29 julho, 2011

A IGREJA - EM COMUNHÃO

 

Uma das muitas graças que Deus me concedeu no meu reencontro com a Fé, com o seu amor, foi um amor forte e profundo à Igreja, a tudo o que Ela é e representa, a toda a sua história, (mesmo nos tempos em que tenha andado por caminhos mais dos homens do que de Deus), e uma obediência serena, reflectida, amorosa à sua Doutrina, à sua Tradição, ao seu Magistério.


Não me coíbo, nos sítios próprios, (Conselhos Pastorais, reuniões em Igreja, etc.), de colocar os meus pensamentos, as minhas reflexões, as minhas opiniões, o que tento sempre fazer num intuito de edificação, nunca de afrontamento e/ou muito menos de divisão.

Tento aceitar, o mais humildemente possível, as negativas ou contestações àquilo que penso e digo, e muito mais o tento perante incompreensões às minhas reflexões, porque começo a ter para mim, (talvez devido à idade), que temos sempre a tendência para julgarmos que os outros não nos entendem, quando a maior parte das vezes somos nós que não os entendemos, ou não entendemos o todo, para apenas vermos uma parte.

E leio, e estudo, e ouço, e reflicto, e sobretudo oro e entrego-me ao Espírito Santo, para que seja Ele a transformar em fruto, aquilo que eu vou tentando semear em mim.
Nem sempre assim acontece, porque a minha humanidade, tão cheia de orgulho e vaidade, fecha-me por vezes o discernimento e torna-me cego perante a luz, mas a certeza inabalável de que Ele é sempre o Caminho, a Verdade e a Vida, descansa os meus receios e confirma-me que no fim de cada momento, (se eu tiver o meu coração aberto à sua presença), será sempre Ele a conduzir-me, a guiar-me.

Tudo isto vem a propósito do que recentemente me parece vir ao de cima, numa série de acontecimentos, de artigos, de opiniões, que vêm colocar em causa sobretudo a Missa tal como Ela hoje é celebrada, a Comunhão na mão, por oposto, à Missa em latim, (usando uma terminologia simples), e à Comunhão na língua, como se fosse incompatível a existência das duas formas de celebração e comunhão.

Devo dizer, que tanto uma como a outra forma me servem perfeitamente, porque o meu encontro com Deus depende sobretudo da minha abertura à sua presença, e a comunhão com e em Igreja, em ambas as formas, me garante a comunhão com Deus, por sua graça.

Não vou aqui debater, (nem tenho competência para tal), a bondade de uma forma e de outra, mas apenas tentar reflectir um pouco sobre a forma como esta discussão tem vindo a ser feita, em alguns casos.

Em primeiro lugar, reafirmo a minha total obediência ao Magistério da Igreja, que não divido em antes e depois, mas sim num todo, que é ontem, hoje e sempre, e não pode ser dissociado, porque mesmo quando os homens se arrogaram a decidir por eles próprios, nunca o Espírito Santo deixou de estar presente, suscitando santas e santos, que foram a voz, em comunhão de Igreja, que fez reflectir a hierarquia a regressar à vontade de Deus para a Igreja, para a humanidade.

Isto porque me parece, como acima escrevo, que em muitos casos me parece que esta discussão reflecte muito mais uma “luta” pelo querer de cada um, do que propriamente uma preocupação em fazer a vontade de Deus.

Esgotam-se os argumentos, explicam-se as razões, defendem-se opiniões, mas tudo por vezes me parece muito mais cheio do “eu”, na defesa do meu “clube”, (perdoem-me a expressão), do que uma verdadeira reflexão, meditação, iluminada pelo Espírito Santo, que ajude a edificar e unir, muito mais do que contestar e dividir.

Nestas últimas décadas, (e ao longo da história da Igreja), o Espírito Santo tem-nos surpreendido, mudando tantas vezes coisas que nos pareciam “certas”, ou “tradições” que nos pareciam “inabaláveis”.

Pensemos, por exemplo, na eleição de João XXIII, ou de João Paulo II, no Concílio Vaticano II, e em tantos momentos da Igreja.

Quer isto dizer que não devemos reflectir, discutir esses ou outros assuntos?
Claro que não!
Devemos reflectir, discutir, analisar, mas sobretudo fazê-lo numa atitude de serviço, de comunhão de Igreja, nos lugares e momentos certos, e não numa “luta” pública, em que aqueles que vivem afastados de Deus, afastados da Igreja, perante o nosso testemunho individualista, ainda mais se afastam, porque vêm nele apenas os homens, não conseguindo por isso “descortinar” Deus a iluminar os homens.

Claro que um tema destes dava para um livro, e não apenas para um pobre texto, que peca, sem dúvida, por defeito e omissão, mas que tem apenas a intenção de colocar por escrito aquilo que vou pensando no dia-a-dia, fruto do meu amor pela Igreja, pelo seu Magistério, pela sua Tradição, tudo consubstanciado no amor de Deus, a Deus e com Deus.

Contribuo em Igreja, com as minhas reflexões e opiniões, quando me são pedidas, ou quando acho que as devo colocar porque é o tempo e o lugar certo, e pacientemente espero e confio naqueles que Deus chamou para guiarem o seu povo, na certeza de que o Espírito Santo nos conduz e os conduz, a fazermos a vontade de Deus, sempre e em tudo.

E, mesmo que a decisão da Igreja não seja aquela que eu quero ou mais me agrade, farei então e ainda, um esforço bem maior, para aceitar e amar essa decisão, porque ao fazê-lo estou a ser pedra viva da Igreja, estou a ser amorosamente membro empenhado do Corpo Místico de Cristo.
Joaquim Mexia Alves

27 julho, 2011

A Verdade

Pe. Joaquim Carreira das Neves 
O conceito de verdade e respectiva abordagem foi, é e será o maior desafio da inteligência humana.
Os filósofos, desde os pré-socráticos, até aos nossos dias, procuram a verdade através da razão. Diante da Natureza interrogam a verdade da realidade da mesma Natureza: é verdadeiro o que está de acordo com a realidade. A história da filosofia é a história da procura da verdade. Na ciência, é verdadeiro o que se experimenta. Na história, é verdadeiro o que acontece.
Tomás de Aquino, na esteira de Aristóteles, define a verdade como a adaequatio intellectus et rei (adequação devida da inteligência à realidade). Mas o homem, ser inteligente, racional, livre, mortal, o único que sabe que sabe, que fala e escreve, que se interroga, que ama sem determinismo biológico, que coloca o problema de Deus e da fé, da verdade e do erro, quem é o homem face à verdade?
Para a Bíblia, a verdade define-se com o sema ´emet : o que é sólido, seguro e de confiança. Deus aparece como “Rocha”. Só quem nela colocar os pés da inteligência e amor é verdadeiro.
Neste sentido, verdade é igual a fidelidade (emunah e a hesed) – homens de verdade são os crentes em Deus e sua Lei (Ex 18, 21; Nem 7, 2, etc.).
Mais tarde, nos livros sapienciais e apocalípticos, verdade confunde-se com a doutrina da sabedoria e com a verdade revelada (Pr 23, 23; Qo 12, 10; Si 4, 28LXX: “Luta pela verdade até à morte”). Depressa se passa para a semântica do “mistério” (Sb 6, 22) – verdade é o desígnio misterioso de Deus a realizar na história. Para Daniel, “o livro da verdade” (Dn 10, 31) é aquele em que está escrito o desígnio de Deus (ver Dn 9, 13; 8, 26; 10, 1; 11, 20). Em Qumran (1QH 7, 26s), a “inteligência da verdade de Deus” é o conhecimento do mistério.
No NT, a começar por Paulo, a “verdade de Deus” designa a fidelidade de Deus às suas promessas (Rm 3, 7; ver 3, 3; 15, 8; 2Cor 1, 18ss), e as promessas têm a ver com a pessoa de Jesus.
Segundo Paulo, neste sentido, “à verdade da Lei” opõe-se “a verdade do Evangelho” (Gl 2, 5. 14) ou “a palavra da verdade” (Cl 1, 5; Ef 1, 13; 2Tm 2, 15). A esta verdade só se vai pela fé.
Assim se explica a catequese polémica das cartas pastorais contra a “falsa doutrina” (1Tm 1, 10; 4, 6; 2Tm 4, 3; Tt 1, 9; 2, 1). E só a Igreja do Deus vivo é “a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3, 15).
No quarto evangelho, a verdade tem um nome: chama-se Jesus Cristo, o Unigénito do Pai (1, 17: “A Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vêm-nos por Jesus Cristo”; 14, 6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”). Mas esta verdade cristocêntrica não está pronta – é uma verdade em aberto e construção por obra e graça do Espírito da Verdade: 14, 17; 15, 26; 16, 13.
Bento XVI tem-se apresentado nesta dinâmica como homem “da fidelidade ao serviço da verdade”. Segundo Michel KUBLER (Benoît XVI, Pape de Contre-Réforme?,Bayard, Paris, 2005), há três motivos fundamentais que movimentam a dinâmica de Bento XVI: Fidelidade, Verdade, Serviço.
Segundo este Papa, a teologia tem como função “pesquisar inteligentemente a fé como resposta à voz da verdade, como apelo e ajuda ao povo de Deus, segundo o mandato apostólico (cf, 1Pd 3, 15)” (p. 18).
Muitos católicos continuam a temer este Papa como demasiado conservador; outros vêem nele o teólogo e o homem crente da verdade para quem não há nem esquerda nem direita; só a verdade interessa.
Em 1977, quando foi nomeado arcebispo de Munique, disse que “nunca devemos pactuar com o espírito do tempo…[mas], sim, interpelar os vícios e os perigos da época” e, sobretudo, nunca fugir aos problemas (p. 31). Na declaração Dominus Jesus de João Paulo II, no ano 2000, da autoria do Cardeal Ratzinger, refere as igrejas protestantes como “deficientes da verdade…”.
Na meditação de sexta feira santa de 2005, no Coliseu de Roma, denunciou as “imundícies” (Schmutz) da barca de Pedro a “meter água por toda a parte” (p. 34).
Em 1985 declarou “que pertence definitivamente ao passado o que está interiormente morto…” (p. 48).
Em 1998, por ocasião do primeiro Congresso Mundial dos novos movimentos ou comunidades, declarou que a Igreja “precisa de menos organização e mais Espírito!” (p. 49). Pôs de sobreaviso as “revelações” de Cristo a Vassula Ryden, o fundamentalismo historicista do “terceiro segredo de Fátima” e a passividade das “novas comunidades” desinteressadas da acção social, afirmando que “não basta rezar para se ser salvo…” (p. 33). Para este Papa, a verdade da Igreja gira à volta da eucaristia e respectiva dinâmica política e social. O mistério da verdade, na eucaristia, obriga-o a denunciar os perigos da cultura da morte contra a cultura da vida – aborto, manipulação genética…
Na sua viagem recente ao Brasil sublinhou que “a Igreja é fé, não ideologia”. Disse que “a Igreja não faz proselitismo. Ela age mais por atracção (…). Esta é a fé que fez a América Latina, o continente da esperança, e não uma ideologia política, não um movimento social e tão pouco económico. A fé no Deus encarnado, morto e ressuscitado em Jesus Cristo”.
A força da Igreja deve assentar na fé e não em “ideologias políticas” ou em “movimentos sociais ou económicos”, referindo, indirectamente, “o socialismo do séc. XXI” de Hugo Chávez. António Marujo intitula esta viagem ao Brasil: “Samba do Papa entre o aborto e o social”. Será assim?
O papa João Paulo II, como homem do teatro, da poesia, da dança e de tudo o que é belo, convivia muito bem com o samba e com as danças da América Latina e África. Bento XVI é diferente. Nenhum papa é mimético em relação ao seu antecessor. O mimetismo só vale para o valor da verdade, dos princípios, dos valores universais.
Hoje em dia, para muita gente, verdade é igual a moda, satisfação e prazer. É verdade o que me sabe bem, me dá prazer, me torna notável, famoso, “charmoso”.
Para os filósofos gregos, para Jesus Cristo e para os cristãos não pode ser assim. Jesus, em Jo 17, 13-20 diz-nos, através da sua oração ao Pai: “Mas agora vou para Ti e, ainda no mundo, digo isto para que eles tenham em si a plenitude da minha alegria. Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Consagra-os na Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me consagro, para que também eles sejam consagrados, por meio da Verdade.”
Neste texto há dois tipos de “mundo”: o da verdade e o da não-verdade. Esta maneira de Jesus ensinar obriga-nos a pensar seriamente. Que tipo de verdade é que eu sigo? Certamente que a verdade de Jesus tem a ver com o Pai e com o Filho, isto é, com a fé teológica e cristológica. Não há Pai verdadeiro, total, sem o Filho. E não há Filho verdadeiro, total, sem o Espírito da Verdade, como diz Jesus em Jo 16, 12-13: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa.”
Como é bom viver na Verdade!
Pe. Joaquim Carreira das Neves, OFM
Labat n.º 73 de Junho de 2009

25 julho, 2011

HOJE ALMOCEI COM O JOAQUIM GASPAR


Hoje almocei com o Joaquim Gaspar.

E perguntam aqueles que lêem estes textos neste espaço:
E quem é o Joaquim Gaspar, e o que é que eu tenho a ver com isso???

É muito simples, mas vou complicar um pouco.
O Joaquim Gaspar é do Brejo, entre Carvide e Monte Real, e faz hoje 65 anos!
Manda-lhe a Segurança Social, por carta, que deixe de trabalhar a partir de Segunda-feira, pois fica “automaticamente” reformado.

Ah, e o Joaquim Gaspar trabalha nas Termas de Monte Real há, “apenas“, 54 anos!!!

Hoje, a meio da manhã, bateu à porta do meu gabinete, e timidamente, como é seu feitio, disse-me com um sorriso:
Depois o Sr. Mexia Alves, quando puder havia de passar ali pela “cozinha” para comer um pouco de bolo.
Senti-me apanhado na falta de memória e, claro, já sem dúvida nenhuma perguntei-lhe:
Fazes anos hoje, não é?

Com um sorriso de “criança apanhada”, (ele é assim, não há nada a fazer), disse-me:
Faço 65 anos, e a partir de Segunda-feira tenho de deixar de trabalhar aqui nas Termas, porque estou reformado. Pelo menos é o que diz a carta que recebi da Segurança Social.

Fiquei sem saber o que dizer, porque me inundou um sentimento tão grande tão profundo, que tive medo de me “largar” a chorar à frente dele!

Perguntei-lhe então, com um ar que eu pretendia de amizade e intimidade:
Quantos são, Joaquim?
E ele com aquele seu ar tímido respondeu-me:
54! Há 54 anos que aqui trabalho!

Mais velho do que eu três anos, logo me lembrei, quando em garoto, lhe “roubava” a bicicleta, “estacionada” junto ao Hotel para dar uma voltinha.
É que a bicicleta dele tinha mudanças!!!
Nada destas coisas de hoje, em que se vêm uns matulões a pedalarem que nem uns loucos, parecendo que a bicicleta está sempre no mesmo lugar.
Não, senhor, aquilo era uma caixinha com uma espécie de gatilho que tinha três mudanças, que “inté” parecia que davam mais velocidade, sem a gente perceber que afinal o motor … eram as nossas pernas!

Deixei-me ficar ali um pouco a olhar para ele, e nesse instante passaram por mim recordações imensas, que envolveram os meus pais e todos os meus irmãos, e uma grande família feliz, que vivia um sonho de amor e união, que pretendia estender a todos aqueles que com a família trabalhavam num projecto comum.

Perguntou-me então:
Almoça hoje comigo?
Respondi-lhe:
Claro que sim, Joaquim! Claro que sim!

Saiu então do meu gabinete, e ainda bem, porque eu precisava de lidar com uma emoção que avassaladoramente tomava conta de mim.

O que é que eu digo a este homem, pensava eu?
Como exprimir-lhe tudo o que vai dentro de mim?
Como explicar-lhe que ele me pertence, como eu lhe pertenço a ele?
Como afirmar-lhe que eu sou família dele, como ele é minha família?

Bem, pensei, deixa passar agora, que quando chegar o tempo ele sentirá o que tu lhe queres dizer.

E lá fomos almoçar passada mais uma hora, eu com o meu coração nas mãos, e ele com o dele também.
E falámos da “ingricola”, e dos tempos passados, e de como esta gente de hoje não sabe o que é a vida, e isto e aquilo…

E quando o almoço acabou, num restaurante de alguém que também trabalhou no Hotel e nas Termas, vieram em alta voz as recordações, a tal bicicleta, e quando os olhos destes “sessentões” se avermelharam, foi só o tempo de dizer adeus, para deixar para mais tarde a homenagem inteiramente devida, inteiramente merecida, mas sobretudo inteiramente desejada.

Pois, perguntam os leitores, e depois o que é que isso interessa?

Interessa, para que esta nossa juventude perceba os tempos em que as pessoas se encontravam, em que as pessoas se conheciam, em que um vínculo de trabalho era um vínculo de amizade, em que as pessoas se preocupavam mais uns com os outros do que com eles próprios.
Interessa, porque é sempre tempo de regressarmos à amizade, á relação entre pessoas, que não seja apenas um contrato que defende uns contra os outros, mas sim um contrato que une uns e os outros.
Interessa, para que se perceba que quando é preciso cortar nos custos de uma empresa, não se vá pelo caminho mais fácil, que é dispensar/despedir pessoas, mas sim cortar no supérfluo que apenas serve uns e deixa os outros de fora.
Interessa, para que os projectos sejam comuns, e não apenas ideias de uns em que os outros são dispensáveis, mas sim como parceiros de um bem para todos.

Neste momento, os leitores pensarão:
Este indivíduo vive noutro planeta!
E este indivíduo apenas diz:
Se houver um planeta onde se viva e trabalhe para construir um bem comum, e em que as relações de trabalho e as outras sejam alicerçadas no entendimento, na paz e no amor entre pessoas, então é nesse planeta que eu quero viver!

Por enquanto, deixo-me ficar pela recordação, guardando dentro de mim este sentimento bom, de saber que ainda há homens bons, e assim esperar que um dia, perante a indiferença, o homem perceba que é melhor amar do que desprezar.

Do meu coração ninguém tira o Joaquim Gaspar, como acredito que do coração do Joaquim Gaspar ninguém é capaz de me retirar.

Até o seu filho, homem feito agora, por aqui trabalhou também!

Hoje almocei com o Joaquim Gaspar!
Sinto-me muito mais realizado, por o ter conhecido e por ser seu amigo
É sempre bom, ser amigo de homens bons!

Que Deus o abençoe!

Graças a Deus, e por causa deste almoço, amo mais um pouco a vida!

Monte Real, 22 de Julho de 2011

Nota:
Poderão perguntar os leitores, o porquê da publicação deste texto, (que descreve uma situação real por mim vivida na passada Sexta feira), que parece sair um pouco da temática deste espaço.
Mas no fundo, este texto representa um modo de viver enformado da prática cristã, do amor próximo seja em que circunstâncias for, na família, no lazer, no trabalho.
Realmente o trabalho deve ser entendido como uma colaboração de todos para o bem comum, e sobretudo deve entender-se que no trabalho, nas empresas, o mais importante são as pessoas, e não a empresa ou o negócio em si.

Joaquim Mexia Alves

23 julho, 2011

Nós cremos no Amor de DEUS

 
A leitura moralizante dos textos sagrados e da própria religião leva, e levou muitas vezes ao longo da história, a uma perversão desses mesmos textos e do próprio sentido do religioso por colocar como atitude primeira o comportamento face à divindade e face ao outro em detrimento de uma atitude de acolhimento do dom que é essa mesma divindade. Tal atitude desencadeou e desencadeia comportamentos de guerra, violência e ódio em nome de Deus.
A verdadeira religião antes de ser uma moral ou uma ética, é um encontro pessoal e comunitário com o próprio Deus que de forma gratuita se manifesta na sua bondade. A iniciativa é de quem Se pode dar a conhecer aos que criou para que O conheçam. Querer antepor a este acolhimento uma atitude exterior de comportamentos morais é querer mobilar uma casa antes de ela estar feita. O que se disse em geral para a maioria das religiões, diz-se de modo muito concreto e particular para o cristianismo. Querer fazer da mensagem cristã um conjunto mais ou menos apertado de normas morais de comportamento, é não perceber a gratuidade de Deus revelada em Jesus Cristo “feito homem igual a nós em tudo menos no pecado”.
Não foram poucos os momentos da história, e não são poucas as circunstâncias da vida dos cristãos em que o agir foi anteposto ao acolhimento não só da mensagem mas de Deus feito acontecimento em Cristo. Este erro de perspectiva conduz ao sofrimento de um coração angustiado, que percebe a sua incapacidade de corresponder com perfeição ao desafio da excelência e do comportamento exemplar. Conduz também ao fanatismo e a uma visão meramente instrumentalizada da mensagem de salvação sem espaço para a libertação da fragilidade humana, que fissura o bem que se quer e o bem que se devia praticar. Urge então, inverter esta tendência e colocar as coisas no seu devido lugar dando sentido ao agir aceitando a iniciativa de Deus, o primado da Sua acção em nós e no mundo.
O esforço primeiro será não o de agir de acordo com a mensagem, mas o de se dispor sem entraves e impedimentos ao acolhimento de Deus revelado em Cristo. O agir moral e ético vem, então, como consequência deste acolhimento, como resposta naturalmente movida pela Graça e pronta adesão à iniciativa que não é nossa, mas “d’Aquele que nos amou primeiro”.
O acreditar, “creio”, sendo um esforço da vontade do nosso modo de ser racional, é-o na aceitação de uma verdade que não tem origem em nós mesmos mas que nos foi dada gratuitamente, “derramada em nossos corações”. Este esforço exerce-se em ordem a remover qualquer tipo de impedimento a uma verdadeira experiência de se saber e sentir na presença de Deus. Perceber, na medida das nossas humanas capacidades, que em Deus nos movemos e existimos, é o primeiro momento de um agir religioso, e ponto de partida para tudo o mais. Percebendo estar diante de Deus, vergo-me em adoração e louvor, percebo-me como pessoa onde se reflecte a Sua Glória, compreendo a vocação para o Seu serviço, e cumpro no dia-a-dia a Sua vontade. Assim, a fé que acredita “em um só Deus”, torna-se a opção fundamental dadora de sentido para a minha existência e consequentemente para as minhas acções, ao mesmo tempo que a tomo como medida aferidora do meu actuar. E é como que o alicerce onde posso então fundar todo o edifício da minha vida. Isto nos ensina Sua Santidade o “Senhor Papa” Bento, quando na introdução à sua primeira encíclica escreve: “Nós cremos no amor de Deus – deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. No início de ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo” (BENTO XVI, Deus caritas est, 1).
Esta aceitação do encontro com as Pessoas de Deus, vivo e verdadeiro, presente no meio de nós, leva-nos à aventura amorosa do conhecimento d’Ele, e ao consequente conhecimento de nós mesmos, e também ao agir de agrado com a Sua vontade. São estas as duas partes em que o Papa divide a sua encíclica: “a primeira (…) especificar alguns dados essenciais sobre o amor que Deus oferece (…) a segunda parte terá um carácter mais concreto, porque tratará da prática eclesial do mandamento do amor ao próximo” (Idem). Duas vertentes de uma mesma realidade enunciada por Jesus quando enuncia o mandamento do amor a Deus sobre todas as coisas conjuntamente com o amor ao próximo.
Perceber isto, com ideias tanto quanto possível claras, é suscitar um “renovado dinamismo de empenhamento na resposta humana ao amor divino”, porque nos leva de novo à fonte, ao deserto (onde Deus Se revela enamorado do Seu povo), onde se faz a experiência d’Aquele que dá sentido à vida e Se torna motivo de um agir.
Fr. Gonçalo Figueiredo OFM
Labat n.º 67 de Dezembro de 2006

20 julho, 2011

A IMPORTÂNCIA DO DISCERNIMENTO

 
Desde o dia de Pentecostes temos vivido a era do Espírito Santo. Existem à nossa volta, sinais de que Ele está a trabalhar na Igreja e no mundo. Age em cada pessoa individualmente e enquanto povo de Deus.
Mas, o discernir o que é e o que não é a acção do Espírito Santo constitui um dos desafios que enfrentamos. A Escritura exorta-nos a “testar os espíritos”(1Jo 4, 1-3); Paulo diz-nos: “Não extingais o Espírito, não desprezais as profecias; examinai tudo e ficai com o que é bom. Conservai-vos longe de toda a espécie de mal” (1Tess 5, 19-22).
Para nos ajudar, Paulo em 1Cor 12, 10 fala-nos de um dom espiritual para distinguir entre espíritos, ou reconhecer espíritos. Este dom sobrenatural de Deus que nos ajuda a discernir se o espírito que escutamos ou experimentamos é o Espírito Santo, ou um espírito humano, ou um espírito sobrenatural.
Esse dom especial de Deus impede-nos de seguir uma imaginação criativa, ou boa ideia de alguém ou, ainda pior, a decepção de um mau espírito, e conduz-nos a reconhecer quando é o Espírito Santo que está a mover o que é dito ou feito.

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Olhemos mais atentamente para estas 3 categorias de espíritos
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1. O espírito humano é o que encontramos frequentemente. Posso ter uma boa ideia ou um plano que quero que as pessoas aceitem. Apresento-a numa linguagem muito espiritual e por isso dou a impressão de que vem do Espírito Santo.
Não estou necessariamente e deliberadamente a ser enganador, uma vez que posso estar convencido que veio de Deus; mas a verdade é que apesar de poder ser bom, é uma ideia minha e não de Deus. É a minha imaginação que está a trabalhar.
Pode haver a tentação de apresentar a minha opinião pessoal ou conselho como se eles viessem do Espírito Santo. Temos necessidade de distinguir entre espíritos para impedir que as pessoas ajam em alguma coisa que acreditam ser de Deus, quando de facto não é.
2. Mas, o Espírito Santo é, muitas vezes, aquele que nos pede para pensarmos e vermos as coisas duma certa maneira – a maneira de Deus. Devemos esperar que isto aconteça. Estejamos abertos ao Espírito Santo. Esperemos. Depois procuremos agir consoante a mensagem do Espírito Santo.
É o Espírito Santo, derramado sobre a Igreja por Jesus, que nos edifica, anima, ajuda nas nossas fraquezas, guia e dirige-nos, equipa-nos com os seus dons, torna-nos santos e inspira-nos a partilhar a nossa fé com os outros.
A Igreja e os seus membros são templos do Espírito Santo. Então, aonde quer que estejamos, o Espírito Santo está presente.
3. Na terceira categoria, espíritos sobrenaturais, incluem bons espíritos angélicos, mas também maus espíritos demoníacos. É importante reconhecer a existência de ambos. Os bons espíritos angélicos estão aqui para ajudar e proteger cada crente. É por isso que são frequentemente chamados “anjos da guarda”, e a sua existência é uma verdade da nossa fé, apoiada pela Escrituras e pela Tradição da Igreja.
A sua natureza é “espírito” e o seu papel é glorificar Deus sem cessar, para serem os seus servos e mensageiros, anunciando a salvação (Hb 1, 14). Têm inteligência e vontade. São pessoais e pertencem a Cristo porque são criados por e para Ele (Col 1, 16). Não os confundamos com o Espírito Santo, pois o Espírito Santo é o próprio Deus, em igualdade com o Pai e com o Filho.
Infelizmente, Satanás e os maus espíritos são também uma realidade, embora criados naturalmente bons por Deus, tornaram-se maus por irrevogavelmente terem rejeitado Deus e o seu Reino. Eles auferem de poder pelo facto de que são espíritos – todas as suas acções decorrem de um ódio a Deus e o seu único objectivo é o de destruir as Suas obras e o Seu povo (Catecismo 391-395).
Embora Satanás e os seus demónios não possam impedir a construção do Reino de Deus, através da decepção e manifestando-se como anjos de luz, podem causar danos espirituais e físicos às pessoas e sociedades e apesar de Deus permitir que existam, Ele protege-nos das suas investidas através do dom de distinguir os espíritos.
Deus protege-nos das suas arremetidas. Daí a necessidade e importância do dom especial de discernimento para distinguir os espíritos.


Critério para o discernimento
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A questão que estamos a procurar responder é clara: discernir se aquilo que é dito ou feito é obra de Deus ou de outra pessoa ou de outra coisa.
Concretamente, se aquilo que estamos a discernir nos fala de Jesus e O glorifica; Se Ele é o centro, ou se o louvor, a oração e o ministério colocam as pessoas no centro em vez de Jesus.
Se aumenta a nossa sensibilização às coisas de Deus, faz crescer o nosso compromisso de O servir, e resulta em grande oração, santidade e crescimento espiritual.
Se o que é dito e feito reflecte a vontade de Deus e toca o meu coração quando lhe aplico o dom do discernimento.
Se outras pessoas que conheço e respeito chegam à mesma conclusão.
Se nos conduz a uma maior apreciação da revelação de Deus através das Escrituras; se o discurso de Deus está conforme a inspiração do Espírito Santo e Tradição; se é a transmissão viva de tudo o que Cristo confiou aos Apóstolos e que foi passada aos seus sucessores sob a inspiração do Espírito Santo, ou se é divergente de tudo isto. (ref. Catecismo 85-86).
Se produz bom fruto na vida das pessoas, conduzindo a um desejo de dar testemunho do amor e da graça de Deus, em palavra e acção com a Sua mensagem de salvação.
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Afiar o nosso discernimento
 
Em tudo isto o importante é que nos foquemos na mensagem e não no mensageiro. Claro que devemos conhecer o que podemos sobre o mensageiro: o seu passado, carácter, conhecimento teológico e sua reputação.

Se é obra do Espírito Santo de Deus, então quero ser inspirado, abençoado, tocado e habilitado pelo que está a acontecer. Mas se não for, então preciso de estar protegido para não ser “levado por qualquer sopro de doutrina, pela malignidade dos homens e pelos seus artifícios enganadores” (Ef 4, 14), ou ainda pior, ser conduzido a extraviar-me pelas mentiras e estratégias de Satanás e dos seus demónios.

Senhor ajuda-nos a reconhecer a Tua voz, e a fazermos apenas a Tua vontade.
 
Charles Whitehead (Ex-Presidente do ICRRS)
Pela sua importância, reeditamos o texto acima, que foi lançado neste blogue no dia 13.AGO.09

O TRIGO E O JOIO

Evangelho segundo S. Mateus 13,24-43.

Naquele tempo, Jesus propôs à multidão mais esta parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ 'Foi algum inimigo meu que fez isto’ respondeu ele. Disseram-lhe os servos: 'Queres que vamos arrancá-lo?’
Ele respondeu: 'Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.’»
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Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.»
Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai.
Aquele que tem ouvidos, oiça!»

Ao ouvir este Domingo o Evangelho e a homília do sacerdote que presidia à celebração, fui-me deixando conduzir a “ver” mais para além das palavras que já tão bem conhecia, desta parábola.

“Saltou-me” ao coração esta frase dos “servos do dono”: 'Queres que vamos arrancá-lo?’ Mt 13, 28

Pressurosos, queriam de imediato tratar da “pureza” do campo, e desde logo eliminar tudo o que não fosse, segundo a sua visão, o trigo que tinha sido plantado.
Mas o dono do campo, pacientemente, disse-lhes que não, que era melhor esperar, que era melhor perceber e ter a certeza daquilo que era trigo e daquilo que era joio, pois na precipitação poder-se-ia eliminar também algum trigo bom.

E isto fez-me lembrar as nossas atitudes perante os outros, perante aqueles que julgamos não serem “verdadeiros cristãos”, e por isso mesmo, tantas vezes os desprezamos e colocamos de lado, sem tentar perceber se naquele que julgamos “joio”, não poderá haver afinal “trigo”.

E se por vezes não tomamos atitudes directas de exclusão para com eles, tantas vezes os olhamos de lado, com olhar reprovador, porque aquele ou aquela viveram fora da Igreja, ou vivem esta ou aquela situação, ou fazem isto ou aquilo que para nós é condenável.

E quem nos permitiu a nós, sabermos se naquilo que nos parece “joio”, não vai ainda nascer uma bela “espiga de trigo”, fruto bom que pode ser dado a outros?

Quem nos instituiu a nós “julgadores”, “separadores” do “trigo” e do “joio”?

O Senhor diz-nos nesta parábola, «deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa».Mt 13, 30

Este não é um “campo” de exclusão, é um “campo” de acolhimento.
Agora ainda não se consegue perceber aqueles que vão ser “trigo” e aqueles que vão ser “joio”.
Deixá-los crescer juntos, porque alguns daqueles que agora parecem “joio”, serão afinal “trigo” para ser recolhido no “celeiro do dono”.

Será o Senhor, no tempo certo, que dirá o que é “joio” e o que é “trigo”, e serão os anjos que apartarão o que for necessário apartar.

E o Senhor termina estas parábolas com este ensinamento:
«o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!» Mt 13, 41-43

E o final do Evangelho este Domingo, traz ao meu coração, que não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem ou conseguem mudar a vontade de Deus, que podem ou conseguem mudar a Doutrina, que podem ou conseguem mudar a Palavra revelada.

Não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem mudar aquilo que é mau, aquilo que é “joio”, em coisa boa, em “trigo bom”.
Por muito que argumentem com razões para “legitimar” o aborto, por exemplo, este nunca será “legítimo”, este nunca será da vontade de Deus, este será sempre “joio”.

Não tenhamos dúvidas que por muito que tentemos “torcer” a Palavra de Deus, para servir os nossos propósitos, a nossa vontade, não seremos nós que escolheremos e separaremos o “joio” do “trigo”, mas será o “dono do campo” que saberá o que deve ser recolhido no seu “celeiro” e o que deve ser lançado no fogo.

E o “dono do campo” já nos disse muito claramente, o que é o “trigo” e o que é o “joio”, para que não nos enganemos, e crescendo juntos no mesmo campo, possamos todos ser “trigo” para ser recolhido no “celeiro” do Senhor.

Joaquim Mexia Alves