20 junho, 2010

Evangelizar na Palavra com ardor no coração

Editorial


Somos chamados à re-evangelização através da necessidade de um verdadeiro aprofundamento da fé.
É o apelo de Bento XVI que alertou para “duas realidades importantes mas insuficientes: uma, a preocupação laboriosa com consequências sociais, culturais e políticas da fé, admitindo como pressuposto que a fé existe, o que é cada vez menos realista”; outra, os riscos do predomínio da organização, apontando a forma como a Igreja “tem colocado uma confiança talvez excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais, na distribuição de poderes e funções”, secundarizando o testemunho pessoal e a intervenção clara e concreta dos cristãos na sociedade.
É o apelo de D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga, no Fórum Missionário em Coimbra, ao abordar ‘a missão da Igreja nos escritos do NT’, alertou para a necessidade urgente de usar a ‘linguagem dos afectos que tocam o coração dos homens’, pois a ‘linguagem fria’ é criadora de ‘distância e indiferença’. Há necessidade de agarrar as pessoas por dentro.
‘Os leigos são uma energia do cristianismo’ por estarem envolvidos nas várias realidades da sociedade e a Igreja precisa de seu ‘trabalho testemunhal’ que só pode acontecer se eles forem ‘iluminados, vivos, atentos e apaixonados por Cristo’.
É o apelo na ‘Lúmen Gentium 12’, em que os católicos são desafiados a aprofundar a fé, a iluminar e fortalecer a esperança e a desenvolver iniciativas e projectos na caridade ao serviço dos irmãos.
Aprofundemos a nossa fé. Evangelizemos na Palavra e ardor no coração.
 João Silva
Labat n.º 105 de Junho de 2010

RCC no mundo


A 8 de Junho, na Basílica de S. João de Latrão, em Roma, dia de Retiro subordinado ao tema: “O Dom do Sacerdócio”. Destinado a Bispos, Padres, Seminaristas e amigos do RCC, é promovido pelo ICCRS e pela Fraternidade Católica, na ocasião do encerramento do Ano Sacerdotal, em Roma, com o Santo Padre Bento XVI.
Este Retiro teve a participação de Michelle Moran, Presidente o ICCRS; Prof. Matteo Calisi, Presidente da Fraternidade Católica; Bispo Joe Grech, Bispo de Sndhurst na Austrália; Bispo Mauro Piacenza, Secretário da Congregação para o Clero; Pe Tom Forrest, Pe Kevin Scallon, Ir Briege McKenna e o Cardeal Peter Turkoson, Presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e Paz.
No dia 9 teve lugar, das 16h00 às 19h00, na Sala Paulo VI, em Roma, uma conferência com o tema “Padre hoje”, com a organização dos Focolares e do Movimento de Schoenstatt em colaboração com o ICCRS.

Itália
No dia 5, o Renovamento no Espírito Santo de Puglia organizou o XXV Congresso Regional, no Estádio S. Nicola em Bari. O encontro contou com a presença do Bispo Francesco Cacucci, Arcebispo de Bari – Bitonto e Presidente da CEP; do Bispo Joe Grech, Bispo de Sndhurst na Austrália; de Salvatore Martinez, Presidente Nacional do RCC Italiano e com o testemunho do Pa Emmanuel Tusiime, Membro do ICCRS.
De 2 a 5 de Junho, em Oasisi S. Maria – Bari, realizou-se um Retiro para sacerdotes, Diáconos e Religiosos com o tema “Tu serás Sacerdote para sempre”. Estiveram presentes: o Bispo Joe Grech, Bispo de Sndhurst na Austrália; o Pe Alvise Bellinato e Salvatore Martinez.

Estados Unidos
De 11 a 13 de Junho, com o tema “Quando o Espírito da verdade vier, Ele guiar-vos-á para a verdade”, realizou-se ma Diocese de Steubeville.
De 18 a 19 tem lugar na Diocese de Spokane a conferência com o tema “Tragam-me os vossos corações feridos”.

Espanha
Nos dias 5 e 6 realizou-se um curso específico da Escola Nacional de Pregadores “Dicção e Articulação da voz”, com o pregador D. Diego Carvajal, professor da Escola Lírica na Escola Superior de Canto de Madrid. O curso aconteceu no Mosteiro dos Beneditinos de Madrid.

Bélgica
Dia 1 – Retiro de Recolecção em Malines, Bruxelas
De 4 a 13 – Retiro de Recolecção Interdiocesano
De 4 a 6 – Encontro de Jovens com o tema “Para que a vossa alegria seja completa”, em Malines.
Dia 5 – Retiro de Recolecção em Namur
De 7 a 12 – Seminário de oração sobre a Carta de S. Tiago, a ocorrer em Namur
Dia 11 – Retiro de Recolecção com o tema “As sextas-feiras de misericórdia”
De 11 a 12 – Retiro de Recolecção, em Tournai, com o tema “Do coração de Maria ao coração de Jesus”.
Labat n.º 105 de Junho de 2010

O Espírito Santo e a Evangelização


No Domingo de Páscoa Jesus já tinha dito aos discípulos: “Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22).
Primeira efusão pós-pascal do Espírito que lança os discípulos na missão. Na Páscoa nasce a mística do apostolado.
Enviados por Jesus, com a presença e força do Espírito para evangelizar. Mas no dia da Ascensão o envio foi ainda mais claro: “Ide por todo o mundo, fazei discípulos e baptizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19).
“Ide” é o mandato da missão, da evangelização para pregar e fazer discípulos. Contudo no dia de Pentecostes, com a efusão plena do Espírito, a Igreja toda nasce evangelizadora e missionária.
Com as línguas de fogo todos são repletos do Espírito e enviados em missão.
Ter recebido esse Espírito no baptismo, no crisma, na efusão do Espírito, no baptismo do Espírito deve-nos tornar, cada vez mais evangelizadores, missionários, profetas da esperança, mensageiros da Boa Nova, anunciadores de Jesus que é Vida, que é Salvador.
A nossa oração deve levar-nos sempre à missão. Estamos sempre em estado de envio, como fermento activo no meio da massa, em estado de profeta que anuncia a verdade, desmascara a injustiça, proclama o bem, anuncia a salvação.
Não podemos ficar no “quentinho” da nossa oração, dentro do adro da Igreja, menos ainda na sacristia. Temos que nos lançar em missão, inventando modos concretos de levar aos outros a Pessoa de Jesus, a sua Palavra, o seu Evangelho.
Como S. Paulo cada um de nós poderá e deverá dizer: “Ai de mim se não evangelizar”(1ª Cor 9, 16), se não for discípulo ardoroso, com-paixão e encanto, com audácia, de um modo destemido, anunciador de Jesus Salvador.
O Espírito nos lança em missão, nos lança no dinamismo apostólico, nos quer destemidos e audazes, pela sua graça e pela sua força. O Espírito nos ungiu e nos trabalha interiormente para estarmos em missão, para ajudar a libertar, a remir, a evangelizar.
O dinamismo do Espírito Santo quer fazer de cada um de nós um apóstolo, com coragem evangélica. Por isso não nos podemos acomodar, calar com respeito humano, com cobardia. Não devemos permitir que outros pelo mal possam fazer mais que nós pelo Reino, por Jesus, pela missão de verdadeiros evangelizadores. Baptizado que não é apóstolo é apóstata, já está a renegar a sua fé e a faltar à sua missão.
É a força e o dinamismo do Espírito que faz da Igreja uma Igreja missionária. Desde o Pentecostes de há dois mil anos, a Igreja sempre assumiu essa sua missão, para levar o Evangelho da salvação a todos os homens, para cumprir a sua missão de Mãe e Mestra, para ser Profeta, Santificadora e Pastora, num dinamismo de amor a Jesus, pelo sopro divino do Espírito.
Não foi só o anúncio da Palavra, foi também as obras de misericórdia, o cuidado com o rebanho do Senhor, a solicitude com o mundo pecador e sofredor. Foi sempre impulsionada pelo desejo efectivo da salvação, da santificação do Povo através da oração e dos sacramentos. Mas isso nunca lhe tirou os rasgos do serviço humilde, da caridade, da vida doada em amor.
Cuidar do pobre, do doente, do marginal, do infeliz, do que não tem pão, casa, cultura. Uma Igreja, movida pelo Espírito, em contínua missão de bem-fazer, de caridade, de dom e serviço.
Todos os que rezamos, que participamos da Eucaristia, que no nosso Movimento Carismático pertencemos a um grupo de oração, temos que ter este dinamismo evangelizador e missionário.
Foi isto que o Papa Bento XVI nos pediu, nos recomendou na sua visita ao nosso país. Falou da missão, da evangelização, pediu que fossemos às nossas origens de Portugal missionário, que re-descobríssemos a nossa vocação de evangelizadores. Não podemos instalar-nos, aburguesar-nos, ter uma oração estéril e uma vida de sacramentos sem audácia apostólica.
O mundo precisa de nós; somos homens e mulheres para evangelizar o mundo. Talvez até o mundo mais perto de nós: a nossa família, os nossos vizinhos, os nossos colegas de trabalho, os nossos amigos, os membros da nossa paróquia, da nossa diocese. Tem que nos arder no coração o fogo que Jesus trouxe à terra, pois Ele quer que esse fogo se incendeie, e que incendeie todos os corações.
Que pode e deve fazer cada um de nós? Como vamos revitalizar a nossa vocação evangelizadora e missionária? Como queremos sair da nossa oração mais apóstolos audazes e destemidos? Apóstolos, evangelizadores pela oração, pela penitência, pelo testemunho de vida, pela palavra proclamada com desassombro e audácia.
Não esqueçamos nunca que não é a nossa palavra que converte ou que salva, mas a palavra de Jesus, pela acção do Espírito. Daí a necessidade de rezar a Palavra, de fazer dela vida da nossa vida. E será o Espírito a trabalhar o coração dos que nos ouvem a aderir à palavra que é anunciada.
Ninguém converte ninguém, mas somos todos instrumentos do Espírito para, com Ele, trabalharmos na obra da evangelização. Não é uma opção pessoal, um gosto pessoal, é missão de todos, é “obrigação” de todos.
Que o Espírito nos queime por dentro, nos incendeie o coração para sermos cada vez mais evangelizadores apaixonados, arautos da Boa Nova, mensageiros da Vida.

Dário Pedroso, SJ
Labat n.º 105 de Junho de 2010

Visita do Papa a Portugal I



Muito se tem escrito e continuará a escrever-se sobre a visita do Papa Bento XVI a Portugal.
Pedem-me para apresentar o meu parecer sobre este acontecimento. Depois de ter lido e apreciado os discursos e homilias do Papa, concluí que a mensagem que ele nos deixou é muito séria, actual e desafiadora. Por isso, vou procurar apresentá-la em três pequenas “crónicas” ao longo de três meses.

ILUMINISMO-SECULARISMO E FÉ
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No voo de Roma para Lisboa aconteceu um diálogo entre o Padre Lombardi e o Papa que os comentadores deixaram passar nalgumas abordagens importantes. Foi neste diálogo que aconteceu o que eu nunca imaginei que fosse possível.
O Padre Lombardi referiu a dialéctica entre o Iluminismo, o secularismo e a fé. O Papa respondeu com a figura do Marquês de Pombal e com a situação dessa dialéctica, aliás extensiva a toda a Europa. Mas referiu o lado positivo do assunto quando disse: “Hoje vemos que, justamente, esta dialéctica é uma oportunidade para encontrar uma síntese e um diálogo profundo e de vanguarda.
Na situação multicultural em que vivemos, vê-se que uma cultura europeia que fosse unicamente racionalista não possuiria a dimensão religiosa transcendente; não seria capaz de entrar em diálogo com as grandes culturas da humanidade, que possuem, todas elas, esta dimensão religiosa transcendente, que é uma dimensão do ser humano.
Portanto, pensar que existiria uma razão pura, anti-histórica, só existente em si mesma, e que esta seria “a” razão, é um erro; descobrimos cada vez mais que esta toca somente uma parte do homem, expressa uma certa situação histórica, mas não é a razão como tal.
A razão, como tal, está aberta à transcendência e só neste encontro entre a realidade transcendente, a fé e a razão é que o homem se encontra a si mesmo. Assim, penso que a tarefa e a missão da Europa nesta situação é justamente encontrar este diálogo, integrar a fé e a racionalidade moderna numa única visão antropológica, que completa o ser humano e torna, desse modo, também comunicáveis as culturas humanas.
Por isso, diria que a presença do secularismo é algo normal, mas a separação, a contraposição entre secularismo e cultura da fé é anómala e deve ser superada. O grande desafio deste momento é que ambos se encontrem e, desse modo, achem a sua verdadeira identidade. Como eu disse, esta é uma missão da Europa e uma necessidade humana nesta nossa história”.
Como vão longe os tempos das condenações de Pio IX, com o “Sillabus”, contra o cientismo, racionalismo e Iluminismo. O Papa defende o que já defendeu noutras ocasiões: chegou o tempo de dialogar com o mundo multicultural, multirreligioso, e não fechar-se em verdades científicas únicas, verdades religiosas únicas, venham da razão, da laicidade ou da religião.
Nesta mesma dimensão, o Padre Lombardi referiu ao Papa a actual crise económica da Europa e do mundo. O que está em causa é o homem numa visão simplesmente economicista, por um lado, e o homem ético, por outro lado.
O Papa respondeu: “Na realidade, agora vemos que o puro pragmatismo económico, que prescinde da realidade do homem – que é um ser ético – não termina positivamente, mas cria problemas insolúveis.
Por isso, agora é o momento de ver que a ética não é uma coisa externa, mas interna à racionalidade e ao pragmatismo económico. Por outro lado, devemos também confessar que a fé católica, cristã, era frequentemente muito individualista; deixava as coisas concretas, económicas, ao mundo, e pensava somente na salvação individual, nos actos religiosos, sem ver que estes implicam uma responsabilidade global, uma responsabilidade pelo mundo. (…)
Por outro lado, os últimos acontecimentos no mercado, nestes últimos dois ou três anos, mostraram que a dimensão ética é interna e deve entrar no interior do agir económico, porque o homem é uno; e trata-se do homem, de uma antropologia sã, que implica tudo e, só assim, se resolve o problema; só assim a Europa se desenvolve e cumpre a sua missão”.
Como vemos, o Papa resolveu servir-se da viagem a Portugal para lançar pontes sobre os grandes problemas humanos actuais na Europa e não só. Uma das questões mais prementes na economia e finanças passa pelo homem ético. Sem ética, a economia e finanças reduzem-se ao mercado do lucro fácil.
Foi o que aconteceu com os mercados financeiros americanos que determinaram o “tsunami” da crise que estamos a viver. Mas não deixa passar em vão o erro da salvação individualista dos cristãos.
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FÁTIMA – ACONTECIMENTO E SINAL

Foi ainda na viagem de avião que o Papa respondeu ao Padre Lombardi sobre o acontecimento Fátima e seu significado desta maneira:
“No ano 2000, na apresentação [do terceiro segredo], disse que uma aparição, ou seja, um impulso sobrenatural, não vem somente da imaginação da pessoa, mas na realidade da Virgem Maria, do sobrenatural; que um impulso deste tipo entra num sujeito e se expressa segundo as possibilidades de ver, de imaginar, de expressar; mas nestas expressões, articuladas pelo sujeito, esconde-se um conteúdo que vai além, mais profundo, e somente no curso da história podemos ver toda a sua profundidade, que estava – digamos – “vestida” nesta visão possível à pessoa concreta.
Deste modo, diria também aqui que, além desta grande visão do sofrimento do Papa, que podemos referir ao Papa João Paulo II em primeira instância, indicam-se realidades do futuro da Igreja que se desenvolvem e se mostram paulatinamente.
Por isso, é verdade que, além do momento indicado na visão, fala-se, vê-se, a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se reflecte na pessoa do Papa; mas o Papa está para a Igreja e, assim, são sofrimentos da Igreja que se anunciam. O Senhor disse-nos que a Igreja seria sempre sofredora, de diversos modos.
O importante é que a mensagem, a resposta de Fátima, não vai substancialmente na direcção de devoções particulares, mas precisamente na resposta fundamental, ou seja, a conversão permanente, a penitência, a oração, e as três virtudes teologais: fé esperança e caridade. (…)

A novidade que podemos descobrir hoje, nesta mensagem, reside também no facto de que os ataques ao Papa e à Igreja não vêm só de fora, mas que os sofrimentos da Igreja vêm justamente do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja.
Também isso sempre foi sabido, mas hoje vemo-lo de uma modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade de justiça. O perdão não substitui a justiça. (…)”.
Os meios de comunicação, em Portugal e no estrangeiro, referiram pormenorizadamente este assunto relacionando-o com os pecados e crimes da pedofilia de alguns sacerdotes e religiosos católicos.
Mas o mais interessante é que o Papa tenha dito o que disse dentro do espaço teológico e eclesiológico do terceiro segredo de Fátima.
Tratando-se não apenas da visita funcional de um Papa (Papa significa Pai e é uma função ministerial e não um ministério ordenado), mas também da redefinição “teológica” das aparições, há, aqui, um apontamento de Bento XVI que interessa a todos os teólogos.
Neste caso, Bento XVI fala sobretudo como teólogo ou como pastor que dilucida assuntos de teologia eclesial. Que significado têm as aparições particulares de Maria – do céu -? Que relações existem entre a revelação bíblica e estas aparições?
Bento XVI é um grande pensador como teólogo e esta foi a ocasião que o determinou a falar assim. Fátima não é um assunto de “devoções particulares” mas de desígnio divino sobre a Igreja de hoje e amanhã.
Sobre o fenómeno histórico de Fátima, Bento XVI disse ainda, em resposta ao discurso de boas-vindas do Presidente Cavaco Silva: “Há 93 anos, o Céu abriu-se precisamente sobre Portugal – como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta – para reatar, no seio da família humana, os laços da solidariedade fraterna assente no mútuo reconhecimento de um só e mesmo Pai.
Trata-se de um amoroso desígnio de Deus; não dependeu do Papa nem de qualquer outra autoridade eclesial: “Não foi a Igreja que impõs Fátima – diria o Cardeal Manuel Cerejeira, de veneranda memória - , mas Fátima que se impôs à Igreja.” Veio do Céu a Virgem Maria para nos recordar verdades do Evangelho que são para a humanidade, fria de amor e desesperada de salvação, fonte de esperança.”
Desconheço o que é que, de hoje em diante, os teólogos irão inferir desta tomada de posição de Bento XVI, sobretudo ao acentuar que Fátima corresponde “a um amoroso desígnio de Deus”.
Repete-se continuamente e à saciedade que Fátima não é nenhum dogma de fé. Repete-se e, a meu ver, deve continuar a repetir-se, mas esta tomada de posição de Bento XVI obriga-nos a abrir as janelas da nossa fé eclesial para além do biblicismo fechado e para além das definições da revelação apostólica e histórica dos Padres da Igreja.

Não se trata, como se infere das palavras de Bento XVI, de novas verdades uma vez que a Verdade, como diz o Papa, reside no Evangelho.
Maria veio apenas “recordar verdades do Evangelho”. Mas, segundo a catequese cristã dos evangelhos canónicos escritos, a última palavra pertence à acção do Espírito Santo (Jo 16, 12-13:
“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa”). Mas, agora, Bento XVI afirma que a “Virgem Maria veio do Céu para nos recordar verdades do Evangelho…”.
Isto significa que a Palavra do Evangelho deve ser relida, à luz da história, para ser compreendida e vivida. Isto significa, então, que Maria de Nazaré, em Fátima, é uma protagonista da história nesta releitura do Evangelho.

PEREGRINAÇÃO-VIAGEM AO CENTRO DE CADA UM

Termino este primeiro apontamento com o mesmo discurso do Papa ao Presidente da República, quando referiu a primeira República e os “sofrimentos causados pelas mutações, mas que foram enfrentados geralmente com coragem”.
O Papa disse: “Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do Cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio”.
Este Papa, como diz o nosso povo, ”não tem papas na língua”. Diz, com verticalidade, o que tem a dizer.
Afirma, por um lado, que “vivemos na pluralidade de sistemas de valores”, e não na unicidade de um sistema como aconteceu durante séculos com a Igreja Católica.
Por outro lado, afirma que, nesta pluralidade de sistemas de valores, temos todos que fazer “uma viagem ao centro de nós próprios e ao cerne do Cristianismo” para que, depois desta viagem, não tenhamos medo de dar o nosso testemunho até à santidade…até à radicalidade do martírio”. (Continua)

Pe. Joaquim Carreira das Neves,
OFM
Labat n.º 105 de Junho de 2010

Um novo tempo no Espírito

Por Michelle Moran
Presidente do Secretariado Internacional
do Renovamento Carismático Católico
in ‘Boletim do ICCRS’

O que o Espírito Santo nos está a dizer do RCC, hoje?

Frequentemente, como presidente do ICCRS, sou solicitada a partilhar sobre a realidade presente do Renovamento no mundo e para onde vejo que o Senhor nos está a conduzir no futuro. Concretamente, o que o Espírito Santo nos está a dizer do RCC, hoje, aqui e agora?
Há cinquenta anos, o Papa João XXIII rezou por toda a Igreja pedindo um novo Pentecostes com a renovação de suas maravilhas. Ao mesmo tempo que a Igreja estava sendo renovada através do Concílio Vaticano II, assistimos ao emergir do Renovamento Carismático.
Esses primeiros anos foram caracterizados por uma nova liberdade no Espírito. Houve conversões profundas e vidas mudadas, na medida que as pessoas recebiam a efusão no Espírito Santo e entravam num ‘relacionamento pessoal’ com Jesus.

O cativeiro dos Israelitas no Egipto e sua libertação

Quando os Israelitas foram libertados da escravidão do Egipto, entraram no deserto onde permaneceram quarenta anos. Esse foi o local para a sua mudança interior e sua formação. Durante esse tempo algumas dessas pessoas se afastaram, ou por causa do pecado, ou pela falta de perseverança ou por distracções ou interesses.
Temos visto isto no Renovamento Carismático a nível mundial na nossa breve história de quarenta anos.

Um novo tempo do Espírito

Após o deserto, o Senhor conduziu o povo de Israel para as margens do rio Jordão, onde eles puderam ver a Terra Prometida.
Sinto que o Renovamento Carismático está aqui neste momento. Estamos no limiar de um novo tempo do Espírito.
Para abraçar o novo tempo, precisamos de ser pessoas de visão para continuarmos a crescer e caminhar em frente. “Por falta de visão, o povo perece” – cf Provérbios 29, 18.
O RCC está crescendo ou morrendo. Não podemos ficar parados. Em alguns locais do mundo, o Renovamento é dinâmico e vibrante. Por exemplo, as conferências do Renovamento ‘Amor em Acção’ na Coreia do Sul, são naquela Nação uma forte corrente de graça fluindo a partir do seu compromisso profundo com a oração de intercessão.
Esta graça pode ser vista através da missão que o Espírito Santo colocou em seus corações, donde existem muitos projectos e serviços assumidos pelos membros do Renovamento. Noutros Países, vários projectos corajosos de evangelização, assim como acções criativas com jovens universitários e do ensino secundário estão sendo realizadas.
Vemos o Senhor fazer maravilhas no nosso meio. Graças a Deus, isto ainda está acontecendo em muitos lugares e nações.

“Por falta de visão o povo torna-se rebelde”

Em contraste ao que referimos, em algumas partes do mundo parece que o Renovamento está perecendo. Ficou velho e cansado. As pessoas parecem passar mais tempo a olhar nostalgicamente para trás, para o que o Senhor fez no passado, em vez de olhar para as novas coisas que o Senhor tem reservado para elas.
Em vez de nos colocarmos profundamente nas mãos do Senhor, tornamo-nos muitas vezes rebeldes, assumimos o controle das coisas que fazemos à nossa maneira. Isto bloqueia o Espírito Santo e falhamos não fazendo a Sua vontade Santíssima. Recordemos S. Paulo advertindo os Gálatas: “Depois de terdes começado no Espírito, quereis agora acabar na carne”- cf Gl 3, 3.

Por falta de visão, o povo vive sem freios

Parece-me que quando não temos orientação para o futuro, as coisas tornam-se monótonas, repetitivas, sem criatividade e acabamos por fazer as coisas olhando só para nós mesmos, desviando toda a nossa actividade do essencial.
Como consequência disto, podemos começar a competir, julgar ou criticar outros grupos e realidades no Renovamento.
Porque há tantas tensões, divisões e problemas de relacionamento no Renovamento quando uma das principais características do Espírito Santo é a unidade? Pode-se ver claramente que há necessidade de arrependimento e reconciliação. Nosso orgulho e nosso comportamento briguento e imaturo têm feito com que todo o corpo se torne mais fraco. Temos de pedir perdão ao Senhor e suplicar-Lhe também que mude os nossos corações.
Só então poderemos prosseguir nossa caminhada com visão na unidade.

Chamamento muito forte para uma intercessão profunda

Sinto que, neste tempo de transição, há um chamamento muito forte para uma intercessão profunda. Muitas batalhas são vencidas pela oração. Através da intercessão, Deus pode mudar o destino de uma nação. Ele pode dar-nos a visão interior, a coragem e a habilidade para agir decisiva e estrategicamente para que Seu reino prossiga.

2017! Jubileu de ouro do Renovamento Carismático

À medida que caminhamos para o jubileu de ouro do Renovamento Carismático, em 2017, precisamos ser guiados passo a passo. Assim como Josué, precisamos ter fé e confiança para clamar pela herança que é nossa e desfaz o trabalho do inimigo.
Esteja pronto, caro amigo do Renovamento, para abraçar este novo tempo com coragem e entusiasmo. Nosso Deus faz novas todas as coisas e nós precisamos estar abertos à renovação do Espírito.
[Nota: os subtítulos são da responsabilidade do Labat]
Labat n.º 105 de Junho de 2010

19 junho, 2010

SVNE - Enviados em Missão

Azambuja (Casais de Baixo), 18 de Junho de 2010

Grupos participantes:

- Azambuja (Grupo em formação)
- Raboni Meu Mestre (Alverca do Ribatejo)
- Verdade e Vida (Ota)

Seminaristas enviados em Missão
(Clique na foto para ampliacão ou cópia)




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07 junho, 2010

SVNE - Efusão do Espírito

Azambuja, 6 de Junho de 2010


Grupos participantes:

- Azambuja (Grupo em formação)
- Raboni Meu Mestre (Alverca do Ribatejo)
- Verdade e Vida (Ota)





Depois de uma caminhada de algumas semanas, marcadas pela abertura de corações e disponibilidade interior de cada um para permitir que o Espírito Santo fosse renovando toda a sua vida, é chegado o momento para o qual se prepararam, o da Efusão do Espírito.

Os grupos ‘Raboni-Meu Mestre’, de Alverca, e ‘Verdade e Vida’, da Ota, juntaram-se ao pequeno grupo em formação da Paróquia da Azambuja, para em pólo de comunhão, realizarem este Seminário de Vida Nova no Espírito.

Cresceram todos: uns, com mais tempo de caminhada; outros com menos tempo. Os que escutaram pela primeira vez os ensinamentos e reavivaram o que já tinham vivido; os que iniciaram um processo de crescimento e os que quiseram aprofundar o seu caminhar.

E foi num crescente que semana após semana se ouviu falar do amor de Deus presente em tudo e criador de tudo.
Pelo amor de Deus abrimos os nossos corações para nos deixarmos transformar.
Pelo amor de Deus compreendemos o nosso papel de filhos amados e queridos do Pai.
Pelo amor de Deus acolhemos Jesus Cristo como nosso Salvador, Libertador, que o Pai, pelo seu grande amor, deu ao mundo e morreu por nós.
Pelo amor de Deus aceitamos Jesus Cristo como Mestre e Senhor, como aquele que nos ensina a caminhar e a fazer a vontade do Pai.
Pelo amor de Deus olhamos Maria como exemplo de coragem e firmeza na caminhada de fé e de esperança.
Pelo amor de Deus reconhecemos o Espírito Santo que habita os nossos corações desde o nosso baptismo e, se permitirmos, age em nós.

E esse amor transformador e avassalador de Deus por cada um de nós nos conduziu ao Seminário e a esta vivência íntima e profunda com a Trindade Santíssima.

Mas também todos reconheceram que ao chegarmos à Efusão não chegamos ao fim do caminho, mas sim ao início, a verdadeira caminhada começa com a Efusão, com o momento em que permitimos que o Espírito Santo seja aquele que nos conduz, que intercede por nós, que fala no nosso interior e que nos capacita para a missão a que, como cristãos, somos chamados e exercer, a de evangelizar e de dar testemunho com a nosso vivência diária do Evangelho que professamos e do Senhor que nos ama, salva e liberta.

Foi com toda esta preparação que, ao chegar a hora, todos puderam ver a transformação das suas vidas em símbolos, que ajudaram a uma maior consciencialização daquilo que tinha sido o percurso até então.

Uma pequena partilha inicial e a explicação dos símbolos e do programa iniciaram este dia de festa, de alegria e de entrega.

O Diácono Vasconcelos, também ele seminarista, presidiu à adoração ao Santíssimo Sacramento em que cada um diante do Senhor colocou o que ainda tinha guardado e que necessitava de ser libertado e curado. A oração ajudou e tocou muitos.

O almoço partilhado por todos nos esperava e foi o momento de partilha, de convívio e de alguma descontracção para a tarde que nos esperava.

O Padre Bruno Machado, Assistente Diocesano, presidiu à Eucaristia que antecedeu a Efusão do Espírito, concelebrada pelo Padre Manuel Silva, Assistente Regional e Pároco da Ota.

Na sua homilia o celebrante relembrou que Deus habita os nossos corações desde o dia do nosso baptismo e que a semente que foi colocada, nunca foi tratada foi esquecida e ficou adormecida. É por isso chegado o momento de cuidar da semente, de abrir as portas do coração e viver a vida nova que nos é oferecida.

E esta vida só pode ser vivida na unidade e na comunhão com os outros, com a Igreja, com o grupo de oração e por isso o Espírito Santo nos congrega e nos une para partilharmos o bem maior ao serviço dos outros, porque os dons que recebemos são precisamente para servir os outros, mas para isso é preciso discernimento e muita oração. Terminando com o apelo a vivermos plenamente a presença do Espírito e a vida nova que nos é dada.

Já nos cenáculos de Efusão as vidas transformaram-se, os rostos irradiavam alegria e os corações foram profundamente tocados e renovados.

Foi a festa da paz, do amor, da alegria, da esperança e da mudança de vidas, em que o Senhor agiu e os Espírito Santo soprou não deixando nada igual, mas tudo renovado.


Labat n.º 106


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