e a nós, aquela bondade que Deus quis, com o nascimento de seu Filho no estábulo, trazer ao mundo. Amen.

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Mensagem de Natal do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo

24 de Dezembro de 2011



Em texto


Senhores telespectadores e rádio-ouvintes,

Os portugueses, este ano, celebram o Natal em ambiente de crise. Há desempregados, famílias em dificuldade, há mais pobreza, mais sofrimento, há crise de esperança. Convido-vos, esta noite, a inverter os termos da questão. Em vez de nos perguntarmos como é possível celebrar a alegria do Natal, mergulhados neste sofrimento colectivo, procuremos descobrir em que medida é que o Natal, a festa do Deus connosco, nos pode ajudar a viver positivamente este momento.

O nascimento de Jesus inaugura o período definitivo da humanidade, em que Deus se fez Homem e é um Deus connosco, em todas as circunstâncias. Podemos viver todas as realidades da vida nessa proximidade de Deus, que transforma e dá sentido novo a toda a aventura humana. Jesus ensinou os discípulos que, quem acreditar nesta proximidade activa de Deus, dirá a uma montanha que ela se desloque e ela obedecer-lhe-á. Jesus nasceu para ser uma força decisiva na nossa luta da vida.

Ele ensina-nos a não nos assustarmos com o sofrimento, mas a enfrentá-lo com coragem e generosidade. Ele próprio enfrentou uma morte cruel e injusta e ofereceu-Se por nós, amou-nos no Seu sofrimento. O P. Teilhard de Chardin, escreveu, perante a dimensão gigantesca do sofrimento humano: a humanidade daria um salto qualitativo em ordem à sua perfeição, se esse sofrimento não fosse apenas sofrido, mas oferecido com um sentido novo. A nossa cultura contemporânea foi perdendo a notícia dessa fecundidade do sofrimento humano, quando vivido em união com a Cruz de Cristo, Ele o Deus connosco. Um dos frutos do presente sofrimento colectivo pode ser levar a sociedade a abrir-se a uma nova etapa da civilização, que dê maior prioridade à pessoa, uma ordem económica que acentue o bem comum, vença os individualismos, as desigualdades chocantes, todas as formas de materialismo; que aprenda a dar prioridade aos valores do espírito e não apenas ao dinheiro.

Jesus ensinou-nos a olhar para o nosso vizinho que sofre, como o nosso próximo. E à pergunta que lhe é feita, sobre quem é o meu próximo, Jesus responde que não é apenas aquele com quem me cruzo, mesmo tomando consciência do seu problema, mas aquele cujo sofrimento me tocou o coração e me desafia a amá-lo como um irmão.

O Papa Bento XVI afirmou que a caridade “é um coração que vê”; e o coração vê de outra maneira, vê mais do que a análise objectiva das situações, vê o irmão que sofre, cuja salvação depende do meu amor. Não nos basta fazermos análises claras da crise que atravessamos, temos de estar atentos e deixar que o sofrimento dos outros nos toque o coração. O próprio sofrimento gera a comunhão de amor, constrói comunidade, ajuda à vitória sobre os individualismos, é semente de transformação da sociedade. Quando o sofrimento dos outros nos toca o coração, tornamo-nos inventivos na busca de ajuda; é a fecundidade transformadora do amor.

E se nesta noite de Natal, no Seu nascimento na pobreza e simplicidade de uma gruta, Jesus nos falasse, o que nos diria? Convidar-nos-ia a escutá-l’O no Sermão da Montanha: “Felizes os que estão aflitos, porque serão consolados; felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (cf. Mt. 5,5-7). Que a nossa aflição, o nosso grito de equidade e de justiça, não nos impeça de procurar sempre, nas novas circunstâncias, a paz, isto é, a harmonia social que permita e favoreça mais a cooperação do que o confronto. Esta busca da paz pode ser atitude decisiva para vencermos a crise.

Na pobreza da gruta, o amor irradiante de Maria, a Mãe Imaculada, é mensagem de paz e de alegria. Com ela aprendemos que a alegria é sempre possível e que a esperança é atitude que não morre em quem acredita e ama.

Apesar das dificuldades que muitos estão a sentir, desejo-vos com fé e com amor, a alegria do Natal.

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

21 dezembro, 2011

PAPA BENTO XVI - Audiência Geral

Sala Paulo VI

Quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011


Amados irmãos e irmãs,
A celebração do Natal recorda-nos que, naquele Menino nascido em Belém, Deus Se aproximou de todos e cada um dos homens; e nós podemos encontrá-Lo agora, num «hoje» sem ocaso. É verdade que a redenção do homem se deu num período concreto da história, ou seja, na vida de Jesus de Nazaré. Mas, Jesus é o Filho eterno de Deus; o Eterno entrou no tempo e no espaço, para tornar possível o encontro com Ele «hoje». De facto, na liturgia, aquele acontecimento ultrapassa os confins do tempo e do espaço e torna-se presente hoje; o seu efeito perdura no decorrer dos dias, dos anos, dos séculos. Quando dizemos, na celebração litúrgica, «hoje nasceu o nosso Salvador», este termo «hoje» não é uma palavra vazia, mas significa que Deus nos dá a possibilidade de O reconhecer e acolher agora – como fizeram outrora os pastores em Belém –, para que nasça também na nossa vida e a renove, ilumine e transforme com a graça da sua presença.
* * *
Queridos peregrinos de língua portuguesa, desejo a todos vós e às vossas famílias um Natal verdadeiramente cristão, de tal modo que os votos de «Boas Festas», que ides trocar uns com os outros, sejam expressão da alegria que sentis por saber que Deus está no meio de nós e deseja percorrer connosco o caminho da vida. Para todos, um santo Natal e um bom Ano Novo, repleto das bênçãos do Deus Menino!
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14 dezembro, 2011

ELE NÃO ERA A LUZ, MAS VINHA PARA DAR TESTEMUNHO DA LUZ

Luz Divina

«Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz.» Jo 1, 8

Ao ler este versículo do Evangelho deste passado Domingo, confrontei-me com o pensamento de que tantas vezes não o tenho presente na minha vida, e em tantos momentos, tocado pelo orgulho e pela vaidade, quase me julgo a “luz”. 

Tantas coisas leio, tantas coisas estudo, tantas coisas digo e escrevo, (por vezes apreciadas por outros), que me esqueço da minha inutilidade e me julgo mais do que aquilo que sou, ou sou digno sequer de ser. 

E poderia eu alguma vez ser testemunha do amor, se o amor não me tivesse sido dado e escolhido primeiro? 

E poderia eu alguma vez falar das coisas de Deus, se não fosse Ele a colocar as palavras em mim? 

E poderia eu alguma vez testemunhar as maravilhas que Ele fez e faz na minha vida, se Ele não me concedesse essa graça? 

Como tem agora ainda mais sentido a oração que o Espírito Santo colocou um dia no meu coração e eu rezo todos os dias: 

«Mãe, ensina-me a ser nada, para que Cristo seja tudo em mim.» 

Mas será que esta oração não se tornou rotina em mim, e apenas a rezo sem nela meditar, e sobretudo sem a viver verdadeiramente? 

Que neste Tempo do Advento em que o Senhor me quis chamar a atenção para este versículo da Bíblia, eu saiba reduzir-me ao nada que sou, e perceber verdadeiramente que se alguma coisa faço ou testemunho, não sou eu que o consigo por mim próprio, mas sim Ele que está em mim e de mim se serve, e que eu só tenho que Lhe dar graças por isso. 

Tudo e sempre para a glória de Deus! 

Marinha Grande, 12 de Dezembro de 2011

Joaquim Mexia Alves

PAPA BENTO XVI - Audiência Gral


Sala Paulo VI

Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2011
 

Queridos irmãos e irmãs,
No Evangelho, vemos Jesus rezar ao Pai do Céu, antes de realizar os milagres. Assim acontece na cura de um surdo-mudo, como ouvistes ler no princípio da Audiência: «erguendo os olhos ao Céu», Jesus entra em relação com o Pai, que actua através d’Ele. A força que curou o surdo-mudo foi certamente provocada pela compaixão pelo doente que Jesus quer ajudar, mas provém do seu apelo ao Pai. Temos um exemplo ainda mais claro na ressurreição de Lázaro: diante do túmulo, Jesus «erguendo os olhos ao céu, disse: “Pai, dou-Te graças por Me teres atendido”» (Jo 11, 41). Sabemos assim que, desde quando soube do amigo gravemente doente, Jesus não cessou um momento sequer de pedir pela sua vida. Esta oração continua e reforça a união de Jesus com o seu amigo Lázaro e, ao mesmo tempo, confirma a sua decisão de permanecer em comunhão com a vontade do Pai, com o seu plano de amor que previa a doença e a morte de Lázaro como lugar onde havia de manifestar-se a glória de Deus.
* * *
Saúdo cordialmente os grupos brasileiros da diocese de Pato de Minas e da paróquia de Silvânia e restantes peregrinos de língua portuguesa, a todos recordando que a oração abre a porta da nossa vida a Deus. E Deus ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros que vivem na prova, dando-lhes consolação, esperança e luz. De coração, a todos abençôo em nome do Senhor.
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10 dezembro, 2011

Assembleia do Aniversário do RCC de Lisboa

A ser realizada na Igreja de S. Vicente de Fora (Lisboa), no dia 8 de Janeiro de 2012:

Ass. Aniv. RCC-LX -
2011


BF - ESD-LX

09 dezembro, 2011

«EU ESTOU À PORTA E BATO…»

 

E eu surdo,
nada ouço!

Os ruídos do mundo
ecoam alto nos meus ouvidos,
e não me deixam ouvir
o Teu chamar.


Mesmo assim,
pergunto-me:
pareceu-me ouvir bater?
Mas logo me respondo:
não deve ser nada importante,
deixa-me continuar,
o que eu estava a fazer!

Envolto no mundo que me abraça
distraio-me da vida,
da verdadeira vida,
aquela que quero viver,
e que por mim passa,
só porque não Te ouço bater!

O ruído do mundo aumenta,
faz-se constante,
imperioso, instante,
já não me deixa pensar,
mas apenas me deixa seguir,
por onde ele quer,
para onde me quer levar,
perdido num caminho,
em que me deixo conduzir.

Tropeço, caio,
é cada vez mais difícil,
conseguir-me levantar.
Arrasto-me penosamente,
perdido nas paixões e vícios
das quais já não me consigo,
por um momento sequer,
libertar.

Num momento fugaz,
(porque Tu não me abandonas),
ouço um bater suave,
à porta da minha vida.

Abro-Te a porta,
deixo-Te entrar.

Trazes contigo a paz,
o caminho, a verdade,
fazes-me encontrar a vida,
que me dás em liberdade.

Lentamente,
atenua-se o ruído,
cresce a confiança,
é mais fácil o levantar,
o rir,
o caminhar,
encho-me de esperança,
e aceito a vida,
porque em Ti,
me queres salvar.

«Eu estou à porta e bato…»*

Entra, Senhor,
ceia comigo,
que eu ceio contigo!

Façamos a festa juntos,
a festa de Te encontrar,
para que eu possa viver no mundo
a vida que Tu me queres dar…

* Ap 4, 20

Monte Real, 9 de Dezembro de 2011
Joaquim Mexias Alves 

08 dezembro, 2011

Quadra Natalícia



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Tarde de Animação

C. S. R. D. de Ota, 8 de Dezembro de 2011
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O GOVV, conforme programado realizou no Centro Social Recreativo e Desportivo de Ota, uma tarde de animação, em que os fundos obtidos reverterão integralmente a favor das obras da Igreja Paroquial.
Aproveitando a ocasião, este Grupo de Oração manifesta a sua gratidão pela cedência gratuita do salão e pronta disponibilidade que a Direcção do Centro Social demonstrou, na preparação e decorrer do evento.

Gratos também, pela participação sem qualquer fim lucrativo, dos Grupos "Danças e cantares da UTI" (de Alenquer), "Cantares da Vida Activa" (de Alenquer) e "Cantar d'Amigos"  (de Ota), sem esquecer todos os que, de forma diversa colaboraram, individual ou colectivamente.

Patriarca de Lisboa convida à escuta da Palavra de Deus


 “A Mulher Imaculada”
Homilia proferida na Solenidade da Imaculada Conceição,
Sé Patriarcal, 8 de Dezembro de 2011
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1. Maria é a Mulher Imaculada. Por isso todas as gerações a proclamam “bendita entre todas as mulheres”. O facto de ser a Mulher Imaculada desde o primeiro momento da sua existência é, sem dúvida, um privilégio pessoal que lhe foi concedido por Deus através daquele Filho de quem seria a Mãe. É um dom ligado à sua maternidade. Ao receber no seu seio maternal o próprio Filho de Deus, ia estabelecer com Ele e por Ele com a Santíssima Trindade, uma intimidade amorosa que exigia que o seu coração fosse tão imaculado como o do próprio Deus. Ter um Coração Imaculado é uma exigência da intimidade com Deus a que Ele a chamou e que na sua maternidade misteriosa adquire os contornos da relação Mãe-Filho.

Antes desse momento ter acontecido convinha que ela, a Mulher-Mãe, já tivesse a experiência dessa intimidade total com Deus, Trindade Santíssima. É por isso que Deus a quis Imaculada desde o primeiro momento da sua existência. São Bernardo, nos seus sermões em honra da Virgem Maria, referindo-se à Anunciação, diz que o Anjo Gabriel ficou espantado de encontrar aquela a quem trazia a mensagem do amor de Deus, profundamente mergulhada nesse amor. Ela é a primeira criatura que mergulhou totalmente na comunhão do amor trinitário, porque foi criada com Coração Imaculado. E essa experiência mística prepara-a para receber no seu seio o Verbo encarnado, estabelecendo com Ele uma relação com a Pessoa divina, o que eleva à plenitude a própria relação maternal. É por isso que a sua maternidade se vai exprimir numa relação maternal com todos aqueles que, redimidos por Jesus Cristo, recebem a cura do coração e são chamados a participar no amor divino. A Carta aos Efésios exprime-o claramente: “Foi assim que n’Ele, nos escolheu, antes da criação do mundo, a fim de sermos, na caridade, santos e irrepreensíveis diante d’Ele. Destinou-nos de antemão a sermos seus filhos adoptivos” (Efs. 1,3-4).
A transformação do nosso coração pecador em coração imaculado, capaz de ver e amar a Deus, é o mistério da nossa redenção, um “coração novo”, chamaram-lhe os Profetas. É o nosso itinerário da graça e de chamamento à santidade, que acontece com a força de Jesus Cristo. Mas a sua Mãe, a Mulher de Coração Imaculado, está necessariamente envolvida neste caminhar da graça e está envolvida como Mãe, pois essa é a verdadeira dimensão da sua maternidade. Ela conduz-nos, com amor de Mãe, nesse caminho misterioso de mergulharmos no amor de Deus, por Jesus Cristo. Em toda a verdadeira experiência de amor de Deus, o cristão encontra Maria, a Mãe de Coração Imaculado.
2. Este mistério de Maria acontece numa humanidade ferida pelo pecado. A primeira mulher, Eva, também fora criada com um coração imaculado. Deus criou-os à Sua imagem, portanto com uma capacidade de mergulhar no mistério do amor de Deus: “Deus criou o homem à Sua imagem, à imagem de Deus Ele o criou, e criou-os homem e mulher” (Gen. 1,27). Mas escutaram outras vozes que não a de Deus e isso afastou-os da intimidade com Deus; o seu coração deixou de ser imaculado. Isso pode acontecer ao cristão quando, na sua caminhada para a intimidade com Deus, escuta outras vozes e esquece a voz de Deus. É por isso que a escuta da Palavra de Deus é decisiva na caminhada do cristão. Não a escutar é afastar-se do caminho que conduz à intimidade de Deus. Só Cristo e Sua Mãe, a Mulher do Coração Imaculado, nos podem reconduzir à escuta da voz do Senhor.
Deus criou-os à Sua imagem, homem e mulher os criou. A Encarnação do Verbo no seio de Maria é uma nova criação. Homem e mulher voltam a ser, perfeita e definitivamente, imagem de Deus. Depois de Adão, o primeiro homem com um coração imaculado, capaz da comunhão trinitária, é Jesus Cristo. Depois de Eva, a primeira Mulher com coração imaculado, capaz de ver a Deus, é Maria. Os Padres da Igreja chamaram-lhe a “Nova Eva”. E se em Adão e Eva sobressaía a conjugalidade, embora a maternidade já esteja na origem do próprio nome da mulher, entre Cristo e Maria ressalta a maternidade, a relação Mãe-Filho, embora sem anular a esponsalidade. A sua relação maternal com o Filho situa-a, na comunhão trinitária, como esposa de Deus Pai, e a sua própria relação maternal tem a dimensão esponsal, porque Cristo ama a Igreja como Esposo e Maria é o primeiro membro da Igreja. Em Maria a maternidade e a esponsalidade ganham nova dimensão, sobretudo na compreensão da mulher cristã. Se mergulhar na intimidade de Deus com um coração novo, um coração purificado, é sempre esposa e Mãe, seja qual for a concretização da sua maternidade, pois é chamada, em Cristo, a participar da maternidade de Maria, sentindo-se Mãe de todos aqueles que Deus chama a serem seus filhos. Esta nova síntese entre maternidade e esponsalidade é cantada na Liturgia. Num Hino de Laudes canta-se:
“Sois a mais bela das criaturas
De Deus esposa, Mãe de Jesus.
Sois Mãe dos homens por vós gerados
Do mesmo sangue dado na Cruz”
3. A Mulher de Coração Imaculado é humilde e obediente, porque ouve sempre a Palavra de Deus e dá-lhe prioridade sobre todas as outras “vozes”, corrigindo a infidelidade de Eva. Essa fidelidade à escuta da Palavra de Deus é uma das manifestações do seu Coração Imaculado. A sua resposta ao Anjo Gabriel, “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”, é a manifestação, naquela circunstância concreta, da atitude habitual e permanente da Mulher Imaculada, escutar sempre a Palavra de Deus e segui-la com amor.
Na nossa caminhada de fé, a fidelidade concretiza-se aí: escutar sempre a Palavra do Senhor e segui-la, na obediência da fé, dando-lhe primazia sobre todas as outras vozes. A humildade de Maria inicia-nos no caminho da “obediência da fé”.
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca
 Patriarcado de Lisboa