29 março, 2011

OS SINAIS DE DEUS

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Homem «curado» em peregrinação
a Lourdes - 28.03.2011 

A Igreja católica reconheceu domingo a cura inexplicável de um paciente em peregrinação a Lourdes como «notável», o que pode representar um dom divino feito a este homem pela intervenção da Virgem, anunciaram os Santuários da cidade, citados pela imprensa francesa.
Serge François, de 40 anos, sofria há anos de uma hérnia discal a que foi operado duas vezes, de uma paralisia quase total da perna esquerda e de fortes dores. Durante esse tempo, foi, por diversas vezes em peregrinação a Lourdes.
No dia 12 de Abril de 2002, deslocou-se à gruta de Massabielle, onde, segundo a tradição católica, a Virgem apareceu 18 vezes a Bernadette Soubirous a 11 de Fevereiro de 1858. Lá, encontrou uma mulher deprimida. Ouviu-a e consolou-a. Nessa noite, sentiu-se tão cansado que decidiu nem integrar a procissão, tendo acompanhado a celebração através da janela do quarto de hotel.
Mas antes de dormir decidiu voltar à gruta para rezar pela mulher que tinha conhecido nesse dia. Ao regressar, sentiu uma dor tão forte na perna que caiu no chão. De seguida, foi invadido por um calor e, de repente, todas as dores desapareceram. 

Esta notícia fez-me lembrar, (com uma interpretação necessariamente simples), a passagem bíblica em que Jesus Cristo diz à multidão que O ouve:
«Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas.» Lc 11, 29 

Mas o Senhor dá-nos sempre sinais da Sua presença no meio de nós, todos os dias e em todos os tempos. 

Sinais, uns mais visíveis, como este, e outros, mais sensíveis, como aqueles que tantas vezes sentimos e vivemos quando a Ele nos entregamos e confiamos. 

Tenho para mim, que sinais “maiores” do que este, são os sinais que Ele opera naqueles que O procuram, para n’Ele, por Ele e com Ele encontrarem a Verdade, o caminho da salvação, que todos os dias Ele mesmo nos vai revelando. 

Como por exemplo em mim, pois de um homem que levava uma vida sem sentido, (apenas para mim próprio e que nem para mim próprio era boa), tudo foi transformando e convertendo, mudando radical e felizmente as prioridades, os interesses, as afeições, os sentimentos, e até das próprias fraquezas fez reconhecer ensinamentos para uma vida com sentido, uma vida que verdadeiramente tenta viver como dom de Deus. 

Aliás não é para isso também que Jesus Cristo nos chama a atenção, quando na “cura do paralítico”, afirma: 
«Que estais a pensar em vossos corações? Que é mais fácil dizer: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te e anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar pecados, ordeno-te - disse ao paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» 

Pois é, os sinais estão aí, todos os dias, mas nós não os vemos, ou não os queremos ver, ou ainda ao vê-los, tentamos desvalorizá-los. 

Não sabemos explicá-los, mas mesmo assim, muitos de nós, preferem atribuí-los a algo que não sabem o que é, do que atribuí-los a Deus, que os realiza por amor ao homem que criou. 

Curiosamente, ou não, podemos ver ainda outra ligação ao episódio da “cura do paralítico”. 

Jesus Cristo, perante a perseverança daqueles homens que levam o paralítico à Sua presença, «vendo a fé daqueles homens» Lc 5, 20, perdoa primeiro os pecados àquele homem, para depois o curar da sua enfermidade. 

Pela intercessão de uns, que se preocuparam com aquele que precisava, Jesus concedeu àquele paralítico, mais do que ele pensava ou desejava, ou seja, não lhe concedeu apenas a cura da enfermidade do corpo, mas também a da alma. 

Nesta notícia acima referida, é o próprio homem que, sendo enfermo, se preocupa mais com o seu próximo do que com ele próprio. 

Foi á procura de cura para o seu mal, mas perante a necessidade do outro, «lá, encontrou uma mulher deprimida», esqueceu-se de si, para tratar do próximo, «ouviu-a e consolou-a.» 

Mas fez mais, (lembrando agora o Bom Samaritano), pois apesar do seu cansaço e da sua enfermidade, (que lhe dificultava o caminhar), encontrou forças para «antes de dormir voltar à gruta para rezar pela mulher que tinha conhecido nesse dia.» 

Deus recompensou-o do seu total desprendimento, da sua entrega, do seu amor pelos outros e aos outros. 

«Então, os justos vão responder-lhe: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?' E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: 'Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.'» Mt 25, 37-40.

Os sinais estão aí, bem visíveis e sensíveis, para além dos Sacramentos que a Igreja todos os dias nos dá a celebrar.

Resta-nos abrir o coração e acreditar.

Glória ao Senhor.
Joaquim Mexia Alves - 29.3.11

27 março, 2011

A Fidelidade (Catequese Quaresmal)



27 de Março de 2011

“A Fidelidade” - Catequese do 3º Domingo da Quaresma

26 março, 2011

Uma única realidade com distintas dimensões


O amor é uno
Numa unidade vital de corpo e alma, matéria e espírito, o homem, considerado na sua unidade e na sua totalidade, sintetiza em si o amor de eros (termo para expressar o amor de desejo como se alguma coisa lhe faltasse) e o amor de agapé (como expressão do amor fundado sobre a fé e por ela plasmado) que se complementam e purificam, enaltecendo-se mutuamente. Um não dispensa o outro, e o outro como que se apoia no um.
À luz do Mistério da Encarnação e na senda da Teologia da Cruz, o Papa afirma que o amor é uno: “no fundo, o «amor» é uma única realidade, embora com distintas dimensões” (BENTO XVI, Deus caritas est, 8).
No Velho Testamento
A tradição do Antigo Testamento, com o testemunho dos Profetas enamorados de Deus, já tinha antevisto o mistério da relação amorosa entre Deus e o Seu Povo: “Aquele que é para nós” é-O no desejo do nós, individualmente e em Povo, que se sabe a caminho para Deus porque por Ele é atraído. A manifestação da aliança amorosa de Deus com o Povo expressa-se na própria dádiva das tábuas da Lei que abrem os olhos de Israel sobre a natureza do homem e lhe indica a estrada do verdadeiro humanismo.
No Novo Testamento
Mas é no Filho gratuitamente enviado ao mundo (“Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho único” Jo. 3, 16) que este mistério se revela plenamente. Assim, é de Cristo, “em tudo igual a nós menos no pecado”, que somos chamados a beber o amor purificado, pois d’Ele, e do Seu coração aberto pela lança do soldado que sai um rio de bênçãos, o amor de Deus, a vida sacramental: o Baptismo e a Eucaristia. A fé neste Senhor e Deus, revelador do Mistério Divino e, simultaneamente revelador do homem ao homem, purifica o amor e amplia-o, fazendo com que toque cada recanto da existência do homem, com uma força transformadora nunca antes conhecida.
As duas dimensões
Duas dimensões, horizontal e vertical, humana e divina, da natureza e da fé, do dar e receber, que quando se separam, ficam empobrecidas e reduzidas nas suas potencialidades com o sério risco de degenerarem. O amor humano sem o divino degenera em odiosa bestialidade, e o amor divino sem o humano, em nós, gera angústia de espiritualismos inalcançáveis.
Quanto mais estas duas dimensões encontrarem a justa medida na realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do autêntico amor. Em Cristo “verdadeiro Deus e verdadeiro Homem” a unidade sem confusão, mostra o verdadeiro caminho digno do homem resgatado pela preciosa entrega do seu sangue.
Tempo da Quaresma
Neste tempo Santo da Quaresma somos chamados a purificar, crucificar os nossos desejos e os nossos amores, a levantar os olhos para Aquele que trespassaram, num desejo de configuração com Cristo. Sendo certo que esta configuração com Cristo crucificado não destrói o verdadeiramente humano, assume-o, purifica-o embelezando-o. De facto, não é fácil compreender a beleza d’Aquele que Pilatos apresenta como “O Homem” (Ecce Homo), mas esse mesmo Homem, é a Verdade, o verdadeiro e belo Amor de quem dá a vida para resgate de muitos. É um desafio para todos nós, o desafio da fé orientada pela esperança, de quem não se importa de morrer para entrar na verdadeira vida.
“Quem procura salvar a sua vida há-de perde-la, mas quem perder a sua vida por Minha causa, encontrá-la-á.” (Mt 16, 25) Eis o caminho pessoal trilhado por Cristo que por meio da cruz desemboca na ressurreição: o caminho do grão de trigo lançado à terra para ar muito fruto. A plenitude do amor no acto de entrega e sacrifício pessoal alcança nesta medida a sua plenitude e descreve a essência do amor e da existência do homem (BENTO XVI, Deus caritas est, 6).
O verdadeiro amor, que promete sempre o infinito e a eternidade, exige purificação e aperfeiçoamento na estrada da renúncia em vista de um bem maior: um amor curado, ampliado, total, gratuito, solidário.
A beleza do crucificado
A beleza do crucificado, manifestação sublime do amor que busca o bem do homem amado por Deus, está precisamente na gratuidade desta oferta imerecida. Este amor à criatura que comporta o constante cuidado que lhe dedica, faz-se pelo sacrifício de graça contraposto a toda e qualquer forma de egoísmo, inteiramente livre na oferta do dom de si mesmo, convidando e esperando a uma resposta de fidelidade igualmente generosa.
É a alegria da manhã de Páscoa na vitória da justiça e da vida, no corpo glorioso do Ressuscitado. Corpo esse que, pela misericórdia de Deus, já não tem as marcas das feridas do pecado do homem, mas resplandece curado em todo o seu esplendor de beleza, como tinha sido antevisto pelos discípulos na transfiguração no alto monte.
É para esta transfiguração de corpo e alma que o verdadeiro amor aponta.
Frei Gonçalo Figueiredo ofm
Labat, n.º 70 de Março de 2007

23 março, 2011

Assembleia do RCC da Diocese de Lisboa

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LOCAL
Igreja Paroquial de Cristo-Rei, da Portela de Sacavém 
Av. dos Descobrimentos, n.º 4 
2685-194 Portela LRS
Tel. 21 944 37 24
Transporte público para chegar à Portela: CARRIS - 22 - 28 - 83

PROGRAMA

09,30H - Acolhimento

10,00H - Louvor

l0,30H - Ensinamento 
(Sr. Pe. Bruno Machado, Assistente Diocesano)

11,30 / 12,45H - Adoração

13,00H - Almoço

14,30 / 16,00H - Partilha do Ensinamento

16,30H - Celebração Eucarística, presidida pelo Sr. Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Joaquim Mendes
GOVV - com base em informação da ESD

22 março, 2011

QUARESMA

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Quaresma - Joaquim Alves

20 março, 2011

Escutar a Palavra do Senhor (Catequese Quaresmal)


20 de Março de 2011

Escutar a Palavra do Senhor - Catequese do 2º Domingo da Quaresma

15 março, 2011

Lutar contra o pecado e salvar o pecador

 13 de Março de 2011
Bento XVI antes da oração do Angelus falou do trágico terramoto e consequente tsunami no Japão renovando a sua proximidade espiritual às queridas populações daquele país

Perante o mal moral, a atitude de Deus é aquela de opor-se ao pecado e salvar o pecador.
Falando antes da oração mariana do Angelus deste Domingo com os milhares de pessoas congregadas na Praça de S. Pedro, Bento XVI dedicou a sua reflexão ao pecado, que representa a escravidão mais grave e mais profunda, embora a seu ver o sentido do pecado se adquira somente redescobrindo o sentido de Deus.
Perante as perguntas, porque a Quaresma? Porque a cruz? Disse o Papa: a resposta em termos radicais é esta: porque existe o mal, ou melhor o pecado, que segundo as Escrituras é a causa mais profunda de todo o mal.
Bento XVI recordou depois que a palavra pecado não é aceite por muitos, porque pressupõe uma visão religiosa do mundo e do homem. Se se elimina Deus do horizonte do mundo – acrescentou o Papa - não se pode falar de pecado. Como quando se esconde o sol, desaparecem as sombras; a sombra aparece somente se há sol; assim a eclipse de Deus tem como consequência necessariamente a eclipse do pecado.
Portanto o sentido do pecado – que é algo diferente do sentimento de culpa, como o entende a psicologia - adquire-se redescobrindo o sentido de Deus.
Prosseguindo a sua reflexão, Bento XVI recordou que perante o mal moral, a atitude de Deus é aquela de opor-se ao pecado e salvar o pecador.
“Deus não tolera o mal, porque é Amor, Justiça, Fidelidade; e precisamente por isso não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva”
Segundo o Papa, Deus está determinado a libertar os seus filhos da escravidão, para os conduzir á liberdade. E a escravidão mais grave e mais profunda é precisamente aquela do pecado. Por isso Deus enviou o Seu Filho ao mundo: para libertar os homens do domínio de Satanás, origem e causa de todos os pecados.
E também para entrar no tempo litúrgico da Quaresma, disse o Papa aos milhares de pessoas congregadas na Parca de S. Pedro não obstante a chuva, significa cada vez colocar-se com Cristo contra o pecado, enfrentar - singularmente e como Igreja – o combate espiritual contra o espírito do mal.

-Depois da recitação do Angelus o Papa referiu-se ás imagens do trágico terramoto e do consequente tsunami no Japão que, disse, nos deixaram fortemente impressionados.
Desejo renovar a minha proximidade espiritual ás queridas populações daquele país que, com dignidade e coragem estão a enfrentar as consequências de tais calamidades.
Rezo pelas vitimas e pelos seus familiares, e por todos aqueles que sofrem por causa destes tremendos eventos. Encorajo todos aqueles que com louvável prontidão, se estão a empenhar para levar ajuda.
Permaneçamos unidos na oração. O Senhor está ao nosso lado!
A concluir o Papa pediu uma recordação especial na oração para si e para os seus colaboradores da Cúria Romana que esta tarde iniciarão a semana de Exercícios Espirituais.
Fonte: Rádio Vaticano

13 março, 2011

Eclipse do pecado deve-se a eclipse de Deus, adverte Papa

13 de Março de 2011

A perda do sentido do pecado tem a sua origem na eclipse de Deus, segundo explicou o Papa hoje, primeiro domingo da Quaresma, ...

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A Igreja é o Povo do Senhor (Catequese Quaresmal)


13 de Março de 2011

"A Igreja é o Povo do Senhor" - Catequese do 1º Domingo da Quaresma

12 março, 2011

Igreja em Diálogo: Como fazer para ter o desejo de Deus?


10 março, 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (9)


«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?
A tribulação, a angústia,
a perseguição,
a fome, a nudez,
o perigo, a espada?
De acordo com o que está escrito:
Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro,
fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.
Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores,
graças àquele que nos amou.
Estou convencido de que nem a morte nem a vida,
nem os anjos nem os principados,
nem o presente nem o futuro,
nem as potestades,
nem a altura, nem o abismo,
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.»
Rm 8, 35-39

«Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou.»

Nada «poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.»

Bastariam estes dois versículos para finalizar estes incompletos textos sobre o “Demónio e as Tentações”, e a conclusão seria perfeita.

Com efeito, sempre que nós cristãos católicos, pensamos ou reflectimos sobre a existência do “Demónio e as Tentações” com que nos quer seduzir, para que abandonemos, para que rompamos a aliança de amor de Deus com os homens, deveremos ter sempre presente estes versículos, que nos afirmam a Verdade para sempre, a verdade da vitória de Deus, da vitória do amor, sobre o mal.

Quem procura Deus em verdade, quem se deixa encontrar por Ele, quem n’Ele permanece e cumpre a Sua vontade, nada deve temer, porque o Senhor já venceu o pecado e a morte e com Ele nos fez vencedores.

Quem assim vive, nessa comunhão, sabe, acredita, crê, com a graça da fé que Ele mesmo dá, que pode caminhar, pode tropeçar, pode cair, pode até quase chegar às trevas onde parece não haver luz, que sempre, mas sempre, basta estender a sua mão, porque a mão d’Ele a agarra e o salva de todas as tentações, de todos os perigos.

«Salva-me, Senhor!» Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» E, quando entraram no barco, o vento amainou. Mt 14, 30-32

Ao reflectirmos sobre o “Demónio e as Tentações” é necessário ter sempre presente que essa reflexão se faz como um aviso, como uma preparação, como um melhor conhecimento do que temos de enfrentar, mas que a certeza que cada cristão deve ter no seu coração, na sua vida, é que nada «poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.»

Não são portanto reflexões que levem ao medo, ao temor, ao desânimo perante a luta a travar, mas sim que levam à confiança, que se revestem de esperança, que ao nos chamarem à vigilância, nos fortalecem e nos levam à certeza, que «em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou.»

E devemos repetir estes dois versículos tantas vezes quantas forem necessárias, para percebermos que, se devemos ter a consciência do mal que nos quer perder, devemos ter ainda mais a consciência de que o mal nada pode contra nós se permanecermos no amor de Deus.

E esta é a certeza mais profunda de que devemos ser possuídos:
Que o amor de Deus é muito maior do que todo o mal que nos rodeia, que o amor de Deus é infinitamente maior do que todas as nossas fraquezas, do que todo o nosso pecado, e que basta deixarmos que o Seu olhar misericordioso encontre o nosso olhar de arrependimento, para que todo o pecado seja perdoado, a aliança se restabeleça, (da nossa parte, claro, porque n’Ele a aliança connosco é permanente), e a comunhão aconteça para nos dar a vida, «e vida em abundância». Jo 10,10

«Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» E, vindo para fora, chorou amargamente.» Lc 22, 61-62

Estamos a iniciar a Quaresma.

Confesso que não foi de propósito, e é com certeza uma “Deuscidência”, (uma coincidência de Deus), mas se todo o tempo é bom para examinarmos a nossa vida, a nossa relação com Deus, este é sem dúvida um tempo propício para, caminhando no deserto com Jesus durante quarenta dias, percebermos as tentações que povoam a nossa vida e às quais tantas vezes cedemos, porque não vigiamos, porque não oramos, porque não somos amor para Deus, e em Deus, amor para os outros.

«Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou.»

Nada «poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.»


Monte Real, 10 de Março de 2011
Joaquim Mexia Alves

09 março, 2011

Homilia de D. José Policarpo, na Missa de Quarta-Feira de Cinzas

“A Quaresma é uma Peregrinação”

1. A Quaresma é o tempo litúrgico que encerra a verdade profunda de toda a vida cristã: uma caminhada, seguindo Jesus, em direcção à Jerusalém Celeste. Na Quaresma, somos chamados a viver com mais verdade e radicalidade a nossa vida cristã, em Igreja. Esta é um povo de peregrinos que sabe que não tem neste mundo morada permanente e definitiva.
O Papa Bento XVI ofereceu-nos este ano o 2º volume de “Jesus de Nazaré”. O facto de ser divulgado no início da Quaresma sugere que este texto nos pode ajudar a caminhar até à Páscoa da Ressurreição. Este 2º volume apresenta-nos a grande caminhada de Jesus, desde a entrada messiânica em Jerusalém até à Ressurreição e Ascensão aos Céus. É a grande “passagem” em que Cristo, nosso Redentor, convida a humanidade a encetar uma nova caminhada em ordem à sua libertação.
Aquela entrada em Jerusalém é uma peregrinação, prevista na espiritualidade de Israel, em direcção ao Templo, morada de Deus e “casa de oração para todos os povos”. Jesus vem da Galileia a caminho de Jerusalém. O grupo dos que O seguem vai engrossando, torna-se multidão, cativados pela sua pessoa, miraculados pela sua graça. Em Jericó, o cego Bartimeu, que Jesus curou, juntou-se aos peregrinos (cf. Mc. 10,48-52).
É essa multidão de peregrinos que, às portas de Jerusalém, O aclama Messias-Rei, aclamação que Jesus aceita e esclarece com os textos da Escritura sobre o verdadeiro Messias prometido. Este reconhecimento de Jesus, como o verdadeiro Messias esperado, estará depois no centro das acusações durante o processo de Jesus. A Pilatos tem de declarar: “O meu Reino não é deste mundo”. Para o perceber é preciso ser peregrino. Aliás, aquela proclamação messiânica é fruto da peregrinação; foi seguindo Jesus, na subida para Jerusalém, que aquela multidão O reconheceu na sua verdade messiânica.

2. Mas para Jesus, diz o Santo Padre, “a meta final desta subida é a oferta de Si mesmo na Cruz (…). Esta ascensão até à presença de Deus passa pela Cruz; é a subida para o amor até ao fim (cf. Jo. 13,1) que é o verdadeiro monte de Deus”.
Todos aqueles discípulos que peregrinam com Jesus vão viver esses momentos dramáticos da Paixão do Senhor: alguns fogem, outros desistem, escandalizados com a humilhação do seu Messias-Rei. Mas os que foram capazes de seguir Jesus, na sua peregrinação pessoal, vão ter a surpresa da Ressurreição. E então, com o ressuscitado, percebem que uma nova peregrinação, a seguir Jesus, começa de novo, agora em direcção à Jerusalém Celeste, a “nova Jerusalém”. Têm a certeza de que Jesus vai com eles nessa nova peregrinação e que todos os povos são agora chamados a engrossar o número dos peregrinos. Esta nova peregrinação é a Igreja, Povo do Senhor, que Ele acompanha, fortalece e vivifica, com amor infinito, o seu amor redentor, até à Casa do Pai. Ela sabe que, se quer Jesus, não pode evitar a Cruz, e que hoje pode viver com a esperança da ressurreição.

3. A Quaresma é uma caminhada, em espírito de peregrinação, em ordem à nova Jerusalém. Somos chamados, durante ela, a redescobrir a atitude fundamental da vida cristã. Ponhamo-nos, pois, a caminho.
Aquela última ida de Jesus para Jerusalém, onde celebrará a sua Páscoa, a nova Páscoa, é a referência fundadora da nossa peregrinação. Mas esta é fundamentalmente a caminhada a partir da ressurreição, em que os novos discípulos que acreditaram em Jesus ressuscitado resolvem segui-l’O, movidos pelo Espírito. É a caminhada da Igreja e em Igreja. Esta caminhada tem os elementos essenciais da peregrinação de Jesus para Jerusalém e do seguimento, por parte dos discípulos, de Jesus ressuscitado.
É, antes de mais, um peregrinar com o Senhor. Em ambos os casos, os peregrinos caminham porque o Senhor vai com eles. Na sua peregrinação, a Igreja precisa de acreditar e se possível sentir que o Senhor ressuscitado vai com ela, caminha com ela. Se a convida a mergulhar na dureza da sua Paixão, e a Igreja é convidada a fazê-lo em cada Eucaristia onde aprende a perceber o sentido redentor de todo o sofrimento, guia-a, através do Espírito, a fruir, desde já, a surpresa da vida nova do ressuscitado. Uma Igreja que caminha no tempo, seguindo Jesus ressuscitado, tem necessariamente os olhos postos em Deus, comunhão de amor e na nova Jerusalém, última meta da nossa esperança.
Mas a nossa peregrinação faz-se neste tempo, através da complexa realidade humana. Não podemos perder os olhos d’Ele, pois só Ele nos dá força para avançar por entre as dificuldades deste mundo. Porque Ele é a Palavra eterna, seguimos a Palavra, somos guiados pela Palavra. As expressões tradicionais da Quaresma são, no fundo, as atitudes do peregrino. Rezam enquanto caminham. Rezam, escutando a Palavra do Senhor que nos sugere, também, a nossa própria resposta. A Quaresma é um tempo de oração, não de uma oração qualquer, mas uma meditação da Palavra, um diálogo com o Senhor que nos fala. É tempo de rezar a Sagrada Escritura. Neste tempo toda a palavra, mesmo a da Igreja, deve fazer-nos mergulhar na Palavra de Deus que sempre nos acompanha.
Depois, é próprio dos peregrinos levar uma vida simples, na comida, no vestuário, no alojamento. Quem já se fez peregrino sabe que é assim. A simplicidade de vida, de que o jejum é uma expressão, ajudar-nos-á a não fixarmos o nosso coração nas coisas do mundo mas no Senhor que seguimos e na meta do nosso peregrinar. Caminhamos como pobres, como Jesus com os seus discípulos e os pobres aprendem a partilhar. Talvez aqueles com quem partilhamos queiram, como o cego Bartimeu, entrar na peregrinação.
Esta simplicidade leva-nos a valorizar as dimensões da nossa verdade interior, que só Deus conhece, e não a aparência vistosa dos critérios deste mundo. Neste processo, vai-se realizando, cada dia mais, a nossa conversão interior. “Convertei-vos ao Senhor vosso Deus” (Joel. 2,12-13), pedia-nos o Profeta Joel. “Nós vos pedimos, em nome de Cristo, reconciliai-vos com Deus”(2Cor. 5,20), exortava-nos o Apóstolo Paulo. Se caminharmos com o Senhor, purificaremos o nosso coração.

Sé Patriarcal, 9 de Março de 2011
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca
Fonte: http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/