25 fevereiro, 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (7)


Muitas pessoas julgam que as superstições se referem apenas àquelas coisas mais comuns, como “não passar debaixo de uma escada”, “do azar de um espelho partido”, “do número 13”, etc.
Mas verdadeiramente as superstições vão muito para além disso pois confinam com o mundo do oculto.

Só por esta palavra, oculto, podemos desde logo perceber, com simplicidade, o erro que estas práticas envolvem.

Tudo o que é oculto, escondido, dissimulado é contrário a Deus, porque Deus é a Verdade que se revelou e se revela aos homens, para que melhor O conheçam e amem, e assim vivam segundo a Sua vontade, aceitando a salvação que Ele mesmo oferece ao homem.
E esse caminho de salvação leva à libertação do homem de tudo o que é oculto, de tudo o que, portanto, não se revela à luz da verdade.

Percebamos assim e também, como são ridículas certas superstições amplamente divulgadas, que ninguém diz seguir, mas de que muita gente tem medo, e às escondidas, (oculto), acabam por praticar.

Claro que todas as superstições têm uma “explicação” tradicional, que vem normalmente do tempo em que o oculto imperava mais sobre a terra, do que a luz da verdade, em que o homem vivia mais no medo do oculto, do que na liberdade do amor de Deus.

Mas não é verdadeiramente ridículo atribuir à quebra de um espelho, sete anos de azar?
Ou ao número treze um predestinado azar?
Ou ainda ao bater com as “nozes dos dedos” na madeira, o afastamento de qualquer mal?

É aliás tão ridículo, que a maior parte das pessoas que praticam estas superstições, não o fazem “às claras”, precisamente porque têm vergonha de cair no ridículo, ou então praticam-nas com uma suposta indiferença irónica, mas a que no fundo está subjacente um medo do oculto.

E se estas práticas são ridículas em qualquer homem, são-no ainda mais num cristão católico, que deve ter toda a sua confiança e esperança centrada em Deus, em Jesus Cristo que se fez Homem, para libertar o homem de todo o oculto que o aprisionava, (as trevas do medo, o pecado, o desconhecimento de Deus), e por Sua graça alcançar a salvação.

Mas a verdade é que todos os dias vemos cristãos “baterem com os dedos na madeira”, e outras coisas mais, que mesmo sendo por hábito rotineiro, não deixam de ser erradas e passam um mau testemunho a quem a elas assiste.

Tal como, por exemplo, o uso de amuletos, (como figas, ferraduras, signos e tantos mais), às vezes “misturados” no mesmo fio ao pescoço, ou no mesmo local, com Crucifixos, com medalhas de Nossa Senhora ou de Santos.

Ou as “pirâmides” e tantas outras coisas, espalhadas pelas casas, pelos locais de trabalho, “a par”, com a Bíblia, e outros símbolos verdadeiramente cristãos.

Ou ainda os terços pendurados nos automóveis, muito mais como “amuleto”, do que como sinal da presença de Deus, como sinal de oração contínua.

Que confusão reina nas nossas cabeças, nos nossos corações!

A nossa confiança e esperança é em Deus, ou pelo sim pelo não, vamos também usando esses amuletos, de modo a estarmos bem “com Deus e com o Diabo”?

E isto leva a perguntarmo-nos, se quando oramos o fazemos com fé e confiança, ou apenas a “ver se dá”, se temos alguma resposta?
É que muitas vezes parece que as nossas orações são do tipo: “ou me dás o que eu quero, ou vou procurar noutro lado!”

Ou seja, com essa prática pretendemos muito mais “servir-nos” de Deus, do que servir a Deus!

As superstições são tão terríveis e enganadoras que nos podem levar até, (mesmo na prática da oração e dos sinais sacramentais), a pecar, caindo na tentação de atribuir eficácia, apenas e só, a fórmulas e acções, (o que não fica longe de um conceito de magia), quando, mais uma vez, a nossa fé, a nossa confiança, a nossa esperança, está e deve estar apenas e só no Deus de amor que se nos revela, nos chama e congrega.

Vejamos o Catecismo da Igreja Católica.

A SUPERSTIÇÃO

2111. A superstição é um desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Também pode afectar o culto que prestamos ao verdadeiro Deus: por exemplo, quando atribuímos uma importância de algum modo mágica a certas práticas, aliás legítimas ou necessárias. Atribuir só à materialidade das orações ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das disposições interiores que exigem, é cair na superstição.

Por isso mesmo devemos ter muito cuidado com aquilo que fazemos, com o modo como oramos, com a intenção com que vivemos a nossa fé, com a prática diária da fé que afirmamos professar, por todas as razões, e sobretudo pelo testemunho que damos aos outros.

Orações infalíveis?
Infalível é Deus, e não a fórmula da oração.

Continuar ou quebrar correntes de oração, mensagens e tantas outras coisas?
Pois se nós quebramos a nossa aliança com Deus quando pecamos e Ele nos perdoa sempre, como poderiam essas práticas “castigar-nos” e/ou prejudicar-nos?

Crucifixos junto com figas e outros amuletos e coisas parecidas?
Quem é que nos protege do mal? É Deus, na nossa comunhão com Ele, ou é o mal que nos protege do próprio mal, o que não faz sentido?

Fazer um determinado número de fotocópias ou de práticas seja do que for, para obter algo de Deus?
Então e quem é que determinou esse número? Foi Deus, ou foram os homens?
Deus age por amor, não age por quantidades, ou por números!

É a água benta, ou o sal benzido, que por si só actuam no homem, ou é a acção de Deus naqueles que percebem e vivem nesses sinais sacramentais a presença de Deus?

«Então, uma mulher, que padecia de uma hemorragia há doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na orla do manto, pois pensava consigo: 'Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada.' Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse-lhe: «Filha, tem confiança, a tua fé te salvou.» E, naquele mesmo instante, a mulher ficou curada.» Mt 9, 20-22

Então a mulher tinha fé e confiança nas vestes de Jesus, ou no próprio Jesus Cristo?

Se temos fé, temos confiança.
Se temos fé e confiança, temos esperança.
Se temos fé confiança e esperança, é porque permanecemos em Deus.
Se permanecemos em Deus, Ele permanece connosco,
E se Ele permanece connosco, o que podemos temer? Rm 8, 31-39

Monte Real, 25 de Fevereiro de 2011
(continua)
Joaquim Mexia Alves

23 fevereiro, 2011

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI, PARA A QUARESMA DE 2011

«Sepultados com Ele no baptismo,
foi também com Ele que ressuscitastes» (cf. Cl 2, 12)

Amados irmãos e irmãs! 

A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).

1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, «tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo» iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem. 

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos» (Fl 3, 1011). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo. 

Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência. 

2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele. 

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Ef 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça deDeus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor. 

O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho. 

O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz».

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. 

O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à acção da Graça para sermos seus discípulos. 

3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31). 

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia. 

Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A oração permitenos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.

Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo. 

Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

Vaticano, 4 de Novembro de 2010

BENEDICTUS PP. XVI 

© Copyright 2010 - Libreria Editrice Vaticana

20 fevereiro, 2011

O louvor pode afugentar satanás


Há muitas ocasiões em que é mais importante louvar a Deus do que continuar a pedir. O louvor faz com que os seus olhos se desviem da batalha para a vitória, pois Cristo já é Vencedor, e o Vencedor já está no seu coração a fim de que possa obter a Sua vitória na sua vida e na sua oração. Normalmente, toda a oração deve começar com louvor (Sl 100, 4). O Espírito Santo frequentemente quer guiá-lo, levando-o do fardo da intercessão para o louvor vitorioso. Levar o fardo é bíblico, mas o louvor o é ainda mais.

Já pensou que as respostas de Deus às suas orações são “às vezes demoradas porque não O louva suficientemente?” Já pensou que diversos problemas permanecem às vezes, porque deixou de louvar o Senhor? Sabia que pode geralmente afugentar satanás mais depressa pelo louvor do que por qualquer outra maneira, a não ser que seja pela ordem da fé? Ou que a ordem de fé esteja frequentemente ligada a uma bagagem de louvor? Sabia que é possível remover a depressão através do sacrifício da oração perseverante? O louvor penetra a escuridão, remove obstáculos antigos, e afasta o demónio.

Lettie B. Cowman, autora do livro Mananciais no Deserto e co-fundadora com o marido da OMS Internacional, ressaltou que os cristãos repetem sempre a declaração familiar, “a oração muda as coisas”. Deus ensinou-lhe a profunda verdade espiritual de que depois de uma oração, é no geral o louvor que muda as coisas. As orações repetidas durante longo tempo e sem uma aparente resposta de Deus rapidamente são respondidas quando o intercessor passa da súplica para o louvor. Cowman enfatizou que duas asas são necessárias para a alma chegar a Deus: oração e o louvor. Porque será que damos mais ênfase “à oração do que ao louvor, quando as escrituras fazem mais exortações para louvar do que para orar?”.

Existem três níveis de louvor que podem abençoar a sua vida e acrescentar eficácia à sua oração: (1) louvar pelo que Deus fez, (2) louvor pelo que espera que Deus faça, e (3) louvor por quem Deus é. Tal louvor não representa apenas adoração valiosa mas guerra espiritual poderosa.

Como usa Deus o seu Louvor

O louvor renova as suas forças. Esperar em Deus renova-lhe espiritualmente e também fisicamente (Isaías 40,29-31). Louvar a Deus é ainda mais eficaz do que a oração para refrescar, reanimar, e capacitar-lhe. Todo o cristão experimenta às vezes uma sensação de secura espiritual. Depois de uma batalha espiritual surge quase sempre um cansaço mental e emocional. Precisamos repetidamente de uma emanação do Espírito. O louvor traz uma mudança de disposição. O louvor abre um poço artesiano de fé e alegria. O louvor é um dos meios usados por Deus para a sua renovação interior (II Coríntios 4,16, Salmo 103,1-5). Quando no seu louvor é sincero com Deus, o louvor é santo, agradável a Deus e  poderoso.

Terá muito mais força espiritual se incluir o louvor no seu caminhar diário com o Senhor. Será mais forte fisicamente se fizer do louvor a Deus uma parte do seu estilo de vida. Quando louva o Senhor, as suas preocupações desaparecem. O louvor afugenta a frustração, a tensão e a depressão. O louvor espanta a escuridão e acende a luz de Deus. O louvor clareia a atmosfera dissipando as sugestões de dúvida, crítica e irritação provenientes de satanás. O louvor faz uma transfusão celestial em si.

A. B. Simpson chamava ao louvor, tónico físico e estimulante completo. O louvor mudará a atmosfera de sua vida, da sua casa e da igreja. Uma palavra de louvor, um coro ou hino de louvor, pode fazer com que o período de oração no seu lar volte à vida. Irá crescer diariamente em espiritualidade se planear e praticar constantemente o louvor.

O louvor clareia a sua visão. Satanás tentará introduzir a perspectiva diferente na sua mente antes que tome consciência disto. ele compraz-se em pintar as coisas negras. Ele aumenta os montes, transformando-os em montanhas, escurece o seu céu, e faz com que as dificuldades pareçam impossibilidades. Ele quer que faça uma avaliação pessoal errada. ele acusa-o de não ser importante para Deus, fraco demais para ser usado por Deus, e ser um fracasso. Ele faz com que as forças do mal pareçam maiores, mais sábias e mais fortes do que realmente o são.

Comece por louvar a Deus e poderá anular as sugestões de satanás. Louve a Deus e o Espírito Santo irá clarear a sua visão, perante as perspectivas de satanás que são sempre enganosas. Ele quer que vejamos apenas, parte do quadro. Louve o Senhor e o Espírito Santo começará a dar-lhe a perspectiva do céu. O louvor reduz o diabo ao seu tamanho apropriado e ajuda a si,  a reconhecer a falsidade e o vazio de seu embuste.

O louvor dá-lhe a visão do Espírito Santo, de como Deus vem operando e como a resposta de Deus está próxima. O louvor levanta-o da poeira da batalha e permite que olhe para ela na perspectiva de Jesus, enquanto Ele está sentado “a destra do Pai”. O louvor mostra a mentira das afirmações de satanás e faz com que veja o que os anjos de Deus vêem.

O louvor purifica a sua alma. Você ficaria surpreso ao saber como a oração é prejudicada pela vida egoísta dos cristãos. A carnalidade impede que milhares de orações subam mais alto que o tecto. “Se a maldade estivesse no meu coração, o Senhor não me teria escutado” (Salmo 66,18). Os pensamentos pecaminosos, atitudes carnais e egocentrismo destroem o poder da oração. Eles fecham o ouvido de Deus às nossas palavras de desejos.

A Escritura fala muitas vezes de pessoas a orar, e Deus a não as ouvir. Segundo Tiago, a nossa relação com Deus deve ser verdadeira e o nosso motivo puro para que Deus possa ouvir-nos (4,3). O orgulho anula muitas orações (4,6). Uma atitude de crítica, falta de perdão e amargura oculta no íntimo, bloqueiam a oração.

Se quizer que as suas orações sejam respondidas, permita que o Espírito Santo o purifique (4,6-10).

Você pode ser preservado na pureza, pelo espírito de louvor. Quando satanás vier com as suas sugestões, purifique os seus pensamentos através da oração. O louvor desvia os seus olhos da sua própria pessoa para Jesus. O louvor faz desaparecer o negativismo, a auto-piedade, o egocentrismo e o começo da auto-idolatria. O louvor  o purifica tanto, que Deus aceita-o quando se aproxima do trono da graça.

O louvor dá poder à sua oração. O salmo 50,14-15 sugere que na sua hora de dificuldade, um sacrifício de acções de graças é o prelúdio apropriado para a sua oração de intercessão. Por outras palavras, o louvor torna a sua petição mais eficaz. Deus já fez tanto por nós, coisas que no geral agradecemos inadequadamente e que o louvor em adoração aquece o coração d'Ele e prepara o caminho para resposta rápida.

O louvor multiplica a fé. Quando começar a louvar o Senhor, o foco de sua atenção desvia-se da complexidade do problema para a suficiência dos recursos de Deus, da urgência da sua necessidade para o poder do Senhor em satisfazer essa necessidade. Ao louvá-Lo, irá recordar-se de como Ele o ajudou noutras ocasiões e a sua fé eleva-se, cheia de esperança. Assim, passa a apropriar-se da disponibilidade e vontade de Deus em ajudá-lo agora. Quanto mais louva tanto menor parece a montanha que está a enfrentar à luz da grandeza de Deus.

O louvor eleva os seus olhos para Jesus e quase inconscientemente lança o seu fardo sobre o Senhor (Salmo 55,12). O louvor serve para que compreenda como satanás e os seus ajudantes, são comparativamente insignificantes, como eles já foram completamente derrotados e se tornaram medrosos por causa do Calvário. O louvor dá-lhe coragem para se levantar em nome de Jesus e repreendê-los. O louvor não é só um meio para multiplicar a sua fé, mas também uma evidência dessa fé.

O louvor une-o em espírito com os anjos. As batalhas espirituais são ganhas no mundo invisível pela oração e pela assistência activa dos anjos de Deus que foram designados para ajudá-lo (Hebreus 1,14).

Os anjos alegram-se muito ao louvar e adorar Jesus. Quando inicia um louvar a Deus, os anjos parecem reunirem-se à sua volta, unidos a si, no seu louvor e alegria. Não os vê, mas eles estão ali. O céu parece muito próximo quando louva; Deus e os seus anjos ouvem e agradam-se.

O louvor afugenta satanás. Satanás  teme a presença e a autoridade de Jesus. ele sabe que Jesus pode enviá-los em qualquer momento para o lago do fogo, que será a sua condenação final. O medo deste castigo e a presença santa de Jesus tortura-os (Mateus 8,29).

Louvar Jesus faz com que os exércitos demoníacos fujam. Espere que satanás fuja de si (Tiago 4,7). Alguém disse certa vez: “Vamos cantar um hino e aborrecer o diabo”. Quando a batalha contra satanás parecer infindável e quase desesperada, comece a louvar a Deus e os exércitos de satanás fugirão.

Louvamos a Deus algumas vezes e ocasionalmente durante a oração. Vamos louvá-lo cada vez mais. Usamos a oração para adorar o Senhor; comecemos a usá-la para derrotar o diabo. Além dos outros resultados esplendidos, vale a pena louvar o Senhor só por causa das benção que vai sentir no seu coração. O louvor é porém, a artilharia pesada do cristão; o louvor é mais eficaz na guerra espiritual do que a bomba atómica na guerra militar. O louvor é a estratégia para a vitória.

Como Louvar a Deus

Pode louvar a Deus na solidão de sua alma, sem que ninguém mais saiba. Comece o seu dia no escritório com louvor silencioso. Entre numa casa, ao fazer uma visita, louvando Jesus no seu coração. Se outros estiverem a aconselhar alguém na sua presença, poderá repetir em silêncio o nome de Jesus em louvor e adoração. Ao sentar-se ao lado de alguém que sofre no hospital, pode louvar silenciosamente o Senhor até que a presença de Deus esteja próxima e talvez até seja sentida pelo paciente. Quantas vezes é adequado louvar Jesus desta forma!

Embora o louvor deva inundar o mais íntimo do seu ser (Salmo 103,1) possa ser cantado no seu coração (30,12), ele deve ser também expresso em público (35,18), na presença de outros (Salmo 34,3). O louvor deve ser declarado (9:14), cantado (33,1), anunciado com alegria (33,3; 71,23), expresso com música (92,1), e com os lábios e a boca. “Em todo o tempo bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre nos meus lábios” (34,2). “Por meio de Jesus, ofereçamos continuamente a Deus  um sacrifício de louvor, isto é, o fruto de lábios que confessam o Seu nome” (Hebreus 13,15).

O louvor pode transformar a sua vida diária. O louvor pode transformar a sua vida de oração. O louvor pode acelerar a vitória nas suas batalhas de oração. Não existe substituto para o louvor. O louvor dá honra a Deus, proporciona alegria aos anjos e amedronta qualquer espírito que possa estar por perto. O louvor clareia a atmosfera, lava o seu espírito, multiplica a sua fé e reveste-o com a presença e o poder de Deus. “Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e todo o meu ser  louve o Seu nome santo” (Salmo 103,1).
 Documento em PDF, cuja origem é desconhecida
 Revisão dos textos bíblicos e adaptação ao português de Portugal - Luís Santos

18 fevereiro, 2011

Patriarcado de Lisboa inaugura novo site

Simplicidade. Facilidade. Qualidade. Actualidade. Assim se define a nova página da internet do Patriarcado de Lisboa (www.patriarcado-lisboa.pt), inaugurada esta semana. Um site que quer colocar a Igreja de Lisboa em diálogo com a sociedade.

 
“O novo site surgiu por uma dupla necessidade: o Patriarcado de Lisboa dar-se a conhecer a vários níveis, mas também a necessidade de as pessoas conhecerem um pouco mais a Igreja”. Pedro Duarte, licenciado em Informática, foi quem desenvolveu a nova plataforma da internet do Patriarcado de Lisboa. À VOZ DA VERDADE, este jovem salienta que o Patriarcado tinha um site na internet desde há 11 anos que, contudo, não evoluiu. “Foi um site que não sofreu qualquer evolução, daí a necessidade de criar algo completamente novo”, salienta Pedro Duarte.
Na opinião deste informático, o novo site do Patriarcado de Lisboa é “totalmente actual” e vai de encontro “às necessidades de quem o procura”. Da mesma forma, acrescenta, a página agora inaugurada vai “ao encontro da necessidade de o Patriarcado se mostrar e se dar a conhecer”.
Simplicidade e qualidade
A simplicidade de navegação é uma das apostas dos responsáveis pelo novo site. “O que é importante neste site é, que como em qualquer outro site, a pessoa consiga navegar na página de forma simples. Como é um site criado de raiz, houve a oportunidade de usar as mais recentes tecnologias e plataformas, para que seja um site de fácil utilização”, sublinha o informático responsável pelo projecto. “O objectivo é que os utilizadores encontrem facilmente a informação que querem”, acrescenta Pedro Duarte.
Na opinião deste jovem informático, o novo site do Patriarcado de Lisboa vem na linha de uma aposta de toda a Igreja portuguesa na área da internet. “O objectivo do Patriarcado era criar um site altamente profissional. É com agrado que vejo, especialmente no último ano, muitos movimentos da Igreja, mas também várias dioceses a apostarem na qualidade dos sites”. Para Pedro Duarte, existe actualmente “uma saudável ‘concorrência’ entre os vários sites da nossa Igreja”.
Horários das Missas e informação
Com base no historial do site antigo, uma das páginas mais acedidas era a dos horários das Missas. No site agora inaugurado, a aposta pela pesquisa é grande, segundo revela o informático que desenvolveu o projecto. “A pesquisa dos horários das Missas em toda a diocese é agora uma realidade de fácil acesso. Com o novo site, o Patriarcado criou um sistema de pesquisa de Missas por vigararia, paróquias, dias da semana ou mesmo horário”.
Esta é uma das áreas onde o Patriarcado espera uma colaboração dos párocos, uma vez que são os próprios padres que actualizam os horários das Missas das suas paróquias.
O campo da pesquisa no site é outra novidade. “Mesmo ao nível dos documentos, houve uma forte aposta na pesquisa para que as pessoas consigam aceder ao que lhes interessa de uma forma rápida”, garante Pedro Duarte.
O novo site do Patriarcado de Lisboa, que foi desenvolvido pelo Departamento da Comunicação, reforçou a aposta nas notícias e no multimédia, nomeadamente ao nível do vídeo. Para o jovem informático, esta é uma aposta arriscada. “Arriscámos um pouco, porque esta pode não ser um aposta do futuro da internet. No entanto, foi feito um grande trabalho ao nível do vídeo e da imagem. Tentámos colocar o vídeo como algo de fácil utilização”, garante. Para Pedro Duarte, a aposta no vídeo por parte da Igreja de Lisboa é fundamental. “Mais facilmente alguém houve uma notícia através de um vídeo, do que a lê através do texto”.
Uma Igreja em diálogo na internet
Na mensagem de boas-vindas à página, o Cardeal-Patriarca de Lisboa deseja que o novo site seja uma janela para colocar a Igreja em diálogo com o mundo e com a sociedade. Para o informático responsável pelo projecto, o novo site vai permitir uma maior interacção com as pessoas. “Uma das perspectivas, é a possibilidade que o site oferece de as pessoas dialogarem com o Patriarcado, colocando as suas questões e dúvidas, que depois serão respondidas”. É desejo do Departamento da Comunicação que uma vez por mês o Cardeal-Patriarca de Lisboa responda a uma das questões propostas, sendo a resposta publicada no site.
Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, Bento XVI pede que os cristãos estejam mais presentes na internet e nas redes sociais. Com este novo site, a Igreja de Lisboa responde afirmativamente ao desafio do Papa, na opinião de Pedro Duarte: “Bento XVI pede uma presença responsável mas também muito natural na internet. Nos dias de hoje, é quase uma obrigação estar na rede”.

Patriarcado de Lisboa

17 fevereiro, 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (6)


Regresso ao texto anterior, para tentar clarificar melhor a importância de estarmos atentos e não nos deixarmos levar por sentimentos de “incapacidade”, de falsa humildade, ou de “obsessão” pelos nossos defeitos, que nos podem afastar de darmos de nós aos outros, pois tudo aquilo que o Senhor nos dá, deve ser sempre partilhado em função do bem comum, na proclamação da Boa Nova, no testemunho de Fé.

Pensemos que, (por uma hipótese totalmente absurda), Pedro e os Apóstolos se tinham deixado levar por sentimentos tais como, “eu não sou capaz”, “eu sou muito pecador”, “eu tenho que viver apenas interiormente a minha fé”, ou que Paulo tinha “perdido” o seu tempo preocupado com um seu “possível” orgulho, com uma sua “possível” vaidade, e assim, todos eles por força disso, não tivessem cumprido a missão a que o Senhor Jesus os chamou.

Se assim tivesse acontecido, não teriam chegado aos nossos tempos, (escrita e oralmente), os ensinamentos de Cristo, os Evangelhos, os Actos dos Apóstolos, as Cartas de Paulo, a Tradição da Igreja, enfim tudo que é a revelação de Deus aos homens, para por Ele chamados e convocados, serem Igreja caminhando em comunhão, vivendo o plano salvífico de Deus para a humanidade.

Ensina-nos a Igreja que a revelação de Deus atinge a plenitude em Cristo, mas ensina-nos também que a missão de todo e cada cristão, é dar testemunho de fé, por palavras, actos e até com a própria vida, (se a tal for chamado), na certeza de que nunca lhe faltará em momento algum a assistência do Espírito Santo.

Diz-nos a Lumen Gentium:

«35. Cristo, o grande profeta, que pelo testemunho da vida e a força da palavra proclamou o reino do Pai, realiza a sua missão profética, até à total revelação da glória, não só por meio da Hierarquia, que em Seu nome e com a Sua autoridade ensina, mas também por meio dos leigos; para isso os constituiu testemunhas, e lhes concedeu o sentido da fé e o dom da palavra (cfr. Act. 2, 17-18; Apoc. 19,10) a fim de que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana, familiar e social. Os leigos mostrar-se-ão filhos da promessa se, firmes na fé e na esperança, aproveitarem bem o tempo presente (cfr. Ef. 5,16; Col. 4,5) e com paciência esperarem a glória futura (cfr. Rom. 8,25). Mas não devem esconder esta esperança no seu íntimo, antes, pela contínua conversão e pela luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal» (Ef. 6,12), manifestem-na também nas estruturas da vida secular.
Do mesmo modo que os sacramentos da nova lei, que alimentam a vida e o apostolado dos fiéis, prefiguram um novo céu e uma nova terra (cfr. Apoc. 21,1), assim os leigos tornam-se valorosos arautos da fé naquelas realidades que esperamos (cfr. Hebr. 11,1), se juntarem sem hesitação, a uma vida de fé, a profissão da mesma fé. Este modo de evangelizar, proclamando a mensagem de Cristo com o testemunho da vida e com a palavra, adquire um certo carácter específico e uma particular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo.»

Ora se percebemos acima que a missão de Pedro, de Paulo e dos Apóstolos foi indispensável para a proclamação da Boa Nova, para a edificação da Igreja, continuada essa acção pelos seus sucessores, (os bispos), «pela imposição das mãos», até aos nossos dias e para sempre, percebemos então também, porque a própria Igreja no-lo afirma como acima lemos, que todos somos co-responsáveis na edificação do Reino de Deus, (hierarquia e leigos), e que é missão de cada baptizado colaborar em e com tudo o que o Senhor lhe dá para essa mesma edificação.

Compreendemos por isso, ou devemos compreender, como é importante para o Demónio a tentação que nos pode levar a não exercermos esse sacerdócio comum a que somos chamados pelo Baptismo, e nos deve levar a cumprir a missão a que somos chamados e convocados.

Vejamos como o Catecismo da Igreja Católica nos ensina a importância da iniciativa dos cristãos leigos.

899. A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de descobrir, de inventar meios para impregnar, com as exigências da doutrina e da vida cristã, as realidades sociais, políticas e económicas. Tal iniciativa é um elemento normal da vida da Igreja:
«Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade. Por isso, eles, sobretudo, devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja, isto é, comunidade dos fiéis na terra sob a direcção do chefe comum, o Papa, e dos bispos em comunhão com ele. Eles são Igreja» (Pio XII, discurso de 20 de Fevereiro de 1946; citado por João Paulo II, CL9).

Queixamo-nos muitas vezes que os cristãos católicos não têm conhecimentos, porque não lhes é dada formação, etc., mas a verdade é que a Igreja coloca ao seu dispor um sem número de documentos, grande parte deles de fácil acesso e simples interpretação, para além de tantas obras de autores católicos, disponíveis a todos os fiéis.

Mas a verdade também é que muitos cristãos preferem ler livros de autores que, longe de estarem em conformidade com a Doutrina da Igreja, os levam muitas vezes de forma encapotada, a seguirem caminhos que os afastam da Verdade.

Vejamos por exemplo o sucesso de livros como “O Código Da Vinci”, e outros parecidos, que sem dúvida tantos cristãos leram, para depois afirmarem que ficaram com dúvidas!
Se ficaram com dúvidas é porque, ou a sua fé é “fraca”, ou não nem sequer tentaram aceder a obras que demonstravam sem dúvidas, os erros de tais livros.

Lêem-se livros de “espiritualidades” duvidosas, (como por exemplo Paulo Coelho e tantos outros), mas não há tempo, nem apetência para ler livros de espiritualidade cristã católica, que estão à disposição de todos, talvez até nas mesmas livrarias.

Lêem-se livros sobre as vidas dos Santos, mas a atenção foca-se mais nos milagres aos Santos atribuídos, (o que leva a uma “espiritualidade” de procura da resolução fácil de problemas como se Deus fosse “mágico”), do que na sua vida de santidade, tentando imitá-los nas suas virtudes.

E no entanto, parecendo que estamos a fazer bem, vamos sendo afastados do essencial, para nos fixarmos no acessório.

E não é isto a acção subtil do Demónio?

E não é acção do Demónio levar-nos pelas razões mais espúrias, a recusarmos a missão que o Senhor colocou nas nossas mãos, para com Ele, e a permanente assistência do Espírito Santo, colaborarmos na edificação da Igreja, e n’ Ela todos sermos participantes do mistério de salvação?

Com certeza que esta missão que o Senhor coloca nas nossas mãos, não é do agrado do Demónio, pois leva à dilatação do reino de Deus no mundo, (o próximo e o mais afastado), para glória de Deus.

E leva também ao nosso próprio crescimento e fortalecimento na fé, porque ao exercermos os dons que o Senhor nos confere, (dos mais simples, aos mais difíceis), eles se vão desenvolvendo e prosperando, levando-nos ao encontro da vontade de Deus, porque:
«Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado.» Mt 13,12

Como podemos nós invocar motivos tais como, “eu não sou capaz”, “eu não tenho conhecimentos”, “eu não tenho talentos”, etc., etc., para não cumprirmos a missão sublime que Jesus Cristo nos deu?

Muito melhor do que quaisquer palavras que aqui escreva, ensina-nos a Igreja com palavras de compreensão simples, acessíveis a todos.

Decreto sobre o Apostolado dos Leigos - «Apostolicam Actuositatem» - Vaticano II

«2. Existe na Igreja diversidade de funções, mas unidade de missão. Aos Apóstolos e seus sucessores, confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar em seu nome e com o seu poder. Mas os leigos, dado que são participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, têm um papel próprio a desempenhar na missão do inteiro Povo de Deus, na Igreja e no mundo. Exercem, com efeito, apostolado com a sua acção para evangelizar e santificar os homens e para impregnar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho; deste modo, a sua actividade nesta ordem dá claro testemunho de Cristo e contribui para a salvação dos homens. E sendo próprio do estado dos leigos viver no meio do mundo e das ocupações seculares, eles são chamados por Deus para, cheios de fervor cristão, exercerem como fermento o seu apostolado no meio do mundo.»

E ainda:

«3. A todos os fiéis incumbe, portanto, o glorioso encargo de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens em toda a terra.
O Espírito Santo - que opera a santificação do Povo de Deus por meio do ministério e dos sacramentos - concede também aos fiéis, para exercerem este apostolado, dons particulares (cfr. 1 Cor. 12, 7), «distribuindo-os por cada um conforme lhe apraz» (1 Cor. 12, 11), a fim de que «cada um ponha ao serviço dos outros a graça que recebeu» e todos actuem, «como bons administradores da multiforme graça de Deus» (1 Ped. 4, 10), para a edificação, no amor, do corpo todo (cfr. Ef. 4, 1). A recepção destes carismas, mesmo dos mais simples, confere a cada um dos fiéis o direito e o dever de os actuar na Igreja e no mundo, para bem dos homens e edificação da Igreja, na liberdade do Espírito Santo, que (sopra onde quer» (Jo. 3, 8) e, simultaneamente, em comunhão com os outros irmãos em Cristo, sobretudo com os próprios pastores; a estes compete julgar da sua autenticidade e exercício ordenado, não de modo a apagarem o Espírito, mas para que tudo apreciem e retenham o que é bom (cfr. 1 Tess. 5, 12.19.21).»

Porque não temos formação, conhecimentos, (porque a ela e a eles não queremos tantas vezes aceder), fechamo-nos na nossa “fé privada” e não partilhamos com os outros os dons que o Espírito Santo derrama em cada um para a edificação de todos, mesmo os dons mais simples, como acima lemos no documento citado.

E assim, em vez de aceitarmos e vivermos a missão que o Senhor nos dá, e em comunhão de Igreja, n’Ela colaborando, (pela graça de Deus), para o seu «crescimento e contínua santificação» LG 33, vamos vivendo uma fé “morna”, individualista, tão ao gosto do Demónio que nos quer fazer perder a salvação que o Senhor nos deu e dá continuamente.

Somos baptizados, somos templos do Espírito Santo que habita em nós permanentemente.
Confiemos n’Ele, porque como diz o Senhor:
«mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14, 26

Marinha Grande, 16 de Fevereiro de 2011

(continua)
Joaquim Mexia Alves